Diário de Uma Adolescente. escrita por Mayzinhah015


Capítulo 13
Revelações.


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas tá muito bom !



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Eu podia sentir um cheiro bom, me parecia perfume, e eu não sentia mais os movimentos do carro.

Fui piscando rápido para me acostumar com a luz, mas perdi a concentração quando vi o rosto de Michael me observando.

–Bom dia, dorminhoca!

–Hmmm, oi. –Disse eu ainda sonolenta.

–Você dormiu no carro e eu fiz você trocar de roupa, diríamos que você fala e obedece quando esta dormindo.

Assustei. Olhei para mim, eu estava com meu pijama de frio, uma calça meio larga e uma blusa de mangas compridas.

–Acho melhor você levantar, você tem visitas.

–É o que?

–Visitas, na verdade, a visita.

–Quem é?

–Uma mulher. É melhor você descer.

Me levantei e Michael me esperou, fui ao banheiro e coloquei uma calça jeans clara e uma blusinha regata preta, ajeitei meu cabelo que estava desgrenhado. Desci com ele para saber quem era.

–Mãe? – Perguntei incrédula ao ver minha ‘adorável mamãe ‘ em frente ao sofá, ela estava bem, com uma calça skinning e uma bata roxa. – O que você está fazendo aqui? –Michael segurou minha mão mais forte que o normal, ele percebeu a raiva que estava em mim.

–Vim te ver filhinha! –Ela estava com um sorriso tosco na cara, como se nada tivesse acontecido, mas, se ela não lembrava, eu a faria lembrar hoje.

–Michael, porque deixou ela entrar?

–Achei que vocês precisavam conversar.

–Ah, claro! Pra fazer uma cirurgia de reconstrução da cara dela! –Minha raiva estava se misturando com rancor, mágoa, tristeza e rejeição. Se eu algum dia senti algo de bom por ela, esse dia tinha sido há um bom tempo atrás.

–Anny, fica calma. Converse com ela.

–Filha, eu...

–Cala a boca! Agora é a minha vez de ferrar com a sua vida assim como você fez com a minha! Agora só eu falo e você escuta.

Ela ficou pálida e eu soltei uma risada nervosa, histérica.

–Nossa! Você mudou filha.

–Eu já mandei você calar a merda da sua boca! Agora só eu falo e você, finge que tem educação e escuta!

–Fique calma, eu estou aqui com você. –sussurrou Michael em meu ouvido.

–Tudo estava indo bem na minha vida, eu tinha minhas amigas e minhas inimigas, eu tinha professores que eu admirava que, diferente de você, me ensinavam a ser uma pessoa melhor. E por causa de uma droga de uma expulsão por eu falar a verdade você aproveitou pra se livrar de mim.

Nesse momento, eu desci o resto de escada e Michael ficou em um canto afastado da parede onde daria pra me impedir caso eu voasse no pescoço dela.

–Porque eu mancharia sua reputação de mulher da classe alta e exemplar de Nova Iorque, Não é? Você tinha essa passagem guardada há algum tempo e aproveitou e me mandou pra cá. Você nem pensou em mim, alias, você nunca pensou nem em mim, nem no papai e no meu irmão, você pensou em você e sua reputação mesquinha desde o começo.

–Claro que pensei em vocês, mas eu...

–A Anny ainda não acabou!! –Vociferou Michael para ela, nunca o vi assim o que assustou um pouco.

–Ah, que bom que falei do papai. Toda a sua vida de casado, ele te obedecia, como um cachorrinho que foi adotado por alguém, mas com o passar do tempo, ele cansou de ser o idiota da ‘vossa alteza mamãe’ e começou a perceber o monstro que você é.

–Ele sempre me protegeu, eu lembro até hoje das brigas violentas graças ao seu ‘narizinho empinado’ que não descia do pedestal nem mesmo pra dar atenção a própria família. E, graças a sua tentativa de manter sua reputação limpa, ele morreu. – A minha vida toda passou diante dos meus olhos e lembrei-me do dia que ela me contou sobre meu pai.

–Ele morreu tentando me proteger de você! Sua egoísta! Vadia! Ele sempre foi um ótimo marido e pai e você não queria enxergar. Pegava o primeiro bombadão que via na frente e traia meu pai, eu vi! Vi o dia que você entrou no carro do meu tio! TIO! O mesmo que tentou me beijar ano passado e você disse que ele estava brincando!

Á essa altura eu já estava chorando, eu ia falando e não dava pra acreditar que eu chamei aquilo de mãe durante toda minha vida.

–Estávamos em uma festa, ele estava bêbado, não sabia o que estava fazendo!

–Não tinha festa nenhuma! Ninguém estava bêbado! Ele estava dentro do carro na frente de casa. Você estava falando com ele no celular, combinando tudo. Eu estava dormindo e você me pediu para ir trancar o portão. Eu fui de camisola mesmo.

Olhei rapidamente pra Michael e vi que seus olhos estavam vermelhos, inundados. Ele estava com ódio da minha mãe, nojo.

–Quando eu saí para trancar o portão ele me chamou pra mostrar o som novo do carro dele, eu disse que não porque eu estava com sono e era tarde. Ele me pegou pelo braço e me levou até o carro, ele me fez entrar. Estávamos no banco de trás.

Ouvi uma lufada de ar vinda de Michael como se ele tivesse levado um soco na barriga. Ele estava chorando.

–Ele me deitou no banco e subiu em cima de mim. Ele segurava minha cabeça de modo que eu não conseguia mexê-la. Eu gritei. Ele me beijou, estava violento. Gritei de novo, mas agora tinha chamado meu pai. Ele dizia “Fique calma minha sobrinha querida, o titio tá aqui.” Senti a mão dele em minha perna, mas quando eu ia gritar de novo, a outra mão tapou minha boca.

Michael estava ofegante, olhando pra mim, e chorava, muito!

–Eu já não tinha mais reação, e quando ele tirou minha camisola, ouvi um barulho estridente e senti dor na minha cabeça. Olhei pra cima, papai tinha estourado o vidro do carro, ele estava com medo. Papai abriu a porta e me puxou de dentro do carro. Mais dor, agora em minha perna. Eu o abracei com todas as minhas forças, sabia que ele ia me proteger. Ele chamou meu primo e me entregou a ele. Fechei os olhos bem forte e ele me levou pra dentro. Acordei em um hospital.

–Perguntei de você ao meu primo, e ele me contou que você foi pra delegacia pra tirar meu tio da cadeia... A partir daí, você morreu pra mim.

Alguns segundos se passaram, olhei em volta. Minha mãe, sentada no sofá, com as pernas cruzadas, como se estivesse assistindo á uma novela e Michael. Ah, Michael, meu anjo. Estava sentado no canto da sala, encolhido, ele tinha imaginado a cena. Ódio, nojo e culpa. Sentimentos que o descreviam perfeitamente naquele momento. Sentimentos que eu tinha colocado no pequeno e perfeito rosto da pessoa que me amava. Caí de joelhos, chorando também.

Minha mãe se levantou e foi andando calmamente em minha direção. Michael também se levantou, atordoado, e andou em minha direção também e entrou na minha frente, impedindo de que ela se aproximasse.

–Maldita! –Gritou Michael antes de acertar em cheio um soco que a fez cair. –Você é a mãe dela! Você tinha que ser exemplo, mas é esse monstro! Você é nojenta, suja, uma mulher digna de pena! –O ódio dele era tanto que ele a chutou, o que a fez desmaiar pela dor.

Por quatro longos segundos, só o que se podia ouvir eram os passos desorientados e a respiração acelerada e ruidosa de Michael vindo em minha direção. Ele se sentou ao meu lado, e me pegou em seu colo, aninhando-me.

–Me perdoe. –Pedia ele entre soluços. –Me perdoe por eu não ter sido capaz de te proteger desde o começo.

–Nada disso é culpa sua. –Respondi, o som da minha voz abafada pelo corpo dele.

Ele chorava, eu sabia que seria difícil para ele se recuperar, mas havia uma coisa estranha dentro de mim.

Eu sentia paz. Aliviada por ter colocado tudo pra fora, aliviada de pensar que eu estava sendo infiel sem contar isso a Michael e aliviada de não me sentir covarde em relação a minha mãe. Eu tinha vingado a morte de meu pai, feito justiça. Mas a paz logo acabou minha mãe estava acordando. Ela se levantou e foi correndo para a cozinha e pegou uma faca. Ainda estávamos sentados quando Michael gritou e senti o sangue dele molhar minha roupa.

Levantei com toda a força, mas Michael tapou meus olhos e me puxou pra ele.

–Deixa eu te ajudar! Você tá bem?

–Me escuta! –Me pediu em voz baixa. –Quando eu te soltar, você vai subir a escada sem olhar pra mim nem pra sua mãe, quando chegar no seu quarto, vai ter uma agenda telefônica na escrivaninha ao lado de sua cama, liga pra quem você achar que for melhor, mas seja rápida ou será sua mãe que se dará bem.

–Mas, você tá machucado, eu tenho medo de ...

–Você confia em mim do mesmo modo que me ama?

–Sim.

–Então faz isso por mim.

Ele soltou os braços á minha volta e eu subi bem devagar para que minha mãe não percebesse, cheguei no meu quarto e localizei a agenda, eu abri.

Primeiro liguei para a polícia.

–Polícia municipal, bom dia. Em que posso ajudar?

–Meu nome é Anny, e... Bom eu posso te passar o endereço e te explico aqui?

–Mas a base é sobre o que?

–Eu briguei com minha mãe e ela tá esfaqueando meu namorado.

Passei o endereço a ela. Primeiro telefonema concluído. Pensei mais um pouco. Uma ambulância.

–Serviço de urgência, boa tarde. Em que podemos ajudar?

–Meu namorado. Ele foi esfaqueado pela minha mãe, acho que não foi muito grave, mas não entendo dessas coisas.

–Pode me passar o endereço e seu nome?

Mais um concluído, mas agora eu não sabia mais o que fazer. Mãe.

–Aeroporto de Houston. Em que posso ajudar?

–Meu nome é Anny Bloome e eu queria saber sobre a passageira Lily Bloome.

–Qual é o grau de parentesco entre vocês?

–Eu sou filha dela. Pode me dizer quando ela chegou na cidade?

–Hmmm, de acordo com nossos dados, ela desembarcou em Houston segunda-feira da semana passada. Ás dez horas da manhã.

–Ah, claro. Muito obrigada. Tchau.

Não esperei resposta para desligar. Maldita! Ela estava observando a gente desde semana passada. Ela tinha planejado. Ela sabia que eu estava morando aqui, mas ela não sabia a relação e que e ele temos. Ela sabia que eu ia ter esse ataque, mas ela não esperava que eu fosse jogar tudo na cara dela. Ela sabia de quase tudo que fosse fundamental, mas ela não esperava essa reação de Michael, nem eu. Por isso a máscara de desespero quando Michael a socou. Tudo culpa minha, mais uma vez.

De repente o silêncio, nenhum sinal de conversa ou de briga. Apesar de estar desobedecendo Michael, desci a escada bem devagar e parei na metade dela, justamente quando o vi.

Agora não era um ferimento, eram dois, um no abdômen e outro na perna. Desci mais um degrau.

–Michael? Você está acordado?

–Acho que não.

Ouvi uma voz feminina e logo depois, ela me empurrou da escada. Cada centímetro do meu corpo doía. Ela estava em cima de mim, com a faca na mão, mas ela não estava usando.

–Me fala, onde conheceu esse molenga? Qual é o nome dele?

–Não te interessa!

–Eu acho que ele ia ficar muito triste de ter que ir no seu velório! –Ela tinha pegado a faca.

–Por favor, Lily.

–É mamãe! E agora me conta tudo!

–Ele é professor do colégio pra onde você me mandou, quando o papai morreu, começaram as férias. Ele descobriu que eu não tinha onde ficar e me trouxe pra casa dele.

–O que mais?

–É só isso!

–Fala!!!

–A gente se apaixonou e... Estamos namorando.

–E qual é o nome e a idade dele?

–Ele tem 25 anos e se chama Michael. Agora, por favor, me solta.

– Ele tem 25 anos? –Ela me olhou por alguns segundos e começou a me bater, ela batia com raiva e, a única coisa que eu sabia fazer, era gritar. Até que vi luzes na porta. A polícia enfim tinha chegado, e a ambulância também. –Eu mato você antes.

Ela me puxou pro andar de cima, trancou a gente no meu quarto e pegou a faca. Quando ela estava a centímetros de mim, eu segurei a faca a fazendo virar na direção da minha mãe, senti que tinha feito um corte em minha mão, mas eu faria tudo que fosse preciso por Michael.

–Eu te amo filhinha! Eu te amo mais que tudo! –Disse ela enquanto erguia as mãos quando virei a faca em sua direção. –Não tem coragem de me matar?

–Queria tanto poder dizer que te amo!

–Então porque não diz?

–Porque uma parte de mim quer voltar no tempo pra te dizer mais um ‘te amo’ sincero, mas a maior parte de mim só consegue chorar pela mãe que eu não tive.

–Sou sua mãe, estou aqui. Você não me considera sua mãe?

–Não. Depois de tudo o que você fez, eu não te amo.

–Acho que Michael terá um velório na agenda.

Duas coisas aconteceram nesse mesmo segundo, os policiais arrombaram a porta do meu quarto e, a segunda, dor, muita dor no lado de minha barriga.



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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Reviews??