De Volta ao Passado escrita por mizuke


Capítulo 4
Capítulo 4 - Popuri


Notas iniciais do capítulo

Eu não planejava postar hoje, mas eu estou entediada demais. Aproveitem!



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- Eu so o comprador, Zack. Prazer em te conhecer. – se anunciou o homem alto e musculoso, com o cabelo castanho espetado como um topete, que passava pela cerquinha. – Como um fazendeiro, só tem uma coisa que você precisa se lembrar: tem uma cesta na fazenda, e este é o lugar onde você coloca os produtos que quiser vender. – e apontou o indicador comprido para uma caixa de madeira, a poucos metros de nós que eu ainda nem tinha notado. – Eu vou passar todos os dias lá pelas cinco horas pra ver se tem alguma coisa pra pegar, e te pago na hora. Ah, mas eu num vou passar nos dias de festivais. Eu quero férias também! – e então o homem alto explodiu em uma curta gargalhada que chegou a me deixar um tanto sem graça, mas antes que pudesse o acompanhar ele continuou. – Também tem cestas no galinheiro e no curral. Você pode vender vegetais que tiver plantado, assim como as coisas que você pegar na montanha. E, claro, você pode vender ovos, lã, e leite também. Entendeu?

   Concordei com a cabeça.

- Ótimo. Eu volto às 5h.

As pessoas ali eram muito simpáticas, com certeza. Mas isso não era algo necessariamente bom. Já podia imaginar que privacidade não era uma palavra muito usada por aqui, mas não me importei tanto com isso; não de imediato.

Assim que Zack passou pela cerquinha, eu me peguei esperando por mais alguém aparecer, mas não apareceu, e me senti aliviado.

Pelo menos no começo. Quando me voltei para o imenso quintal que me aguardava, desejei desesperadamente que qualquer pessoa aparecesse para me levar para passear, conversar ou me instruir. Será que aquele almoço ainda estava de pé?

Afastei os pensamentos da minha mente e me voltei para as ferramentas que estavam encostadas na casinha de madeira. Por onde começar?

Havia pedras, mato alto e muita sujeira – não o tipo de sujeira que vemos em cidade grande, mas o tipo de sujeira que, mesmo um ser urbano como eu e você saberíamos que não serviam para plantar.

Um pouco a direita, onde o mato alto se concentrava, de repente houve um movimento rápido. O vento, imaginei, mas então o movimento recomeçou, mais intenso. Uma cobra? – imaginei, e então segurei a foice com mais força em meus dedos e engoli em seco.

É claro que naquele fim de mundo qualquer coisa poderia acontecer, mas o problema é que já tinha assistido bastante Discovery Channel para saber que as cobras atacam quando menos esperamos.

Talvez devesse chamar ajuda, mas quem? Estava congelado, e, provavelmente, ela atacaria ao primeiro movimento.

Poderia gritar, mas minha garganta estava travada.

O mato voltou a se mexer, e então segurei a foice atrás da cabeça, pronto para atacar. Talvez se ela simplesmente pulasse dali para minha cara, eu a acertaria no ar (como um rebatedor de baseball) e não precisaria me mexer.

Será que nem em situações de perigo eu consigo pensar direito?, pensei comigo mesmo, e então o primeiro passo saiu quase que involuntariamente.

Meus olhos arregalados continuavam mirando o matagal, a foice atrás da cabeça pronta para atacar, mas eu suava frio. Se fosse verdade que as cobras sentiam o cheiro do medo, eu estava literalmente perdido. Mas ela não tinha feito nada até agora, certo? Talvez isso fosse mentira, afinal.

Estava a alguns centímetros do mato, e então ele parou de dançar. Engoli em seco, e decidi que não esperaria ele voltar a se mexer para atacar.

Meus braços fizeram apenas um movimento para frente, e então eu fechei os olhos, esperando qualquer coisa pular em mim e torcendo para que meu movimento a acertasse em cheio.

Mas não houve nada.

Abri os olhos cautelosamente, primeiro olhando para frente para constar se a coisa ainda não estava no ar, vindo em minha direção, e então olhei para baixo.

Havia um filhote de cachorro roendo um pedaço de madeira, olhando para mim tão assustado quanto eu.

Ficamos ali nos encarando, até que o cachorro começou a correr e a latir, como quem pedia ajuda a alguém. Minhas pernas perderam o equilíbrio e cai sentado enquanto o animal passava por cima de mim.

O cachorro se escondeu em uma casinha que parecia com a minha, e então eu explodi em uma gargalhada. Só depois me preocupei em observar se ninguém estava me observando, mas não havia ninguém.

Levantei-me com vergonha de mim mesmo e caminhei para a casinha, carregando a foice nos ombros.

- Ei, cachorrinho...?

Isso fez eu me sentir ainda mais idiota. O que eu esperava? Que o cachorro me respondesse?

Agachei-me para olhar dentro da escura casinha, e o vi enrolado em um pedaço de pano, com os caninos a mostra para mim.

- Vem aqui... – estendi a mão que estava livre para ele. Quando percebi que ele não viria, sorri para que percebesse que não tinha nenhuma má intenção.

E então ele veio, mas não do jeito que eu esperava.

Ele saiu da casinha e cravou os caninos na palma de minha mão, e o grito que eu soltei foi tão automático quanto o movimento que eu fiz para me livrar dele.

O cachorro bateu as costas na casinha e voltou a latir para mim. Depois que a dor ficou mais controlável, soltei um palavrão espontâneo e, assim que me levantei, ele correu para fora da cerquinha, rosnando e latindo.

Caminhei para uma lagoa que ficava embaixo de uma árvore ao lado de casa e lavei minha mão ensangüentada. Não sangrava tanto quanto eu esperava, mas ainda doía.

- Isso vai causar uma infecção... – murmurei, e então guardei minhas ferramentas dentro de casa e procurei nas prateleiras e no baú qualquer antiinflamatório ou qualquer coisa que eu pudesse usar para enfaixar, mas não havia nada.

- Ótimo, meu primeiro dia aqui e já vou para o hospital.

Caminhei emburrado e irritado para fora da cerquinha, e então me lembrei que nem sabia onde ficava aquela clínica que o prefeito falara mais cedo. De fato, eu pensei, eu preciso aprender a ouvir as pessoas.

Caminhei para a direita, e então ouvi um grito que vinha da Poutry Farm:

- Oh, eu te odeio Rick!

- Popuri?!

A garota saiu correndo e nem pareceu me notar, mas o rapaz de cabelos ruivos me fitava pelo canto dos olhos, envergonhado.

- Oh, olá. Você é Raymond, certo? Acho que você escutou a gente discutindo... – caminhei em sua direção. Seu rosto estava vermelho, mas os olhos eram preocupados. – Bem, o que aconteceu foi que uma das nossas galinhas foi morta por um vira-lata.

Engoli em seco. Vira latas? Não seria aquele... – Minha irmã Popuri esqueceu de colocar ela na gaiola, então fiquei bravo e gritei com ela. Fala, você num me faria o favor de trazer ela de volta pra casa? Eu acho que ela subiu a montanha atrás de casa. Se eu for buscá-la, provavelmente a gente vai começar a discutir de novo.

Não me movi de imediato. Se fosse o vira lata que eu estava pensando, bem... isso era o mínimo que eu poderia fazer.

Sorri, assenti, e dei a volta na casa.

Por um momento não soube para onde estava indo, mas então me concentrei no barulho da cachoeira. Passei por uma casa no meio de um bosque que ficava atrás da Poutry Farm, e então tive certeza que estava no caminho certo quando notei alguns passos no caminho de terra.

Sabia que se fosse para a direita eu voltaria para minha fazenda; aquilo era tudo muito familiar. Mas então eu me decepcionei com meu sexto sentido quando percebi que qualquer idiota perceberia isso, pois de lá dava para ver o telhado vermelho de minha casa.

Saí de meu devaneio quando ouvi alguém chorando ao longe. Era ela.

Havia uma escada que parecia que tinha sido feita junto com a montanha, e então subi os degraus sem pressa.

Havia uma clareira ali. Era a clareira mais linda que já tinha visto até então. Gotículas de água conseguiam me molhar, mesmo estando tão longe da cachoeira. E ali, na margem do rio que nascia, havia uma menina de cabelos longos e rosa-bebê. Seria ela?

A garota estava com as mãos tampando o rosto, e o barulho da cachoeira não me deixou perceber de imediato que era ela que estava chorando.

Aproximei-me, e então ela olhou para mim. Aquela foi a primeira vez que vi seus enormes olhos cor-de-rosa. Seria romântico, se não estivessem tão inchados pelas lágrimas. Eu não a conhecia, mas odiei vê-la nesse estado.

- Eu to triste pelo o que aconteceu, mas o Rick é tão cruel!

- Sinto muito...

A garota enxugou as lagrimas, mas algumas insistiram em ficar ali. Ela não olhava diretamente para mim.

- O nome dela era Pon. Eu gostava muito daquela galinha, mas... – e então ela explodiu em lágrimas mais uma vez e me abraçou.

Ficamos assim por uns trinta minutos, mas para mim pareceram alguns segundos. Ela chorava em meus braços e eu limpava suas lágrimas com o lenço em meu pescoço. Seu cabelo ondulado fazia cócegas em meu nariz, mas eu não me importava. Aquela sensação... era muito... familiar...

- Sua mão está sangrando? – disse ela de repente, quebrando o silêncio. Naquele momento isso era a ultima coisa que passava em minha cabeça, mas então me lembrei que o motivo de eu estar ali era justamente por causa disso... – É melhor você procurar a Elli antes que infeccione. Ela é a enfermeira do vilarejo, num sei se você conhece...

Olhei para minha mão. Mesmo estando dentro da luva, os buracos dos caninos pareciam bastante infeccionados.

- Obrigada por ficar comigo. – disse ela sorrindo agora. – Desculpa, eu nem te conheço, mas... pera ai! Você é Raymond, o dono da fazenda Solis, né? – assenti, e então ela sorriu. – Bem, eu vou me desculpar com Rick.

Ao fundo pudemos ouvir os sinos da igreja chamando os moradores para a missa.


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Notas finais do capítulo

Já tenho um número razoável de capítulos prontos, então acredito que eles serão postados com mais frequência agora. Até o próximo capítulo o/



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