Me deixou. Foi isso que Richard disse na carta. Me deixou. Harry não conseguia entender o estranho sentimento em seu coração. Esperança...Seria isso? Neste momento seu estomago roncou, naquela ânsia de sair de casa devia ter se esquecido da fome, mas seu estomago com certeza não esqueceu. Como Harry podia pensar em comida numa situação assim? Estava se sentindo estranho...Ele olhou para o seu lado e viu o mensageiro de Richard encolhido na carruagem, Harry tinha vontade de rir.

-         Nossa estou com tanta fome! –e se voltou para o mensageiro –Você não?

O pobre homem tremeu. Harry sabia que era maldade sua dizer aquilo, o homem ao seu lado não conseguia nem falar, com certeza devia estar com medo que a Fera o abocanhasse. Ele estava com uma tremenda falta de sorte, pensou Harry, estava na mesma carruagem que a Fera justamente quando esta está muito feliz para parar com suas brincadeiras. O mensageiro teve que agüentar a tortura de Harry a viagem inteira.

Ao chegarem no castelo de Richard o mensageiro saiu depressa da carruagem, ele parecia bem pálido. No entanto, Harry parecia contente ao descer cantarolando. Um dos anões estava próximo, parecia muito ocupado destruindo uma rosa, o que deixou Harry um tanto magoado, ele gostava de rosas...Mas não se abalou.

-         Bom dia!

-         O que tem de bom? –respondeu o homenzinho sem nem olhar para Harry.

-         Hum... Você deve ser Zangado certo?

O anão lançou um olhar carregado de desprezo a Harry, felizmente antes de Harry ouvir uma grosseria do anão uma jovem empregada se aproximou dele.

-         Senhor Harry?

-         Sim...

-         O Príncipe Richard está lhe esperando. – a jovem olhou o anão e lhe falou com doçura –não devia fazer isso Zangado, Dona Branca adora estas flores.

-         E você não devia se intrometer onde não é chamada! –largou a flor despedaçada e saiu resmungando.

-         Ah! Ele está assim desde de que a senhora saiu...Ela geralmente o acalma entende? Bom, mas logo ela deve estar voltando. Não sei exatamente aonde foi, ela está com sua esposa senhor?

Harry não esperava aquela pergunta, obviamente Richard não conversou com os empregados sobre isso.

-         Hum...Sim. –mentiu.

Então a moça o conduziu até o escritório de Richard.Ao entrar, Harry ficou surpreso. Não era o único convidado.

Havia mais três príncipes na sala além dele e de Richard. Charles, William e Hector; eram bons amigos de Harry e Richard na infância, ele reconheceu também um justiceiro que dizia ajudar os pobres e aqueles que sofrem algum tipo de impunidade, mas Harry não conseguia lembrar seu nome, e também havia um garoto o mais estranho que Harry já havia visto na vida, era engraçado, de olhos curiosos, tinha uma postura elegante e se não fosse pela roupa coberta de folhas e a boca suja com algo que parecia ser chocolate, Harry pensaria que era filho de algum dos príncipes presentes.

-         Oh! Harry só faltava você! –disse Richard que parecia nervoso.

-         Olá Harry como vai?

-         Muito bem Charles obrigado.

-         E como vai a esposa Harry?

Harry se virou para o desconhecido que falava com ele, era o tal justiceiro, e apesar de Harry não ligar para esse tipo de coisa, achava estranho alguém que ele nem conhecia trata-lo pelo primeiro nome.

-         Desculpe, mas o senhor me conhece?

-         Oh! Claro Harry! Você é que não deve me conhecer, sou Robin Wood, ao dispor de sua esposa.

Richard sentiu o clima pesar um pouco, o único que não deve ter sentido nada era o garoto que estava muito preocupado em ter mais um pouco de chocolate.

-         Ok! –disse Richard –Robin peço que tenha mais respeito e senhores gostaria de ir direto ao assunto.

-         É isso mesmo vamos direto ao assunto! Por que não conseguiu segurar sua mulher? –Robin não parecia ter vontade de cooperar.

E agora Richard também não tinha. Simplesmente voou para Robin e lhe deu um soco que foi retribuído. Eles já estavam no chão quando Harry conseguiu separa-los.

-         Parem com isso agora! Já chega! Robin sente-se –ao ver que Robin não obedecia, Harry o empurrou para a poltrona –se quer participar é melhor ficar calmo e segurar sua língua –Robin estava um tanto ofegante e parecia estar com muita raiva, mas manteve-se calado –bom, agora vamos todos sentar e ir direto ao assunto sem interrupções.

Todos ficaram calados por um instante, o garoto agia como se nada estivesse acontecido, uma das empregadas de Richard entrou e lhe deu mais uma taça de chocolate, então ela saiu.

-         Hum... –disse o garoto com a boca cheia –vamos começar ou não?

-         Claro Peter... Bem, ontem Branca e eu brigamos e ela me deixou.

-         Onde ela está agora? –perguntou William

-         Na casa dos anões.

-         Eles estão com ela?

-         Não.

-         Ela está sozinha? –Harry parecia bastante preocupado

-         Está. Pedi para Mestre ir até lá, mas ele não quis...

-         Posso ir até lá para conhecer a casa?

Todos olharam para Peter. Ele não entendeu, o que havia de errado no que acabara de perguntar.

-         Bom, é que sempre tive vontade de conhecer a casa dos anões... –explicou

-         A questão é a seguinte, temos que fazer com que Branca volte, se outras mulheres descobrirem isso não darão valor a monarquia e desprezaram o casamento.

-         Isso é a mais pura verdade –disse Hector –do jeito que Cinderela ama a liberdade é bem capaz de questionar os valores do casamento...E imagino que Rapunzel e Aurora não ficariam quietas – Charles e William concordaram -Não podemos deixar que isso aconteça, a sociedade entraria em colapso!

-         Com licença, mas posso fazer uma pergunta? –disse Robin se dirigindo a Harry.

-         Hum... Pode...

-         O que eu e o Peter temos a ver com isso?

-         Nossa! Eu ainda não tinha pensado nisso... –disse Peter surpreso –o que estou fazendo aqui?

-         Temos que explicar isso agora? –perguntou Richard que queria resolver logo o assunto.

-         Richard é melhor que expliquemos agora –Harry então, virou-se para Robin e Peter – Nós somos mais importantes do que imaginamos, vivemos coisas extraordinárias, as pessoas vão ler historias sobre nós daqui a alguns anos, e estas historias vão ser lembradas sempre. Se deixarmos os problemas de Richard e Branca por isso mesmo a sociedade mudaria, daqui a alguns anos as pessoas vão usar nossas vidas como exemplo e muitas vão se espelhar nelas. É por isso que agora temos que nos unir e ajudar Richard e Branca.

Robin e Peter estavam boquiabertos. Robin não imaginava que o que fazia pelas pessoas podia ser tão importante e Peter não imaginava que mesmo ele sendo de uma terra desconhecida podia influenciar na vida de alguém.

-         Bom, acho que podemos continuar... Preciso da ajuda de vocês para convencer Branca e não deixar que isso se espalhe, Robin você influencia os mais humildes, então se correr algum boato o abafe e nos avise.

-         Pode deixar comigo.

-         Charles, William e Hector preciso da ajuda de vocês na alta sociedade, não deixem suas mulheres perceberem o que está havendo e não permitam que venham visitar Branca.

-         Vamos ajudar no que pudermos Richard –disse Hector

-         Harry, preciso que me ajude a convencer Branca. Ela o considera um grande amigo.

-         Tudo bem.

-         Bom então é isso.

-         Esperem! Richard o que eu vou fazer? –Peter estava com os olhos brilhando de ansiedade.

-         Você...Hum...

-         Pode me ajudar Peter! –disse Harry –venha para minha casa, ficará hospedado lá ok?

-         Ok!

-         Então é isso senhores...Harry, Robin e Peter querem comer alguma coisa?

Eles aceitaram na mesma hora, enquanto os outros príncipes iam embora. Richard os acompanhou até a mesa e comeu com eles, ele também não havia almoçado.

Harry e Robin comeram muito bem, mas o mais surpreendente era Peter. Ele comia com ferocidade e, Harry notou isso com um certo prazer, com as mãos.

-         Como vai fazer para que Bela o aceite?

-         Ora, Richard! Acha que vou falar a ela que o menino come com as mãos? Perderia toda a graça!

Depois Richard os acompanhou até a porta.

-         Estou mais aliviado agora...Hum...Desculpe pelo soco Robin...

-         Nem doeu...

-         Vou pedir para o cocheiro levar você até sua aldeia. –e virando-se para Peter –Espero que conquiste Bela.

-         Vou tentar...

-         Bom, eu e Peter já vamos Richard...

-         Até Harry.

-         Até.

          Meg havia acabado de atender um de seus clientes quando viu uma bela carruagem no inicio da estrada. Se faturasse aquele cliente talvez recebesse um bom pagamento. Sem perder tempo levantou sua saia para mostrar suas belas pernas, felizmente a carruagem parou.

-         Acho que sou o que o senhor procurava.

A porta da carruagem abriu e ela entrou.

-         Você é exatamente o que eu estava procurando Meg.

-         Robin? O que...Que carruagem é essa?

-         É a que vai leva-la para casa se quiser passar a noite comigo.

-         Robin! Diga agora!

-         Ah! Vocês mulheres são muito detalhistas... Não viu o brasão nas portas?

-         Vi, mas...Não...Não pode ser do Príncipe Richard!

-         Somente Richard, para os amigos...

-         Como conseguiu?

-         Ah! É segredo...Mas se for uma boa menina posso abrir uma exceção. –Robin estava feliz de ter sido tratado como um dos príncipes e isso o deixava cheio de lasciva.

Meg sorriu e lhe deu um beijo.

-         Ora Robin! Eu sempre fui tão boazinha...