O dia se iniciou normalmente acordei com o despertador do celular, me arrumei e fui para escola, minha mãe já havia ido para o trabalho então eu podia pegar o dinheiro que ela deixava para emergências para comprar meu lanche, mesmo que eu sempre ficasse sem comer no intervalo já que ficava sem fome.

 Ao chegar à escola quase atrasado encontrei Stefanie que sempre chegava meio atrasada, pois a piruá que a pegava em casa tinha muitas crianças que moravam longe.

 -Oi ED! -Disse ela sem intenção de provocar.

 -Oi... –Falei cansado não havia dormido muito bem

 -Comeu peixe estragado de novo? –Perguntou ela fazendo menção do incidente há um ano quando comi peixe frito estragado na praia e acabei vomitando tanto que pensei que havia acabado com a comida que comi em minha vida toda.

 -Não... Só a típica preguiça de ir para a escola. –Respondi sinceramente.

 -Mentira! –Disse ela enquanto andávamos preguiçosamente pelo corredor.

 -Você por acaso sabe a verdade para falar que é mentira, já que em si a mentira pode ser verdade? –Perguntei filosofando propositalmente para que ela se confundisse.

 -A verdade esta oculta neste seu peito frio e estampada nesta sua cara de ameixa seca... –Disse ela bancando a poeta.

 -Muito engraçado... Olha você de poeta não tem nada. –Falei sincero desviando um pouco do assunto.

 -Mentira... Eu tenho uma boina lá em casa... –Disse ela fazendo-me dar um riso abafado que teimava em sair de minha garganta.

 -ED, o que te preocupa? –Perguntou ela parando de repente.

 -Olha... Promete não contar para ninguém? –Perguntei fitando-a, estava mesmo precisando desabafar.

 -Prometo. –Disse ela fazendo um ‘X’ no peito, ela sempre fazia isso quando prometia, era fã de coisas estranhas então acabava absorvendo gestos e informações.

 -Minha mãe... Ela esta namorando e acho que ela vai se casar de novo... E o namorado dela disse que está somente interessado no dinheiro e que eles vão me deixar na França com meus avos... E ele me bateu... –Falei abaixando a cabeça me impressionando em como foi fácil falar aquilo para Stefanie.

 -Ele te bateu? ED você tem que denunciar ele pra policia! Por agressão ao menor! –Disse ela segurando-se para não gritar.

 -Eu sei! Mas... Se eu fizer isto... Minha mãe vai ficar triste e provavelmente não vai acreditar em mim e ainda vai por a culpa de meu pai, dizer que me forçou a inventar uma historia destas para os dois voltarem. –Falei triste tudo o que acontecia me chateava, eu não sabia o que fazer, eu acho que estava com medo.

 Senti um toque vacilante em meu ombro e logo este se apertava dando-me força.

 -ED, eu vou dar um jeito! –Disse ela sorrindo quando o sinal tocou indicando que estávamos terrivelmente atrasados. Sorri para ela enquanto caminhávamos apressados pelos corredores da escola.

 Senti-me melhor após a conversa com Stefanie ela tinha um estranho jeito de fazer com que as pessoas se sentissem péssimas, mas de vez em quando dava uma dentro e conseguia ser gentil. Parei de pensar um pouco quando a professora Nicinha chamou-me a atenção falando para eu continuar lendo de onde ela havia parado.

 Para minha sorte Igor, meu amigo, soprou alguma coisa que graças a Deus Nicinha não ouviu se não seria um problema para nós dois, não que Nicinha fosse chata, mas gostava que prestassem atenção no que falava claro que ela estava certa, então hora ou outra fazia isto.

 Prossegui com a leitura e logo em seguida ela passou para outra pessoa.

 No intervalo estava cansado para pegar a fila imensa que se formava na cantina então fiquei sem comer como sempre, ficando perto de Igor que já havia falado milhares de vezes que eu lhe devia uma, mesmo assim não liguei. Enquanto observava minha volta pude ver duas garotas correndo, isso era estranho, no Integrado não se pode correr.

 -Eu já disse não. –Disse a garota alta que se me lembro bem chamasse Milena, era uma amiga de Stefanie.

 -Milena vai, por favor! –Disse Stefanie que arrastava Milena até mim sem motivo aparente.

 -O que vocês estão fazendo? –Perguntei enquanto Milena suspirava bem alto.

 -Estou tentando fazer a Milena se juntar a causa... –Respondeu-me Stefanie.

 -Que causa? –Perguntei já tendo uma idéia do que seria.

 -A sua causa idiota... –Disse Amanda Machado enquanto eu batia com tudo em minha testa.

 -Você prometeu boca aberta! –Falei enquanto olhava para Stefanie com um olhar de ódio puro, aquela criatura miserável realmente como ela foi capaz de fazer isso comigo.

 -Eu não contei para elas! –Disse Stefanie agarrando minha camisa com força enquanto me sacudia.

 -Então por que elas estão dizendo que vão participar da minha causa? –Perguntei retirando suas mãos de minha camisa.

 -A gente só sabe que você precisa de ajuda. –Disse Amanda colocando as mãos na cintura. –Mas a Stefanie não quis falar no que você precisa Steve.

 Encarei Stefanie enquanto esta me olhava com reprovação, provavelmente fingindo que estava decepcionada comigo.

 -Desculpa... –Falei baixinho enquanto as três me encaravam.

 -Relaxa, mas pensa antes de cair matando... –Disse ela e as outras duas reviravam os olhos.

 -Ok agora que já se acertaram, vamos, fala ai qual é o problema? –Perguntou Amanda olhando para mim com curiosidade.

 -Eu não vou falar pra você... –Falei cruzando os braços.

 -Eu sou sua amiga também lembrasse?  -Perguntou Amanda, é verdade ela também era minha amiga apesar de que nunca demonstrava algo como companheirismo ou amizade, Apesar de tudo era bem legal.

 -Desculpa Machado, sendo sincero nós somos mais conhecidos do que amigos. –Falei enquanto ela afastava o cabelo liso dos olhos.

 -ED vem aqui agora! –Disse Stefanie puxando-me para um canto um pouco afastado.

 -O que é? –Perguntei seco observando-a.

 -Oh eu tenho um plano, mas para por este plano em pratica e salvar sua pele vou precisar de ajuda... –Disse ele apontando para meu peito.

 -Por que não pede pra, por exemplo, a Laura ou outra pessoa que eu tenho mais intimidade, além disso, a Milena não é minha fã. –Falei sendo sincero fazendo mímica sem motivo.

 -Eu já pedi pra Laura e ela vai ajudar também, e a Milena e a Machado são necessárias para por em pratica a missão! –Disse ela enquanto eu bufava, francamente quando aquela menina fica determinada! Nem mesmo santos aquentam!

 -Isso não é uma fanfic*! –Falei me exaltando um pouco.

 -Olha só por que eu gosto de escrever fanfics não significa que eu seja louca! –Berrou ela enquanto eu revirava os olhos.

 -Ok então está de acordo? -Ela perguntou fazendo pressão, eu já previa isso, acho que uma hora ou outra eu teria que dar o braço a torcer.

 -Tudo bem. –Falei enquanto ela me arrastava para onde as duas garotas estavam conversando.

 -Ele concordou. –Falou ela toda animada.

 -Ótimo, agora fala ai, o que ta acontecendo francês?  –Disse Milena pouco animada.

 -Bem isso é com o carrasco aqui. –Falei enquanto Stefanie sorria e tossia antes de começar a falar.

 -Bem a gente tem que se livrar do namorado da mãe do ED. - Disse ela enquanto esfregava o queixo e o sinal tocava loucamente.

 -Bom ED nós podemos ir a sua casa hoje para acertarmos tudo? –Perguntou Stefanie enquanto Milena e Amanda já estavam longe de minha vista.

 -Ok. –Falei sem animo.

 O dia ocorreu calmamente apesar de meu receio por conta dos planos daquela menina pouco confiável, se bem que eu não deveria julgá-la desta forma, já que mesmo ela não tendo nada a ver com isso esta tentando me ajudar, idem as outras que mesmo a contra gosto estão aparentemente dispostas a me dar uma força, me senti meio tolo com estes pensamentos, se eu não fosse tão estúpido resolveria este assunto por mim mesmo se bem que eu sou péssimo em planos “infalíveis” então com certeza arranjaria mais é um grande problema, se é que elas não vão me dar este presentinho, ri, não sabia o que esperar, mas tinha certeza que seria surpreendente.

 Cheguei a casa, cumpri minha rotina até mais ou menos duas da tarde quando a campanhinha tocou, quase tive um enfarto quando vi não só Stefanie, mas uma cambada de gente que eu não tinha idéia de quem era muito menos de onde vieram.

 -ED? Você esta bem?  -Perguntou ela enquanto eu sorria como um idiota; puxei o ar e inflei por completo meus pulmões e então...

 -STEFANIE! A CIDADE TODA JÁ SABE DOS MEUS PROBLEMAS! E VOCÊ AINDA ME PERGUNTA SE ESTA TUDO BEM?! –Berrei com ela enquanto as pessoas que a acompanhavam se encolhiam provavelmente assustadas com minha reação; nunca disse que era uma pessoa calma...

 -Abaixe a voz! Não sou sua mãe pra você gritar comigo. –Disse ela entrando de cabeça erguida enquanto eu me acalmava.

 -Estão esperando o que pra entrarem? –Falei bem mais calmo enquanto a sala era invadida por cerca de vinte ou vinte e cinco pessoas.

 -Ok, Stefanie explique-se. –Falei em tom autoritário enquanto sentava em uma poltrona e observava os outros se acomodando.

 -Bom ED, eu falei que precisava de especialistas lembra? –Perguntou ela sentando-se em um sofá e colocando uma pasta preta sobre a mesinha de centro da sala.

 -Sim, você disse que tem coisas que não pode fazer sozinha... –Sussurrei enquanto meu gato pulava em meu colo.

 -Então, eu preciso de todo o pessoal aqui pra por meu plano em pratica. –Disse ela enquanto eu examinava cada um ali e notara que a quantidade de meninas ali presente era um pouco maior, ali estavam a Amanda Machado, a Amanda Gabriela, a Laura, a Priscilla, da sala de Stefanie, Renata, Gabriela, Gabriely; tecnicamente todas as meninas da sala dela e que eu só conhecia de nome e de vista passando pelos corredores, no intervalo e por ai vai, entretanto havia gente ali que eu nem conhecia.

 -Prima, quem é esse? –Perguntou uma menina um pouco mais nova que todos ali, eu acho que tinha uns dez anos, apesar de sua aparência, os cabelos descoloridos em um tom de ruivo, pele clara maquiagem um pouco excessiva, mas nada que prejudique saber sua verdadeira idade.

 -O nome dele é ED Lala. –Disse Stefanie encarando a baixinha enquanto eu suspirava e logo falava:

 -Meu nome é Steve, muito prazer. –Falei estendendo minha mão para cumprimentá-la. Ela a pegou e aceitou o cumprimento.

 -Oi, sou Larissa prima da Teph... –Disse ela meio tímida enquanto eu arregalava os olhos, Teph?  Como assim Teph?  Como um apelido tão doce pode ser dado àquela criatura?

 -ED, planeta Terra chamando Steve Dolavich... –Disse Stefanie zombando enquanto eu encarava a menina.

 -O que? –Perguntei igual a um idiota abobalhado.

 -Ok, bom continuando, você já deve conhecer a maioria da galera aqui né? –Perguntou ela enquanto eu acenava positivamente com a cabeça.

 -Não! Nós estudamos na mesma escola e nunca ouvimos falar uns dos outros! –Disse Larissa, da escola, enquanto Stefanie revirava os olhos.

 -Ok, ok, vamos, bom eu já contei a eles o que eu achei necessário contar então eles tecnicamente não sabem de nada, mas como ninguém perde uma oportunidade de conhecer a casa de alguém então estamos aqui. –Disse ela abrindo a pasta preta e entregando uma folha a cada um inclusive a mim e nele estava escrito:

Plano acabar com o namorado da mãe do ED:

Primeiro Passo:

Recolher informações sobre o cara.

Segundo passo:

Planejar uma estratégia para acabar com o romance.

Terceiro passo:

Por a estratégia em pratica.

Quarto passo:

Fazer uma festa por que os outros três passos deram certo.

 Estreitei os olhos encarando o papel e Stefanie que parecia aguardar uma reação minha.

 -Não vamos fazer uma festa... –Ela desanimou. – Tem que ser uma festa igual às de aniversario na Índia! Que dure uma semana. –Falei pensando em como aquilo era animador ela fez um roteiro bem simples e aparentemente não vai ser difícil colocá-lo em pratica.

 -Que bom que gostou. Todos de acordo com plano?  -Perguntou ela encarando o pessoal que examinava atentamente a folha.

 -Ok. –Disseram em uníssono.

 -Mas... Bom como a gente vai fazer isso?  -Perguntou Priscilla que estava meio receosa.

 -É exatamente por isso que tem tanta gente aqui. –Disse ela encarando a menina que se encolheu.

 -Então Carrasco diz ai como vamos fazer esta joça? –Perguntou um menino que se não me engano se chama Henrique.

 -Simples. ED fala pra gente como é este cara?  -Perguntou ela enquanto todos me encaravam.

 -Ele é porco, nojento, mas é esperto e sabe mentir e fingir bem... –Falei enquanto me ajeitava na poltrona.

 -Ok. Já sabemos como ele é, mas e onde ele trabalha? –Perguntou Gabriella.

 -Bom eu não sei, pelo que eu fucei no celular da minha mãe ele trabalha lá no shopping, sabe aquele prédio grande que tem lá? Então, eu acho que é uma espécie de prédio de advocacia que é associada ao shopping... –Falei enquanto tentava me lembrar de mais alguma coisa.

 -Ah! Meu tio trabalha lá! Acho que dá pra ele nos ajudar! –Falou um animado Eric da sala de Stefanie.

 -Ótimo! Isso é bom, então vamos começar a bolar o plano sim? –Perguntou Stefanie pegando uma folha de sufite e uma caneta que estava dentro da pasta.

 -Stefanie, você esta se esquecendo do mais importante... Ele é um adulto e nós somos crianças, como vamos competir com ele?  -Falou Priscilla tentando ser racional fazendo assim que todos parecem pra pensar.

 -Grande coisa, é só usarmos a cabeça. –Disse ela sorrindo e rabiscando coisas estranhas na folha.

 -É, e falando em usar a cabeça se não quisermos levar uma bronca acho melhor irmos para casa. –Disse uma entediada Alana, esta sim não gostava nem um pouco de mim.

 -É eu também acho. –Disse Stefanie recolhendo suas coisas enquanto eu me levantava para acompanhar todos até a porta. Despedimos-nos e logo eu estava sozinho refletindo.

 Stefanie disse que já havia planejado tudo, então pra que tanta gente assim? Seja lá o que for vou me esforçar ao máximo para não envolver mais gente, não gosto de pessoas se envolvendo em minha vida, na verdade quem gosta?

 Sentei no sofá e liguei a TV enquanto bocejava cansativamente e assim foi o resto do meu dia assistindo TV ou no notebook e ao mesmo tempo tentando planejar alguma coisa.

(*Fanfic: é a abreviação do termo em inglês fan fiction, ou seja, "ficção criada por fãs". Trata-se de contos ou romances escritos por terceiros, não fazendo parte do enredo oficial do livro, filme, animes ou história em quadrinhos a que faz referência.)