Plant escrita por mizuke


Capítulo 5
Capítulo V - Crônicas de Oitavo Neme [3/6]


Notas iniciais do capítulo

Terceira parte da saga Crônica de Neme e quarto capítulo de Plant. Espero que gostem!



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1

Houve um barulho ensurdecedor, e então silêncio. Os homens correram desesperados pelos corredores e Kiy os seguiu.

– A sala dos saiyajiins! – um deles gritou, aquele a quem os homens seguiam.

A parede estava rachada, mas continuava inteira.

– O que eles fizeram? – uma voz perguntou.

– Sabia que estava fácil demais... sabia! – outro murmurou, e então se seguiu um murmúrio de vozes acusadoras.

No meio da multidão, Kiy encontrou o olhar de Todo. Ele estava do outro lado, sorriu e ergueu a bandeja de prata. Kiy sorriu aliviada, mas logo se conteve, como medo de alguém seguir seu olhar e ter idéias erradas. Ou melhor, idéias que não gostaria que alguém descobrisse.

– Silêncio! – todos obedeceram. Era um dos guardas do presidente.

Kiy engoliu em seco quando o olhar dele se demorou no dela, e então ele continuou.

– Não desesperem! Deixe que nós cuidarmos disso.

– Mas Kido-san... há homens lá dentro! – disse um dos homens que estava próximo dele.

– De nossa raça?

– Sim!

– Como saber?

– Porque esta ser a sala dos prisioneiros saiyajiins. Eles estar a aguardar julgamento e...

– Saiyajiins?! – Kiy olhou automaticamente para Todo desesperada, como se perguntasse e agora?, mas ele não retribuiu o olhar.

– Sim, irmão! Eles chegar noite passada. Yuu-sama os deixou ai dentro para que não vissem o nascer dos sois, se não isso seria um problema, você saber.

– Eles matar nossos irmãos! – gritou outro, um pouco mais distante. Era como um grupo de crianças revoltadas que reportavam algo que acontecera na escolhinha para a mãe, um terrestre pensaria. – Ko-san, Yuri-san... até Tabo-san!

– Tabo-san? – Kido não demonstrou o que sentia, mas não era preciso. A tensão estava no ar. – Ele nem sabia lutar! Malditos... Por que não foram julgados ainda?

– Yuu-sama estava a esperar a volta do presidente. – declarou um homem que apareceu de repente, distante da multidão. Era Ykoda, mensageiro do Grande Ancião. Todas as outras vozes se calaram – Quando soubemos que ele estava próximo, marcamos o julgamento. Achamos que isto seria uma coisa que o presidente gostaria de ver.

– Sim, com certeza. Mas enquanto discutimos isto aqui, nossos irmãos estão soterrados junto com esses yokais!

– Não temos como mandar ajuda. Não tem como transportamos para a sala...

– Então derrubaremos a parede.

– Já estamos fazendo isso, Kido-san. Ali, - disse, apontando com o pequeno indicador para sua esquerda. – já estão quebrando as paredes.

E então um dos homens gritou:

– Conseguimos!

A multidão se deslocou para lá. Primeiro Ykoda, depois Kido, e aos poucos os homens se separaram para ajudar, sem precisar receber uma ordem para isso. Todo estava no meio, tirando pedra por pedra.

Ficaram assim por minutos; o único barulho que se ouvia era o de pedras caindo e de passos urgentes.

Toda a população daquele planeta estava ali, com exceção de Yuu-sama e do presidente.

– Encontrei! – declarou um deles, mas então sua voz pareceu decepcionada. – Mas... acho que ser um saeajiin...

Kido caminhou até ele curioso, mas não estava completamente descoberto. Da cintura para baixo ele continuava soterrado.

– Este ser um saiyajiin? – perguntou, se ajoelhando para observar melhor. – Ele é apenas uma criança!

– Não se engane, irmão. – disse uma voz de repente, colocando a mão em seu ombro. Era um dos homens que o levou para Yuu-sama, aquele que precisou se controlar para não pular em cima dele. Ainda não sabia quem era ele, mas sabia que não era coisa boa. Sentia isso. – Este ser o pior deles, eu acho.

Kido o olhou, tentando similar a idéia que ele tentava passar com a imagem que via.

Mas era apenas uma criança. Devia ter o que, treze anos? Quatorze? Se não fosse pela cauda, nem diria que era um saiyajiin. Parecia dormir serenamente, exatamente como uma criança.

Kido se levantou e terminou de desenterrá-lo, mas parou quando percebeu que uma de suas pernas estava presa.

– Não faça isso, Kido-san. Deixe ele morrer!

– Yuu-sama quer que ele seja julgado como um homem. Vamos respeitar a vontade do Grande Ancião, irmão.

O homem se calou, mesmo que contra sua vontade. Ele estava certo, afinal.

Kiy o observava por cima dos ombros do homem, mas só teve certeza de quem se tratava quando ele se retirou. Era aquele menino que a defendera, aquele saiyajiin...

Ela concordava com ele: este, com certeza, era mais perigoso que os outros. Não sabia como, mas sabia. Porém, não o temia. Sabia que devia, mas não conseguia.

Era apenas um garoto, afinal. Maduro demais para sua idade, isso era óbvio, mas ainda assim só uma criança. Um jovem que passou por coisas difíceis demais para que pudesse manter sua alegria juvenil. Um jovem obrigado a viver em um ambiente que não gostaria. Um jovem... como ela. Como poderia temê-lo?

– Está ferido... – murmurou Kido. Kiy voltou a si como se alguém puxasse seus pés de volta para a terra de uma só vez, e então percebeu que Kido o segurava em seus braços como se estivesse o aninhando.

– Ele vai morrer? – perguntou uma voz. Kiy pôde sentir certa esperança em sua voz, o que fez com que um ódio pequeno demais para explodir crescesse dentro dela.

– Não sei. Precisamos de alguém para curá-lo.

Kiy ajoelhou-se automaticamente. Ela poderia curá-lo. Sentiu o olhar de Todo sob ela, mas ela lhe dispensou um olhar pelo canto do olho, como se dissesse calma, eu sei o que estou fazendo, mas Todo sabia que era mentira.

– Kiy? – Kido murmurou. De onde ela tinha aparecido, afinal?

Kiy engoliu em seco e colocou uma das mãos em seu peito machucado. O uniforme azul marinho estava rasgado, e a parte do peito que estava nua estava machucada demais para que pudesse sentir sua pele, mas ela percebeu que seu coração ainda batia.

– Ele não vai morrer. – declarou – Mas precisa de cuidados médicos.

– Posso deixar ele com você, prima? – Kido sorriu, e ela o olhou assustada.

– Comigo? Eu não sei se deveria cuidar de inimi...

– Você ser a única capaz de curar por aqui, Kiy-san. – ele a interrompeu. – Pense nisso como um favor para Yuu-sama. Ou, se preferir, para o presidente.

Seus olhos se encheram de horror, e o arrependimento veio como uma vontade súbita de fugir dali que quase a dominou por completo, mas ela respirou fundo e se forçou a ficar. Estava realmente arrependida de ter se agachado.

– Por Yuu-sama, é claro. – murmurou.

Kido terminou de desenterrá-lo com três ou quatro gestos, e então se levantou e o carregou no colo. Ao fundo os homens continuavam trabalhando, procurando por seus irmãos. Nem prestavam atenção nos dois. Só Todo.

Kiy se levantou e o seguiu.


2

– Como eles aparecer? – Kido tentou puxar assunto enquanto caminhavam para algum lugar.

– Eu não sei. Bem, Ykoda-san nos avisou que teríamos companhia junto com o meteoro anual, mas jamais imaginávamos que fosse... esse tipo de companhia. – então ela olhou para o corpo que carregava, forçando desprezo. Estava imóvel e pálido, como se estivesse morto. Era incrível que seu coração ainda batesse.

Kido sorriu com seu olhar forçado, e a caminhada seguiu calada.

Entraram em um dos minúsculos quartos da enfermaria e se transportaram. Era um cubículo não muito diferente dos outros quartos, porém não havia móveis e não era nem de longe tão acolhedor quanto o outro.

Kido se ajoelhou e deitou o corpo no chão. Kiy continuou de pé, o observando de cima.

– Vou conversar com Yuu-sama para livrarmos deles o mais rápido possível. – disse, quando já estava de pé e observava o corpo. Então se virou para Kiy. – Não estou pedindo para salvar a vida dele, prima, mas se ele for tudo o que o irmão disse antes, bem... deveremos tomar cuidado. – Kiy assentiu e Kido preparou para se retirar, mas então acrescentou. – Vou encontrar com o presidente agora. Quer mandar algum recado?

Kiy segurou os braços como se estivesse se abraçando, e agradeceu por estar de costas, assim ele não veria sua expressão.

– Não... obrigada...

Kido sorriu, deu uma ultima olhada no corpo, e então se transportou.

Kiy agradeceu quando ele foi embora. Ela gostava dele, é claro (ela gostava de todo mundo ali, na verdade), mas quando ele foi embora, o ar pareceu ficar menos denso.

Ela olhou o corpo novamente, e sentiu um sentimento maternal que nunca tinha sentido antes.


3

As escavações continuaram por intermináveis horas sem nenhum progresso. Mas eles não pensavam em desistir, não enquanto não encontrassem os corpos de seus irmãos.

Quando Kido voltou, ele os encontrou exatamente do jeito que imaginou: suados, determinados.

Ao lado, como uma pilha, havia objetos semi ou totalmente destruídos, como móveis e pedaços de armaduras dourada.

– Alguma novidade? – perguntou para o homem que escavava mais próximo.

– Não senhor. Não de nossos irmãos, pelo menos. Encontramos mais um saiyajiin, mas não parece tão ferido quanto o outro. Maldito!

– Onde estar?

– Ali. – apontou para sua esquerda. Era um corpo monstruoso, deitado como se tivesse sido derrotado. Não estava tão machucado quanto o outro, mas não estava perfeito.

– Leve-o.

– Para a sala do saiyajiin?

– Não. É melhor que eles fiquem separados. Não querermos mais mortes, certo?

O homem engoliu em seco, e então o obedeceu. Mais três homens se juntaram e o ajudaram a carregar.

Kido observou os homens trabalhando por alguns segundos, até que alguém gritou sob o som das pedras sendo quebradas.

– Achei! É Guta-san!

Os homens murmuraram, e então se aglomeraram, inclusive Kido. Estavam todos curiosos e preocupados.

– Guta-san, Guta-san! – chamava um deles, dando leves tapinhas em seu rosto.

Seus olhos se abriram lentamente, mas nenhum deles pareceu surpreso.

– O qu... que aconteceu?

– Não fale. – disse Kido – Você está ferido demais.

– Não... aquele menino... o mais moço...

Guta puxou o ar com tanto esforço que seu peito esquelético se projetou para frente, parecendo que as costelas rasgariam sua pele a qualquer momento.

E então ele fechou os olhos, e Kido disse:

– Deixe-o dormir. Terminem de procurar por nossos irmãos enquanto eu peço a bênção de Yuu-sama para ele.


4

Kiy o olhava receosa de cima, como se estivesse fazendo algo de errado. Aliás, ela tinha certeza de que estava.

Curar um inimigo? Um inimigo que matou seus irmãos? Ora, isso é totalmente o oposto dos ensinamentos de Yuu-sama!

Mas quem disse que foi ele que os matou? Eles estavam em três, afinal.

Ela sabia que o fato de ele ter ficado de fora era impossível, mas parte dela se forçara a acreditar na idéia. Até que não parecia tão ridícula assim, agora, vendo-o tão quieto.

Mas por que ela queria acreditar nisso? Sabia que raças bárbaras como essa não era de confiança. Por quê?

Mais uma vez Kiy foi bruscamente arrancada de seus devaneios quando percebeu um leve movimento. Algo insignificante, talvez tivesse sido sua imaginação, mas era um movimento.

Ela se ajoelhou automaticamente e se curvou por cima dele. Não sabia o que faria, mas era tão automático quanto suas emoções que apareciam sem o mínimo sentido em seu semblante.

Ela sentia sua respiração, sentia o calor de sua pele, e sentia que não devia estar ali. Não desse jeito, tão próxima.

Mas que se dane, afinal. Ele estava quase morto e havia algo que realmente a atraía. O que de pior poderia acontecer? Quanto tempo já fizera desde que ela sentiu isso pela última vez?

Ela colocou a mão esquerda em seu peito de novo, e pôde sentir que seu coração batia mais rápido, assim como o dela. Por motivos diferentes, com certeza.

Mas além, ela sentia sua pele quente contra a sua. Não do jeito que esperava, é claro. Mais tarde ela pôde senti-la de novo, de forma mais agradável, do jeito que esperava sentir a pele de um saiyajiin.

Sentia também o calor de seu corpo subir por entre seus dedos, correr por entre suas veias, e a dominar de forma muito parecida com àquela que sentiu com Todo mais cedo.

Parecida, sim, mas não igual. Conseguiu tirar sua mão antes que ele pudesse acordar.

Kiy o observava curiosa. Por um momento, achou que ainda estivesse sendo soterrado. Mas então percebeu que não havia barulho, não havia aquele cheiro ácido, e nem os gritos desesperado daqueles homens. Aquilo era silencioso demais.

Mas suas pálpebras estavam pesadas demais para serem erguidas. Nem um homem musculoso como ele conseguiu, assim como seu maxilar estava mole demais para formar alguma palavra.

– Não se mexa. – sussurrou Kiy – Eu vou te curar.

E uma vontade enorme de fazê-lo a dominou de repente.



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Notas finais do capítulo

esse sotaque é realmente MUITO CHATO de escrever ¬¬
já perceberam que eu estou diminuindo ele aos poucos? hehe
enfim, espero que tenham gostado do capítulo de hoje e deixem reviews (e indicações, claro, não me importo)
até o próximo o/



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