Primavera escrita por Jules


Capítulo 31
Neura.




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A luz do sol em meus olhos me despertou pela manhã. O vento batia com força na pele nua de minhas costas. Não fazia idéia de que horas eram. Só estava ciente de que braços fortes me mantinham colada em seu peito.

Dei um meio sorriso mas não abri os olhos, estava feliz demais para mudar qualquer coisa que fosse. Os únicos sons eram o de nossa respiração, a água do lado de fora, nosso coração batendo...

Deitar no peito de Taylor era o antídoto perfeito contra o frio. A sensação era quente e natural. Seus dedos acariciavam suavemente meu braço.

Meu estômago roncou e eu ri,

– Qual é a graça? – Ele murmurou.

Em resposta a pergunta dele, meu estômago roncou e eu ri de novo.

Ele não riu comigo. Quando abri os olhos via a pele dourada do seu pescoço, o arco do queixo acima de meu rosto.

Ele fitava o dossel e não me olhou enquanto eu examinava suas feições graves. Sua expressão foi um choque – e me sobressaltou.

– Taylor – eu disse, com um travo na garganta – Qual é o problema?

– Precisa perguntar? – Sua voz era dura e cínica.

Meu primeiro instinto – fruto de uma vida inteira de inseguranças – foi pensar no que eu tinha feito – ou pior – no que eu não tinha feito. Talvez eu tivesse falado alguma coisa, mas eu não conseguia me lembrar de nenhum momento que não tivesse sido perfeito.

Me encolhi longe dele e abracei os joelhos. Meus olhos encheram-se de lágrimas de frustração e eu lutava contra elas. O que tinha acontecido? Não conseguia pensar em nada que pudesse tê-lo deixado daquele jeito – tão severo e frio. O que eu havia deixado passar?

Ele se sentou depressa – e chocado – quando viu minha expressão arrasada.

– O que houve? – Ele perguntou preocupado.

– Você está aborrecido. E eu não sei o porque. Será que eu... – Não consegui terminar.

Seus olhos pequenos se estreitaram ainda mais.

– Qual a extensão de seus machucados, Jules?

– Machucados? – Repeti. Por acaso ele estava falando dos hematomas que decoravam – não só o meu corpo – como o dele também? Ele estava achando que tinha me machucado? O sangue voltou a meu rosto e meu coração desacelerou quando eu fiquei mais calma.

– Taylor, querido, você já se olhou no espelho hoje?

Ele me olhou confuso.

Eu me ajoelhei na cama e fui até ele. Rocei os lábios levemente em um hematoma no seu ombro, depois passei os dedos, mal o tocando, em outro hematoma na sua coxa. Ele se avaliou rapidamente e depois sorriu.

Taylor me puxou para seu colo e eu encostei a testa na dele.

– Está doendo? – Perguntei.

– Não mesmo. E você, como está?

– Perfeita – eu sorri – Na verdade, eu nem me lembro como consegui esses hematomas.

Ele sorriu.

– Nem eu. Não me lembro de não ter gostado de alguma coisa que...

Nós fomos interrompidos pelos roncos de nossos estômagos impacientes. Eu ri com ele.

Taylor me beijou, segurando minha nuca e minhas costas. Eu abracei seu pescoço.

– É melhor eu preparar um café da manhã para nós. Vou fazer a minha especialidade – ele disse.

Eu ergui uma sobrancelha.

– Hum... Quero só ver. – Brinquei – Enquanto isso, eu vou tomar um banho, está bem?

Ele sorriu.

– Tudo bem meu amor.

Fui para o banheiro e fitei-me nua no espelho de corpo inteiro atrás da porta. Eu estava diferente. Havia pontos brilhantes nos meus olhos, eles estavam maiores que o normal. Minhas bochechas estavam vermelhas, os lábios também. Eu estava decorada com manchas azuis e roxas por alguns lugares de meu corpo. Não eram muitos hematomas, no máximo cinco.


Depois de ter tomado banho e ter vestido um shorts branco com uma blusa de alcinhas azul e comprida desconhecidas, desci descalça para o lugar de onde vinha um cheiro desconhecido, mas muito bom. Taylor virava alguma coisa na frigideira. Eu sentei-me à mesa de madeira na cozinha clara.

– O cheiro está ótimo – admiti.

– Panquecas com mel, você vai adorar.

– Eu nunca comi panquecas doces.

– Sério? – ele virou para me olhar.

– Aham. Deve ser bom.

– E, é. – Ele passou a panqueca aberta para o prato laranja. Colocou um pouco de mel e colocou-o na minha frente. Eu provei um pedaço e estava incrível.

– A propósito – ele disse, com malicia na voz – adorei suas tatuagens.

Meu rosto e meu pescoço ficaram em chamas. Eu rezei para que ele não tivesse percebido. Na minha adolescência, um dia, tive uma vontade imensa de fazer tatuagens e fiz uma joaninha no ombro e um laço na cintura. Não era nada indecente, era muito discreto e eu não queria que ele tivesse visto. Devia ter coberto elas com maquiagem.

Eu assenti.

– Isso aqui está muito bom – eu disse envergonhada.

Ele me beijou e eu nem tive tempo de vê-lo chegando perto de mim. Seus olhos negros brilhavam quando ele afastou o rosto do meu.

– Você vai ter vergonha do seu marido? – Ele brincou.

Eu sorri sem graça e ele me deu um selinho.

Taylor sentou-se à mesa e comeu junto comigo. Eu comi tudo apesar de ele ter me dado comida demais.

– Ontem nós não nadamos – ele disse pensativo – Você gostaria de nadar agora?

– Faz mal nadar depois de comer, não é? – Perguntei.

– É verdade. Nós podemos ir ver os bichinhos. Tem muitos no meio das arvores, depois nós poderiamos ir nadar – ele disse sorrindo.

Eu sorri.

– Claro – concordei.



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