Destinos Partilhados escrita por shamps_e_washu


Capítulo 11
Um despertar, duas mágoas


Notas iniciais do capítulo

DISCLAIMER: DN e seus personagens não nos pertencem, isso é apenas um fanfic despretenciosa com intuito de divertimento (e correção de certas 'injustiças' que todos conhecemos muito bem...)

Contém spoilers do anime e do mangá, ao menos até o episódio 25.

IMPORTANTE: os capítulos que contém cenas lemon/hentai estarão devidamente sinalizados, para que os leitores que não curtem esse tipo de cena possam pula-lás.

MUITO OBRIGADA a todos que leram, comentaram e voltaram!Chegamos ao capítulo 11, finalmente, e esperamos que se divirtam!Boa leitura!

E obrigada pelos comentários e por mostrarem que não se esquecem da gente, hehe. Acreditem, ficamos muito emocionadas! Amamos vocês!



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I’ll be the one to protect you

from your enemies and all your demons
I'll be the one to protect you

from a will to survive and a voice of reason
I'll be the one to protect you

from your enemies and your choices son

One in the same,
I must isolate you
Isolate and save you from yourself

Counting Bodies Like Sheep to the Rhythm of the War Drums - A Perfect Circle


Um Despertar, Duas Mágoas

A enfermeira visitava quarto por quarto, entregando os remédios prescritos para cada paciente. A ultima porta do corredor era do garoto que já passara das dez sessões de eletrochoque, mas nada mudara em seu quadro. Logo, precisaria da medicação especial. Ela suspirou, pensando em como uma pessoa tão jovem pode ter que passar por uma situação assim. Praticamente uma criança ainda, e os efeitos do coquetel de remédios que levava para ele nesse momento seriam irreversíveis por toda a vida. Era sempre assim nesses casos.

Mas não havia mais nada a fazer.

Ela entrou tranquilamente, mas, ao acender as luzes, soltou um grito de espanto e saiu correndo para alertar os médicos de que algo inacreditável acontecera.

Afinal, não é todo dia que um paciente desaparece como que por encanto de seus aposentos.


O ultimo andar da central de operações se tornou uma enfermaria equipada com tudo o que Raito precisaria – e obviamente isso não incluía uma aparelhagem de eletrochoque ou coquetéis venenosos. E seus enfermeiros se resumiam a L e Watari.

- Então, Raito-kun? Que vai ser hoje? Dumas? Sheakespeare?

Nada da parte técnica faltara. O necessário tubo de alimentação, os marcadores de batimentos cardíacos e pressão, a cama ideal. Tudo como só Watari conseguiria.

- Talvez prefira algo japonês. Samurais? Shinsengumi ou monarquistas?

Arrumara pijamas e cobertores novos e elegantes, se livrando dos ‘sacos de estopa’ do hospital. O quarto era mantido em uma temperatura agradável, para que o corpo não sofresse com frio ou calor. Ryuuzaki insistira nisso.

- Poesias vitorianas? Ou algo medieval?

Não esquecera de tratar com pomadas e bons ungüentos as infindáveis feridas roxas de injeções espalhadas pelos braços, queimaduras nos lados da cabeça e orelhas e as marcas das amarras nos pulsos e tornozelos.

- Se me permite, vou escolher pra você, então.

E, além de tudo isso e principalmente, daria uma companhia sólida para seu espírito perdido.

- Este me parece bom.

Começou a ler em voz alta o primeiro capítulo. Apenas sua voz limpa e suave e os sons das páginas sendo viradas preenchiam o silêncio do quarto onde estava. Era assim já fazia alguns dias, sempre no mesmo horário.

Por vezes, o velho mordomo se permitia perguntar se Ryuuzaki continuaria mantendo Raito distante de tudo e todos, deixando até a família sem saber de seu paradeiro. Nesses momentos, o jovem apenas se encolhia mais nos próprios joelhos e sempre dava o mesmo tipo de resposta.

- Não há nada que eles possam fazer. Tudo isso é entre eu e Raito, mas eu prometi a mim mesmo que devolveria a criança deles inteira e recuperada. É minha única prioridade agora.

Watari apenas suspirava discretamente e lhe entregava mais bolos, sabendo que Ryuuzaki mais uma vez colocava tudo nos próprios ombros. Típico dele. Evidente em sua postura encurvada, como se carregasse um grande peso, e em seu olhar arregalado, que parecia tentar enxergar o mundo todo. Não poderia ter sido diferente. Sempre as melhores soluções, sempre os planos mais rápidos. “Só você pode fazer isso, Ryuuzaki.” “Apenas L pode resolver isso.” Todos sempre aguardavam seu movimento. É verdade que se divertia como em um jogo, e na maioria absoluta das vezes vencia.

Mas aquela era a primeira vez que jogava esse tipo de ‘jogo’, e já começava perdendo. Mesmo assim, não culparia ninguém senão a si mesmo, e não confiaria em ninguém mais para consertar as coisas. Julgava que sempre conseguiria continuar sozinho.

E por isso agora, todos os dias, lia as historias dos autores mais variados para o garoto de olhos vazios deitado no leito. Nesses momentos, por mais que a situação fosse trágica, um brilho inexplicavelmente vivo se formava na noite escura que eram as pupilas de L, como estrelas solitárias. Com o tempo, um pouco de atenção mostrava que esse brilho voltava, pouco a pouco, aos olhos de Raito. Ryuuzaki amparou-se a esse sinal, ainda que pequeno, e teve certeza de que logo ele reagiria. Passou a ficar 24 horas ao lado dele, pronto para o despertar.

- Talvez você queira me matar quando acordar, mas tudo bem. Brigarei com você com prazer. Se estiver forte o suficiente pra isso, e, se não estiver, trate de ficar.

Na calada da noite, sentava-se na cama e acariciava seus cabelos ralos de leve, amparando sua cabeça e segurando sua mão. Verificava o branco dos olhos, satisfeito por não estar mais amarelado e doentio como nos primeiros dias fora do hospital.

- Você está mais quentinho, e a cor também está voltando. Foi perturbador vê-lo quase da mesma palidez que eu, nesses dias. Mas não falemos disso, né? Passou. E logo seus cabelos vão crescer de novo também.

Encostava a própria cabeça na dele quando o sono era demais.

- Seu coração também está batendo normalmente agora. Isso é bom, muito bom.

Não saberia dizer quantos dias demorou até que chegasse a esse ponto, mas o importante eram os resultados. Sorria de olhos fechados, com a certeza de que o pesadelo logo terminaria. A estafa dessa noite em particular não permitiu que captasse o movimento rápido dos olhos castanhos e a leve pressão dos dedos dele na mão que não soltara.

- Ryuuzaki...


Primeiro, a consciência do silêncio.

Os raios haviam cessado, depois de um tempo infindável.

Mas só percebeu isso quando a chuva amainou, tornando-se fina e constante, não mais sufocante. Ajoelhou-se, notando que havia algo mais de diferente no ar.

Ainda sentia muita dor no corpo e as marcas dos raios apareciam visíveis na pele, mas conseguia se mover, ter consciência do espaço ao redor. Respirar não doía, os olhos não ardiam. O primeiro impulso foi olhar para o céu. E finalmente detectou o que havia mudado tanto o ambiente.

A chuva ainda existia, mas era quente. Todo o lugar parecia ter sido aquecido, incluindo a água que caía. Inclusive seu coração. Abraçou-se, sorrindo.

- Tudo vai melhorar.

Olhou para os próprios pés e viu a algema ainda presa a seu tornozelo. Mas ela estava enferrujada, carcomida. Fraca. Como se tivesse absorvido a dor que antes assolava seu prisioneiro.

Raito esticou a mão e facilmente entortou e esfacelou sua corrente, deixando que caísse torre abaixo silenciosamente. Espreguiçou-se demoradamente, acordando o corpo todo.

Faltava pouco agora. Muito pouco.

nfelizmente, o estado de sua torre não era melhor do que o da corrente. Estava muito gasta, quase uma ruína, e parecia que desmoronaria a qualquer momento. Manteve-se sentado no centro dela, alerta. A chuva tinha que parar logo. Suspirou, determinado.

Precisava ajudar, também.


- Encontrei alguns poemas de Sheakespeare, Raito-kun. Você os conhece? Não lembro de termos conversado sobre eles. Na verdade, não conversamos mesmo. Lerei um para você hoje, tudo bem?

Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.

L parou por um instante, pigarreando. Já fazia alguns dias que sua garganta e voz estavam falhando, provavelmente já estava com calos, mas se recusava a interromper o ritual diário das leituras e conversas, apenas acalmando a ardência com mais água do que o costume.

Mas antes que pudesse retomar o poema, outra voz que não a sua tomou o quarto. Baixa e pausada, mas ainda assim firme.

Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

- Conheço esse poema.

L ainda demorou alguns segundos para acreditar que não era um sonho. Os olhos de Raito estavam abertos, abertos de verdade. E ele declamara, continuara o poema, falara de verdade.

Nunca pensou que pudesse ter maior alegria do que um caso resolvido, mas era isso que experimentava agora. Aliás, descobria que suas alegrias anteriores não eram nada perto desse momento.

- Raito...kun. – sorriu, os olhos marejados em um instante – Seja bem vindo de volta.

Raito ainda demorou a responder, sentindo uma dormência absurda por todo o corpo e mente. Mas em pouco tempo os pensamentos se reencaixaram e ele retomou o controle de si mesmo.

E lembrou-se de tudo.

- Ladrão desgraçado.

Fechou a mão e encarou Ryuuzaki com ódio, independente da expressão de alegria do outro. Mas infelizmente, a briga no hotel era a sua última e mais forte lembrança, quando seu mundo parou. Consciente disso, L manteve a calma.

- Olhe para si mesmo e ao redor, Raito-kun. Não tem nenhuma pergunta a fazer?

- Além de como você teve a coragem de aparecer na minha frente, não tenho mais nenhuma pergunta a fazer. –respirava forte, bufando até, irado pela visão do outro. Por que a última pessoa que queria ver na vida era a primeira a aparecer, e ainda estampando um ridículo sorriso na cara?

- Então eu responderei a essa pergunta – aproximou-se, sentando na cama independente da aura de ameaça que Raito transmitia – Estou aqui porque você está na Central, em uma enfermaria preparada para você. Esteve catatônico todo esse tempo, não andava, não comia, não falava. Semanas nisso.

Raito abrandou um milésimo a expressão, como se o desafiasse a provar aquilo. L continuou a falar, olhando nos olhos dele.

- Pode confirmar com seu pai, depois. Todos ficaram muito preocupados e desesperados, principalmente quando você foi para o Hospital psiquiátrico – nesse ponto os olhos de Raito se arregalaram – e começaram a te aplicar eletrochoques.

- Isso... isso não... está me enganando, seu... – passou as mãos nos cabelos, sentindo-os excessivamente ralos, e calou-se. L também silenciou, deixando que o garoto se examinasse melhor e constatasse tudo o que acontecera.

Realmente, não se lembrava de nada após a insanidade que tomara conta de si quando da perda do caderno e da briga com Ryuuzaki. Seria possível que chegara a tão extrema decadência? De repente, sentiu vergonha de si mesmo.

E essa vergonha o tornou mais agressivo.

- Se isso é verdade... o que estou fazendo aqui?

- Aqueles choques só iam terminar de te matar, então o trouxe para cá.

- Seqüestro? Bem típico de você. Não é a primeira vez.

As palavras cada vez mais duras de Raito esfaqueavam o coração de L, embora ele racionalmente soubesse que não poderia esperar outra coisa daquele menino genioso, orgulhoso e cuja última experiência com ele não tinha sido nada boa. Tivera tempo para absorver e esvair todo o ódio que se formou entre eles, além de ter visto Raito em situações onde toda briga se tornou pó diante da gravidade dos fatos. Mas o garoto, não. Talvez por isso não sentisse ódio do desprezo no olhar e voz dele.

- Um anjo enquanto dormia, mas agora fala como um demônio. Essa é a sua verdadeira natureza? O restante é apenas engodo? Ainda assim, tentarei.

- Não é um seqüestro. Agora que pode andar, pode fazer o que quiser. Eu – hesitou, respirando fundo – Eu só queria vê-lo bem de novo.

Raito torceu a expressão como se ouvisse uma piada bufa. E riu como tal, escrachada e impiedosamente. L não pôde deixar de lembrar-se da reação do shinigami em relação a qualquer coisa.

- Me ver bem?? De quem acha que a culpa de eu ter passado por isso? Ou é isso? Sentiu-se culpado, Ryuuzaki? Logo você? Francamente! O que espera que eu faça? Agradeça e me jogue a seus pés??

De repente, L sentiu todo o cansaço daquelas semanas cair de uma vez em suas costas. Seu olhar antes marejado tornou-se seco e sem vida como nunca, enquanto via todo o seu esforço ser repudiado e ridicularizado. Não tinha espírito filantropo, mas Raito era especial e se dedicou inteiramente àquele que agora lhe cuspia na cara.

- Nada. Não espero nada. O que eu queria já aconteceu.

Raito interpretou essas palavras da sua própria maneira, imaginando que ele se referia ao que acontecera em sua casa e ao posterior roubo, e ficou o ainda mais raivoso.

- Muito bem, então. Admite na minha cara que só me usou...seu sádico. Quer-me vivo para me torturar? Não te darei esse prazer.

Fez menção de levantar-se, mas a tontura o atingiu e L percebeu mesmo que tentasse disfarçar.

- Está fraco, ainda. Precisa de comida de verdade, Raito-kun.

- Não me chame assim. Nunca mais. E eu não preciso de nada seu! – esbravejou levantando-se de uma vez, pegando impulso e se apoiando na parede com dificuldade.

- Cadê minhas roupas?

- Não vai chegar a sua casa nesse estado. – chegou perto dele para apóiá-lo, mesmo que Raito o repelisse, e o sentou na cama.

- Peço para Watari trazer algo que te sustente.

Raito não falou nem respondeu nada até a comida vir, pois, apesar da raiva, estava faminto. L não pôde deixar de observar com gosto o garoto comer tudo, depois de tanto tempo entubado. Zonzo pela absorção de alimentos, muitas lembranças e cenas confusas se misturavam na mente de Raito. Não conseguia formular nenhuma frase inteira e coerente, e isso o frustrava.

- Mesmo que você não acredite, estou feliz que tenha acordado.

- Para me levar à forca ou transar comigo como recompensa pelo suposto socorro? Ou as duas coisas? Quer mais uma antes de me enforcar?

Ryuuzaki percebeu neste momento como Raito tinha o dom de machucá-lo, tratando aquele momento que guardava com tanto carinho como se nada fosse além de uma perversão sua. Como se não tivesse sido nada para ele também, apesar de tudo o que sentiram e falaram. Sentiu os joelhos tremerem e, sem mais poder agüentar tanta humilhação, saiu pisando duro do quarto, com raiva de si mesmo por ter feito tanto por alguém tão ingrato.

- Se é isso que quer...que pensa...que importa...

Sozinho no quarto, Raito teve vontade de chorar pela resposta que calculou e não ouviu. Apesar de tudo, queria ouvi-lo ficar indignado com uma frase tão ríspida – ainda que pretendesse continuar o ofendendo. Não pensou que esse pequeno prazer o desgastaria tão rápido, e agora a dúvida corroia seu coração como uma praga.

- Por que você não negou, Ryuuzaki? Você é assim? É realmente isso? Não posso acreditar em você tão facilmente... não posso...amar você. É proibido. Proibido. E doloroso.

Quando L voltou, escancarando a porta, trazia o objeto da discórdia em mãos. A simples visão do Death Note fez o íntimo de Raito se remexer em um misto de alegria e vertigem. O impulso foi levantar e ir até ele, algo desnecessário, pois viu o caderno ser jogado com violência em seu colo.

- Não foi para enforcá-lo e nem para qualquer outra coisa. Se for isso o que importa para você, pegue e suma da minha frente. Vá viver como achar melhor.

Raito segurou forte o caderno entre seus dedos e pareceu sentir-se revigorado, para a tristeza silenciosa de L. Quando levantou o rosto novamente, sua expressão encarando o detetive era fria e metódica.

- Pergunto-me qual é a armadilha da vez, mas vou descobrir. Por enquanto, vou levá-lo sim. Com licença, meus familiares devem estar preocupados. Preciso ir para minha casa.

Finalmente saiu do quarto, passando como uma sombra por aquele que segurara em sua mão noite após noite nos últimos dias. L sentou-se na cama de onde ele saíra, esfregando fortemente os dedos dos pés, sem querer pensar em nada em meio à quietude que se estabelecia.

Sem querer pensar na força que o Death Note dava àquela criança.

- Mas não foi ele quem te trouxe dos mortos, seu tolo. O que mais será necessário para você enxergar, Raito-kun? Vou te chamar assim o quanto eu quiser. Até que você sorria e me olhe como antes. Como me olhou uma vez.

Passou os dedos pelos olhos, enxugando lágrimas discretas. Se era essa sua punição por ter se envolvido com uma pessoa proibida, então estava sendo um verdadeiro inferno.

Um inferno que não cessaria tão rapidamente, pois, não importava o que Raito pensava agora, o que acontecera entre eles era muito mais especial e importante para Ryuuzaki do que ele podia imaginar.


O retorno milagroso e repentino de Raito a casa foi festejado pela família com muitas lágrimas e abraços, mas não desprovido de perguntas, das quais o garoto se desviava.

- Eu não me lembro de nada. Na verdade, nem gostaria de lembrar. Eu só quero viver novamente e apagar essa tristeza para sempre, não importa o que tenha sido.

Seria muito interessante poder acusar L de seqüestro e de ter sido o culpado de tudo, mas a visão de Ryuuzaki assim que despertara não lhe saía da cabeça. Pensava em falar e arranjava alguma desculpa interna para ficar calado.

- Bem-vindo de volta, Raito-kun.

- Eu... irei me deitar um pouco, acho que estou ainda tonto.

Mesmo que não quisesse pensar nisso, a verdade é que vê-lo causou-lhe, de imediato, alegria tamanha que terminou de acordar. Só sentiu-se pior quando todas as lembranças retornaram, mas, mesmo com a raiva, não deixou de reparar no estado da inesperada companhia.

- Ele estava chorando...

No íntimo, aquela voz limpa e calma embalara seu coma nos últimos tempos. Ouvira as leituras diárias de todos os seus livros favoritos, que lhe pareciam cada vez mais próximos. Sentia a mão dele na sua quando o silêncio era total, e assim o medo desaparecia por completo. Estava tão limpo e bem nutrido que isso foi reconhecido por todos como algo assombroso, pois não passava de um fiapo humano quando ficara internado.

L, por outro lado, parecia ter olheiras duas vezes maiores, o cabelo completamente desgrenhado e a palidez ainda mais acentuada. Tudo nele demonstrava estafa. Um ligeiro sentimento de culpa ameaçou o coração de Raito quando se lembrou do que dissera tão gratuitamente nessa situação.

Às vezes se surpreendia ao perceber como era tão fácil para ele despachar crueldades para todos; fazia muito tempo que não se importava mais com isso, pois se assumira como um ser superior, criador de um novo mundo, mas uma pontada de humanidade o tocou quando viu o brilho dos olhos de L murchar completamente pela força de suas palavras ingratas.

- De qualquer forma, agora já está feito. Ele vai odiar-me, eu vou esquecê-lo. E tudo ficará perdido no tempo. Tudo...tudo o que não deveria ter acontecido.

Puxou a coberta por cima da cabeça e respirou fundo, sabendo que deveria reunir forças para os próximos dias. Além de retomar a vida normal, precisava reajustar seus objetivos e formar novos planos.

Planos que não fossem atrapalhados por um par de olhos negros marejados marcados na sua consciência.


Como é linda a visão de um dia claro, sem nuvens, com o céu tão azul que faz doer os olhos.

Um dia sem chuva é uma bênção.

Uma torre reconstruída também.

Ela está tão linda! Como nunca antes esteve. Tem até alguns enfeites novos e o som que se forma ao caminhar é diferente. Mais suave. E está três vezes mais firme.

Uma pena que Ryuuzaki não está aqui para vê-la.

- MAsqueB elaTorrEARrAnJaStE EMMInhA auSEnciÂ!

Não acreditou quando sentiu nos ombros um tapinha amigável, como em uma visita surpresa de um velho amigo, e viu o conhecido rosto sorrindo ao seu lado. Tentou desvencilhar-se, mas com sua costumeira brutalidade sutil, ele manteve o braço circundando seu pescoço com força.

- AVIstaDAQuiéUMAbeLEZA. REalmEnTeMINha favoRIta.

Aproximou mais o próprio rosto do dele, abrindo completamente o sorriso rasgado.

- EuNUNCAgosTEIMuiTODeAzuLMesMO.

Mesmo com o susto e aquele conhecido terror retornando, encontrou forças para dar alguns passos para trás. Sentiu o tornozelo antes algemado começar a formigar, e torceu o nariz para o cheiro de maçã podre que começava a infestar a torre tão bela.

- Você não devia estar aqui.

- EUESTouondeSOUNECEssáRIo. ENINGUémpreciSaDeMimMaisDoQUEti.

Afagou-lhe os cabelos e deslizou a mão pelo rosto até chegar ao pescoço, circundando-o com seus dedos como uma aranha em sua presa. Raito arregalou os olhos, gelado, enquanto sentia seus pés pairarem a alguns centímetros do chão.

- EspEROQUetenhaAprOvEiTaDOoTemPOQUeteDEIprAPEnsaR.

Não havia chuva, mas uma nuvem acabava de encobrir o Sol e uma Lua cheia e amarela despontava, emoldurando as duas figuras espelhadas no topo da torre.

- PORqueSeUTEmpoACabou.


Alguns dias se passaram desde que Raito refez sua rotina, mas sem retornar às atividades de Kira. Como o assassino estava parado desde que tivera problemas, não seria interessante se voltassem juntos à ativa.

- Não darei nenhuma chance a Ryuuzaki, não importa o que ele esteja tramando.

Não conseguia entender porque afinal ele lhe devolvera o caderno intacto depois de ter lhe passado para trás. A mente lógica e calculista de Raito se recusava a acreditar que L estivesse realmente sentindo-se mal por tudo o que acontecera, ou em algo mais simples e humano ainda: estava cansado, farto de tudo aquilo.

Ainda assim, era verdade que o cansaço lhe rondava também, então se limitava a alimentar o shinigami como sua única atividade relacionada ao Death Note. Claro, aproveitara para dispensar de vez a garota com quem estava saindo também. Sentia agora repugnância por ela, quase como se Harumi fosse culpada de seus problemas atuais.

­ - De qualquer forma, esse tipo de coisa é a última de que preciso. Não precisaria da escola também, mas não agüentarei mais tempo em casa.

Nesse dia de retorno, porém, ao descer para tomar o café, a noticia na qual toda a família estava concentrada tomou sua atenção também. Estampada na primeira página, a manchete: “KIRA RETORNA”, seguido da lista de mortes por ataque cardíaco do dia anterior. Os olhos de Raito se arregalaram até as pupilas quase desaparecerem.

- Não é possível...mais contratempos??

Sentiu um início de dor de cabeça aparecendo, que se acentuou quando seu celular tocou e ouviu uma conhecida e inconfundível voz ao telefone.

- Raito-kun? Presumo que tenha visto as notícias. Parece que teremos trabalho novamente. Isso se você e seu pai ainda tiverem interesse em me acompanhar nas investigações.


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Notas finais do capítulo

Notas finais: é isso!Finalmente mais um capítulo né? Sabemos que demorou um pouquinho, mas aí está...tomara que valha a pena a espera e não, nada de reencontro romântico por hora, mas VIRÁ, e quando VIR, vai ser com tudo!Acreditem!! Esses meninos valem ouro! E o que vem a seguir é uma de nossas partes favoritas, então, nos vemos lá!!A história mal começou!

Essa música do começo a gente achou DO NADA, e tem tudo a ver com o que acontece com eles nesse capítulo. A música é bem insana, essa é a última estrofe. Vamos tentar fazer isso sempre que der, de agora em diante!

No próximo capítulo: Kira?Não é o Raito? O que está havendo? Bem, para isso temos dois gênios investigadores. Mesmo que a relação deles ande meio abalada, é melhor que procurem descobrir o que acontece.