Primavera escrita por Jules


Capítulo 38
Esperança




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Não houve outro jeito. Juliet está sendo alimentada por uma sonda. Ela não parece estar ficando mais forte, tampouco.

– Que cheiro bom – ela sussurrou – Hum... Você está sentindo?

– Não – respondi confuso. Não havia cheiro de nada – Cheiro do que?

– Não sei dizer. É um cheiro tão bom! Faz a minha garganta arder – ela encostou o nariz em meu ombro – Você passou perfume ou alguma coisa assim?

– Hã, não. – Respondi – Não mesmo. É cheiro de perfume que você está sentindo?

Ela continuava com o rosto grudado em meu ombro.

Jacob olhou para nós. Ele se levantou e começou a andar em direção a porta.

– Tem cheiro de comida, Jules? – Jacob perguntou.

Ela arregalou os olhos.

– Sim... Agora que você disse... Tem cheiro de comida. Ai.

Por um segundo pude ver um sorriso faiscando por seus lábios. Fazia tempo que ninguém sorria ali. Talvez fosse só coisa da minha cabeça.

– Taylor eu tenho que conversar com você – ele disse e abriu a porta.

Instintivamente eu fui atrás dele. Ele continuou andando, talvez uns trezentos metros pelo caminho que levava a casa, e eu o segui de perto.

Ele parou de repente e virou-se de frente para mim. Sua expressão me paralisou.

No rosto dele pude ver quase a mesma quantidade de dor que via em meus olhos quando me olhava no espelho. Seus olhos negros ardiam nas órbitas, fora de foco, ou vendo coisas que não estavam ali.

Se ele estava deste jeito, como eu estava?

Morto. Essa era a resposta de minha pergunta.

– Ela está morrendo, não esta? – ele perguntou.

– Aquilo está matando ela.

Eu sabia que, quando disse isso, seu rosto era um eco enfraquecido do meu. Era diferente porque ele nunca a amou como eu a amo, nunca a quis como eu quero. Diferente porque ela nunca foi dele para que ele pudesse realmente perde-la.

– Discordo, não acho que é por causa disso que ela está deste jeito. De qualquer maneira... Não fique assim – ele disse colocando a mão em meu ombro – Eu acho que agora vai ficar tudo bem.

Olhei confuso e desanimado para ele.

– Quando Bella ficou grávida ela ficou tão, ou mais, doente do que a Jules. A única coisa que a fez melhorar foi...

– Foi?

– Sangue – ele respondeu – E se for o que ela precisa? Não o que o bebê queira, mas... ela queira?

– Você acha mesmo que é isso, Jacob? – Perguntei de repente esperançoso – Acha que...

– O Dr. Carlisle tem um estoque de sangue. Eu não tenho certeza se é de sangue humano que ela precisa. Se ela sentiu cheiro de comida quando estava perto de você, bom, nosso sangue não é exatamente humano.

Na medida em que as coisas estavam, eu ofereceria meu próprio pescoço para alimentá-la, mesmo que ela recusasse.

– E o que nós estamos esperando? – Perguntei. – Vamos testar sua teoria.


A família inteira se reuniu, todos agindo o mais normalmente possível para que Jules não percebesse nada. É claro que nem todos sabiam o que estava se passando. Apenas eu, Jacob, Carlisle e os pais dela ficaram ao seu lado.

Jacob apareceu com dois copos de metal com canudos dobrados e uma tampa que deixava em sigilo o conteúdo de dentro do copo.

– Jules – ele disse animado – Acho que descobrimos de onde estava vindo o cheiro que você sentiu.

Ela o olhou confusa.

– É mesmo? De onde? – Ela perguntou. Jules não era boba, ela sabia que havia algo ali.

– Daqui – ele balançou os copos – Temos duas opções. Essa – ele balançou o copo da direita que estava cheio de sangue humano –, e essa – ele balançou o copo com sangue de cervo.

Jules engoliu seco e nos olhou desconfiada.

– Vamos testar as duas, está bem? – Perguntei segurando sua mão – Nos diga de qual você mais gosta.

Jacob entregou o copo da direita para ela, devagar ela o levou até o nariz. Seu rosto se retorceu numa careta de nojo.

– Eca! O que é isso? – ela disse cheirando o canudo de novo – Definitivamente não era daqui que o cheiro estava vindo.

Jacob e eu nos olhamos rapidamente. Não era possível. Será que estávamos enganados? Será que realmente estávamos condenados a observá-la definhar a cada dia mais?

Ele pegou o copo da mão dela e mais devagar do que o necessário,lhe entregou o outro. Jules tinha uma expressão diferente do que eu jamais tinha visto em seu rosto. Uma expressão quase felina.

Ela fechou os olhos e sugou pelo canudo. Pequenos gemidos saiam de sua garganta.

Eu e Jacob sorrimos reluzentes. Ela estava com tanta fome que se deixassem ela beberia tudo de uma vez só.

– Calma, Jules – eu disse segurando seu ombro. Ela me olhou rapidamente e estava assustada. Podia ser coisa de minha cabeça – não, definitivamente não era -, mas já havia um leve tom cor-de-rosa em suas bochechas.

Eu sorri.

– Termine – eu a incentivei – nós teremos mais, se você quiser.

Ela puxou mais sangue pelo canudo e segundos depois fomos surpreendidos pelo barulho do canudo sugando o vazio.

Todos nós a encarávamos impressionados e surpreendentemente muito mais aliviados.

– O que era isso? – Ela me perguntou com uma voz fininha.

– Sangue.

Ela suspirou.

– Acho que não estou surpresa. – de repente a felicidade inundou seu rosto – se eu agüentar ficar com isso no estomago vocês vão tirar isso de mim? – ela perguntou estendendo o braço.

– Claro querida – eu dei um beijo em sua testa. – Quer mais? – Perguntei sorridente.

Ela balançou a cabeça negativamente.

– Eu queria comer alguma coisa – ela disse envergonhada – estou com muita fome.

– Hã, eu vou preparar alguma coisa – Luis disse, tão feliz quanto eu – Quer alguma coisa em especial?

Ela corou. A cor era tão bonita! Fazia tanto tempo que eu não via aquilo.

– Panquecas – ela sussurrou e olhou rapidamente para mim – pode ser?

– Claro, filha. Eu já volto.

Eu me aproximei dela e Jules segurou com força a minha mão. Parecia que havia esperança afinal.



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