-         Senhor! Não se importe com esses caprichos! Ela faz isso por você!

-         Não! Audrey! Ela faz isso por ela! Hoje eu vi Branca... Richard tem sorte...

-         Senhor! Não fale assim!

-         Audrey! Branca é bonita, inteligente... Não é louca por sua própria imagem! Gostaria de estar no lugar de Richard... Audrey! Aonde vai?

Audrey havia se levantado e já estava saindo da cozinha.

-         Não vou ficar ouvindo este absurdo...

E se foi. A única coisa que restava para Harry fazer era subir para aquele seu inferninho particular...

No dia seguinte, Harry acordou tarde, ontem a noite não conseguiu dormir logo. Antes mesmo de sair do quarto Audrey entrou ofegante.

-         Audrey! E se eu estivesse despido?

-         Desculpe senhor... Mas o mensageiro do príncipe Richard está aqui.

-         Hum... O que isso tem haver com quase ter me visto nu?

-         Bem, ele só vai entregar a mensagem em mãos.

-         Por que?- Harry resolveu que era melhor descer logo -é algo sério?

-         Não sei dizer senhor...

-         Obrigado Audrey...

Depois que Audrey fechou a porta Harry começou a se vestir. Ao descer Harry reconheceu o mensageiro de seu amigo e também reconheceu que estava faminto, mas não podia deixa-lo esperando.

-         Algum problema com Richard?

-         N-não se-senhor...- o rapaz estava tremulo e Harry sabia porque, algumas pessoas ainda não acreditavam em sua mudança completa de fera para homem.

-         Bom, então...

O homem estendeu a mão tremula a Harry, nela havia um bilhete que ele pegou e leu:

                        Caro amigo,

                  Desculpe incomoda-lo, mas preciso de sua ajuda.

                Branca me deixou ontem à noite, foi para a casa dos anões,

                Acredito que neste instante esteja tão confuso quanto eu, mas

               peço-lhe que venha até aqui hoje à tarde para conversarmos,

               por favor, não comente nada com Bela, Deus sabe o que pode

               acontecer se esta história correr o reino.

          Ainda estava angustiado quando viu seu mensageiro partir para a casa de Harry, teria muito que dizer nesta manhã, não somente ao seu amigo.Os anões desceram a escadaria do castelo em fila, como costumavam fazer, Zangado, Feliz, Dengoso, Dunga, Atchim, Soneca e...

-         Mestre...Posso falar com você um instante?

          Richard achou que tivesse deixado transparecer alguma coisa em seu rosto, pois Mestre parecia preocupado. Ele levou o anão para um escritório que ficava no saguão, enquanto os outros iam para a mesa almoçar. Ao entrarem no escritório Mestre surpreendeu Richard mais ainda ao dizer:

-         O que houve com Branca?

-         O que houve com...Mestre...Como sabia do que se tratava?

-         Ora, Richard! Conheço você, a única vez que vi este seu olhar foi quando viu Branca pela primeira vez naquele caixão adormecida...Era como se você achasse que já era tarde...E se está novamente com este olhar é por causa dela.

Richard suspirou, sabia o que devia ter acontecido, Harry sempre dizia que ele não conseguia esconder nada de ninguém, que não importava se estava mentindo ou não as pessoas sempre sabiam...

-         Ela voltou para a casa de vocês.

-         Foi por causa de uma daquelas brigas?

-         Mestre eu sei que fui duro demais com ela, eu não devia me importar com nada daquilo, mas...

-         Mas? Richard...Você a magoa cada vez que diz que sente vergonha, isso deveria bastar para que parasse...

-         Eu só queria que ela mudasse...Eu...

-         Você a ama?

-         Muito. Mestre...Amo Branca de coração.

-         Então vá atrás dela e diga isso!

-         Não...

-         Não? Richard está falando da mulher que ama...

-         Eu sei. Mas veja o que ela me devolveu.- Richard mostrou para o pequeno amigo a aliança que Branca havia lhe devolvido.

-         Oh! – o anão pegou o objeto e ficou admirando -agora sim entendo Richard...Seu orgulho foi ferido.

-         Não só o meu. Imagine o que pode acontecer se outras moças souberem do ocorrido?

-         Desculpe. Mas acho que não quero falar sobre isso.

-         Por favor, Mestre... Escute-me...Eu não pretendo faze-lo aceitar ou concordar...Eu só gostaria que voltasse a casa e pedisse que ela voltasse, tenho certeza que ela o ouviria e...

-         Não.

-         Mas, Mestre!

-         Ela quer ficar sozinha. Se eu for até lá não vai ajudar...E eu dou este assunto por encerrado.

Assim, Mestre devolveu o anel e saiu para acompanhar seus amigos, deixando Richard desolado e cheio de dúvidas.

Bela desceu a escada para o almoço, mas ao ver seu marido lendo um bilhete e o mensageiro de Richard no saguão, correu até eles.

-         Oh! É uma mensagem de Branca ou de Richard? Estão nos convidando de novo?

          Ao ver a estonteante aparição de Bela, o pobre mensageiro que já estava gago por estar cara a cara com a Fera ficou ainda mais nervoso.

-         È d-do meu se-senhor, p-para seu m-ma-marido.- e voltando-se para a Fera –Ele p-pe-pediu para agua-guardar-aguardar sua res-resp-resposta senhor.

Ao ver que sua mulher chegara Harry guardou logo o bilhete, mas não conseguiu disfarçar um certo nervosismo.

-         Quero que espere aqui. Vou com você até seu patrão.

Harry se virou e subiu para pegar seu casaco e chapéu. O pobre mensageiro parecia ter ouvido a sentença de morte, iria com aquele monstro no mesmo veículo.Quanto a Bela, ficou apreensiva, e subiu para interrogar Harry.

-         O que está acontecendo?

-         Nada Bela.- e já ia saindo quando Bela ficou na porta, não iria se livrar dela tão facilmente.

-         O que diz o bilhete?

-         Eu já lhe disse que não é nada.

-         Se não é nada poderia ficar e almoçar. Não comeu nada até agora.

-         Não estou com fome...- mentiu, então resolveu passar assim mesmo quando Bela o segurou.

-         Nunca escondeu nada de mim...

-         Bela...Agora não. Tenho que ir, depois conversamos.

Ela o largou com a estranha impressão de que não iriam conversar sobre aquilo.

Robin estava com dor de cabeça (obra da bebedeira da noite anterior), mal humorado e tão faminto quando Harry, Meg era uma negação na cozinha por isso preferiu comer no bar. Mal entrou no recinto e um dos seus amigos gritou de sua mesa:

-         Hei! Wood! Chegou um bilhete para você!

-         Está bem...Mas por favor, não grite...- então se dirigiu até a mesa e pegou o bilhete. Ao ler, sua fisionomia mudou completamente, parecia que haviam acabado de avisa-lo que o natal chegaria mais cedo aquele ano. –bem amigos, tenho que ir.

-         Não vai comer nada hoje Wood? –perguntou o balconista.

-         Não, acho que hoje vou comer em outro lugar...Até mais tarde rapazes!

-         Até!

           A quilômetros de distancia do bar, em uma terra que não está no mapa, um garoto de roupas engraçadas comia seu almoço com as mãos, quando uma pequena fada pousou em seu copo de suco, ela trazia um bilhete em suas mãozinhas. Peter pegou o bilhete com as mãos sujas e leu. Ficou um tanto confuso, não sabia o que tinha haver com o que acontecia fora da Terra do Nunca, mas decidiu ir.

-         Obrigado Flautinha. Hum... Vou viajar...

-         Para onde Peter?

-         Para longe...Para longe da Terra do Nunca...

-         Volta quando?

-         Não sei... Espero que seja cedo...Ah! Odeio sair daqui Flautinha...Quando saio cresço...

-         Ora! Não deve se importar com isso, Sininho já disse que...

-         Não me fale em Sininho!

Peter sabia que não devia, mas se importava... Odiava a idéia de crescer.