Ele era um daqueles que sonhava mais que qualquer outro. Enquanto os rapazotes de sua idade se contentavam com uma bicicleta, ele queria um carro. E quando esses queriam um carro, ele já estava muito além disso; queria um avião. Engraçado o jeito com que ele lidava com a vida, gostava de ser pé no chão de seu próprio modo e ao mesmo tempo parecia não ter grandes preocupações na vida.
Era uma pessoa daquelas extremamente gentis, que se anulariam facilmente para realizar o desejo de um ente querido. Brincalhão e agradável a toda e qualquer pessoa que tivesse a sorte de conhecê-lo, conseguia sorrir e fazia todos sorrirem como se fosse a proeza mais fácil do planeta. Não vou negar, exagerar ou diminuir o que sentia ao permanecer perto dele: era confortável, aconchegante e simultaneamente estranho, como se me causasse pudor. Então quando, mesmo que quisesse abraçá-lo, eu fugia e me esquivava, não era por medo ou repulsão. Era apenas vergonha de admitir que era bom demais ter um amigo sonhador como ele.
Um menino perdido no meio do mundo dos capitalistas consumistas egoístas e sem valores. Um garoto diferente entre aquela massa uniformizada que eram os demais da época. Era a raridade que eu tinha a sorte de ter ao meu lado.
Sempre achei que seria impossível encontrar alguém que se importasse comigo tanto assim, mas era ele. Não é correto afirmar que aquela pessoa era perfeita, ninguém atinge a perfeição, muito menos tão cedo na vida. Porém era como se ele despertasse o melhor que havia dentro de mim, ele tinha a capacidade de fazer aquilo tão facilmente...

Nunca tive coragem de passar muito tempo a seu lado. Na verdade, a oportunidade em que mais falei com ele foi a em que nos conhecemos, naquele pequeno espaço de eventos apinhado de fãs da cultura japonesa. Mesmo assim, era fácil criar uma conexão entre nós, inexplicavelmente forte e aconchegante.

Nessas circunstâncias, tudo o que me permito dizer é obrigada, com você tive momentos extremamente felizes.