- Majestade! Trago notícias dos cavaleiros!

- Onde eles estão? Conseguiram capturar algum dos guardiões? - o homem gritou, impaciente.

- Sinto muito majestade, estávamos em menor número e preferimos não nos arriscar em um combate. - disse o servo, envergonhado.

- COVARDES! - o homem gritou, jogando sua taça de prata com vinho no servo à sua frente - AFINAL AONDE ELES ESTÃO?

- Reino de Ferrier, senhor. Estão treinando e se preparando para a batalha.

- Quantos cavaleiros estão no grupo?

- Cinco, majestade. Dois deles são o príncipe e a princesa do reino Lutari.

- Maldito Howard... Mesmo depois de morto ainda consegue me atrapalhar. - disse, enquanto andava de um lado a outro, pensando em algo. - Quero que reúnam um grupo maior e façam uma visita a eles. Aqueles jovens ainda não estão prontos para um confronto, estão será fácil capturar seus guardiões.

- Senhor, um deles não estava com seu guardião.

- O quê? Do que está falando?

- Ele possui a pedra dos cavaleiros, mas parece que ainda não estabeleceu uma ligação com o guardião.

- Entendo... Então peguem a pedra. Assim conseguiremos encontrar o guardião dele.

- Mas e quanto aos dragões? O dragão da terra e da água estão com eles.

- Vocês são um bando de vermes medrosos... - ele bufou e caminhou em direção à seu assento, onde estava antes - Tudo bem, levem Nalghor com vocês. E se falharem...

- N-Não irá acontecer isso, majestade.

- Ótimo. Agora saia daqui.

James Lawrence... O príncipe de Lutari... Será que você também tem a mesma coragem de seu pai? É melhor que não tenha. Pois irei me livrar de você da mesma forma que me livrei dele...

(...)

.

Kiara

- Eu estou cansada... E com fome! - gritei, manhosa.

- E eu preciso de um banho! - agora foi Angie quem havia gritado.

- Tudo bem. Vamos voltar e almoçar. - disse Darina, menos autoritária do que o normal - William já deve ter terminado as suas armaduras.

- Elas devem estar magníficas! - disse Logan, ansioso.

- O que a gente faz com... - Marine ia perguntar, mas Darina respondeu antes.

- Deixem seus guardiões escondidos na floresta. Os dragões devem ir até as montanhas, onde estarão mais seguros e não irão atrair tanta atenção.

Todos assentiram e ordenaram a seus guardiões para que fizessem o que Darina acabara de dizer. As coisas estavam indo bem, apesar de tudo o que aconteceu. Mas algo estava me incomodando e eu não sabia o que era. Tudo bem, isso é mentira. Eu sei muito bem o que está me incomodando, e o nome disso é Carlos Wolff.

Carlos e eu éramos melhores amigos desde... Sempre. Mas desde que aceitei me casar com Peter ele tem agido estranho. Se ao menos eu pudesse contar a ele... Se eu pudesse dizer...

- Kiara?

- Hã?

- Você não vem? - Marine me encarava, desconfiada.

- Ah, claro.

Por que eu não conseguia parar de olhar pra ele? Carlos sempre foi como um irmão pra mim, um garoto bobo e brincalhão que vivia causando confusão pelo vilarejo. Mas agora... Agora ele está diferente. Está mais sério e parece ter amadurecido. Apesar dessa mudança, ele ainda continua sendo o mesmo Carlos que conheci desde criança, e por isso posso afirmar que tem algo estranho com ele.

Chegamos à casa de Darina e William veio ao nosso encontro com um enorme sorriso no rosto.

- Que bom que chegaram. Suas armaduras estão prontas.

Nossos olhos brilharam e estávamos muito ansiosos para ver como seriam nossos trajes de batalha. Huntsman nos guiou até uma outra sala de sua casa, onde lá estavam nossas armaduras, lindas e prontas para o combate.

.

- Huntsman, elas ficaram excelentes! - disse Kendall, empolgado.

- Sinto que finalmente vou realizar meu sonho... - comentou Logan, feliz. Angellina aproximou-se dele e abraçou um de seus braços, deixando Logan um pouco constrangido.

- Muito obrigado por tudo William. O reino Lutari é muito grato a você e a sua esposa pelo auxílio nessa batalha. - disse James.

- É nosso dever ajudá-los. - Huntsman sorriu - Ah... Já ia me esquecendo... Tenho uma surpresa especial para as meninas.

- Por que só pra elas? - Carlos perguntou, enciumado.

- Você não vai querer isso aqui, Carlos. - ele parou para pensar - Creio eu que não. Mas se quiser...

Huntsman soltou uma risada e saiu da sala, voltando logo em seguida com quatro caixas grandes, cada uma enrolada por uma fita de seda que terminava em um laço parecido com uma borboleta. Ele se aproximou de mim e me entregou uma das caixas, depois fez o mesmo para Angie, Marine e Valerie.

- O que estão esperando? Não vão abrir? - disse ele, rindo.

Em movimentos rápidos, desfizemos os laços e abrimos a caixa. Nem podíamos acreditar no que víamos.

- E então? Gostaram?

.

- E-Eles são lindos! Muito obrigada! - falei, emocionada.

- Esses vestidos são incríveis, mas... Como conseguiram pagar por eles? - Marine perguntou, surpresa.

- O preço não importa. É um presente. - ele olhou para a esposa - Na verdade, quem teve essa ideia foi a Darina. Ela queria mimar vocês um pouco. - ele riu, e logo em seguida teve o ombro agredido pela mesma.

- Só não fiquem mal acostumadas... - disse Darina, fingindo-se de séria.

- Obrigada Darina! - gritou Valerie, correndo em seguida para abraçar a senhora Huntsman. Nós todas fizemos o mesmo.

- Ainda quer o presente também Carlos? - perguntou William, fazendo todos nós rir.

(...)

Após o almoço, fomos descansar. Quer dizer, todos foram, exceto Carlos e eu. Ele acabou de sair de casa e está indo em direção a quermesse da cidade, então achei melhor ir atrás dele e tentar conversar, mas até agora só o estou seguindo sem que ele perceba. Mas já está ficando difícil, porque tem muitas pessoas aglomeradas aqui. Essa não... Eu perdi ele de vista.

- E agora? Pra onde é que ele foi? - falei para mim mesma - Kiara você é muito burra!

Comecei a andar mais rápido e a olhar por todos os lados, mas nada. De repente, sinto uma mão tapar minha boca e outra me puxar pela cintura em direção a um canto escuro, que dividia duas casas.

- Mmmm... Mmmmm... - tentava gritar, inutilmente. Fechei meus olhos com força, com medo do que viria a seguir.

- Shhh... - ouvi o homem ordenar. Sem pensar duas vezes, mordi sua mão com força, em uma tentativa desesperada de escapar. - Aiiii! Qual é o seu problema Kiara?! Sou eu!

- Carlos?

- Não, sou o príncipe do reino Haaquo.

- Criança.

- Maluca.

- Afinal, o que você queria? Ninguém mandou me assustar desse jeito!

- Eu quero saber o que você quer.

- Como assim?

- Por que você estava me seguindo?

- E-E-Eu não...

- Eu vi você, Kiara. Não tente mentir pra mim, porque eu te conheço e sei que você mente muito mal.

- Tudo bem, eu estava seguindo você!

- Porque...?

- Porque eu queria... Conversar.

- Tudo bem. Vamos para um lugar mais silencioso então.

Carlos segurou firme em minha mão e me guiou por entre a multidão. Senti uma sensação estranha em minha barriga ao sentir o toque quente e macio das mãos de Carlos. Meu coração bateu mais forte, me deixando nervosa e confusa. Por que eu estava me sentindo daquela forma?

- Ai! Cuidado! - uma velha senhora gritou, ao trombarmos nela, derrubando alguns de seus pertences.

- Perdoe-nos. - disse Carlos, enquanto soltava minha mão e abaixava-se para pegar as coisas da mulher.

- Obrigada meu jovem. - ela sorriu amigavelmente. Deveria ter uns 60 anos...

- Não foi nada. - Carlos sorriu - Desculpe pelo incômodo.

- Espere... - ela segurou Carlos pelo pulso, e ficou encarando-o por alguns segundos. - Tome. Fique com isto.

Ela colocou na mão dele um anel. Parecia ser muito valioso, pois era feito de prata com um cristal no centro.

- E-Eu não posso aceitar... - ele tentou devolver para ela, mas a velha fechou a mão dele e afastou-se aos poucos.

- Algo me diz que devo entregá-lo a você. Sei que cuidará bem dele.

Ela sorriu e desapareceu na multidão. Tentamos ir atrás dela, mas a velha senhora havia sumido. Carlos me olhou confuso, mas resolveu colocar o anel. Até porque ele ficaria imenso no meu dedo.

- Você entendeu alguma coisa?

- Nada. - admiti, rindo baixinho.

- Qual é a graça?

- Você anda arrasando até os corações das senhoras de mais idade...

- Pare de falar besteiras e diga logo o que queria conversar.

Nós já estávamos bem distantes da multidão e resolvemos nos sentar em um gramado, debaixo de uma macieira cheia de frutos.

- É que... Você está estranho ultimamente... Não é mais aquele garoto alegre que conheci. Nem sequer trocamos muitas palavras durante esses dias... Isso me deixa um pouco chateada. Eu sei que a situação não é para brincadeiras, mas, eu queria o antigo Carlos de volta.

Ele respirou fundo por um instante e se levantou. Parecia irritado.

- Antigo Carlos? Por que somente agora você se preocupa com isso? Porque não estou mais correndo aos seus pés como um cachorrinho?

- N-Não quis dizer isso... Eu...

- Não me interrompa. - ele me encarou, sério - Eu estou cansado Kiara. Cansado de estar perdidamente apaixonado pela melhor amiga e ela nunca notar isso. Cansado de ser rejeitado e ter que ver ela nos braços de outro homem. E quer saber? Estou cansado de todos serem especiais e terem uma criatura fantástica como guardião. O que eu fiz de errado? Por que nada dá certo pra mim? Por que não posso...

Não aguentava mais ouvir aquelas palavras. Não estava mais aguentando ouvir o desabafo desesperado de Carlos. Então acabei me deixando levar pela emoção e pela estranha sensação que estava sentindo naquele momento. Eu segurei seu rosto com firmeza e o beijei. Ele pareceu surpreso no começo, mas logo seus braços envolveram minha cintura, me puxando para mais perto. O sabor de sua boca era algo sensacional, totalmente diferente de quando beijei Peter. Era algo doce, gentil e prazeroso. E pela primeira vez, eu percebi que a única coisa que me importava agora, era ter aquele homem ao meu lado. Pois eu sabia, que não conseguiria mais viver sem ele.

- C-Carlos... Eu... - tentei dizer, ao encerrar o beijo.

- Você não faz ideia do quanto eu esperei por isso. - disse ele, sorrindo.

- Eu te amo. - falei, instintivamente.

Carlos ficou paralisado por um momento, sem acreditar. Depois sorriu e me abraçou com força.

- Eu também te amo, Kiara. Sempre amei e sempre vou amar. - ele desfez o abraço e me encarou, sério - Mas...

- Mas o quê...?

- Peter. Você precisa cancelar seu casamento com ele. Então finalmente nós poderemos nos casar, construir nossa casa, montar uma família e...

- Não posso.

- O q-quê?! M-Mas porquê? Como assim... Não pode?

- Carlos... Me desculpa... - senti meus olhos se enxerem de lágrimas - Eu não posso... Não posso romper meu noivado com Peter...

- Mas Kiara...

- CAAAAAAAAAAAAAAARLOOOOOOOOOS!

Ouvimos um grito ecoar pela multidão. Nós conhecíamos muito bem aquela voz. Era Marine e parecia angustiada.

- O que aconteceu? - perguntei, preocupada.

- Temos que correr. Estamos... Sendo... Atacados... - disse ela, tentando controlar a respiração.

- Atacados? Agora? - Carlos perguntou, e ela assentiu - Onde estão os outros?

- Na campina... James, Logan e Angie estão tentando afastá-los... Mas são muitos...

- Vamos imediatamente até lá... Desta vez eles não vão conseguir destruir outro reino.

(...)

.

.

Carlos.

Rapidamente, desviamos da multidão e corremos em direção à campina. O céu claro e limpo de antes, agora estava escuro e nublado, terrivelmente assustador. O que eu não esperava, era que aquilo não era nada perto das criaturas que haviam no local que não paravam de surgir. Lobos negros gigantescos, de olhos vermelhos demoníacos. Pássaros do tamanho de um ser humano, negros e que lembravam a forma de corvos. Haviam também alguns homens, eles eram grandes, fortes e deformados. Uma visão completamente horrível. Eeve e Nowall voavam pelos céus tentando abater os enormes corvos que surgiam sem cessar. Huntsman, Darina, James, Logan, Kendall, Angellina e Valerie lutavam em terra firme, tentando dilacerar os lobos monstruosos e os guerreiros violentos. Dolphan e Khronos faziam o mesmo, mas parecia que nada adiantava.

- E-Eu estou com medo... - disse Kiara, tremendo.

- Tudo bem. Acalme-se. - falei, segurando firme em suas mãos - Fique escondida até tudo isso acabar.

- Não! Carlos eles precisam da minha ajuda!

- Kiara, assim você estará segura. Não quero que se machuque. Por favor...

- Mas Carlos... - ela tentou falar, mas eu a interrompi com um beijo rápido.

- Eu não sei o que irá acontecer... Mas saiba que eu amo você.

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, corri atrás de Marine, que já havia ido na frente, e peguei minha espada, escudo e armadura. Eu iria lutar com todas as minhas forças. Morreria lutando se fosse preciso. Olhei mais uma vez para o campo de batalha, respirei fundo e corri em direção ao combate. A primeira coisa que fiz, foi decapitar um dos lobos. A emoção que aquilo me causou só me deixou mais animado e forte para seguir em frente. O massacre continuou e um a um, fomos eliminando aqueles demônios. Quando pensamos que a batalha estaria chegando ao fim, uma reviravolta aconteceu. As criaturas começaram a recuar lentamente, até pararem em uma certa distância afastados de nós. Eu não consegui entender o que estava acontecendo.

- Rápido! Corram! - Huntsman gritava, chamando-nos - Fiquem em formação! Agora!

- O que está acontecendo? Qual é o problema? - Angellina perguntou, nervosa.

- Eles estão recuando, não estão? - disse James, também confuso.

- Não. Eles não estão recuando. - respondeu Darina.

- C-Como assim? O que eles irão fazer então? - perguntou Logan.

- Nalghor está aqui.

Antes que pudéssemos perguntar quem era esse e do que se tratava, a resposta surgiu nos céus, deixando tudo e todos com medo.

- Aquele é Nalghor. O dragão das trevas. - disse Darina, assumindo a posição de ataque - James, Logan. Peçam para seus dragões se prepararem. Nossa única esperança em derrotar aquilo são eles.

- Tudo bem. - James e Logan assentiram.

(...)