De Volta ao Passado escrita por mizuke


Capítulo 8
Capítulo 8 - Chega De Aventuras Por Hoje


Notas iniciais do capítulo

oitavo capítulo da fic, e no prazo! o/
aproveitem e comentem (:



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Por um tempo caminhei sem direção. Onde estava indo? Não tinha idéia de onde ele estaria.

Fui para minha fazenda, mas ele não estava lá. A única coisa que me chamou atenção foi o filhote deitado em sua casinha, dormindo. Pelo menos ele estava bem.

Caminhei pelo vilarejo, mas as ruas estavam desertas, e então imaginei que deveria estar no horário da missa. De onde eu vim, a gente ia à igreja apenas aos finais de semana, mas depois de um tempo me contaram que as pessoas ali iam à igreja quase todos os dias para se confessar ou simplesmente para rezar. Eles eram bastante religiosos, qualquer um podia notar.

Já estava perto da casa do prefeito, caminhando sem direção, quando parei na porta do mercado. Aquele deveria ser o lugar mais agitado do vilarejo, certo? Onde as comadres se encontravam para fofocar e os compadres para jogar baralho, talvez.

Demorei um tempo para perceber que minha visão de “cidade do interior” era um pouco diferente. Até então, eu imaginava que todos os vilarejos seriam como no velho-oeste, onde as pessoas andavam a cavalo e as portas do bar eram aquelas portinhas duplas de madeira.

Bem, não estava totalmente errado.

O mercado era exatamente como eu imaginei que seria um mercadinho do interior. As paredes e o chão eram do mesmo tipo de madeira clara, e havia um balcão de cada lado, com suas mercadorias enfileiradas uma ao lado da outra. No meio havia um balcão maior, onde tinha saquinhos coloridos com vários tipos de sementes.

Mas então deixei de prestar atenção nos detalhes coloridos para ouvir a conversa do balconista com o doutor do outro lado do “cômodo”.

- Eu trago o dinheiro na próxima.

- Uh? Na próxima?

Mas o médico não deu atenção à expressão do senhor atrás do balcão e caminhou porta a fora. Quase no mesmo instante uma mulher loura sai pela porta da esquerda.

- Jeff! – ela gritou para o balconista. – Você estourou os créditos de novo! Você é tão influenciável... – e então seu olhar pousou na porta atrás de mim, onde o doutor passara a menos de dois segundos. – Aquele era o doutor, num era? Eu vou na clínica buscar o dinheiro.

Jeff murmurou alguma coisa que não consegui entender, algo como um “uuhm” desanimado. E como se fosse combinado, um senhor entrou pela porta assim que a senhora loura de cabelo preso saiu.

Ele cumprimentou o balconista meio inconsciente, e começou a observar as prateleiras. Até que ele sorriu, pegou um objeto que não consegui reconhecer muito bem, mas parecia uma caixa delicada, e disse:

- Hey, eu vou levar isto! Coloque na minha conta!

- Oh... isso? – Jeff murmurou, desanimado como sempre. – Ok, sim, fica pra próxima vez...

E então o senhor elegante que acabara de adquirir seu mais novo item se virou para mim e me observou.

- Diga, você não é o cara da fazenda Solis?

- Sim. Acabei de me mudar.

- Hm. E o que há de errado? Você não parece bem.

- Eu não pareço bem? Bem, deve ser porque este está sendo um dia corrido. Mas você não acha que deveria pagar?

A expressão do senhor deixou de ser séria e deu uma risada curta, mas simpática, e disse que estava tudo bem.

Mas quando a porta da esquerda – a mesma de onde tinha saído aquela loura há não muito tempo – se abriu de novo, sua expressão voltou a ficar séria.

- Duke! – a garota exclamou.

- Oh, Karen!

- Você devia pagar quando compra alguma coisa.

- Ta, ta... de você eu não consigo escapar...

Ele tirou a carteira do bolso de seu colete roxo (de muito bom gosto, diga-se de passagem), tirou algumas notas e entregou para a garota. Ela olhou para mim e sorriu.

- Precisa de alguma coisa?

O que eu estava fazendo ali mesmo? De repente me lembrei.

- Bom, na verdade, eu preciso de uma informação... sabe onde está o policial?

- O policial? O filho do prefeito?

- Filho do prefeito...? – não seria ele o filho do prefeito, seria? – Não não, acho que não... Ele usa um quepe assim – levei as mãos à cabeça e o imitei. – e seu uniforme era meio...

- Ah, você quer dizer o guarda! Ele costuma estar na praça uma hora dessas...

- Bem, ele não está lá...

- Então deve ta na casa do Gotz.

- No Gotz...?

- Sim, perto da cachoeira. Sabe onde é, num sabe?

- Sei sim. Obrigado.

Ela sorriu com mais vontade.

- O que foi?

- Nada. É que você num é daqui, né?

- Não... – já não era óbvio?

- Percebi. Você não puxa o r como nós, então só podia ser da cidade. Você deve ser o dono da fazenda Solis, né? Meu nome é Karen. Prazer em te conhecer.

E então ela caminhou de volta para a porta de onde tinha saído. Seus cabelos longos eram tão claros quanto os daquela mulher mais cedo. Filha, talvez? Descobriria mais tarde que sim. O que não era difícil de deduzir, afinal, as duas tinham aquele tipo de beleza que me fez pensar que elas não deviam ser dali.

Era aquele tipo de beleza que esperamos encontrar em passarelas e agências de modelos, mas, ainda assim, tão... modestas? O que uma menina dessas estava fazendo aqui? O balconista estava tão perdido em seus pensamentos que nem parecia ter escutado nossa conversa.

Pensei em perguntar se podia ajudar em alguma coisa, mas já tinha perdido tempo demais ali. Segui em direção ao Gotz com pressa, afinal, já eram quase quatro horas e eu ainda não havia feito nada de produtivo.

Era normal aquilo? Todas as garotas serem tão... charmosas? Na cidade também havia garotas bonitas, é claro que sim. Mas o que havia de diferente nessas?

Nunca fui dos que saia de casa e voltava só no dia seguinte, não me gabava de quantas meninas eu “pegava” e nem me interessava por isso, diferente de todos os outros da minha idade. Na verdade, as garotas com quem eu namorei diziam que eu era sério, o tipo de pessoa para se casar. Mas claro que nenhuma delas estava interessada nisso no momento. O que explicava, então, todas as garotas me atraírem tanto?

Talvez fosse a simplicidade. Talvez fosse o fato de usarem botas pesadas com calças jeans ou vestidos de camponesas, os cabelos presos ou soltos sem muita preocupação. Talvez fosse a ausência da maquiagem que revelava a maçã dos rostos queimadas de sol e as pestanas que realçavam os olhos. Talvez...

Forcei-me a afastar os pensamentos. Não estava ali nem uma semana, e já pensava em fazer “a limpa” nas garotas?

Cruzei minha fazenda e vi que Rex não estava mais ali. Enfim, me preocuparia com isso depois.

Cheguei ao outro lado do rio e segui para a casa do Gotz, mas vi o guarda escorado na porta antes mesmo de passar pelas árvores.

- Raymond! – ele exclamou. – Eu fui na sua fazenda, mas ele num tava mais lá...

- Eu sei, é por isso que eu estava procurando por você. Ele está na praça! Ele acabou de ir pra lá!

- O quê? Ele ta na praça agora?! Ótimo! Eu pego ele dessa vez, com certeza!

E assim que ele se virou e seguiu em direção à praça, ouvi alguns passos atrás de mim. Só podia ser brincadeira, não é?

- To perdido de novo... – me virei, e era exatamente quem eu esperava. Ele arrastava suas sacolas ao seu lado, e suspirava cansado. Ergueu os olhos para mim e disse: – Oh, é você! Temos nos encontrado bastante hoje.

Mas não precisei me mover para correr atrás do guarda de novo. Ele deu meia volta ao ouvir a voz do muambeiro.

- Oh! Óculos de sol, roupa amarela e uma mala! Finalmente te peguei!

- O q-que ta acontecendo?

- Desculpe, cara, mas vou ter que te revistar. Recebemos a informação que alguém estranho estava rondando pelo vilarejo, então por favor, me passe sua mala.

Não sei se o rapaz de amarelo estava cansado demais para reagir, mas o guarda pegou de suas mãos e ele não protestou. Ele abriu a mala e examinou tudo com cuidado.

- Seu guarda, eu so apenas um ambulante. Qual o problema?

O guarda não respondeu. Havia bastante saquinhos lá dentro, mas nenhum pareceu lhe interessar. Depois da terceira revistada, ele olhou desanimado para mim.

- Ohh, não encontrei nada suspeito na mala...

- Eu disse! – interrompeu o de amarelo – Eu sou apenas um ambulante!

- Você vende sementes de flores, né? Sinto muito por isso.

- Eu num me importo... agora que você entendeu.

- Talvez eu devesse comprar alguma coisa pra me desculpar...

- Bem, então... – a expressão cansada do muambeiro de repente se tornou em um sorriso largo – que tal essa deliciosa maçã? Apenas 500G!

Tanto eu quanto o guarda o encaramos espantados. Quem pagaria 500G em uma maçã?!

Ele pareceu entender nossa surpresa, mas não se acanhou.

- Oh, só estou brincando. – disse, com as mãos estendidas, se desculpando. – Isso é muito popular de onde eu venho.

- Talvez eu devesse te levar... – murmurou o guarda de modo que só eu consegui ouvi. Ele estava falando comigo? Ou a respeito dele?

Bem, não soube dizer. Olhei para o chão e encontrei a flor que Elli tinha me dado no dia anterior, e fiquei feliz por não ter sido uma total perda de tempo, afinal.

Ainda faltavam 40 minutos para as 5h, mas eu ainda tinha coisas a fazer como, por exemplo, encontrar aquele filhote. Não queria que ele me desse mais problemas.

Os dois se encaravam, e nem perceberam quando eu sai. Talvez fosse melhor assim.

Chega de aventuras por hoje. Pelo menos por enquanto.


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