- Senhorita, o senhor Barros à espera na sala!

Só de ouvir esse nome, a artista passou uma pincelada brusca alterando a composição leve que estava finalizando. Mas isso arrumaria outra hora, agora tinha que chegar á sala antes que o homem tomasse a liberdade de adentrar até o ateliê mais uma vez. Passou os olhos pelas telas que já tinha finalizado que normalmente cobria com um lençol velho, estranhou o afastamento de uma em relação às outras, mas não fazia diferença, e depois apressou os passos até a sala.

Otto estava sentado tranquilamente no sofá alaranjado, confortável, quase assobiando. Assim que Luiza chegou, ele levantou-se para recebê-la com toda educação, mas ela simplesmente lhe dirigiu a palavra secamente:

- O que o senhor quer aqui?

- Quero saber onde está a carta. – Seu sorriso agudo desaparece dando lugar à uma expressão severa.

- Que carta?

- A carta que possui algumas fotos dentro que me interessam muito. Eu sei que ela está aqui.

- Eu não sei de que carta o senhor está falando.

- Se disser onde ela está e entregar-me, então pouparei a Galeria Velha e você poderá expor seus quadros.

Luiza gelou. Noite anterior, ela e Alfredo acharam que Otto já tinha encontrado as provas, mas a presença dele ali, requerendo a carta, deixava claro que ele não a possuía.

- Eu não tenho essa carta. Ela não está comigo.

- Impressionante. Parece-me que seu discurso mudou. Mas não sei se você entendeu a gravidade da situação, senhorita...

- Eu entendi perfeitamente. – Ela o interrompe seca – Mas se ainda assim o senhor quiser fazer uma excursão ao meu jardim somente para constatar que ela não está lá, ficarei feliz em acompanhá-lo!

- Está mentindo. – Otto se irrita – Mocinha, você está brincando com fogo! Reze para não se queimar... Ou então para nenhum amigo seu se queimar! – Ele vira as costas e a deixa atemorizada.