09 - Harry Potter e os Guardiões da Fronteira escrita por alinecarneirohp


Capítulo 1
DOZE ANOS




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Foi numa noite negra e sem luar que eles levaram Lúcio Malfoy para a prisão de Oz.

Era uma ironia muito grande o nome daquele lugar ser Oz. Era o segredo mais bem guardado do ministério da magia americano, a localização de sua fortaleza correcional, assim como quem eram os guardas terríveis da prisão mais temida do mundo mágico, desde que a política de Azkaban fora modificada.

   Harry Potter pensava nisso, olhando para Troy Adams, enquanto ambos escoltavam o Camaleão, Lúcio Malfoy, o primeiro, mas não o último, bruxo que ambos conduziriam à prisão americana. Era estranho que eles estivessem se embrenhando cada vez mais no prédio do ministério americano com o prisioneiro, se iam fazer uma viagem... será que usariam pó de flu? Ele não pode deixar de rir com a ironia, quando entraram num corredor escondido que tinha o chão pavimentado por tijolos amarelos... a estrada que conduzia a Oz? "Americanos têm um estranho senso de humor...", pensou.

   O funcionário que os conduzia, um guarda chaves, abriu uma porta e repentinamente estavam ao ar livre. Harry levou um susto, porque não esperava aquilo, e  Adams, pelo visto também não. Apenas Lúcio , encapuzado, parecia estar impassível enquanto era conduzido sob a ação de um feitiço que lhe paralisava os membros superiores. O guarda chaves voltou-se e disse num tom sombrio, enquanto estendia aos dois uma velha colher-de-pedreiro enferrujada e fora de uso:

   - Não percam esta chave de portal... ela é a única forma de retornarem de Oz em segurança... a entrada prisão é numa ilhota no meio de um pântano, não me perguntem onde ela fica, nem mesmo eu sei, porque a porta é só o começo... não saiam da ilhota, o lugar é perigoso mesmo para um bruxo, e a floresta que o delimita é guardada por um vendigo... ninguém que viu um vendigo teve boa sorte depois de avistá-lo, portanto, se virem uma grande sombra cinzenta ao longe cubram os olhos, o olhar dele atrai a desgraça. Vocês vão saber o que fazer ao chegar lá. Assim que ele - apontou Malfoy com o queixo - estiver entregue, voltem, não tentem explorar a terra de ninguém... os guardas cuidarão dele muito bem... não exatamente de uma forma agradável... - o homem deixou as reticências pingarem visivelmente, ele lembrava em seu sadismo o zelador de Hogwarts, Argus Filch. E esse pensamento ajudou Harry a não se preocupar muito com o que veria a seguir.

   Olhou para Troy Adams e ambos tocaram na chave de portal segurando Lúcio Malfoy pelos braços. Viajaram sabe-se lá quantas milhas até um lugar de ar fantasmagórico, que deu um arrepio em Harry, que olhou em volta desconfiado. Era realmente uma ilhota, mas mal dava para ele, Adams e Malfoy em pé... o que viria a seguir? Entendeu porque o homem disse que saberiam o que fazer: na sua frente havia um sino tosco de um metal estranho, pendurado em uma árvore, lembrando desagradavelmente a ele a figura de um enforcado. Na pequena ilhota, ele reconheceu alguns pés de mandrágora selvagem espalhados pelo chão. Sem pensar muito, estendeu a mão e tocou o sino.

   Diante deles, a água lamacenta do pântano começou a borbulhar como se estivesse fervendo intensamente. E uma escadaria apareceu do nada. Uma voz que lembrava o crepitar de folhas secas disse do fundo:

   - Não desçam... nós iremos subir. - Harry ficou esperando o som de passos que que não ouviu nunca, pois repentinamente, no alto da escada apareceram duas criaturas, dois dos guardiões de Oz, pelo que ele deduziu.

   "Assustadores" seria uma definição generosa para as duas coisas que apareceram no alto da escada. Era difícil se definir de que matéria eram feitos, mas dava para se ver que eram um homem e uma mulher, de alta estatura. Mas pareciam criaturas de fumaça e sombra, duas sombras negras que davam a impressão de serem formados por  alguma matéria oscilante que  não tinha estabilidade suficiente para se manter agregada. Apenas os olhos tinham alguma vida, mas não tinham parte branca, eram como dois pontos negros brilhantes porém sem emoção alguma no olhar. A mulher falou primeiro:

- Pode desencapuzá-lo... ele terá de olhar para muitos de nós de hoje em diante. - Troy e Harry se entreolharam e o auror americano retirou o capuz de Lúcio Malfoy, que virou a cabeça com ódio na direção de Harry. Uma cicatriz repuxava-lhe a face branca e ele abriu um esgar de raiva:

- Se eu um dia sair daqui.... você e meu filho irão pagar caro.

Harry não respondeu, realmente não havia nada de diferente a se esperar daquele bruxo. Simplesmente deixou que as duas criaturas da sombra o levassem. Sem um ruído, elas conduziram Malfoy escada abaixo e as águas do pântano se fecharam, escondendo a entrada para Oz.

- Em que lugar do país estamos, Adams?

- Nem mesmo eu sei, Potter. Nem quero saber, o pouco que sei é que o Vendigo é do Norte. Talvez estejamos até fora do país, no Canadá, por exemplo.

- Acho melhor irmos embora, já fizemos o que devíamos fazer.

- Lógico... não pretendo ficar muito tempo num lugar onde ronda um vendigo

Sem mais rodeios ele estendeu a Harry a chave e eles deixaram o local.

Pouco depois, atrás das árvores, uma criatura cinzenta com grandes olhos amarelos se moveu, do outro lado do pântano. Ele não os vira, nem fora avistado por eles.

 Muito bom assim, pois o Vendigo não gostava de gente.

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   Se Sheeba e Sirius tinham uma preocupação ela tinha nome: Hope. A garotinha sapeca que vivia com joelhos ralados foi crescendo e se tornando uma garota cabeça dura como Sirius e estourada como Sheeba.

   Aos treze anos, Hope Amapoulos Black decidiu que amava desesperadamente Bernardo Fall D'Anime, sem querer saber que o rapaz era dez anos mais velho que ela e nem desconfiava de sua paixonite.

   O filho mais jovem  de Elisabeth Fall se formara em Hogwarts já há alguns anos, e era uma promessa do novo campo da magia: os mecanicistas. Ele era especializado em estudar os artefatos trouxas e descobrir como integra-los ao mundo bruxo, isso tudo fazia parte da utopia de Arthur Weasley: o dia em que bruxos e trouxas atuariam juntos, como um só povo, em colaboração.

   Bernardo era um rapaz muito inteligente, embora não pudesse exatamente ser chamado de bonito. Não muito alto, moreno como a mãe, tinha a mesma face larga da irmã, Bianca, sem o mesmo brilho e encanto da jovem amada de Luccas Lux. Era um rapaz meio quieto e sombrio, e nunca entendeu, quando soube, o que a jovem pitonisa filha de Sheeba vira nele. Ela era toda brilho e vivacidade, ele uma certa quietude melancólica própria daqueles que pensam mais que sentem.

   Mas Hope acreditava que o amava, e cresceu com esse amor a empolgar-lhe os sentimentos meio infantis. Sheeba percebera aquilo, e um dia, quando Hope estava com quinze anos,  tocou a filha disfarçadamente, vendo o sofrimento que aquela paixonite platônica traria à filha.

- Hope, esqueça Bernardo. Ele nunca vai amar você de verdade.

- Mãe, eu fico te tocando para saber teu futuro?

- Hope... eu estou falando pelo seu bem...

- Sim, pelo meu bem, como disseram à senhora que esquecesse meu pai quando eles estava em Azkaban, para o seu bem, não é mesmo?

- Hope...

- Nunca mais me toque, ouviu? Nunca mais.

Esse diálogo marcou o início de uma nova etapa do relacionamento de Sheeba e sua filha mais velha: daí em diante, as duas jamais se tocaram sem luvas isolantes. E Sheeba decidiu que o sofrimento faria Hope aprender algo no fim de tudo.

Pouco depois de fazer dezesseis anos, Hope decidiu declarar seu amor a Bernardo, mas de uma forma especial. Era período de férias em Hogwarts, onde ela cursava o sexto ano. Levou Bernardo, como quem não queria nada, à escola nas férias, onde ela sempre tivera livre trânsito. Em pouco tempo, Bernardo já desconfiava do motivo de estarem caminhando à beira da Floresta Proibida. Repentinamente Hope correu para dentro da floresta sombria rindo, e depois de um instante de hesitação, o rapaz a seguiu, achando que ela estava ficando louca. Foi encontrá-la maravilhada acariciando a crina de um unicórnio, à beira de um pequeno lago. O animal mágico ao vê-lo disparou, deixando nas mãos de Hope um pêlo de sua crina sedosa.

- Você o espantou - ela disse fazendo um muxoxo.

- Não seja infantil, Hope , você sabe que os unicórnios gostam mais de garotas. - ela sorriu e mostrou o pelo brilhante que ficara em sua mão esquerda.

- Veja, ele me deixou um presente... isso é maravilhoso, existem mil encatamentos que podem ser feitos usando-se  pêlo de crina de unicórnio...

- Guarde-o... ele pode te ajudar mais tarde.

- Não vou guardá-lo... vou dá-lo a você -ela disse enfiando o pelo nas mãos do rapaz, que ainda tentou recusar, mas não conseguiu. Quando viu, eles estavam muito próximos. E ela o olhava, os olhos grandes e negros fixos nele com paixão. Antes que ela dissesse, ele entendeu.

- Bernardo... eu te amo. - Bernardo franziu as sobrancelhas... ela era linda, jovem e totalmente inocente, era tentador, mas ele não era um canalha. A verdade é que sabia que jamais amaria Hope Black. Devolvendo o olhar com seriedade, respondeu:

- Você está dizendo uma grande bobagem... você não me ama, nem eu amo você. Seria lindo para você  que eu te desse um beijo, e não pense que a tentação não é grande... mas isso te encheria de ilusões a meu respeito, Hope. Esqueça que me disse isso.

- Mas...

- Esqueça. Vamos voltar. Não é certo estar aqui, principalmente em sua companhia. Vou te levar para casa e vamos esquecer que isso aconteceu.

Mal se falaram no trajeto de volta, em que o pêlo de unicórnio foi esquecido no fundo do bolso da capa de Bernardo Fall. Naquela tarde, o coração de Hope sofreu uma mudança irreversível, que seria notada muito tempo mais tarde.

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Hermione Granger era agora o que podia ser definido como uma bruxa de muito sucesso. Em menos de dez anos de carreira ascendera ao segundo escalão do ministério da magia, merecidamente.

Cuidara de monitorar feitiços clandestinos com tanta competência que se tornara internacionalmente famosa por isso, e dava conferências pelo mundo explicando como desenvolvera uma técnica de monitoramento de forças das trevas que evitara inclusive o ataque a trouxas por um bruxo psicopata descoberto bem a tempo.

Ela e Ronald Weasley eram um desses casais que as pessoas contemplam de longe sorrindo, pois se ela era impertinente e teimosa,  ele parecia não levá-la muito a sério, o que fazia que tivessem sempre a melhor solução nos atritos inevitáveis.

Rony se tornara um consagrado ator bruxo de Cinema, mas também atuara em teatro e agora levantava fundos para produzir e dirigir seu primeiro longa metragem, que contava a história de como o Guerreiro da Luz aprisionara o sombrio sob a terra, mil anos antes... um épico emocionante.

Tiveram quatro filhos em escadinha, todos meninos. O primeiro, Richard, era afilhado de Harry, e a cara de Hermione. O segundo se chamou Henry e nascera logo depois do primeiro filho de Harry, que se entusiasmara, porque sabia que seu filho e o filho de seus melhores amigos estariam em Hogwarts ao mesmo tempo, e na Grifnória, ninguém duvidava disso!

Os mais jovens eram Paul e Jonas, que eram ruivos como Rony e Henry. Rony adorava provocar a esposa dizendo que afinal a marca dos Weasley era indelével. Com os quatro meninos Rony parecia voltar à infância, alguém tinha que manter o nível de insanidade naquele lugar austero, driblando a disciplina da sargento Granger, como ele gostava de dizer...

Se Hermione tinha um senão em sua vida, era seu colega de ministério e cunhado, Percy Weasley. A política conservadora dele se opunha frontalmente às idéias do pai, que eram partilhadas por Hermione. Ela se preocupava intensamente com o dia em que o Sr Weasley deixasse a pasta, o que talvez não fosse tardar, pois ele já passara dos sessenta anos, e estava há mais de quinze à frente do ministério. O que ela não imaginava é que algo mudaria irremedivelmente nas relações entra ela e o cunhado quando isso acontecesse.

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   Sirius Black avaliava seu futuro possível. Ele estava evitando falar sobre isso com Sheeba, mas sabia que ela já estava a par das suas dúvidas. Num instante haviam  passado dez anos desde que ele se tornara um "Auror Honorário". Dez ótimos anos em que ele se dividira entre o trabalho em Hogwarts (que ele amava) e o combate, que o fazia sentir vivo. Sua "identidade secreta" ficara oculta de Harry por apenas dois anos, quando concluiu que era melhor e mais honesto dizer quem era "O Demolidor" para o afilhado, que afinal já era um homem. Mas não disse quem era o outro que trabalhava disfarçado.

   Seu respeito por Severo Snape crescera consideravelmente nos últimos dez anos, pois além deles já estarem  com mais de cinqüenta anos, ele tinha que reconhecer: o cara sabia das coisas... e estava agora do lado certo. Isso não era exatamente uma licença para se tornar amigo da velha cobra de nariz de gancho, mas era um começo!

   Mas a verdade é que há coisa de uns três meses algo vinha acontecendo com Severo Snape, ele tinha certeza. Snape parecia decididamente diferente, ele não sabia porque, parecia taciturno e sombrio, mesmo quando encarnava o Mr Sandman. Isso não era normal.

   E era por causa disso que Sirius hesitava em deixar o trabalho como Auror para assumir a direção de Hogwarts, como era desejo confesso de Minerva McGonnagal, que dissera a ele que queria descansar depois de sessenta anos trabalhando na escola (ela se aproximava já dos noventa anos de idade). Não fora apenas Minerva que o escolhera como sucessor, e ele sabia disso, olhando para a gaiola à direita de sua mesa, onde Fawkes parecia cada vez mais próxima de mais uma morte, pois as penas caíam e ela ficava a cada dia mais feia.

   Abriu a gaveta e tirou a carta que a fênix trouxera para ele:

   "Então, Sirius,

Chegou a hora em que você deve decidir, não é mesmo? Eu te vi aprendendo enquanto estava ao seu lado, eu e Minerva estivemos apostando em você por todos estes anos, acreditávamos que apesar de toda sua impetuosidade, chegaria o momento em que você seria o diretor ideal para a nossa amada Hogwarts.

   Eu sei o que você deve estar pensando, que isso significa abandonar a vida de aventuras e perigos eventuais, que te fizeram renascer depois dos anos preso em Azkaban, como qual um pássaro depois de muito tempo preso, você decidiu esticar as asas e voar...

   Eu só te peço que pense... enquanto estive em Hogwarts, vivi a maior de minhas aventuras, eu fui como o salgueiro lutador: estive preso à escola, mas em momento algum deixei de defendê-la... acho que as suas mãos são as mais indicadas para defendê-la agora.

   Você está acostumado a receber minhas cartas por Fawkes, mas dessa vez, ele não irá retornar, e é melhor não comentar porque... meu grande amigo de muitos anos passa agora a te acompanhar, e espero que ele te ajude na tarefa que você tem pela frente.

Um grande abraço, e até um dia,

Alvo Dumbledore"

No instante que acabou de ler a carta, Fawkes soltou um piado agudo e pegou fogo, reduzindo-se a cinzas. Sirius respirou profundamente e tomou sua decisão: puxou um pergaminho e começou a escrever uma carta para o conselho, pedindo o desligamento definitivo do "Demolidor". Sem que ele sentisse, lágrimas involuntárias vieram aos seus olhos quando ele pensou em Alvo Dumbledore.

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   Quase um ano depois deste dia, ele avaliava um novo candidato ao cargo de defesa contra artes das trevas:

- Tem certeza que é isso que você quer?

- Tenho.

- Você é muito qualificado, mas tem certeza que quer abandonar o seu emprego? O salário aqui é menos da metade do que você ganha.

- Você sabe muito bem que eu tenho uma grande fortuna de família... não preciso me preocupar com um salário, no fundo, eu sempre quis voltar para Hogwarts, Sirius.

- Pense bem no que você vai fazer, você não é o primeiro sujeito no mundo que fica chateado com o divórcio.

- Eu não estou chateado com o divórcio, apenas quero mudar.

- Muito bem... então você está contratado. Pode assinar esse pergaminho?

Sirius estendeu um pergaminho, que o homem à sua frente assinou. Ficou calado um instante olhando ele antes de dizer:

- Eu te espero no fim do verão, Draco.

- Combinado, Sirius - ele disse, e saiu, sem dar um único sorriso.

"Esse sujeito tem problemas". Pensou Sirius, lembrando-se do filho de Draco que já estava estudando em Hogwarts.

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   Nem Draco nem Sue saberiam dizer o que havia feito seu casamento naufragar. Tinham sido dez anos de felicidade absoluta e quatro filhos: dois meninos e duas meninas, antes de começarem as brigas dos dois.

   A verdade era que ambos não haviam sabido coordenar as próprias vidas, tão diferentes, com a criação das crianças e o trabalho de ambos. O fato de um estar sempre desabando de sono quando o outro estava acabando de acordar também tinha contribuído bastante para acabar com o relacionamento. Era fato que nem Draco pretendia parar de trabalhar num horário "normal" no Ministério Americano e nem Sue aceitara diminuir a carga horária e muito menos dedicar menos tempo a caçar vampiros também contava bastante.

   John Van Helsing, que tinha vasta experiência em casamentos fracassados, ainda avisou a ambos que eles estavam tomando uma  via perigosa, mas como quase sempre acontece, não foi ouvido. Ele sabia que nem mesmo o maior dos amores pode ficar de pé num ambiente desajustado como o da família Van Helsing Malfoy.

    E secretamente John achava que sua filha como mãe deixava um tanto a desejar... ele via os netos, Draco Junior, Kayla, Jully e Mike todos os fins de semana, e sabia o suficiente para saber que simplesmente todos eram bruxos de verdade, o que ele achava que ressentia um pouco Sue... mas para ele não fazia diferença, era até melhor, imagine como seriam bruxos de sangue imune?

   E a gota d'água para Draco e Sue caíra exatamente por causa disso: ela fora contra o fato dele querer mandar Draco para Hogwarts, do outro lado do oceano, mas ele insistira tanto que ela cedera. Era um prazer para Draco levar o filho a Londres e fazê-lo embarcar no expresso de Hogwarts, como ele mesmo embarcara anos antes. Aceitara as desculpas de Sue para não ir com ele a Londres levar o menino no começo do período letivo por achar que ela não suportava muito bem o fato se se separar do menino.

   Porém, quando chegou o final do ano letivo, em que Draco sabia que o menino se saíra bem demais, destacando-se na Sonserina por méritos próprios, e ele, que já estava em Londres resolvendo alguns assuntos, percebeu que Sue não viria para buscar o garoto na estação Kings Cross. Tomou uma decisão dura e difícil: resolveu se separar definitivamente dela.

   E agora, com a segunda filha próxima à idade de ingressar em Hogwarts, resolvia recomeçar onde afinal tudo começara.

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   Bernardo Fall testava um novo modelo de moto voadora com seu amigo japonês Yoshi Hamada, sobrevoando as florestas do norte dos Estados Unidos. Cada um pilotava uma Honda adaptada, um projeto ultra-secreto, com proteção anti-trouxa e escudo anti-radar, mais invisibilidade programada de série, era quase tão bom quanto voar numa vassoura modelo Supernova, cujo projeto Bernardo ajudara a desenvolver.

   Atualmente não era muito seguro voar sobre os Estados Unidos, mas ainda assim, os ventos sobre as florestas do Norte ainda eram os melhores para se testar um objeto voador, então, valia o risco de ser quase avistado por um caça qualquer, sempre vigiando o espaço aéreo americano desde que há mais de quinze anos, o país vivia sob ameaça de ataques terroristas. Não avisar o ministério americano era prática comum para fugir à toda burocracia vigente.

   Essa imprudência custou bem caro para Bernardo e seu amigo.

   Foi tudo repentino, a moto de Yoshi apresentou um defeito no mecanismo de invisibilidade e no escudo anti-radar, quando eles estavam a alguns quilômetros de Portland, no Maine. Bernardo não soube dizer como aconteceu mais tarde, mas o que houve foi que de uma base militar próxima partiu um caça atrás dos dois, que só perceberam tarde demais o defeito. Em pouco tempo, mesmo sem contato visual, o caça lançou contra eles um missil.

   Foi Bernardo que viu primeiro, no painel da sua moto, a coisa se aproximando. Só lhe ocorreu gritar para Yoshi que descesse e tratasse de ficar com os pés no chão. Desviando-se como podia do míssil, Bernardo começou a conduzí-lo com um feitiço, enquanto imaginava um jeito de detoná-lo sem causar estrago algum, voava agora na cola da ogiva, que ele sabia que iria acabar se chocando com algo e detonando-se antes que ele pudesse fazer qualquer coisa. O painel do seu equipamento informou a ele que estava sobre um pântano... era provavelmente um lugar desabitado, e sem pensar muito no que fazer, apenas em evitar que o míssil matasse alguém, ele o direcionou para baixo e esperou que ele se detonasse sobre as águas barrentas do pântano, suspirando de alívio quando isso aconteceu. Rumou para o Norte e foi procurar Yoshi. Desceu em uma estrada e foi rodando, agora com a moto no chão, até encontra-lo parado à beira da estrada, acompanhado por dois homens que ele viu serem bruxos.

- Algum problema? - perguntou, acreditando não ter feito realmente nada demais.

- Este senhor foi avistado por um caça, certo?

- Foi um acidente - alegou. O homem franziu o rosto e prosseguiu.

- O caça disparou um míssil...

- Sim, eu o desviei, ele podia cair ou se detonar em algum lugar perigoso para trouxas.

- Lugar perigoso? - disse o outro bruxo, não controlando a raiva - garoto, você acabou de detonar um missil sobre a prisão de Oz!

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   Foi muito difícil defender Bernardo e Yoshi, e essa tarefa coube a Hermione Granger. No complicado julgamento que se seguiu, ela conseguiu provar diante do ministérrio americano que eles não podiam saber que um caça ia confundi-los com um míssil, muito menos que Bernardo pudesse saber que estava sobrevoando a prisão americana. Com muito custo eles ficaram livres da prisão, mas não impunes.

   Pela imprudência, ambos foram considerados proscritos, e o voto de minerva no conselho de ética bruxa internacional que os condenou veio de Percy Weasley. A pena de viver com os trouxas e como trouxas era ainda pior que uma sentença de prisão: significava vergonha e humilhação.

   Para piorar, depois da explosão, parte da muralha secreta de Oz se danificara, e o povo da sombra avisara ao ministério que alguns presos estavam desaparecidos e provavelmente mortos. Ninguém que não pertencesse ao povo sombra descia as escadas para Oz, e os Bruxos tiveram que se conformar em receber uma lista, enquanto o povo sombra fazia as buscas dos desaparecidos. Nesta lista estava o nome de Lúcio Malfoy.

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   O Dia em que se tornou um proscrito ficaria para sempre na memória de Bernardo Fall. Yoshi, ao saber a sentença, dera fim à própria vida, preferira a morte à vida na desonra. Ele era diferente, agarrava-se à esperança de conseguir se redimir e sair da clandestinidade, durasse seu exílio dez ou mil anos.

   Os homens do ministério compareceram ao seu apartamento e revistaram tudo, em busca de objetos mágicos. Percy Weasley representou o ministro. Hermione estava com eles e perguntou discretamente se ele ficaria bem.

- Não se preocupe comigo, Sr ª Weasley. Mal ou bem eu ainda sei consertar coisas de trouxas, e sei lidar com computadores. - Sua voz era quase metálica, de tão monocórdia e neutra. Hermione não pôde deixar de ter pena, lembrando-se que quando menino Bernardo fôra travesso a ponto de esconder uma tarântula nos seus cabelos.

Os homens do ministério terminaram a revista e juntaram cada objeto mágico que havia no lugar. Não deixaram sequer um saco de pó de flu. Bernardo parecia morto por dentro olhando a pilha de coisas confiscadas. Então, diante dele, Percy Weasley tomou a varinha, comprada por sua mãe para ele na loja do senhor Olivaras dezessete anos antes, feita de pelo de unicórnio e raiz de carvalho, e quebrou em três partes, dizendo:

- De hoje em diante, Bernardo Fall D'Anime, você é pelo Ministério da Magia da Grã Bretanha, considerado oficialmente um proscrito. - Bernardo ficou de cabeça baixa até que os representantes  do Ministério deram as costas a ele e saíram, batendo a porta atrás de si.

Então, Bernardo deu um sorriso que demonstrava uma nota de triunfo e sua mão direita acariciou algo dentro do bolso da capa. O pêlo de unicórnio que Hope lhe dera um ano antes.

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- Eu quero uma segunda opinião - o rosto de Severo Snape estava  contraído numa expressão que era um misto de medo, negação e reconhecimento. Há pelo menos dois anos ele sabia o que tinha, ou pelo menos, desconfiava. Não quisera aceitar, mas agora não havia mais como fugir. O médico bruxo levantou os olhos e retirou os óculos, passando a mão pelo rosto.

- Severo, você é meu amigo. Nós estudamos juntos em Hogwarts... eu sei que eu sou o terceiro médico que você procura... tente entender...

- Eu entendo. Eu quero apenas saber minhas chances - agora, ele estava frio, ao reconhecer a verdade iminente

- Bem, você deixou passar muito tempo... existem determinadas doenças que até mesmo para nós são difíceis de tratar... o câncer de pulmão é uma delas, entre os trouxas a mortalidade nos casos tão avançados quanto o seu é de 90% e você sabe... entre nós, o tratamento é pouca coisa mais eficiente, temos cerca de 25% de chances de cura. - Snape arregalou os olhos. Em qualquer uma das hipóteses, ele se sentia frito.

- Eu entendo... estou morto.

- Não. Não está, você está vivo, na minha frente. E pode continuar vivo por muito tempo, se dispuser a colaborar comigo.

- Colaborar?

- Eu conheço uma médica trouxa... nós dois temos um projeto experimental

- Você não está querendo me usar como cobaia, está?

- Bem, eu estou querendo tentar algo com você, eu e a Drª Van Helsing temos tratado com grande êxito pacientes com um método que mistura ambas as terapias... porém é preciso que você concorde... você teria setenta por cento de chances de ficar curado e para sempre, Severo. É sua única esperança.

Snape olhou o médico por alguns minutos. Então, sabendo que aquela era a única chance que teria, disse:

- Eu aceito. Quando começamos?

- Segunda feira. Tire licença de seu trabalho por um ano... o tratamento vai ser longo.

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   "Isso significa o fim do Mr Sandman..." - Na nebulosa tarde de Londres, Snape ia andando com as mãos nos bolsos, acabara de comunicar sua doença aos superiores e dizer que precisava de um ano de tratamento. Os chefes aurores não se opuseram em nada. Apenas pediram que ele indicasse um substituto para seu lugar na escola de aurores, por um ano ou definitivamente. E ele já sabia quem iria ser o escolhido, ele sabia desde o início, no fundo estivera preparando-o há alguns anos para isso.

   Pensou na turma que agora iria para o segundo ano, a turma que ele no momento chefiava, cinco rapazes e uma moça, a primeira mulher a freqüentar aquela escola desde a lendária Arabella Figg... turma promissora e inteligente.

   A garota era um dos destaques, e ele tinha de admitir, embora ela tivesse muito do pai, ele ao olhá-la lembrava muito mais de sua mãe, e não podia negar, apreciava a garota. Era esperta e tinhosa a tal Hope Black.

   Seu outro aluno favorito era filho de um auror com quem trabalhara bastante. Gilles Stoneheart tinha parte da dureza do pai, mas seu bom humor era completamente desconcertante. Ele sabia que ali estava um futuro grande auror, filho de uma família onde sete gerações haviam combatido as forças das trevas.

   Mas ambos tinham muito a aprender: eram os dois arrogantes como todo jovem e imprudentes e estourados na mesma dose  e proporção. Pareciam demais com outro casal que ele conhecia. Demais mesmo.

   Coçou a nuca. Era hora, devia dizer a seu escolhido o que o aguardava, sabia que ele não iria negar seu pedido. Ele já estava devidamente transfigurado, quando ouviu uma frase cantada:

- I see trees of green, red roses too I see them bloom for me and you...

- And I think to myself, what a wonderful world ! - ele respondeu sorridente, antes de completar: Olá, vassoura. Eu tenho uma tarefa para você!


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