Primavera escrita por Jules


Capítulo 37
Controvérsias




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As coisas mudaram muito. Já faz sete dias que nós descobrimos a gravidez de Jules. Ela não come há dias e está fraca, muito fraca. Carlisle, Jacob, Luis e eu estamos pensando seriamente em começar a alimentá-la por uma sonda.

- Nunca vi você com barba – ela sussurrou sorrindo enquanto passava a mão em minha barba que começava a crescer – Você fica realmente lindo assim.

- Obrigada, amor – eu sorri.

Nós estávamos deitados na cama. Já era tarde da noite. Juliet não tinha mais seu rosto de boneca e isso provavelmente era o que mais me impressionava – eram suas bochechas que antes ardiam de cor e agora estavam brancas. Sua boca antes rosa e agora lívida como o resto do rosto. Ela mal tinha forças para se mexer, mal tinha forças para falar. Isso me matava, eu não sabia o que fazer para ajudá-la, além do mais, não havia realmente nada o que fazer. Ninguém sabia o porquê de tudo aquilo estar acontecendo.

No começo eu achei que tinha alguma coisa a ver com o bebê e – por mais que eu o amasse – tentei convencer Jules a desistir dessa idéia e que um dia nós poderíamos tentar novamente, ou quem sabe até adotar. É claro que ela não aceitou isso – muito pelo contrário – ficou tão magoada que eu me arrependi mortalmente de ter dito isso a ela. Eu sei que o bebê tem haver com isso, mas não acho que ele seja o responsável por todo o sofrimento. Só acho que essa gravidez desencadeou uma série de mudanças.

– É sério, Taylor. Primeiro que você sempre estará em perigo e outra coisa: eu posso mudar Tay. Eu posso dormir assim hoje e amanhã acordar careca, ou quem sabe posso criar um chifre na testa! Você me entende? Eu não queria que você tivesse que passar por isso... Se isso realmente acontecesse.

Aquelas palavras finalmente haviam feito sentido. Agora eu sabia o que ela queria dizer a tanto tempo atrás. Mas eu não me arrependo por nenhum segundo de minha vida. Eu a amo e vou ajuda - lá a passar por tudo isso.

Com muita dificuldade, Jules levantou-se da cama e começou a andar em direção a porta.

- Aonde você vai? – Perguntei.

- Tomar banho. Eu já volto.

Levantei-me e fui atrás dela. Jules não conseguia andar direito. Ela foi cambaleando até o banheiro e não pareceu ter percebido a minha presença.

Quando ela virou-se para fechar a porta ela me encarou.

- Oi? – ela disse devagar.

- Deixe-me entrar – pedi, tentando entrar no banheiro.

- Por...? – Ela disse espantada.

- Porque eu não vou deixar você tomar banho sozinha. Você mal consegue andar! Se você escorregar... – eu não consegui terminar.

- Taylor, eu consigo tomar banho sozinha. Estou falando sério, acredite em mim – ela explicou numa tentativa fracassada de me fazer ir embora.

- Eu nem estou te olhando – eu disse brincando e olhando para cima.

- Você vai mesmo fazer isso comigo? – Ela perguntou angustiada.

Eu não respondi. Liguei o chuveiro e entrei com ela dentro do Box. Tirei a blusa dela e não reparei em nada como tinha prometido. Mesmo fazendo esforço foi impossível deixar de reparar algumas coisas em seu corpo devastado e esquálido. Era apenas pele e osso, osso e pele.

- Meu Deus – sussurrei enquanto lavava seus ombros.

Ela se encolheu.

- Eu não queria que você me visse assim. – ela se desculpou.

As palavras saíram num jorro de verdade. Tão rápidas e cruéis, eu não fui capaz de controlá-las.

- E você ficou nervosa comigo quando lhe pedi para desistir disso. Olhe o que está acontecendo com você!

Um tremor violento sacudiu seu corpo. Ela ficou em silencio.

- Eu pedi para você sair, não pedi? – Ela disse entredentes, não foi uma pergunta – Você acha que eu queria que me visse assim? Eu sei que eu não tenho mais o corpo daquela mulher de sete dias atrás – eu queria que você me visse quando eu estivesse daquele jeito, não assim.

Eu não sabia o que dizer para ela. Diz o que quer, ouve o que não quer – eu nunca aprendia. As lágrimas já escorriam em meu rosto a esta altura. O que acontecia comigo?

A verdade é que eu não suportava a idéia – nem mesmo o pensamento – de viver sem Jules, de viver sem seu sorriso, sua voz, sem seus defeitos. Viver num mundo completamente estranho onde o único motivo da minha existência, ironicamente, não existiria. Não mais.

Isso me destruía. Partia meu coração como se ele não fosse feito de nada. Eu não conseguiria, eu não sobreviveria.

Ela olhou assustada para mim quando percebeu que eu estava chorando. Sem se importar se estava nua ou não, ela me abraçou com força e isso me impressionou. Talvez ela não estivesse tão doente assim.

- Pelo amor de Deus – ela disse em pânico, segurando meu rosto em suas mãos – Não chore, não por mim. Vai ficar tudo bem.

- Eu não vejo como.

- Eu prometo Taylor – ela disse com tanta convicção que eu fui completamente tomado pela verdade de suas palavras – Eu juro que vai ficar tudo bem. Eu disse que seria sua pra sempre não disse? – ela sorriu – Pois eu serei. Acredite.

Eu a abracei com força. Não me importei se estava todo molhado ou não, quando a abracei só estive ciente do volume de sua barriga, mais nada.

Ela havia me prometido, mas ainda sim eu não estava totalmente em paz. Ela colocou uma roupa e eu a levei para cama.

- Está tudo bem? – Ela perguntou.

- Sim, mas isso não importa – eu brinquei – Como você está?

- Pra mim importa. E muito – ela respondeu se aproximando de mim – estou bem, obrigada.

Encaramos-nos por vários minutos até os olhos dela começarem a se fechar. Era engraçado, ela lutava contra seu sono, mas não tinha força suficiente para isso. Ela finalmente cedeu e depois de alguns segundos sua boca abriu-se num O redondo e ela adormeceu.

Parecia um anjo. Um anjo dormindo bem ao meu lado. Sua expressão transmitia tanta paz, tanto cansaço. Os olhos contornados pelos cílios compridos ainda pareciam os de uma boneca – isso não havia mudado. Depois de alguns segundos observando-a, também cai na inconsciência. 


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