Acordei com uma sensação estranha, vontade de chorar. Acordei pensando na minha irmã. Pensei como pude ser tão egoísta? A verdade é que eu me sinto culpada. Jake sempre me diz para desligar as emoções, mas não consigo – não quando os sentimentos estão ligados à minha família.

Enfim, quebrando um pouco minha rotina diária, fui dar uma volta pela cidade. Sentir o cheiro daqueles humanos ao meu redor foi estranho, principalmente porque eles não me incomodavam mais. Enquanto ainda estava pensando na Ash, concluí que se ela voltar irá querer se vingar – será que ela era capaz disso?  Sentei no gramado e comecei a pensar naquela noite, foi há 361 anos e ainda consigo ouvir os gritos ecoando em minha mente, comecei a chorar afinal Ash é minha irmã e eu a deixei. Ela tinha seus defeitos, brigávamos desde que éramos crianças, mas somos irmãs gêmeas.

- Buh – Jake sussurrou em meu ouvido.
- Ah! E aí Jake, tava tão distraída que nem vi você – disse a ele, limpando as lágrimas em meu rosto – então, o que faz aqui?
- Estava te procurando. Rose, o que aconteceu? – ele pareceu realmente preocupado.
- Tive um sonho estranho. – omiti, porque aquilo realmente parecia um pesadelo.
- Que sonho?
- Alemanha em 1650. – não quis dizer os detalhes, mas ele me cercou com um olhar desconfiado, parece que ele já havia entendido.
- Eu também penso nela. Mas qual é, confessa que você ta feliz por ter deixado ela lá. Afinal, vocês não se davam bem, brigavam o tempo todo!
- Não diz isso! – eu gritei – Eu não estou feliz. Estou aliviada. Ela merecia tudo aquilo. Mas, nós nem sequer sabemos o que de fato aconteceu à ela.
- Nós sabemos Rose. Ela morreu, foi queimada por ser uma bruxa. – ele riu.
- Você realmente acha isso engraçado? Tem realmente certeza de que foi isso que aconteceu? Se ela estiver viva e nos achar, vai querer vingança.
-Tá bom Rose. Agora você realmente está paranóica. Vamos pra casa, tenho uma ótima notícia! – Ele ergueu a mão para me ajudar a levantar.
- Notícia? Como assim? Conta!
- Quando chegarmos lá. Vem!

Nós andamos um pouco até ultrapassarmos a área onde os humanos estavam, quando chegamos à floresta, começamos a correr. Aquilo me fazia sentir tão bem, tão feliz, tão... Viva. A nossa velocidade era impossível para os humanos. Corremos por 5 minutos até chegarmos em casa. O bom de nossa casa é que sabíamos como escondê-la. Há outros vampiros que nos temem, mas também aqueles que nos caçam. Meu irmão nunca se importou com isso, na mente dele nós poderíamos matar todos esses vampiros que nos caçam dia e noite, mas eu o proíbo. A melhor coisa a se fazer é discrição.

Quando entramos em casa, peguei um tipo de uísque chamado Bourbon, era ótimo. Jake ainda parecia animado por causa da “grande notícia”, eu ainda nem ouvira sobre ela. Ele me guiou até a sala de estar e pediu para eu me sentar. Eu obedeci.
- E aí, por que a animação? – perguntei.
- Talvez seja hora de nos socializarmos. – notei que ele estava nervoso.
- Como assim? – perguntei desconfiada.
- Você sabe... Socializarmos-nos com os humanos.
- Muito obrigada, mas não! – eu o ignorei e dei de ombros, subi as escadas para ir ao quarto. Mas ele me segurou.
- Por favor! – ele guinchou ainda apertando a minha mão.
- Não!
- Talvez eu possa ir para a escola.
- O que? Como assim? Você não pode fazer isso e você sabe o motivo.
- Qual é? Eu não vou perder o controle! Há 362 anos que sou um vampiro, eu sei me controlar.
- Quer saber? Faz o que quiser. – fingi que não estava preocupada. Ele sempre achou que é esse o motivo, mas não é. Eu mesma não sei. Talvez eu tenha medo de ficar sozinha. Nós somos uma lenda para todos esses novos vampiros que não sabem se controlar. Uma lenda que eles gostariam de saber se é verdade e no momento que descobrirem irão acabar com todos nós. – Tá bom, eu apoio. Mas com uma condição.
- Qual? – ele perguntou.
- Não fala sobre a sua vida. Se perguntarem, diga que é estrangeiro.
- Tá bom! Grrr eu te amo tanto! – ele me abraçou, se eu não fosse tão forte quanto ele, diria que meus ossos já estavam quebrados.
- Ok, me solta, tenho que ir à um lugar.
- Onde?
- Te vejo mais tarde irmãozinho! – eu ri e saí pela porta.

Passei de novo pela floresta até chegar à cidade. Fiquei andando, observando todas aquelas pessoas, alguns estavam com a família. Esbarrei em um casal de namorados, eles pediram desculpas, mas eu dei de ombros. Ver aqueles dois humanos tão frágeis, me fez perceber que eles são tão inúteis, fracos, mas ainda assim, parecia que um protegia ao outro. Naquele momento eu havia percebido que talvez nada mais era como antes. Eu só quero ter alguém além de meu irmão.
Enquanto estava andando pela cidade, percebi algo diferente... Ou devo chamar de alguém? Não sei o que era, mas tinha cheiro diferente. Não era humano. Comecei a seguir o cheiro, me senti tonta por um momento, era um cheiro forte... Quando cheguei mais perto, percebi que era um rapaz – pra falar a verdade, muito bonito. Foi quando reconheci o cheiro, não era apenas um simples aroma diferente, era de vampiro mais novo. Mais novo do que eu pelo menos. Ele me olhou, parece que percebeu quem eu era ou o que eu era. Ele sorriu.
- Oi – ele disse – algum problema?
- Não. Ahn... – eu não sabia o que falar, ele era realmente bonito.
- Como vai você? – ele parecia estranho agora.
- Eu estou bem. Desculpa, mas tenho que ir. – dei meia volta e tentei ir embora dali.
- Você não vai a lugar algum! – Ele me segurou.
- Por favor, eu estou sendo educada. – falei confrontando-o.
- Eu sei o que você é. – ele disse.
- Eu imaginei. – era quase impossível, ser ameaçadora para aquele rapaz tão lindo. Ele pareceu ameaçador, estava mostrando suas presas para mim. Eu ainda estava encarando-o, não conseguia o levar a sério. Ele era tão valente, mas nem imaginara que eu era mais poderosa que ele.