JaeKyung estava sentada no chão do banheiro, apoiada em uma das paredes com as duas mãos no rosto, aos prantos.

Encostadas em uma das portas das cabines estavam suas muletas.

No piso ao seu lado estavam espalhadas algumas dezenas de bolinhas feitas com lencinhos de papel, denunciando que pelo menos uma caixa inteira já tinha sido usada.

Jessica, Jia e Victoria estavam abaixadas perto dela tentando dizer qualquer coisa que servisse de consolo, mas o barulho de seu choro e seus soluços era tão alto que talvez ela nem estivesse escutando.

Estava acabada, e não era pra menos.

Quando se olhasse no espelho e visse que sua maquiagem estava totalmente borrada por causa das lágrimas e que seu cabelo parecia ter sido mergulhado em uma frigideira com óleo, certamente teria um ataque cardíaco.

Partia meu coração vê-la naquele estado.

– Ei, vamos parar com isso agora! – falei me sentando no chão ao seu lado e tirando suas mãos do rosto.

– Falar não vai adiantar não. Estamos há séculos aqui. – disse Jia dando as costas e cruzando os braços.

– Eu.. vou.. matar.. aquela.. vadia! - ameaçou JaeKyung, totalmente rouca entre os soluços.

– Nós todas vamos, Jaekie. Nós todas vamos! – Tiffany sentou do outro lado, deixando JaeKyung no meio.

– Hunf. – bufou Jessica, repetindo o gesto de Jia – Pra mim o errado nessa história é ele. Se terminou assim, sem mais nem menos, é porque nunca nem se importou com ela.

Odiava ter que concordar com Jessica, mas ela tinha razão.

Por mais que esse fosse um pensamento um tanto feminista, era mesmo um comportamento típico dos homens. Descartar as garotas assim, dando valor apenas para a opinião dos outros, era digno do meu desprezo.

– Esquece ele. – falei – Você merece um garoto melhor, amiga.

– F-foi culpa dela! – JaeKyung rangeu os dentes enfurecida, o que me assustou um pouco.

– Vai ter volta. – disse Victoria.

– E uma bela de uma volta. – falou Tiffany.

– Podem deixar comigo. – garantiu Jessica – Eu tenho um plano.

Mas antes que ela pudesse dizer qual plano era esse, o banheiro foi invadido por um garoto louco.

E conhecido.

SungMin entrou correndo e avançou pra cima de JaeKyung, a pegando no colo e assustando uma aluna aleatória que acabava de sair de uma das cabines, que reagiu com um “tarado!” e disparou porta a fora.

– SungMin! – levantei e berrei a plenos pulmões – Isso é um banheiro feminino!

– QUE MERDA VOCÊ TÁ FAZENDO?! – gritou também Jessica.

– Vim buscar a nossa coreógrafa. – respondeu enquanto fazia força para segurar JaeKyung, que se debatia em seus braços e o xingava de todos os nomes possíveis – Temos um ensaio importante hoje. – e saiu a carregando pelo corredor.

– Só ele mesmo. – disse Jia suspirando – Mas é melhor do que ficar aqui mesmo.

– Jia tem razão. – concordou Tiffany – Vamos ensaiar porque o nosso tempo está ficando cada vez mais curto...

**

Comemorei depois o atrevimento de SungMin de invadir o banheiro feminino pra ‘resgatar’ JaeKyung.

Ela comandou o ensaio ainda com mais “sangue nos olhos” do que de costume.

Estava sendo cansativo, mas qualquer coisa era melhor do que ver a sua melhor amiga chorando pelos cantos por causa de um cara pedófilo que não valia 1₩.

– PÁRA ESSA MÚSICA JÁ! – gritou JaeKyung e SungMin a atendeu prontamente, desligando o som.

– É, ela está bem. – brincou Victoria.

Ficamos sentados no chão da sala por um bom tempo enquanto JaeKyung e Jia faziam mudanças na coreografia e SungMin praticava um novo solo em sua guitarra que seria usado no instrumental da nossa música, intitulada “A”. A letra ficaria por conta de JaeKyung e Tiffany, que escreveriam naquele mesmo final de semana.

– Aaaai, minhas costas! – me joguei no chão exausta, apertando o ombro direito que estava me castigando.

– Quer uma massagem? – TaeYeon sentou ao lado e eu imaginei que tivesse escutado errado, que estava alucinando.

– O que? – perguntei pra ter certeza.

– Uma massagem. Nas costas. – ela acenou com a cabeça e eu corei imediatamente, como sempre.

– Ah, c-claro! Eu agradeço!

Ela sorriu e se moveu para trás de mim, ficando de joelhos, e começou a sua mágica.

Fechei os olhos e me senti nas nuvens.

No paraíso.

Seus toques eram lentos e delicados, porém extremamente relaxantes. Quase que terapêuticos.

E eu estava aproveitando aquele momento como nunca na minha imaginação.

Tanto que tive que me segurar pra não deixar escapar suspiro. Ou pior, um gemido. Mas já estava ficando especialista nisso, graças à Jessica.

– Você está tensa... – ela disse baixinho.

– Ah, estou? – falei constrangida.

– Sim, está.

Deus.

Aquela garota não tinha noção do quanto conseguia me deixar louca.

– Muito forte? – ela perguntou deslizando as pontas dos dedos por dentro da minha camisa.

– Não. Está.. gostoso.

“Gostoso?! Porra, Sunny! Gostoso?! O que a menina vai pensar?!” .

Ela riu de leve e eu fiquei sem saber onde enfiar a cara.

Quando finalmente abri os olhos vi que Jessica me encarava furiosamente enquanto amarrava o cadarço do tênis. Nunca a havia visto tão irritada como estava naquele momento.

Senti um friozinho na barriga e fiz com as mãos sinais de que precisava falar com ela mais tarde.

E de fato eu precisava mesmo.

Já tinha passado algum tempo desde a fatídica festa do pijama e eu estava me sentindo um pouco... necessitada?

Não sabia exatamente se era essa a palavra certa, mas sabia que já não dava mais pra ficar me privando do que eu queria.

Todo santo dia eu ansiava por mais.

E Jessica era a única que poderia me ajudar com isso.

– Gente, já deu a hora! – anunciou Jessica – FIM DO ENSAIO, ADEUS!

Olhei para o relógio no alto de uma das paredes e lamentei eternamente.

Aquela massagem estava tão boa...

– Nossa, está tarde mesmo! Nem vi o tempo passar hoje. - disse Tiffany.

– Pois pra mim se arrastou. – falou JaeKyung – Mas agora vou pra minha casa. Se eu não aparecer amanhã é porque deu certo a minha tentativa de suicídio.

Ela se apoiou nas muletas e se levantou.

– E eu vou até o inferno te buscar. – disse SungMin guardando sua guitarra de volta na capa – Nós temos um concurso pra vencer e precisamos de você.

– É. O idiota tem razão – disse Jessica – E pare de pensar naquele velho ou na vadia. Já disse que tenho um plano, certo?! Confie em mim.

– Certo. Conto com vocês. Vamos, suas chinesas?!

E ela foi embora com Jia e Victoria, mas antes não se esqueceu de nos lembrar que era o meu dia de limpar o estúdio.

– Você quer que eu te ajude? – ofereceu SungMin.

– Ah, nem precisa. Pode ir pra casa terminar esse solo.

Tentei me livrar e deu certo. Tiffany também ofereceu ajuda, mas recusei com um agradecimento.

Restaram apenas Jessica e TaeYeon comigo na sala.

– Eu faço questão de te ajudar. – disse TaeYeon com um sorriso, e eu tive que pensar bem pouco na proposta.

– Eu farei isso. – cortou Jessica com raiva antes mesmo que eu ameaçasse responder – Vocês duas já passaram tempo demais juntas hoje.

Fiquei com vontade de mata-la, mas achei melhor não demonstrar.

– Ahhhhhhhh nem precisa, Taeng! Você deve estar cansada depois de hoje cedo... E eu preciso conversar com a Jessica...

– Você me chamou de Taeng de novo. – ela riu.

– Chamei?!

– Sim, chamou.

Nós duas rimos abobadas.

– Ok, já pode ir embora!!! – disse Jessica praticamente tocando TaeYeon pra fora da sala como se fosse uma vira-lata.

Ela pegou sua mochila e se despediu de mim, ignorando Jessica completamente.

E eu fiquei sozinha com a tarada.

– Enfim sós. – ela disse.

– É, né...

– E então, Sunny? O que você tanto tinha pra me dizer? – ela disse cruzando os braços e abrindo um sorriso no canto da boca.

– Eu quero mais. – respondi sem rodeios.

– Como é que é? Eu estou com um probleminha pra escutar, sabe? Não entendi direito o que você falou...

– Eu disse que eu quero mais.

– O que você quer mais?

A filha de uma vaca estava me provocando, só que dessa vez eu não a deixaria tomar o controle da situação. Não mesmo.

E com um impulso totalmente involuntário eu a empurrei pelos ombros até a parede, a prensando contra ela.

– Isso.

E respondi com um beijo.

Foi meio fail no começo, a julgar pela minha pouca experiência, mas ela logo deu um jeito de contornar a situação, me prender contra a parede em seu lugar e colocar nossas línguas em perfeita sincronia.

Ela definitivamente sabia como fazer aquilo.

Seu beijo era voraz e passional.

Um pouco acelerado, mas nada que me impedisse de desfrutar daquele gosto doce que ela tinha.

Sua respiração me fazia sentir arrepios maquiavélicos.

E enquanto o beijo ficava mais molhado, a sala ia ficando mais quente.

Metade dos botões da minha camisa já tinham sido desabotoados quando notei suas mãos trabalhando.

Por um momento me arrependi de ter ido pra escola com aquela camisa – isso sem contar o fato de ter esquecido o maldito moletom pra usar no ensaio –, mas logo pensei que foi a melhor escolha mesmo.

Se fosse uma camiseta ela certamente a teria rasgado.

– Ei, ei, ei, eiii... – interrompi o beijo – Vamos com calma!

– Não conheço essa palavra "calma". – ela disse terminando de abrir minha camisa e distribuindo beijos por toda a extensão do meu pescoço, o que me fez ir até o céu e voltar em um segundo.

– Jessica...

Os arrepios voltaram ainda mais intensos.

– Prefiro você de boca fechada.

Ela me apertou com mais força e soltou meu sutiã com uma rapidez incrível. O simples toque da sua mão fria nas minhas costas fez meus joelhos fraquejarem.

Quando elas alcançaram os meus seios então...

Tentei me livrar, mas ela era mais alta. E mais forte.

Escutei um barulho estranho.

– Merda! Tem alguém aqui, Jessica!

– Não tem ninguém aqui, sua louca.

Ela me calou com mais um beijo e voltou a atenção para os meus mamilos, apertando-os entre os indicadores e os polegares.

Eu estava delirando com tudo aquilo, mas também estava apreensiva.

Tinha certeza quanto ao barulho.

Havia mesmo alguém ali e a confirmação veio da pior maneira possível.

Tiffany abriu a porta e nos pegou no ato, bem na hora que Jessica decidiu passar a desabotoar a minha calça.

Nós duas naquele estado... Eu praticamente sem roupa e a Jessica parecendo um animal selvagem fazendo uma refeição em cima de mim.

Ela ficou perplexa, claro.

Jessica se afastou prontamente e fingiu que nada tinha acontecido. E eu fiquei lá mesmo, congelada e tentando esconder meu peito com os braços.

– Eu.. eu.. só vim pegar a minha... carteira.. que eu esqueci... ali..

Ela pegou o objeto que estava junto com um agasalho em cima da mesa de som e foi embora rapidamente.

Por um momento pude jurar que a vi chorando.

Chorando...

Mas por quê?

**

Aquela terça-feira foi como um dia comum, para a minha surpresa.

Tiffany e eu fizemos a prova de Biologia juntas e ela ignorou completamente o ocorrido.

Por algumas vezes tentei tocar no assunto e me desculpar, mas achei melhor evitar já que a própria não fez questão de falar a respeito.

Mas algo ainda estava me incomodando.

Ela não parecia feliz, apesar de aparentemente estar se esforçando pra isso.

O ensaio foi um pouco mais leve do que no dia anterior, já que a coreógrafa da vez foi Jia. JaeKyung voltou pra casa logo depois da prova. Não queria ter que descer até a cantina e encontrar o velho infeliz. Foi acompanhada por Victoria, que mais uma vez não estava se sentindo bem.

Jessica e eu não nos falamos. Mas também... não havia nenhum clima pra isso, já que eu fugi dela no dia anterior após termos sido flagradas por Tiffany.

Os únicos com quem consegui conversar normalmente foram SungMin e minha amada TaeYeon.

Estávamos mais próximas do que nunca.

Quando terminamos de ensaiar, Jessica chamou as garotas para conversar.

Fiquei com um pouco de medo de ela dar com a língua entre os dentes, mas Jessica sabia bem o que fazia.

Apenas nos contou que a primeira parte do plano “A Vingança de JaeKyung” seria colocada em prática hoje.

A notícia amenizou um pouco a tensão que estava no ar, mas Jessica não deu maiores detalhes. Disse para todas irmos para o jardim do colégio e esperarmos sentadas no banco que ficava perto da estátua do diretor – meu tio – e mantermos a discrição.

Nós achamos bem esquisito, mas obedecemos e chegamos lá em questão de poucos minutos.

SungMin quis ir também, porém Jessica fez questão de enfatizar que era uma “missão feminina” e “ooops, você não é uma garota!”.

Esperamos inquietas por um bom tempo até ouvirmos passos e a voz de Jessica logo atrás. Olhei de canto disfarçadamente e a vi se escondendo parcialmente com outra garota atrás da estátua.

– Calma, gata.. Pra que a pressa?

– Não me faça perder tempo, garota! - bradou WooRi. - Fala logo o que você quer!

– Na verdade eu só queria te fazer um convite, mas pelo jeito você não está interessada...

Vi Jessica enrolar uma mecha de seu cabelo louro com um dedo e secar WooRi dos pés à cabeça, e tive certeza que era mais um de seus truques de sedução.

– Espera. - WooRi puxou Jessica pelo braço quando ela fez sinal de que iria embora - Estou te ouvindo.

– Muito bem. - sorriu maliciosamente - Bom, é o seguinte. Tenho sobrando um ingresso vip para uma balada que vai inaugurar semana que vem. Topa?

– Balada?! Você está louca?! - WooRi diminuiu o tom de voz e eu quase não consegui entender o que ela disse a seguir - Nós temos 17 anos, hello-ow?!

– Relaxa, gata! Um dos promoters é meu amigo e ele descolou as paradas pra gente.

– Que paradas?! – ela parecia realmente assustada e ao mesmo tempo interessada.

– Os ingressos, duh!

– Ah tá..

– E então?! Você quer ou não quer? Porque se não quiser eu tenho uma outra amiga e...

– Eu quero! Você venceu! - cedeu finalmente.

– Boa garota! Providenciarei o seu documento então e te entrego junto com o ingresso na sexta.

– Que documento?!

– Seu RG falso, óbvio! Precisaremos de um.

– Você é impressionante, Jessica Jung.

– Eu sei, gata. Obrigada!

“E bem humilde.” – pensei.

– Tá bom. Estou indo embora agora. – disse WooRi – E ah, não apareça na minha frente no colégio! Me ligue e combinamos os detalhes.

– Pode deixar.

Jessica esperou WooRi se afastar bastante antes de se juntar a nós e comemorar a primeira “vitória”.

– WooRi tem razão. – disse TaeYeon – Você é mesmo impressionante.

“Impressionante” era ouvir isso da boca dela. As duas se odiavam e não era segredo pra ninguém.

– SÉRIO, JESSICA! – surtou Jia – Você é brilhante!

– Obrigada, gente. Obrigada! - ela sorriu satisfeita.

– Tá. – parei pra pensar – Isso era mesmo sério, Jessica? Vocês vão a uma dessas.. festas?!

– Vocês não, Sunny! NÓS VAMOS. Nós cinco veremos ao vivo e a cores primeiro tombo de Go WooRi. – respondeu sem conseguir conter a empolgação.

– Meu Deus! Meu pai me mata se souber que vou a um club! – disse Tiffany.

– Ele não precisa saber, sua boba! Vamos todas à outra festa do pijama e pronto.

– Certo. Mas você pretende arranjar documentos falsos pra todas?! – perguntou TaeYeon.

– Minha filha, eu já fiz isso!

Jessica tirou de sua bolsa as falsificações e distribuiu pra cada uma.

– COMO VOCÊ CONSEGUIU ISSO?! – Jia surtou novamente.

– Eu sou profissional, minha gente! E tenho meus próprios métodos.

Todas riram e ficaram completamente eufóricas com a ideia de cinco garotas de dezessete anos irem pra uma boate.

E eu fiquei preocupada.

– Ok, Sica. E onde entra a parte do "tombo da WooRi"? Nós vamos a um club, ok. E daí? - perguntei.

– Aguarde e verá.

“Isso vai dar merda...” - pensei.