Outro motivo pelo qual Loou tinha escolhido Ausgefallen, foi porque ele era incrivelmente perto do shopping onde ficava o Jardim. Portanto, Loou não precisaria nem mesmo pegar um táxi, dava para ir a pé.

Tinha uma praça bastante bonitinha na frente do shopping, com uma fonte, árvores, canteiros de flores, bancos, pássaros, crianças, velhinhos, cachorros, pais com carrinhos de bebê, e todas essas coisas. Loou foi andando por ela. Quando estava entrando no shopping e viu o reflexo de Adam na porta automática, finalmente percebeu que estava sendo seguida.

- O que você quer?

O menino olhou pra ela, bem calmo. Aquela tranquilidade toda irritava Loou, que ficava nervosa facilmente. Ele demorou para responder.

- Bem... eu já ia vir para cá. Sabe, comprar um caderno novo para mim, porque um dos meus acabou. E talvez aproveitar para tomar um sorvete.

Loou não acreditou nele, mas apenas revirou os olhos e continuou andando. Adam foi atrás, procurando a papelaria. Quando achou, entrou nela, deixando Loou sozinha.

A garota finalmente pôde ir até o muro de heras e abrir sua porta. Ficou lá, esperando algum curioso aparecer, mexendo na corrente do relógio.

Quando Adam voltou, carregando a sacola com seu caderno novo, viu Loou levando uma garota de uns 8 anos e uma mulher para dentro de um lugar estranho... aos olhos dele, parecia um jardim. Foi lá, dar uma espiada. Mas Loou fechou a porta do muro de heras que rodeava o lugar.

Adam ficou olhando aquela enorme barreira verde, se perguntando porque nunca havia percebido a existência dela, uma vez que vinha muito ao shopping.

Loou abriu a porta da grande parede de heras e saiu. Estava sozinha. Adam foi até ela.

- Que coisa é essa? - disse ele, referindo-se ao muro.

Loou pensou uma, duas, três, quatro, cinco vezes antes de responder. Pensou se deveria levar ele lá pra dentro. Mas fazer isso com um conhecido... não seria bom. Afastou essa ideia da cabeça, as palavras de Zeit pulsando em sua mente.

- Melhor não saber. - disse somente, e saiu andando.

Não precisava de matar mais de uma pessoa por dia, mas não podia deixar de fazer isso em dia nenhum. Se não aparecessem flores novas no jardim todos os dias, algo ruim poderia acontecer.

Loou contentou-se com a menina e a mãe que levara para dentro do Jardim naquele dia. Estava indo para a saída do shopping.

- Posso voltar com você? - ela ouviu a voz macia de Adam.

- Faz o que você quiser.

Os dois já estavam perto da escola. Adam com as mãos nos bolsos e olhando o céu, Loou com a testa franzida e às vezes olhando-o de soslaio.

- Ei, Loou.

A menina virou-se, olhando-o com irritação. Uma flor cresceu aos pés de Adam, no asfalto. Ele a arrancou e estendeu na direção dela.

- Desculpe se te incomodei hoje.

Loou ficou olhando a flor branca à sua frente. Sentiu o rosto arder, numa mistura de vergonha e raiva. Arrancou-a da mão de Adam e jogou-a no chão. Foi-se embora a passos rápidos.

- Ah, será que ela não gosta de flores? - murmurou Adam consigo mesmo. Sem se importar, colocou as mãos nos bolsos e foi atrás de Loou, gritando: - Looooooooooooou, você precisa da minha ajuda pra entrar, se esqueceu?