- Selena! – comemorou Emily quando abri a porta.

- Shhh, mais baixo. – ri enquanto recebia um abraço duplo. – A Demi esta dormindo.

- Foi mal. – desculpou-se Emily, puxando Miley ao seu lado quando entraram.

- Como estão? – perguntei.

- Bem, muito bem. – respondeu Miley. – Mas a questão não é nós e sim você.

- Aaah, estou bem. – assegurei enquanto as guiava para o sofá. – Meio cansada, mas você sabem...

- Ela ‘ta progredindo? – questionou Emily interessada.

- Até demais. – sorri. – Ela esta controlando de um jeito muito inesperado a bipolaridade, as vezes acho que vai explodir então fecha os olhos e fica quieta.

- Eu li um artigo que as pessoas bipolares usam a doença como desculpa para a quebra da abstinência. – completou.

- Exato, eu li também. – confirmei. – Mas... é incrível. Hoje é o primeiro dia que ela dorme sem ser amarrada na cama.

- Você a amarra na cama? – perguntou Miley assustada. – É tão grave assim?

- Geralmente ela fica amarrada em mim. – mostrei o pulso marcado pelo ausente pano que nos prendia juntas. – Mas como ficamos todas as noites acordadas só dá sono nela essa hora, a prendo lá. Se não é possível que aja uma recaída e... não quero nem pensar.

- Nossa. – Emily cobriu a boca. – Então hoje vai ser o teste dela?

- É, como se fosse isso. – sorri massageando o cabelo.

- Mas você limpou a casa? – perguntou Miley. – Quero dizer, tirou todas as drogas?

- Vasculhei a casa inteira no primeiro dia. – respondi. – Encontrei coisas absurdas deste caixa de isqueiros até comprimidos suicidas.

- Comprimidos suicidas!? – exclamaram as duas em uníssono.

- É e o mais preocupante era que estavam na metade. – baixei o tom de voz sem perceber.

- Você acha que ela...

- Acho, por isso que fico tão preocupada com uma dor de cabeça ou tontura. – falei. – Pesquisei sobre a marca do remédio e, pelos sintomas, é muito suspeito esse tipo de dor pré-conclusão de efeito.

- Mas você deu um fim neles, certo? – perguntou Miley.

- Claro, queimei junto com o resto. – respondi obviamente. – O que me faz ficar bem mais sossegada, pois as pílulas deveriam ser consumidas de dois em dois dias e já faz uma semana e dois dias.

- Talvez o veneno já tenha saído. – concluiu Miley.

- E talvez não. – sugeriu a outra.

- Pare de pensar negativo Emy, e por falar nisso. – Miley esboçou seu sorriso de felicidade. – Meus pais vão visitar minha avó que esta doente.

- E... – desconfiei.

- Qual é Selly, festa! – completou Miley como se fosse obvio, o que de fato era vindo dela.

- Boa sorte. – ri.

- O quê? – começou novamente. – Nem vem, você vai.

- O quê? – repeti alto de mais, me punindo pela voz exagerada. – Nem pensar, a Demi não pode ficar sozinha.

- Ela vem junto. – sugeriu a loira.

- Vem junto? – disse ironicamente. – Nem pensar que vou deixar a deixar num ambiente de bebidas. Não agora que esta começando a melhorar.

- Selena, por favor. – pediu Miley. – Você não tem se divertido nada até hoje, só fica enfiada nessa casa.

- Ela tem razão. – concluiu uma voz sonolenta da escada. – Olá garotas.

- Quando você acordou? – perguntei a figura descendo desajeitadamente a escada.

- Agora. – respondeu. – E não mude de assunto, ela vai sim.

Não me senti confortável quando os olhos de minhas amigas pousaram nas pernas nuas de minha anfitriã. Claro que seu mini sorte com regada chamava atenção esboçando o calor de verão, mas de um certo modo essa era a minha visão, meu privilégio. Ela só mostrava-se assim em casa, para mim, fruto de uma intimidade ampliada sem motivo por minha mente. Ou talvez por um motivo concreto mais perto que o imaginável...

- Desculpe Miley, mas não vou. – desviei o olhar da de cabelos pretos.

- Vai sim. – desconcordou Demi, jogando-se ao meu lado. – Eu mando aqui e estou dizendo que você precisa se divertir.

- Manda aqui? – perguntei ironicamente.

- Talvez não tanto, mas isso não tem importância. – as duas riram da conversa paralela. – Pode ir, eu tenho te aprisionado aqui a muito tempo, vou ficar bem.

- Não sei... – Miley sorriu com minha mudança repentina de “não” para “talvez”.

- Pode me amarrar na cama se isso te deixar mais tranqüila. – sorriu. – Vai sim, por favor.

Sentia a possível culpa em sua voz de pensar ser o que me separava da diversão, o que não era totalmente verdade. Afinal, foi minha opção escolher as ferias de verão em particular para ajudar em especial minha irmã. O que me negava a pensar agora, sendo Demi prioridade de meta.

- Ok. – suspirei assistindo as duas pularem em comemoração.

- Não vai se arrepender. – sorriu Miley. – E, alem do mais, chamei a Taylor.

- Taylor? – questionou Demi confusa. – Conheço?

- Provavelmente não lembra. – respondi, vendo a imagem da loira em minha cabeça.

- Bem, não importa. – encolheu os ombros. – O que vale é que tem alguém interessado e você vai passar a noite com ela.

- Não tenho certeza se a Taylor é uma boa pra mim. – comentei lembrando a repulsa na fala da loira quando o assunto foi Demi e não gostava quando as pessoas a julgavam assim.

- Concerteza vai mudar de opinião. – riu Emily. – Ela é uma ótima pessoa.

- Ela toca violão, sabe conversar, é meiga e é bonita. – Miley contava as qualidades nos dedos.

Após a fala completa na morena, em uma piscada, todas essas qualidades apareceram em forma de uma imagem a minha frente e não era Taylor.

Chacoalhei levemente a cabeça expulsando a figura de cabelos negros.

- Bem, tem alguém com fome? – perguntei em uma animação forçada, mudando de assunto.

(...)

- Não preciso ir se você não quiser. – repeti.

- Chega, tudo bem. – suspirou Demi cansada. – E você tem certeza que não quer me amarrar em algum canto?

- Tenho, eu confio em você. – Sabia o quanto essas palavras pesavam nela, mas precisava confessar quando necessário.

- Não diga isso... – olhou para o chão desconfortável.

- Se comporte, ok? – pedi quando chegamos a porta da frente, onde um carro buzinava. – Por favor, eu devolvi a tesoura na cozinha...

- Não vou pegar. – sorriu timidamente.

Peguei sua mão trêmula, uma das características da abstinência de drogas.

- Aproveite. – senti sua boca tocar minha testa.

Corri para o carro guiado por Emily.

- Hm, a Taylor tem alguma chance? – brincou olhando a figura apoiada no batente da porta.

- Engraçado. – ri falsamente, quando o veiculo arrancou

Sabia que ia ser uma festa grande, por isso não me surpreendi ao ver a casa abarrotada de pessoas.

- Louca. – riu Emily tratando-se de Miley quando estacionou.

Ao entrar na casa vimos que não era muito diferente de uma casa noturna.

- Como couberam todas essas pessoas aqui dentro? – perguntou Emily, a voz mais elevada para sobressair na musica alta.

- Boa pergunta. – respondeu a voz que procurávamos.

- Você esta morta Miley. – disse pensando em seus pais.

- Não quero pensar em nada agora e, lembra da Taylor? – falou, puxando uma loira ao seu pé.

- Selena! – comemorou. – Esta bonita.

- Taylor. – sorri. – Obrigada.

- Vamos deixar vocês sozinhas, vem Emy. – as duas saíram de braços dados para uma rodinha de garotas.

Encostei-me na parede em frente a Taylor.

- Só vim nessa festa por você. – começou Taylor.

- Sério? Obrigada. – repeti o agradecimento corando.

- Sabe, me interessei por você desde a primeira vez que te vi. – declarou-se. – E fiquei tentando arrumar coragem pra aparecer na sua casa, mas ela nunca veio.

- Que isso, você é bem-vinda. – respondi, “esquecendo” de mencionar minha mudança.

- Você bebe? – disse oferecendo o copo em sua mão.

- Não. – respondi tendo uma lembrança involuntária de Demi. – Pensei que você também não.

- Vamos, é noite de diversão. – riu ainda sustentando o recipiente cilíndrico perto.

Estendi o pescoço chegando um líquido transparente que seria facilmente confundido com água.

- Bem, ok. – peguei o copo com curiosidade. – Afinal, é noite de diversão.

A outra sorriu quando tomei hesitante o álcool viscoso.