Primavera escrita por Jules


Capítulo 58
Pensamentos




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– Quem é a coisa mais linda da mamãe? – Perguntei a Carol Anne com uma voz idiota.

Eu estava começando a perceber que os bebês tinham o dom de nos deixar retardados. Carol Anne ficava mais linda e fofa a cada dia que passava e eu não sabia o que fazer com ela. É verdade. Se eu a abraçasse com muita força eu a mataria, ficar perto dela não era o suficiente para mim, tocá-la não era o bastante. Então enquanto eu fazia uma massagem nela com óleos especiais para crianças, eu considerei seriamente morder os dedos gordinhos de seus pezinhos e comer.

Mas ao invés disso, eu apenas peguei seu pé e fiz cócegas nele. Carol Anne riu, seus dentinhos já tinham crescido até a metade.

– Daqui a pouco, alguém já vai poder comer as panquecas do Taylor... – brinquei.

Carol Anne ficou feliz de imediato. Assim como eu, ela também amava as panquecas de Taylor.

– Papai! – Ela falou – Papai?

–Ouvi alguém me chamando – Taylor sorriu na porta com uma câmera fotográfica profissional nas mãos. Ele estava tirando fotos minhas e de Carol Anne e eu não tinha percebido – Oi!

– Oi – eu sorri para ele.

– Oi! – Carol Anne disse balançando a mãozinha em direção ao pai. Eu e Taylor a encaramos bobos.

– Como é? – Perguntei sorrindo.

– Oi – Ela repetiu – Oi papai!

Eu podia jurar que Taylor estava se controlando muito para não chorar. Ele chegou perto de nós e fotografou Carol Anne que sorriu para a foto.

Naquele momento uma sensação estranha me atingiu. Uma parte de mim morreu naquele minuto e eu não sabia se um dia ela iria voltar a vida. Uma perspectiva muito estranha, uma realidade possível e próxima. Eu não podia lidar com aquilo.

Faltavam apenas seis dias. Seis dias. Eu simplesmente parei de me impressionar com o quão rápido os dias, as horas, os segundos, voavam. Os treinamentos estavam ficando cada vez mais intensos e, como prometido, eu tinha alugado alguns filmes para me inspirar. Nós estávamos tão fora da realidade que Taylor estava tentando montar um álbum de família em seis dias para que, se algo acontecesse com algum de nós, Carol Anne tivesse um meio de nos manter em seu coração.

Os treinos estavam chegando ao fim, a parte mais difícil era agora. Eu ia ter que arrumar algum jeito de deixar os lobos furiosos para testar a capacidade deles de se transformarem sem perder as roupas. Marido lutaria contra esposa a partir de agora, ninguém sabia os poderes dos novos integrantes da guarda Volturi, então estávamos nos preparando para tudo.

Então quando aquele pensamento me atingiu, foi como um tiro na cabeça:

Será que eu sobreviveria para ver Carol Anne falando o meu nome? Chamando-me de mãe? Dizendo “oi” para mim, do mesmo jeito que ela dizia para Taylor?

Eu juro que se alguém tivesse dito isso pra mim, se alguém que tivesse acabado de ter um filho dissesse para mim, dois meses atrás, que lamentava o fato de nunca poder ouvir seu filho te chamando de mãe ou pai, por qualquer motivo que fosse... Eu acharia ridículo. Eu ficaria com raiva. Eu acharia que aquilo era uma besteira sem tamanho.

Mas agora eu entendia. Eu entendia o quanto isso significava para uma mãe, ainda mais depois de tudo o que eu, Taylor e Carol Anne passamos durante a minha gravidez. Depois de tudo o que eu passei, depois de tudo aquilo pelo que nós passamos, aquilo simplesmente não podia acontecer comigo.

Deus não podia permitir isso pois, apesar de me considerar um ser sem alma, eu acreditava Nele.

A única coisa que eu realmente lamentava antes de Carol Anne surgir em minha vida era perder Taylor, mas agora era ainda pior. Eu lamentava pelo bem-estar tanto de Taylor quanto o de Carol Anne. Taylor era tudo o que eu queria, tudo o que eu mais amava, eu não tinha palavras para descrever o que sinto por ele e ainda não tenho.

Carol Anne é a minha vida, assim como o pai dela também é. Ela era pequena, fraca, linda e indefesa e isso era o que a diferenciava de Taylor, pois eu sabia que Taylor agüentaria o tranco...

Mas e ela?

O que aconteceria com a minha bebezinha se um de seus pais morresse?

O que aconteceria com Taylor se eu morresse?

O que aconteceria comigo – eles não precisavam morrer – se algo acontecesse com um deles dois?

Eu não sabia

Eles perceberam que a tristeza me invadiu e os olhos de Carol Anne se encheram de lágrimas.

– M... M... – Ela tentava falar, mas não conseguia. Ela achava que eu tinha ficado triste com ela.

Tão amável! E, por mais que eu odiasse admitir isso, sabia que um dia Carol Anne se machucaria muito por se importar com a felicidade dos outros, assim como eu me machuquei a vida inteira.

Eu sorri.

– Meu anjo, quero ouviu você falar “oi” de novo – eu falei.

Ela se levantou e me abraçou. Depois deu um beijo no meu rosto e olhou no fundo de meus olhos. Ela viu que eu sorria e sorriu também.

– Oi – ela brincou e eu dei um beijo em sua testa.

– As fotos ficaram tão lindas que deveriam ser publicadas em uma revista – Taylor disse emocionado.

Nós duas sorrimos para ele ao mesmo tempo e ele tirou uma foto. Depois ele ofegou.

– Meu Deus! Vocês são tão parecidas! Como duas pessoas podem ser tão lindas assim?

Carol Anne ficou vermelha.

– Com um pai desses, como Carol Anne não seria linda? – Perguntei a Taylor.

Ele sorriu e deu um beijo em mim e em Carol Anne.


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