Dei um tapa em minha própria testa pelo meu raciocínio lento.

-Misaki?! – Ela se aproximava, sorridente.

-Sim, Kou. – Logo passou os braços por meu pescoço, rodeando e se colocando na ponta dos pés para me dar um beijo na bochecha. – Quanto tempo, huh?

-Pois é, desde os dias de escola, não é? – Perguntei, indeciso se colocava as mãos na cintura dela ou se a empurrava. Se Yuu visse aquilo, seria um problema. – Você está linda. Não lembrava de você com o cabelo comprido.

-É, eu resolvi deixar crescer. – Respondeu puxando uma mecha do cabelo, e a enrolando nos dedos. – Vamos andar?

-Não dá, Misa... meu namor-

-Ah! Kou, você ficou ótimo loiro. E aí, como vai com a banda? – Me cortou imediatamente, sequer me dando tempo de responder.

-Vamos bem. Hoje é um dos poucos dias de folga que temos.

-Entendo. Esforçado desde a escola... você não mudou mesmo. Isso me lembra as provas e trabalhos que tínhamos. Eu achava que aquilo tudo era uma droga, mas acabou que seguimos caminhos separados, não é? Confesso que sinto falta daqueles dias. Inclusive daquela cerejeira que ficava no pátio.

-É verdade. – Sorri, me lembrando dos dias de escola. Foram simplesmente os melhores.

-E tenho o colar que você me deu até hoje, sabia? – Acrescentou, piscando um olho.

-Sério? – Cocei a nuca, nervoso. – Mas não era nada de especial, era só...

-Algo entre amigos? Pois então, Kouyou. Pra mim não foi só isso. – Misaki desviou o olhar do meu.

-Hm?

-Vejo que você realmente não mudou. Nunca percebeu que eu gostava de você como uma mulher gosta de um homem, não é?

Engoli em seco. Realmente, eu posso jurar que nunca tinha percebido isso em todos os meus anos de escola! Apenas a via como uma amiga, alguém que eu dava risada e gostava da companhia, nada mais.

-Eu...

-Eu sei, Kou. – Ela sorria. E eu não entendia mais nada. E tinha realmente um sorriso lindo. – Não tem problema.

Não sabia o que dizer. Ela me via como homem, como isso? Era estranho pensar dessa forma. Enquanto me perdia em pensamentos tentando encontrar o menor sinal dela estar apaixonada naquela época, senti uma mão me envolver pela cintura, apertando possessivamente.

-Yuu! Tinha fila lá? Você demorou.

-É Kouyou, tinha sim. Aqui. – Praticamente empurrou o sorvete pra cima de mim. Ele saíra tão... carinhoso, e voltara assim, grosso comigo. Por que?

-Ah amor, essa é a Misaki, uma amiga minha da época de escola. Acabamos nos encontrando aqui enquanto eu te esperava. – Quando finalmente o olhei no rosto, a expressão dele não era das melhores. Uma mistura de raiva e... talvez ciúmes. – Misaki, esse é o Yuu, meu namorado.

-Prazer, Yuu! – Apertou a mão dele energeticamente, sorrindo.

-Hm, prazer. – E Aoi apertou a dela sem entusiasmo algum. Misaki recuou, com uma expressão de quem fez algo que não devia.

-Bom... Kou, vou indo. O Hikaru deve estar me esperando aqui, e ele não é o tipo de cara que gosta de esperar. Então, nos vemos por aí, até! – Se despediu de nós com um aceno de mão, que retribuí.

-Yuu, olha... não é o que você tá pensando, ok? – Assim que a vi se afastar, me virei para o moreno, que não me olhava de um jeito agradável.

-Não? E ela te abraçando, te dando um beijo e...?

-Koi, ela é só uma amiga. Foi apenas me cumprimentar. E você ouviu ela agora, está indo encontrar o namorado, marido, ou seja lá o que for. Não fica bravo, por favor. – Parei de andar, e passei as mãos suavemente por seu rosto.

-Eu não estou bravo. – Respondeu seco, sem me olhar.

-Está sim. Você acha que nesses anos que moramos juntos eu não ia saber diferenciar quando você mente para não mostrar o que sente?

Mesmo sem ver o rosto dele, pude sentir que sorriu por minhas observações.

-Tanto faz. Termine o sorvete e vamos embora.