O Preço de Amar Um Malfoy escrita por BlissG


Capítulo 29
A lembrança que eu queria esquecer


Notas iniciais do capítulo

De repente meu telefone está tocando. Eu hesitei, mas atendi de qualquer maneira. Você parece tão sozinho. E estou surpresa ao te ouvir dizer: Você se lembra de quando nos beijamos, ainda sente nos seus lábios; a vez que você dançou comigo... sem nenhuma música tocando; você se lembra das coisas mais simples, conversamos até chorarmos. Você disse que seu maior arrependimento, a única coisa que queria que eu esquecesse... foi ter dito adeus. (Miley Cyrus - Goodbye)



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Apesar de tudo que vinha acontecendo, Hermione e os garotos acharam que era melhor ir atrás da horcrux que eles sabiam estar em Brampton. Por mais que a idéia de enfrentar centauros que estavam sob o controle de Voldemort não fosse exatamente tentadora, não era como se eles estivessem em condição de adiar mais aquilo. Ainda havia outras horcruxes para encontrar e eles tinham que agradecer á Merlin por pelo menos saber onde aquela estava. Então, Hermione fez uma pesquisa e viu que havia um castelo em Brampton, o Castelo de Naworth. Quando o fim de semana chegou, o trio saiu de Hogwarts rumando para o outro lado do país.


A viagem era longa. Eles primeiro pegaram o trem em Hogsmeade para Londres. Pensaram em aparatar, mas ninguém sabia de que forma ou se Voldemort estava rastreando Harry, então acharam melhor chegar até lá de forma trouxa, chamando o mínimo de atenção possível. A idéia era se misturar. Em Londres, pegaram um trem para a cidade vizinha á Brampton e de lá, pegaram um ônibus até Brampton.


Para piorar a situação da viagem, não era como se Harry e Rony estivessem em bom termos com Hermione. Muito pelo contrário. A amizade dos três não era a mesma desde que a garota se envolveu com Malfoy e as coisas que aconteceram depois não ajudaram em nada. E apenas há alguns dias atrás, eles tinham descoberto que ela tinha feito magia negra. Os dois não tinham conversado com ela sobre isso até agora e pensando bem, Hermione estava até agradecida pelo silêncio desconfortável da viagem se uma possível conversa fosse implicar naquele assunto. Ela estava cansada daquele assunto. Até porque há pouco tempo atrás ela tinha chegado a conclusão que fazer aquele feitiço não tinha sido uma das suas mais brilhantes idéias. Então o que ela menos precisava no momento era que alguém lhe dissesse isso. Sinceramente, ela ficaria feliz em se ver livre do feitiço o mais rápido possível. John disse que cuidaria do assunto mas ela não sabia exatamente o que aquilo significava ou até que ponto poderia confiar nele quando se tratava disso - ou quando se tratava de qualquer coisa, pra ser sincera. Ela também já tinha chegado a conclusão que se envolver com John tinha sido uma idéia tão “inteligente” quanto fazer aquele feitiço. Ele nunca tinha se mostrado oposto á idéia de ela fazer magia negra, não sabia porque de repente ele queria ajudá-la. De qualquer forma, se ele não estava falando sério quando prometeu cuidar do assunto ou se não conseguisse fazer o que quer que pretendesse, Hermione daria um jeito de cuidar do feitiço ela mesma.


O Castelo Naworth era enorme. Não tão grande quanto Hogwarts era, mas ainda enorme. Assim que eles colocaram os pés na grama verde e muito bem tratada do lugar, Hermione tirou da sua bolsa a bússola que Phobos havia lhe dado, agradecendo mentalmente pelo objeto, apesar de já desconfiar para onde deveriam seguir. Havia uma floresta atrás do castelo, aonde não era permitida a entrada de visitantes e, não precisava ser um gênio pra saber aonde os centauros viviam.


Eles viram ao longe árvores que faziam sombras no castelo e andaram em passos rápidos até lá. Mas, ao se aproximarem, Hermione percebeu que seria mais difícil do que estava pensando.


Havia um cerca de mais ou menos cinco metros altamente eletrificada separando a floresta do resto do castelo.


– Ótimo... – Harry disse – Parece que nós subestimamos os trouxas... O que vamos fazer?


– Por favor, - Rony revirou os olhos – somos bruxos. Vamos aparatar.


E dizendo isso ele tirou a varinha e deu um giro, tentando aparatar. A cara de confusão dele quando se viu no mesmo lugar foi impagável.


– Não é possível aparatar aqui. – Hermione falou.


– Oh. – ele deixou cair os ombros – Então, o que vamos fazer?


– Guarda a varinha, Rony. – Harry falou, olhando os trouxas ao longe de rabo de olho – as pessoas vão começar a se perguntar o que você está fazendo dando giros com um graveto na mão.


Rony guardou sua varinha e disfarçadamente, os três se afastaram da cerca. Estavam começando a chamar a atenção das pessoas ficando parados ali conversando sobre como fazer para passar pro outro lado.


– Então... – Rony riu – Nós três metidos numa situação sem saída, hã? Como nos velhos tempos...


– Deveria ter trazido a vassoura... – Harry disse.


– Me dêem as mãos de vocês. – Hermione falou


– Pra quê? – Rony perguntou desconfiado.


Hermione revirou os olhos e esticou a mão para cada um deles pegarem.


– Eu vou tentar nos levitar. – ela disse.


Tentar?– Rony disse preocupado.


– É. – ela deu de ombros – Não é a minha especiliadade...


– Nada que envolve voar é, Hermione... – Harry comentou recebendo um olhar feio da garota.


– Me desculpe se eu valorizo o fato de poder colocar meus pés em terra firme... – ela se defendeu – Enfim, Malfoy faz isso o tempo todo então não deve ser tão complicado...


Então, dizendo isso Hermione tentou se concentrar e cinco segundos depois, eles estavam flutuando, subindo lentamente até estarem passando por cima da cerca. Lentamente demais para o gosto de Harry, que estava vendo que alguns trouxas estavam olhando espantados para o que eles estavam fazendo. Ele sacou sua varinha com a mão que não estava segura na de Hermione e assim que eles estavam do outro lado da cerca, ele lançou o obliviate na meia dúzia de trouxas que os tinham visto e agora os olhavam abismados.


– Vamos sair da vista deles. – ele falou, se afastando da cerca.


Mas foi só eles darem alguns passos para a floresta que ouviram o barulho de cascos batendo no chão e logo estavam cercados por, no mínimo, dez centauros com flechas apontadas para eles.


– Ops.


– Merlin... – Hermione sussurrou – Isso foi rápido. Tá parecendo mesmo os velhos tempos...


– Harry Potter. – um deles falou – Nós temos ordens claras para levá-lo para longe daqui.


– E aonde seria isso? – Harry perguntou – Pro castelo do mestre de vocês? De Voldemort?


– Como ousa falar o nome dele? – outro perguntou.


– Como ousam servir a ele? – Harry replicou – Centauros não se envolvem em guerras humanas. Pelo menos, não os íntegros.


– Não nos diga coisas sobre a nossa própria espécie.


– Harry, - Rony sussurrou – pode parar de jogar conversa fora com os caras? Me diga, por tudo que é mais sagrado, que você trouxe sua capa de invisibilidade.


Ele olhou para Rony confuso.


– Eu... claro... – ele tirou o pedaço de pano da mochila que carregava e o mostrou ao amigo.


– Ótimo. – Rony o pegou e em um segundo jogou a capa por cima dos três.


– Uma capa de invisibilidade? – eles os ouviram falar – Acha que vai conseguir fugir por muito tempo com isso?


– Eles têm razão. Isso é inútil, Rony. – Harry sussurrou.


– Não, não é. – Hermione sussurrou no mesmo tom de Harry e sorriu como se acabasse de ter uma idéia – É brilhante. Vocês, - ela pegou a bússola e entregou ao ruivo – vão atrás da horcrux. Eu vou distraí-los.


– O quê? Não. – os dois responderam ao mesmo tempo.


– Acreditem em mim, eu posso fazer isso. – ela respirou fundo e voltou a falar em alto e bom som – Quer saber? Vocês tem razão. Não podemos ficar invisíveis por muito tempo. Então por que vocês não vêm nos pegar?


E com isso, ela saiu de baixo da capa e adentrou as profundezas da floresta correndo tão rápido que Harry e Rony só conseguiram presumir que tinha alguma coisa a ver com os poderes dela. Foi impossível distinguir algo além da direção que ela tinha seguido e os centauros poderiam facilmente presumir que não apenas ela, mas os três tinham ido pra lá, e foi isso que aconteceu. O minuto mais longo da vida dos grifinórios se passou enquanto Harry e Rony tentaram permanecer imóveis enquanto os centauros olhavam de uns para os outros, para o lugar aonde Hermione tinha seguido e para o lugar aonde os garotos estavam mas que era impossível vê-los. Então eles finalmente fizeram o que Hermione tivera em mente e foram na mesma direção que a garota tinha ido alguns momentos antes. E então os garotos se viram completamente sozinhos no silêncio da floresta.


**********


Harry e Rony fizeram uma longa caminhada antes de chegarem ao local para onde a bússola apontava. Harry estava atento a qualquer barulho que ouvia na floresta, certo de a qualquer momento ouviria gritos de Hermione.


– Relaxa, Harry... – Rony falou, vendo a tensão do amigo – Hermione não é uma criança, por mais que esteja agindo como uma últimamente... Não vamos esquecer quão inteligente ela é...


– Ela não tem feito nada para me lembrar disso nos últimos tempos, têm? – Harry respondeu – Fica fácil esquecer com aquele comportamento..


– Eu sei. – Rony suspirou – Mas temos que tentar confiar nela... Além do mais, eu tenho a impressão de que ela está bem melhor do que estava logo depois de voltar pra Hogwarts. Eu acho que a convivência com as pessoas do castelo está fazendo bem pra ela...


– Eu já pensei nisso também... Ás vezes ela parece realmente se importar... Mas ás vezes ela parece tão fria... tão diferente... como se não tivesse volta...


– Eu acredito que ela tenha volta sim. Nós só não pudemos desistir dela. Você acha mesmo que se fosse ao contrário, ela desistiria de qualquer um de nós?


Harry nem precisou pensar muito, a resposta era óbvia. Não, Hermione não desistiria das pessoas que ela amava. Pelo menos não a Hermione de antes. E, talvez, nem a de agora.


– Olhe, - Rony disse parando de andar e olhando para a bússola – está apontando para o outro lado. -


Ele deu cinco passos para o lado contrário ao que eles estavam andando pelo que devia ser umas duas horas e olhou para Harry – agora está apontando pra lá de novo.


Harry olhou em volta.


– Então está aqui.


Mas não havia nada de diferente naquele lugar. Só dezenas de árvores como em qualquer outro pedaço da floresta.


Depois de um minuto de consideração, os dois chegaram a mesma conclusão.


– Está enterrada. – Harry disse e Rony apenas balançou a cabeça.


– Conhece algum feitiço que, - ele franziu o cenho – sei lá, desenterre coisas?


– Não.


Harry afastou as folhas do chão e começou a cavar.


Rony não demorou a ajudar o amigo:


– E mais uma vez Hermione não está por perto quando se mais precisa dela... – ele suspirou – Isso vai entrar para a lista mental de conselhos para os meus filhos: sempre carregue uma varinha, uma vassoura e uma pá...


**********


Por mais rápido que os poderes de Hermione a permitissem correr, eles não a impediam de ficar cansada. E por mais que sua saída repentina de lá a tivesse dado uma enorme vantagem, ela sabia que estava correndo cada vez mais devagar e que os centauros estavam ficando mais próximos a cada minuto. Então, quando ela achou que suas pernas não aguentariam nem mais um segundo de pé – quanto mais correndo – ela lutou contra todo o pavor que sentia de altura e subiu numa árvore, tentando ficar o mais distante possível do chão.


Se sentou em um galho e passou a mão no rosto banhado de suor tentando fazer sua respiração voltar ao normal. Esperava que Harry e Rony estivessem conseguindo ter algum progresso em achar a horcrux e que o único impecilho fosse mesmo somente os centauros. Pensar nos dois a fez se lembrar que tinha se apressado tanto para distrair as criaturas que nem tinha combinado nenhum sinal para quando pudessem ir embora.


Ela olhou para o chão pela primeira vez, percebendo que deveria estar a uns quatro metros acima dele.


Suspirou. E como queria ir embora...


**********


– Acho que estou vendo alguma coisa... – Rony disse, quase se permitindo ficar feliz.


Suas mãos estavam vermelhas, sujas, entupidas de calos e ele tinha bastante certeza de que elas começariam a sangrar a qualquer momento. Olhando de onde estava, as de Harry não estavam num estado muito melhor que isso.


Eles continuaram cavando, mais rápido agora que viam algo que mostrava que não tinham tido aquele trabalho todo á toa, e descobriram um pequeno baú de madeira.


– É como encontrar um tesouro... – Rony comentou abrindo o baú no mesmo instante.


– O que é a horcrux? – perguntou Harry se aproximando.


– É um colar... Verde e prata como o bracelete... – ele esticou a mão para pegá-lo – Essa belezura deve ter custado uma fortuna...


Assim que os dedos de Rony tocaram a jóia eles ouviram estampido forte e então, a terra tinha começado a tremer enquanto o buraco que eles tinham acabado de cavar ia se abrindo, como se quisesse sugá-los. Tudo que podiam fazer era se afastar dele o mais rápido possível. Ou seja, correr.


**********


Hermione tentou ficar o mais imóvel que podia enquanto ouvia o som daqueles cascos batendo no chão pelo que deveria ser a décima vez naquela noite. Ela tinha certeza que ouviria aqueles sons nos seus pesadelos dali em diante, como se já não tivesse problemas suficientes com seu sono.


Ouviu vozes ao longe e percebeu que eles estavam perto demais pro seu gosto então a grifinória tentou ficar calma, repetindo para si mesma como uma mantra que mesmo que eles a descobrissem em cima daquela árvore, não havia jeito de eles consiguirem subir ali para pegá-la.


Foi então que a última coisa que Hermione poderia esperar aconteceu. O chão começou a tremer.


– Merlin... – ela sentiu tudo ao seu redor sacudir e tentou se segurar mais firme enquanto a árvore em que estava balançava fortemente.


Ela olhou para o chão e viu a raiz da árvore se soltando no mesmo momento em que ela começava a tombar. Não havia muito o que pudesse fazer. Se se deixasse cair junto com árvore, no mutueiro de folhas e galhos, era bem provável que ficasse presa ou massacrada pelo tronco dela.


Então ela fez a única coisa que podia. Pulou.


Como a árvore já estava caindo para o lado, o tombo não foi feio o suficiente para tirar-lhe a consciência mas ainda foi feio. Bateu o braço e podia jurar que o tinha quebrado.


E quando conseguiu se levantar, completamente suja de terra e com pequenos galhos e folhas no seu cabelo, olhou para frente e viu que os centauros estavam vindo na sua direção, a apenas uns dez metros de distância. Então ela não pensou em feitiço, em se esconder nem nada disso, simplesmente se virou para o outro lado e correu com toda a pouca energia que ainda lhe restava.


**********


O terremoto ia ficando mais fraco mas ainda era possível sentir pequenos tremores na terra. Harry e Rony continuavam correndo, mesmo que o buraco já tivesse ficado para trás. Correr naquele momento os faziam sentir como se estivessem indo para qualquer lugar longe daquela floresta e como se fossem inatingíveis. Era só uma sensação, mas era boa.


A floresta ia ficando menos densa na medida em que alguns minutos de correria se passavam. Foi aí que eles ouviram um grito feminino.


– Aaaaaaah!


– Hermione!


Eles pararam para esperá-la enquanto ela vinha correndo desesperadamente e balançando a cabeça negativamente.


– Não parem!


Cinco segundos depois eles entenderam o que ela estava dizendo e voltaram a correr. Os centauros a estavam perseguindo de perto, e ela não estava correndo nem com um décimo da velocidade da última vez que a viram.


Foi quando eles sentiram como se vissem uma luz no final do túnel e uma gota de esperança os invadir ao perceberem que estavam saindo da floresta. Não durou muito, um segundo depois a esperança foi massacrada pela percepção de que eles estavam na beira de um precipício, com um rio revolto passando lá embaixo.


Hermione estava tão no ritmo da correria que foi a última a perceber o imenso vão á sua frente e Harry e Rony tiveram que segurá-la pelo braço para fazê-la parar.


– Meu Deus... – ela murmurou sem ar.


– Você pode voar? – Harry perguntou rápido.


– Não... – ela balançou a cabeça – Muito fraca...


– Ok, Hermione. – Harry olhou para os dois amigos – Então nós vamos ter que pular.


Hermione arregalou os olhos.


– Não. – ela olhou para baixo enquanto sentia uma forte tontura e uma lágrima escorria pelo seu rosto – Muito alto.


– Vamos, Hermione. – Rony segurou o ombro dela fazendo-a encará-lo – Você pode fazer isso. Vamos.


Ele segurou uma mão dela e Harry segurou a outra e então com apenas um olhar de mútuo entendimento, os três pularam.


**********


– Não acredito que eu estou viva... – Harry ouviu Hermione murmurar enquanto saía da água – Impossível... Ninguém pode sobreviver ao pular de um lugar tão alto...


– Relaxa, Hermione... – Rony falou.


– Relaxar? – ela lançou um olhar fuzilador para o ruivo – Nós deveríamos estar mortos e você me diz pra relaxar?


– Sim, - ele respondeu – contando com o fato de que você está surtando por causa de ter pulado em um rio quando fomos perseguidos por centauros, corremos no meio de um terremoto e quase fomos sugados por um buraco negro ou alguma coisa do tipo...


– Fácil falar, não é? Quem surtou por entrar num ninhozinho de aranhas alguns anos atrás? – ela replicou.


– Ninhozinho? Harry! – ele olhou para o amigo – Coloca algum juízo na cabeça dessa garota!


– Só calem a boa, vocês dois... – Harry disse – Deviam estar felizes que a correnteza nos trouxe para a margem, nós poderíamos estar mortos!


– Era disso que eu estava falando! – Hermione exclamou.


– Que lugar é esse? – Harry perguntou, ignorando a pergunta dela que provavelmente recomeçaria a discussão dos amigos.


Os três, já fora da água, encararam o lugar aonde tinham ido parar pela primeira vez. Parecia algum tipo de cidade pequena – quase uma vila, talvez – trouxa.


Harry suspirou.


– Não sei. Não importa. – ele continuou andando – Vamos só achar um lugar deserto para aparatar e dar o fora daqui.


**********


– Agora feche seus olhos... – a mulher praticamente sussurrava através do rádio – Você precisa pensar em coisas que te fazem feliz. Construa o seu paraíso particular... Um lugar livre de qualquer tipo de stress... Mande o seu stress para longe da sua mente... Mande o seu stress para... – a radialista pareceu pensar por uns segundos – mande o stress para o seu pé...


Sentada de forma indiana no chão do seu dormitório, Luna tentava seguir as instruções da mulher do rádio. Tentava porque era meio complicado seguir instruções que você nem sabiam o que queriam dizer. Mandar o stress pro pé? Alguém sabia pelo menos o que aquilo queria dizer?


Mas ela já tinha tentado de tudo. Tinha lido o livro que Trelawney lhe mandou no mínimo umas três vezes. Não só o capítulo indicado, todos os capítulos. Tinha demorado para entender como os feitiços que ele sugeria deveriam ser executados - uma vez que não eram feitiços comuns – e depois de longas horas de teoria, ela se sentiu pronta para tentar usar a varinha. Só que ela não estava pronta, já que absolutamente nada aconteceu. Então, para não se sentir uma completa inútil quando todos estavam fazendo pesquisas, lendo livros ou visitando centauros, ela decidiu apelar para a yoga bruxa, também sugerida por Trelawney.


Suspirou. Dava a sensação (mesmo que ilusória) de estar fazendo mais efeito do que aqueles feitiços estúpidos.


**********


Harry, Rony e Hermione chegaram em segurança em Hogwarts. Antes de qualquer coisa, os meninos acompanharam Hermione até a enfermaria, porque a garota aparentemente tinha quebrado o braço, e em seguida foram procurar um lugar seguro para guardar o colar/horcrux que tinham encontrado.


Assim, o final de semana passou e a segunda feira chegou mais rápido que a maioria dos alunos queria em Hogwarts. E o assunto na boca de praticamente todos que estavam na sala designada por Dumbledore para as aulas de luta era que John estava atrasado para o treino. Era o primeiro dia de aula e ele já estava atrasado.


– Ainda nem sei porque eu concordei com isso... – reclamou Draco, pelo que Lucas achava ser a milionésima vez – Não é como se eu precisasse aprender a lutar.


– Nós estamos aqui pra ficar de olho na Pansy. – respondeu Lucas.


Draco bufou.


– Não sei se percebeu, Lucas, mas a Pansy não está aqui...


Lucas revirou os olhos.


– Ela disse que me encontraria aqui...


Draco arqueou a sobrancelha diante do tom misterioso do amigo.


– Aonde ela foi, afinal?


– Resolver algum problema... – ele deu de ombros – Não sei... – Draco continuou o encarando e ele completou – Ela foi conversar com Hermione.


– Hum, e que tipo de problema ela tem para resolver com Hermione que não pode nem esperar o treino acabar? O treino que ela tanto quis participar?


– Eu não sei, Draco. Isso é entre elas, ok? E mesmo que eu soubesse, isso não diz respeito a você. – ele observou o loiro – Ou diz?


Draco desviou o olhar.


– Não.


Houve mais alguns minutos de espera e Draco já estava ficando de saco cheio de ficar naquela sala lotada, com um monte de idiotas olhando para a cara dele. Não que a sala fosse pequena, muito pelo contrário. Era muito maior que uma sala de aula normal. Só que tinha um ringue no meio, aquilo ocupava certo espaço, digamos assim.


Ainda não tinham tido sinal nem de Pansy nem de John.


– Eu só vou ficar aqui mais cinco minutos, Lucas. – avisou – Se esse idiota não chegar, eu juro que nunca mais volto nesse treino inútil.


Houve um silêncio absoluto na sala e eles ouviram uma voz que, infelizmente, já estava se tornando conhecida.


– Ora ora ora... – John passou pela porta, se aproximando deles – Não é que nós temos um aluno aqui que se acha bom demais para o meu treino. – ele olhou nos olhos de Draco – Diga, Malfoy, se se acha tão bom assim, o que está fazendo aqui?


Draco o olhou com desprezo.


– Venho me fazendo a mesma pergunta...


John deu um sorriso cínico.


– Então vamos acabar com essa dúvida de uma vez por todas...


– Do que você tá falando? – Draco perguntou, na defensiva.


– Estou falando de eu e você, no ring, agora. Prove que seu querido papaizinho comensal-da-morte te ensinou tudo que precisa saber de defesa pessoal e que você não é só mais um pirralhinho mimado que não consegue falar por si mesmo.


Draco riu.


– Eu não tenho que provar nada pra você.


John se aproximou mais ainda, ficando cara a cara com o sonserino.


– Essa é a melhor desculpa que pode dar pro seu medinho infantil?


Draco olhou em volta. Não era como se ele tivesse uma escolha. Praticamente metade de Hogwarts estava ali e se ele desse as costas para uma luta com John agora, estaria dando motivo para aqueles idiotas falarem que ele estava com medo. E ele realmente não estava. Na verdade, ele vinha pensando em alguma coisa para colocar John no seu lugar há algum tempo. Aquela seria uma boa oportunidade.


– Então, - John falava de forma desafiadora – o que me diz, Malfoy?


Draco deu um pequeno sorriso debochado.


– Estou dentro.


Os dois seguiram para o ringue e a atmosfera na sala mudou de descontração para pura tensão em questão de segundos. Lucas, assim como a maioria dos alunos, se aproximou do ringue sabendo que aquilo seria, no mínimo, uma coisa interessante de se ver. Dando uns empurrões e pedidos mal-educados de licença, Lucas conseguiu ficar muito próximo do lugar da luta, tendo uma visão privilegiada em meio a tantos fuxiqueiros cabeçudos.


John apontou com a varinha para um relógio que começou a fazer uma contagem regressiva a partir de cinco segundos. Quando o relógio marcou zero, houve um apito e os dois começaram a lutar.


Sem dúvida nenhuma, John era bom naquilo. Muito bom mesmo. Mas Draco também não deixava a desejar e aquilo pareceu surpreender o homem. Tinha esquecido de uma das maiores lições quando se trata de um duelo de qualquer tipo: nunca subestimar seu adversário. Era óbvio que o fato de Draco ser tão bom quanto ele o tinha pego totalmente de surpresa. Lucas não via uma luta tão acirrada há séculos.


Draco usou a surpresa de John a seu favor e lhe deu um soco no estômago, aproveitando a brecha para jogar-lhe no chão. John logo se recuperou e do chão mesmo, puxou a perna de Draco e foi a vez do loiro cair. John se levantou no mesmo segundo e lhe deu um soco no nariz, arrancando-lhe sangue. Draco, milagrosamente, conseguiu se levantar e longos minutos de socos e chutes revezados se seguiram. Depois de um tempo, era óbvio que Draco estava conseguindo levar vantagem. Os dois estavam muito machucados mas minutos antes Draco tinha conseguido fazer com que a cabeça de John batesse na beira do ringue. Aquilo deve ter doído e depois disso, John parecia ligeiramente zonzo.


Uma coisa que todos tinham percebido é que eles estavam levando aquilo a sério demais, já que era apenas uma aula de luta. Eles estavam levando aquilo para o lado pessoal e ficou óbvio quando John, com a voz mais fraca que o normal, apesar de continuar usando seu tom malicioso costumeiro, falou baixo para Draco:


– Nós estamos juntos, sabe... – ele disse – Hermione e eu...


Draco sabia o que ele estava fazendo. Seu pai lhe havia alertado tanto sobre isso quando estava lhe ensinando. Era o truque mais velho de todos. Tentar destrair o adversário da luta falando sobre assuntos que o tiravam do sério. Clássico.


– É? – ele sorriu, não se deixando abalar – E o que eu tenho a ver com isso? – deu um soco em John, conseguindo derrubá-lo mais uma vez. Dessa vez não deixaria que ele levantasse. Se abaixou ao seu lado, se preparando para bater tanto naquele idiota que ele iria pedir por piedade.


– Agora nada... – ele murmurou – Mas acho que você odiaria saber que nosso primeiro... digamos assim, contato... foi bem antes que você e ela se separassem...


O sonserino não esperava por aquilo. Ele ficou congelado por alguns segundos, sendo assaltado por milhões de flashbacks do seu namoro com Hermione... Se viu tentando relembrar de algum momento em que lhe dissesse que o que ele dizia era verdade e aquilo foi suficiente para John conseguir inverter posições.


– Tão previsível... – ele segurou o loiro pelo pescoço, o deixando sem ar – Sabe... – ele falou muito baixo, apenas para Draco ouvir - eu realmente não acreditava nessa história de garoto sangue puro apaixonado por garota sangue ruim... mas depois que eu... hum, passei a conhecê-la melhor... eu começei a entender a sua atração por ela... mas agora eu vejo que vai muito além disso... E é patético e idiota! Você realmente achou que, mesmo que eu não tivesse aparecido, vocês iam conseguir ficar juntos? Você só piorou as coisas, Malfoy... seu querido papai não vai deixá-la viver pra contar essa história... Você deveria me agradecer por ter a afastado... longe de você, talvez ela consiga sobreviver a...


Mas ele não terminou seu “discurso” já que mais uma vez as posições foram invertidas.


Ouvir ele falando de Hermione fez Draco sentir uma raiva tão grande que achou que fosse explodir. Com a raiva, veio uma força fora do normal e ele começou a socar cada parte do corpo de John á vista, fazendo sangue escorrer no chão do ringue. Em um minuto, ele estava sem consciência. Todos esperaram Draco parar de batê-lo, já que com John desmaiado e ele obviamente tinha ganho a luta mas não foi isso que aconteceu. Draco continuou a socá-lo sem parar.


Lucas, percebendo que o loiro tinha perdido completamente o controle, subiu no ringue. Alguns outros garotos foram atrás dele.


– Draco! – ele gritou se aproximando. Parecia que o outro sonserino não o ouvia – Draco, chega! – ele o puxou para longe do corpo desmaiado de John, fazendo Draco finalmente notar com a sua presença – Chega, você quer matar o cara? – perguntou apontando para John. Alguns alunos tentavam animá-lo enquanto outros foram chamar Madame Pomfrey.


– Sim! – Draco exclamou, vermelho de raiva – Sim, é exatamente isso que eu quero!


Lucas não tinha ouvido o que John tinha dito para provocar Draco mas, vendo o estado do amigo, já podia até imaginar do que se tratava.


– Draco, ele só queria te irritar... Que idiotice sua cair nessa!


Draco bufou.


– Me deixa em paz, Lucas!


E se afastou, empurrando várias pessoas enquanto andava até a porta da sala.


**********


Hermione estava muito entediada no seu quarto.


Tinha praticamente implorado para que eles a deixassem ir para a aula de luta, mas ninguém lhe permitiu. Madame Pomfrey dissera que ela ainda estava se recuperando do seu braço quebrado e que não era nem para ter ido atrás da horcrux com Harry e Rony no finalmente de semana porque ainda estava se recuperando do “incidente” no túmulo de Neville. Bufou. Talvez a estivessem punindo pelo que ela tinha feito, indiretamente. Quer dizer, indiretamente por enquanto porque uma reunião da Ordem da Fênix tinha sido marcada para o próximo fim de semana e ela já podia imaginar o que a esperava.


Alguém bateu na porta.


– Quem é? – perguntou a grifinória, se levantando da cama.


– Eu. – Pansy falou – Posso entrar?


– Claro. – falou Hermione franzindo o cenho ao ver a amiga – Desde quando você bate?


Pansy fechou a porta do quarto depois de entrar e deu de ombros.


– Melhor assim, não é? Vivendo e aprendendo.


Hermione não entendeu o comentário mas decidiu deixar pra lá.


– Estranhei você não ter ido me ver na enfermaria. – disse ela – Algum problema?


– Na verdade, - Pansy soltou um suspiro – eu fui te ver.


– O quê? Como eu não te vi?


– Provavelmente porque você estava muito ocupada enfiando a língua na boca do John.


A expressão de Hermione mudou enquanto ela desviava o olhar. Pansy ficou esperando que ela dissesse algo, mas foi em vão.


– Então... – a sonserina tentou buscar o olhar da garota – você mentiu pra mim.


– É complicado, Pansy... – disse lentamente - Se descobrirem, todo mundo vai surtar. John vai perder o emprego e eu posso ser expulsa.


– Há uma razão pra isso, não é?


– Ah, - ela se exasperou - não acredito que você também vai agir como se isso fosse errado.


– É claro que eu vou agir como se fosse errado... porque é errado!


Hermione cruzou os braços, se esquecendo até de que aquela discussão supostamente era em vão já que fazia um bom tempo desde a última vez que ela e John transaram. Ele a tinha beijado na enfermaria, mas fora provavelmente porque ela tinha sido pega de surpresa, e eles não haviam feito nada mais. A verdade era que ela não tinha estado com paciência nem para ficar na mesma sala que John ultimamente.


– Me diz o que é errado!


– Hermione... – Pansy respirou fundo, de repente muito cansada da grifinória – você ama ele? Está apaixonada?


– Não, não estou! – respondeu sem nem pensar duas vezes.


– Então é errado! – Pansy replicou na mesma velocidade.


– Por quê? – praticamente gritou – Por que sou eu? Você costumava fazer isso o tempo todo antes de namorar o Lucas!


– Aquilo era diferente! – exclamou, quase no mesmo tom da outra.


– Por quê? – repetiu.


– Porque eu era uma bagunça, Hermione! Eu era uma vadia, ok? Você não!


Hermione balançou a cabeça, sem conseguir entender.


– Mas eu evoluí! – continuou Pansy – Eu me apaixonei por ele e nós transamos e foi perfeito justamente porque a gente se amava! Eu nunca mais transei com ninguém depois disso!


– O que isso tem a ver comigo? – falou Hermione, depois de revirar os olhos.


– Porque você não precisou dormir com outros caras pra descobrir isso! Você transou com o Draco quando estava perdidamente apaixonada por ele, e devia saber também que o que está fazendo é perda de tempo! Mas parece que você tá regredindo, Hermione!


As duas se encararam em silêncio por alguns segundos.


– Não acredito que, de todas as pessoas, você tá me julgando! Quando você conheceu John, você foi uma das primeiras pessoas a fazer insinuações sobre ele! Eu não estou fazendo nada errado! Eu não estou com ninguém, ele também não! Nós só estamos nos divertindo!


– Quer saber? – Pansy bufou – Está impossível conversar com você! Quando foi que você ficou tão cega?


Hermione a olhou, indignada.


– E quando foi que você ficou tão hipócrita? Por favor, Pansy... Dormir com caras por prazer? Você era a mestre nisso!


– Se você está dormindo com o John, eu diria que a aluna superou a mestre! – replicou.


– Isso é impossível, Pansy! Antes de superar você eu vou ter que dormir com a Hogwarts inteira e depois voltar pro John e dizer que fiquei grávida dele!


A próxima coisa que Hermione sentiu foi a mão de Pansy na sua bochecha esquerda.


Hermione levou a mão ao lugar em que a sonserina lhe bateu, sentindo a quentura do seu rosto.


– Você vai se arrepender tanto por isso... – murmurou.


– Sério? Isso é ótimo! – Pansy a encarou com os olhos marejados – Porque até onde me interessa, essa droga de amizade acabou. E se você quer destruir a sua vida fazendo todo o tipo de idiotice possível, eu estou muito mais que bem com isso.


Ela deu as costas e saiu batendo a porta.


Hermione teve que lutar muito para impedir que as lágrimas dos seus olhos começassem a derramar.


**********


Draco estava no seu dormitório na sonserina, deitado na sua cama e tinha estado lá desde a luta com John.


Estava com muita, muita raiva.


Tinha prometido para si mesmo que não ia se deixar afetar nunca mais por Hermione ou o que quer que ela viesse a fazer. Já não bastava a dor que tinha passado quando ela fora embora. Aquela havia sido a gota d’água para ele. Havia se exposto demais para ela e para quê? Para nada. Tinha prometido que nunca mais se permitiria ficar do jeito que ficou quando ela foi embora.


Mas não podia negar que ouvir John dizer que já havia acontecido alguma coisa entre eles antes de Hermione terminar seu namoro o havia afetado.


Draco tinha dito milhares de vezes que não acreditava que Hermione realmente o tivesse amado, uma vez que ela foi embora. Tinha dito que o amor dela fora uma mentira o tempo todo. Só que ele não acreditava naquilo realmente. Ele pensava, pelo menos até hoje, que ela o tivesse amado, pelo menos em alguns momentos. Mas acabava de ter a comprovação de que o que costumava falar da boca para fora, era a maior verdade. Ela nunca tinha se importado com ele, nem com os sentimentos dele, nem com nada além de si mesma. E ele não acreditava que tinha levado todo esse tempo para perceber isso.


– Draco? – ele olhou em direção a porta do quarto e viu sua linda namorada parada ali, o encarando.


– Ei... – ele tentou sorrir.


– Você está bem? Não sai do quarto há horas...


Ele se sentou na cama e fez sinal para ela se aproximar. Ela se sentou ao lado dele.


– O que foi? – ela perguntou, ligeiramente preocupada.


– Nada. – ele respondeu, procurando a mão dela – Taylor... Queria dizer que... estou feliz por você ser minha namorada... Eu gosto mesmo de você. – ela sorriu ligeiramente para ele – Me desculpe se ás vezes eu não te dou o valor que você merece.


Ela não respondeu, apenas desviou o olhar.


– Tenho algo pra você... – ele disse.


Conjurou uma caixinha de veludo, fazendo-a aparecer na palma da sua mão. A abriu pela primeira vez em meses, fazendo Taylor prender a respiração diante do maravilhoso anel. Draco tentou, a todo custo, não se lembrar do dia que tinha oferecido aquele mesmo anel para Hermione. Olhou para o pequeno coração de rubi no centro da jóia. O coração, diferente do seu próprio, estava impecável. Pelo menos aquele ninguém nunca havia partido. Ele merecia ficar com alguém que não fosse quebrá-lo, pensou, sabendo que se referia aos dois.


– Esse é um anel de compromisso. – ele começou, falando as mesmas palavras que havia dito naquele dia - Pra te lembrar o quanto é importante pra mim e que eu vou sempre estar com você, não importa o que aconteça.


Taylor tinha lágrimas nos olhos, assim como Hermione naquele dia. Mas, Draco ficou feliz em notar, por um motivo diferente.


– Draco... – ela falou – Essa foi a coisa mais linda que alguém já me disse.


Ele sorriu e colocou o anel no dedo dela. Ela o beijou em seguida.


– Quero que dê certo com a gente, Taylor. – ele falou – Eu quero mesmo.


Ela sorriu abertamente.


– Pela primeira vez, Draco... Eu acho que pode dar.


Ele retribuiu o sorriso.


**********


Talvez aquela fosse a primeira vez na história da Ordem da Fênix em que eram marcadas duas reuniões em um intervalo tão curto de tempo. Mas aquela não era uma reunião comum. Primeiro de tudo, nem todos os membros compareceriam. Haviam sido convidados apenas Remo Lupin, Moody, Harry, Luna, o Sr. e Sra. Weasley e Tonks, além de Pansy, Lucas e Draco. John tinha sido muito convenientemente excluído também. Assim que Hermione pôs os pés na biblioteca, ela levantou a guarda ao perceber que aquela “reunião” estava mais para uma intervenção do que qualquer outra coisa.


Hermione chegou cedo, ao contrário do que todos esperavam, e se sentou em uma cadeira qualquer no meio da mesa, permanecendo em completo silêncio até o começo da reunião.


A briga com Pansy a tinha afetado mais do que queria, pra variar. Desde aquela horrível conversa, as palavras da amiga - ou ex-amiga agora – ficaram ecoando na sua cabeça. Se sentia cansada. Mais que cansada, na verdade. Exausta. Só não sabia de quê. Talvez de tudo. Era como se estivesse carregando um peso enorme nas costas por muito tempo, mas só agora tivesse se dado conta dele. Queria se livrar daquilo. Se livrar de tudo. Estava completamente sozinha, lutando por tempo demais para não sentir coisas que no fundo sabia que eram impossíveis de não serem sentidas. Esse era o peso que carregava. Lutar para não se sentir infeliz com tudo que tinha acontecido e com tudo que vinha acontecendo a deixava quase tão infeliz quanto se deixar sentir tudo que tinha pra sentir. Era trabalhoso demais e agora estava também se revelando inútil.


A porta da biblioteca se abriu, chamando sua atenção, e a garota levantou o rosto para ver Pansy e Lucas entrarem, seguidos por Draco e Taylor de mãos dadas.


Para uma pessoa que não deveria sentir, Hermione sentiu muitas coisas no momento em que seus olhos caíram sobre as mãos entrelaçadas do casal sonserino. Antes de qualquer coisa, ficou surpresa ao ver Rose ali, quando ela não pertencia á Ordem, pelo menos até onde Hermione sabia. Depois, vê-la de mãos dadas com Draco e perceber, com muita raiva, que os dois faziam um casal bonito, a lembrou das incontáveis vezes que ela mesma andou de mãos dadas com o loiro, e ela foi atingida por uma onda tão forte de saudade que achou que poderia começar a chorar ali mesmo. Se lembrou de como suas pequenas mãos se perdiam nas dele, e do conforto que a sensação do toque dele a passava. Se lembrou também de como ele a abraçava forte e em como costumava fechar os olhos quando estava nos braços dele, sentindo como se estivesse no paraíso.


Sentiu uma pontada forte na cabeça e desviou o olhar, fazendo uma careta discreta. Aquela não era uma linha de pensamento muito boa.


De qualquer forma, não foi muito difícil para Hermione sair dela quando um brilho vermelho no dedo de Taylor lhe chamou a atenção. Nada podia pegar Hermione mais desprevenida naquele momento do que ver aquele anel, o seu anel, no dedo de outra garota. Seus olhos se arregalaram, e ela olhou raivosa de Draco para o anel novamente, fazendo o loiro seguir seu olhar involuntariamente e ver o que ela tinha visto.


Ela teve certeza que ele esboçou um pequeno, quase imperceptível, sorriso de satisfação.


Harry, Rony e Luna chegaram e Dumbledore deu início a reunião.


– Obrigado a todos por virem, mesmo com um convite tão em cima da hora. – ele disse, provavelmente só por formalidade já que mais da metade das pessoas na sala moravam ali.


– Bom, - falou Lupin – acho que podemos dar início a essa reunião indo direto ao ponto...


– Dá licença, - Hermione o interrompeu, se fazendo ouvir por todos – mas antes de vocês começarem a me atacar, eu queria muito saber uma coisa.


Lupin suspirou, provavelmente buscando paciência.


– Pode falar, Hermione.


Os olhos da grifinória se voltaram para Taylor.


– O que ela está fazendo aqui?


– A senhorita Rose tem a intenção de se juntar a Ordem da Fênix, Granger. – respondeu Moody – E nós achamos que ela poderia participar dessa reunião.


– Ah... – Hermione se recostou na cadeira e cruzou as pernas – Me desculpe, eu não sabia que os assuntos particulares da Ordem não são mais tão particulares assim.


– Que assuntos particulares, Hermione? – falou Draco - Não é mais segredo pra ninguém o que você fez.


Ela o olhou impaciente.


– Cala a boca, Malfoy. – ela bufou – Eu nem sei porque vocês todos estão aqui, de qualquer maneira. O que eu fiz ou deixei de fazer não diz respeito a nenhum de vocês.


– Diz respeito a Ordem da Fênix sim, senhorita Granger. – Dumbledore falou, muito duro – Nós estamos aqui para ganhar essa guerra de maneira limpa. E usar magia negra não se encaixa nesses padrões. Esse tipo de comportamento não será permitido.


– Ótimo, então vocês deviam simplesmente me expulsar da Ordem. – ela fez uma pausa, e não recebeu nenhuma resposta – Mas vocês não querem isso, não é? Eu tenho poderes demais e posso ser de grande ajuda.


– Hermione, querida... – Sra. Weasley se pronunciou pela primeira vez, com os olhos marejados – Antes de nos preocuparmos com a Ordem, ou com a guerra... Antes de qualquer coisa, na verdade... Nós estamos preocupados com você.


– Eu não acho que isso seja verdade. – ela replicou – Vocês estão só preocupados que eu vá sujar o bom nome da preciosa Ordem da Fênix.


– Por Merlin, Hermione... – Rony exclamou, parecendo frustrado - Só... Cala a boca, ok? Você sabe muito bem que nada do que você tá dizendo é verdade. Só tá falando um monte de coisa da boca pra fora pra se livrar da culpa. Que é o que tem feito desde o incêndio do Largo.


– Isso não é verdade. – ela respondeu, um pouco menos presunçosa – E mesmo que estivessem preocupados comigo, isso é desnecessário. Eu posso cuidar de mim mesma.


Uma reação idêntica de incredulidade se espalhou pela sala diante daquela declaração. Harry foi quem colocou em palavras tudo que estavam pensando:


– E tem provado isso muito bem, não é?


– Eu não tenho que provar nada pra vocês! – ela praticamente gritou – Eu tô de saco cheio de tudo isso!


– E nós estamos começando a ficar de saco cheio de você! – exclamou Rony.


– Rony! – Luna o repreendeu – Não diga uma coisa dessas!


– Mas é a verdade! – ele disse – Ninguém aguenta mais isso!


– Rony... – Harry tentou intervir – Fica calmo... – se voltou para Hermione novamente – Hermione, por favor... Dá pra buscar um pouco do bom senso que você tinha? Porque não é possível que ele não esteja mais aí... Você precisa admitir que precisa de ajuda. Ao contrário do que disse, você não está conseguindo tomar conta de si mesma.


– Eu estou bem!


– Bem, Hermione? Fazendo magia negra, mexendo com coisas que você não entende... Tem noção de que você pode morrer a qualquer momento?


– Isso não é verdade. – ela falou, um pouco mais branda.


– É sim. Porque é impossível viver sem sentir nada.


– Não é impossível.


– Não é? – Harry suspirou e se recostou na cadeira – Então você nunca mais vai sentir nada? E posso saber como vai fazer isso?


– Vou dar um jeito.


Ninguém falou nada depois disso. Todos compartilhavam em silêncio o mesmo sentimento de profunda preocupação com a garota.


– Merlin... – Draco exclamou, chamando a atenção de todos – Você tá uma bagunça...


– Não estou! – ela respirou fundo, tentando unir forçar – Não preciso que vocês tomem conta de mim! Não sou uma criança!


– Então páre de agir como uma! – exclamou Rony.


Hermione fechou os olhos e colocou as duas mãos no rosto, respirando fundo.


– Olhem, eu estou cansada. Muito cansada. Nenhum de vocês sabe como é estar no meu lugar para me julgarem desse jeito e eu não vou aceitar isso. Esse foi o único jeito que eu achei de lidar com tudo. Não queria que descobrissem porque eu sabia que não entenderiam. Isso é uma pena, mas já que vocês não parecem abertos a me aceitar, a única solução é eu sair da Ordem da Fênix.


– Não, Granger. – Moody se pronunciou – Não permitimos isso.


– Vocês não são meus donos. Eu sou maior de idade, posso tomar minhas próprias decisões, como vocês mesmo viram. Mesmo que vocês as considerem ruins. – ela suspirou – Não estou pedindo permissão. De hoje em diante, não pertenço mais á Ordem da Fênix.


E dizendo isso, ela se levantou, se retirando da sala.


***


Mais uma semana se passou em Hogwarts e mais uma vez eles estavam na sala de treinamento. Hermione não tinha falado com ninguém sobre sua saída da Ordem e agora que ela estava na mesma sala que Harry, Rony, Luna, Pansy, Lucas e Draco, o clima estava meio pesado. E Taylor nem estava lá, - o que era bom porque Hermione não gostava nenhum pouco de vê-la com Draco. Ela sentou sozinha em um canto e ficou lá até a aula começar.


Era a segunda aula de luta, a primeira de Hermione e ela sabia que John não aguentava mais aquilo. Claro que o fato de ele não aguentar mais tinha muito haver com Draco ter acabado com ele na última aula, o deixando completamente envergonhado na frente de todos. Não envergonhado exatamente, Hermione pensou com um pequeno sorriso no rosto, para se estar envergonhado era preciso estar consciente. Coisa que, pelo que ela tinha ouvido, John não estava.


Quando Hermione ouviu aquela história, ela ficou feliz. Mas não feliz exatamente, mais para orgulhosa de Draco. Não que ela diria aquilo em voz alta.


A única coisa que a deixou um pouco menos exultante por Draco ter metido a porrada em John, foi quando percebeu que ele devia ter tido um motivo para isso. Claro, era uma luta e o objetivo era os dois se baterem, mas pelo estado que John tinha ficado e pelo que todos estavam comentando, Draco tinha meio que perdido o controle sobre a situação. O que a levava a pensar que John tinha lhe dito alguma coisa. Aquilo era um golpe baixo que ele usava sempre que estava perdendo uma luta. Ele era um péssimo perdedor. Tinha usado aquilo contra ela diversas vezes durante uma luta mas nunca a afetou realmente porque não havia muita coisa que ele pudesse dizer que a tiraria do sério... Mas para Draco havia. Tinha ido procurar John depois que soube da luta dos dois e perguntou o que ele tinha dito para o sonserino e John tinha respondido que tinha dito a verdade. Era o que mais temia.


Daquela vez John não se atrasou e chegou logo mandando os alunos se separarem em pares e começarem a duelar pela sala enquanto ele passava para checar o que estavam fazendo de errado.


Hermione olhou em volta rezando para não ficar com alguém muito idiota e seus olhos acabaram caindo em Draco. Todos já iam encontrando seus pares e ele, assim como ela, tinha ficado sozinho. Ela foi até ele.


– Então, - ela sorriu – quer tentar me nocautear também?


Draco não esboçou nenhum sorriso, apenas a olhou. Aquilo fez Hermione se perguntar mais uma vez o que John tinha lhe dito.


– Vamos lá, Draco... – ela se adiantou - Vamos lutar...


– Eu já te ganhei uma vez, Hermione... – ele debochou – Lembra?


– Eu não sabia nada naquela época...


Os dois começaram a lutar mas Draco se comportou completamente diferente de quando lutou com John. Por mais que estivesse morrendo de ódio de Hermione agora, ele não conseguia bater nela. E aquilo ficou bem óbvio quando, em menos de um minuto, ela conseguiu derrubá-lo.


– Ah, Draco... – ela parecia meio decepcionada – Você não está fazendo juz a sua reputação. Pelo que eu ouvi, você fez bem melhor que isso da última vez...


– Eu tinha mais motivos para lutar da última vez...


– Hum, sei como é... Tipo idade da pedra né? O mais forte vence? – ela revirou os olhos – Muito pré-histórico... – ele ainda não tinha se levantado e ela o observou por alguns segundos – Você não deveria dar ouvidos ao que ele diz, de qualquer maneira... Ele costuma contar mentiras quando está perdendo...


Draco se levantou.


– Não acho que o que ele disse era mentira...


– Hum, - ela suspirou – e o que ele disse?


– Nada que eu já não soubesse... – ele avançou dar-lhe um golpe mas ela se esquivou no último instante.


Ela revirou os olhos.


– Você sempre tendeu a ser dramático... E o que ele disse foi provavelmente mentira...


Ele lhe deu outro golpe e dessa vez conseguiu atingi-la, fazendo-a cair no chão dessa vez.


– Então é mentira que vocês estão transando? – ele sussurrou – É mentira que vocês começaram a transar bem antes da gente terminar?


Dizendo isso ele saiu da sala batendo a porta. Todos olharam da porta para Hermione, que ainda estava no chão, completamente chocada. Ela se levantou e foi atrás dele.


O viu dobrando o corredor e correu até ele, o puxando pelo braço assim que o alcançou.


– Draco! Como você pode acreditar numa coisa dessas? Eu nunca dormi com o John quando a gente estava junto...


Ele a encarou furioso.


– Como eu posso acreditar, Hermione? Olha pra você! – ele fez um gesto em direção a ela - Como eu posso não acreditar?


– Porque é uma tremenda mentira! – ela exclamou, indignada. Ele não parecia acreditar em nenhuma palavra do que ela dizia e aquilo a irritou – Draco, você mesmo jogou na minha cara um milhão de vezes que eu não sou a mesma pessoa que eu era antes... E você estava certo, eu não sou... Mas eu não tô pedindo pra você acreditar na pessoa que eu sou agora, mas sim na de antes... – ela olhou nos olhos dele – Ela era perdidamente, desesperadamente apaixonada por você... Nunca faria isso... E mesmo agora, se por um milagre ainda estivéssemos juntos... – ela hesitou, olhando pra ele e percebendo que sentia falta daqueles olhos azuis - Draco, você precisa saber isso... O que aconteceu entre nós depois, foi depois. Enquanto eu estava com você, eu estava só com você.


Ele pareceu estar convencido. Parou na frente dela e olhou bem nos seus olhos. Cara, ela tinha mudado tanto...


– Então, - ele começou lentamente - você está me dizendo que absolutamente nada aconteceu com ele enquanto nós estávamos juntos?


Hermione ia abrir a boca para dizer que não, mas hesitou quando se lembrou da vez em que John a compeliu a beijá-lo. Ele percebeu isso.


– Como você pode mentir assim? – perguntou se afastando.


– Não, Draco... – ela o impediu de ir embora segurando na mão dele e aquilo o pegou de surpresa. Ele olhou para suas mãos entrelaçadas e ficou completamente imóvel. Tentou se lembrar da última vez que eles tinham dado as mãos, mas parecia milhões de anos atrás. Ela se aproximou lentamente dele – Eu te amei tanto... Por favor, não duvida disso... John me beijou enquanto eu estava com você sim. Mas foi só uma vez e eu estava enfeitiçada... Não teria acontecido se eu tivesse uma escolha. Ele me enfeitiçou e se aproveitou da situação. Como você pôde acreditar nisso? Pra quê eu ia trair você? Nem faz sentido...


– Eu não sei. – ele respondeu, separando sua mão da dela – De repente, chega um cara de fora, e você fica toda encantada...


– Encantada? – ela revirou os olhos – Por favor...


– Então por quê você não me contou na época que ele tentou te beijar? – ele perguntou, rancoroso.


Ela deu de ombros.


– Porque a gente não precisava de mais problemas... – ela estava muito perto dele agora e Draco podia sentir o perfume dela – Eu nunca traí você. Acredita em mim?


– Não. – ela ia abrir a boca para contestar mas ele a interrompeu – Porque mesmo que você não tenha tido nada com o John, você ainda foi embora, não foi? Há vários jeitos de se trair uma pessoa, Hermione.


Ela o olhou e balançou a cabeça.


– Você tem razão. Eu sinto muito. E sinto muito que tenha terminado do jeito que terminou, mas eu não admito que você questione o que eu senti por você porque o tempo que passamos juntos foi o melhor momento dessa droga desse ano e talvez até da minha vida e hoje, pensar naquele tempo é uma das poucas coisas que me mantém sã... Então eu não vou permitir que você chegue na minha frente e diga que não foi real, ok? – ela pestanejou – Foi muito real pra mim.


Draco pareceu um pouco comovido pelo que ela tinha dito, e parecia que ia dizer alguma coisa quando um aluno do sexto ano apareceu no corredor correndo:


– Vocês podem chamar a Madame Pomfrey? – ele perguntou.


– Por quê? – Draco perguntou.


– Pansy Parkinson foi atingida durante uma luta... – ele respondeu afobado – Ela está sangrando...


**********


O corredor que dava acesso á enfermaria estava movimentado. Estavam lá Hermione, Draco, Lucas e John, todos esperando notícias de Pansy. Draco e Lucas estavam com expressões de preocupação. Quer dizer, Draco estava porque dizer que a fisionomia de Lucas se resumia a preocupação era o maior eufemismo de todos os tempos. Hermione achava que ele fosse desmaiar a qualquer minuto, de tão pálido que estava.


Hermione, por sua vez, estava escorada na parede de pedra em silêncio. Sabia que as coisas entre ela e Pansy tinham ficado complicadas na última briga, e que Pansy provavelmente a mandaria embora assim que a visse mas ela sinceramente só queria notícias.


Aparentemente, ela estava numa luta com um garoto da corvinal – porque John não permitiu que ela lutasse contra Lucas – e sem saber que ela estava grávida já que eram poucos no castelo que sabiam, ele tinha lhe dado um golpe forte na barriga e a derrubou no chão.


– O que você está fazendo aqui, afinal? – Lucas chamou a atenção de todos ao se dirigir a John.


Esse, por sua vez, parecia entediado.


– Parkinson passou mal na minha aula. Isso é responsabilidade minha.


– Isso é mais do que responsabilidade sua! – exclamou Lucas – Isso é culpa sua! O que eu tinha previsto que ia acontecer desde o dia em que ela quis se inscrever pra lutar!


– Você por acaso tem poderes premonitórios desconhecidos, Mason? Ninguém podia prever isso!


Hermione continuou em silêncio mas entendeu perfeitamente quando Lucas partiu pra cima de John, sendo segurado por Draco. Ela compartilhava a raiva do garoto pelo treinador naquele momento. Todo mundo sabia que John só tinha deixado Pansy treinar para confrontar os garotos, o que tinha sido uma coisa muito estúpida de se fazer.


– Você é um idiota! – Lucas continuou, cheio de raiva e nojo – Eu mal vejo a hora que o velho do Dumbledore finalmente vai perceber que você só entrou nas nossas vidas pra deixar tudo pior do que já estava!


John ia retrucar mas nesse momento Madame Pomfrey abriu a porta da enfermaria e só pela sua expressão, já dava pra ver que não trazia boas notícias.


– A srta. Parkinson vai ficar bem... – ela disse – Mas o bebê... não pude fazer nada... Sinto muito mas quando a trouxeram pra cá, ela já tinha perdido muito sangue e por ser a primeira gestação dela... É tudo muito frágil...


Era de se imaginar que só a notícia que Pansy iria sobreviver teria deixado Lucas feliz. Então foi uma grande surpresa quando o rosto dele desmoronou com a notícia e um segundo depois, ele avançou com tudo para John. Aquilo foi tão inesperado que Draco nem teve tempo de tentar segurá-lo. Mas Hermione achou que ele não o teria feito nem que pudesse. Ele nem se moveu para afastar Lucas quando este deu um soco em John, que também tinha sido pego de surpresa. Na verdade, Draco só fez alguma coisa quando o efeito surpresa passou e John começou a levar a melhor.


Preocupados demais em matar uns aos outros, ninguém percebeu que Hermione passou lentamente por eles e abriu a porta da enfermaria com cuidado, passando por ela e a fechando o mais rápido que pôde, já que não queria que o barulho dos gritos no corredor acordassem Pansy. Percebeu que fechar ou não a porta não fazia diferença, a vozes dos garotos ecoavam no cômodo. Lucas gritava para o castelo inteiro ouvir que John iria pagar por aquilo.


Ela se aproximou lentamente da cama de Pansy, segurando as próprias mãos. Não sabia aonde colocá-las. Percebeu que estava nervosa, e ficou ainda mais ao ver Pansy virar o rosto para olhá-la quando parou ao lado da cama.


– Por que todo mundo está brigando? – perguntou depois de alguns segundos em silêncio.


Hermione se surpreendeu ao perceber que ela ainda não sabia do que tinha acontecido. Sentiu uma dor no peito só de pensar em contar.


– Nem todo mundo tá brigando. – ela hesitou – Lucas está.


Ela viu os olhos da amiga marejarem.


– Por quê?


– Pansy... – Hermione desviou o olhar – Você se esforçou muito durante a luta... Caiu e perdeu muito sangue...


Houve um longo momento de silêncio.


– Eu perdi o bebê, não foi?


Hermione apenas assentiu.


Uma lágrima solitária rolou pelo rosto da sonserina.


– Sinto muito, Pansy... – murmurou Hermione, sem saber o que fazer.


– Não sinta... – ela enxugou a lágrima bruscamente mas foi inútil porque outras começaram a cair – Foi até bom isso ter acontecido... Eu não tive coragem de fazer, então o destino fez pra mim... Isso é ótimo, sabe? Pra mim, pro Lucas, e principalmente pro bebê... Já tinha parado pra pensar em como a gente ia ser uma bagunça como pais? A gente nem consegue cuidar de nós mesmos... Nós somos irresponsáveis e... Eu nem sei o que tá rolando entre a gente, imagina explicar isso pra uma criança... Explicar que a gente se ama, mas não consegue ficar junto mas que a gente ama ela e... – Pansy finalmente parou de falar quando ouviu o que tinha saído da sua boca. Nunca tinha dito aquilo em voz alta, que amava o seu bebê. Ela nem sonhava em tentar impedir as lágrimas agora.


– Eu acho... – Hermione começou a falar, hesitando – que você queria esse bebê mais do que pensava. E pelo que eu vi lá fora, Lucas também.


Pansy tentou respirar fundo, buscando ar em meio a tanto choro.


– Nossas vidas estão parecendo um pesadelo, Hermione. E parece que nunca acaba.


– Tudo bem, Pansy... – Hermione se sentou na ponta da cama – Você e Lucas se amam, é o que importa. Isso é o suficiente.


– Você e Draco se amavam também, e não foi suficiente.


– É diferente. – foi tudo que ela respondeu.


Pansy encarou a amiga.


– Me desculpa por ter batido em você.


Hermione deu de ombros.


– Tudo bem. Eu provavelmente estava merecendo.


– E me desculpe por ter te julgado. Eu estava falando da boca pra fora quando disse aquilo sobre a nossa amizade. Não quero que acabe. Você é a única e melhor amiga de verdade que eu já tive, mesmo que esteja uma bagunça agora.


– Que bom. – Hermione deu um sorriso triste – Eu não sei se eu posso aguentar mais pessoas me odiando na minha vida.


– Ninguém te odeia. Pelo contrário, todos os seus amigos te amam e estão muito preocupados com você.


Hermione apenas balançou a cabeça que sim. No fundo, ela sabia disso.


– Nós sentimos sua falta, Hermione.


– Eu estou aqui.


Pansy negou com a cabeça.


– Não como antes. E nós precisamos de você como antes... Eu preciso de você como antes agora... Preciso da garota que nem era minha amiga ainda quando foi atrás de mim no banheiro quando eu estava chorando por causa do Lucas. Eu preciso muito daquela amiga agora pra me ajudar a passar por isso. Você precisa achar seu caminho de volta.


Hermione não respondeu imediatamente. Ela ficou um minuto em silêncio considerando tudo que vinha acontecendo ultimamente e quando falou, foi sincera.


– Eu quero achar... mas eu não sei como...


– Só... tente, ok? Se não for por você, por nós. Estamos bastante perdidos sem você.


Hermione assentiu.


– Ok. Vou tentar.


– Promete?


– Eu prometo.


As duas se abraçaram, apertando o rosto no cabelo uma da outra. Aquela conversa que tinham tido era loucura, se comparado com o fato de que elas tinham sido inimigas desde sempre. Mas as coisas tinham mudado e Hermione estava disposta a atender o pedido de Pansy. Queria começar a fazer as coisas certas dali em diante.


**********


Já era tarde mas Hermione estava agitada demais para conseguir dormir. Merlin, tantas coisas vinham acontecendo ultimamente. E somente coisas ruins... Ver Pansy naquele estado tinha mexido com ela. Queria poder estar ao lado da garota para consolá-la, como Pansy tinha ficado ao seu lado inúmeras vezes... Mas também se sentia incapaz... Achava que não iria saber o que dizer... O que era estranho porque aquilo nunca havia sido um problema para Hermione.


Sem querer ficar parada no seu quarto, sem dormir e com a cabeça lotada de problemas que não iriam se resolver tão cedo, Hermione decidiu sair pelo castelo, andar um pouco. Costumava fazer isso o tempo todo quando era monitora, e era uma das coisas que mais gostava.


Depois de algum tempo apenas caminhando e relembrando passagens, entrou em uma sala que provavelmente estava vazia há algum tempo, exceto por algumas cadeiras empoeiradas e uma mesa perto da janela. Hermione se aproximou e se sentou á mesa, observando alguns pergaminhos amarelados jogados por cima do móvel com um olhar perdido.


Merlin, como sentia falta da sua antiga vida...


E fazia tempo que Hermione não se lamentava por isso, mas continuava sendo verdade. Sentia falta até da vida de antes, quando ainda não tinha incendiado a sede da Ordem, e quando já sentia falta da outra vida. Naquela época, mesmo que já estivesse um pouco perdida, ainda estava melhor do que agora. Ainda tinha amigos que a amavam e que não tinham se decepcionado com ela. E claro, ainda tinha Draco... Pela primeira vez em meses, Hermione olhou para o fato de ter ido embora como um erro. Um dos muitos que ela vinha cometendo...


Ela saiu do seu devaneio quando algo á sua frente lhe chamou atenção. Os papéis que estavam em cima da mesa viravam cinzas a medida que uma chama de fogo passava de um para o outro. Aquilo a surpreendeu um pouco, há muito tempo tinha parado de fazer magia inconscientemente. Ela começou a erguer a mão, na intenção de apagar o fogo, mas parou no meio do caminho. Respirou fundo observando de perto o fogo se espalhar cada vez mais. Tão perto que ela podia sentir a quentura aumentar na medida que o tempo passava. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto e ela nem percebeu.


– Hermione!


Draco aparecera do nada na sala e após ver a cena com um olhar assustado, apagou o fogo em questão de cinco segundos. A grifinória parecia que saiu do transe assim que as chamas sumiram. Ela o encarou com o cenho franzido.


– O que você tá fazendo aqui?


Ele a olhou surpreso.


– Eu que pergunto, Granger! Você ficou louca? Vai colocar fogo em Hogwarts agora?!


– Eu... – ela demorou a completar a frase, parecendo completamente perdida – não sei o que aconteceu...


Draco a olhava com estranheza.


– Você está chorando. – ele a observou – Isso não deve fazer bem pra você, não é? – perguntou, ironicamente, se referindo ao feitiço que ela tinha feito – Volte para o seu quarto, Granger.


Ela suspirou.


– Tem razão.


Mas quando foi tentar se levantar, suas pernas cederam e ela cairia com tudo no chão se Draco não a tivesse segurado com firmeza pela cintura.


– Merda de feitiço... – ela murmurou.


– Você está bem? – ele perguntou, com genuína preocupação.


– Estou. – respondeu – Acho que eu só tenho que me deitar um pouco. E colocar minhas emoções em ordem.


– Pra quem fez um feitiço desses, você tem estado muito sentimental, Granger. – comentou.


– Não pensei que seria tão difícil...


Ele revirou os olhos.


– Você não pensou em nada. – ele não deu tempo para a garota responder – Vamos, vou te ajudar a chegar no seu quarto.


**********


Draco levou uma Hermione bastante zonza até o quarto da garota e assim que a colocou na cama, a grifinória se aconchegou, dormindo imediatamente. Draco se pegou a observando. Ela estava linda, como sempre. Apesar de que, ele preferia quando ela tinha os cabelos mais claros. Cabelos pretos tinham dado um ar diferente para Hermione, um ar que ele passou a odiar.


Taylor tinha razão. Ele ainda não a havia esquecido. Mas não havia esquecido a versão de antes dela. A que era amiga do Potter e que o odiou fielmente durante anos a fio antes de se apaixonar por ele. Podia até ser sensível a Hermione de agora, mas porque ele a lembrava demais a de antes. Se ela voltasse, Draco pensou, ele não saberia o que fazer.


Sem conseguir se conter, ele se curvou e deu um beijo terno na testa dela. Em seguida se virou e já estava no caminho da porta quando ouviu a voz da garota.


– O que foi isso? – ela sussurrou.


Falara tão baixo que Draco podia simplesmente se retirar do quarto como se não tivesse ouvido. Mas por algum motivo ele se virou e respondeu:


– Um beijo de boa-noite.


– Ah... – ela assentiu, como se fosse simples assim.


Ficaram se encarando de longe por um tempo, até Hermione falar:


– Posso fazer uma pergunta?


Ele se aproximou sem saber porquê e se sentou numa poltrona que havia perto da cama.


– Acho que sim.


Ela pareceu pensar por alguns segundos.


– O que você sente pela Taylor... É o mesmo que sentia por mim?


Ele se surpreendeu com a pergunta, e ficou sem saber o que dizer.


– Por que está me perguntando isso?


– Não sei... – ela falou – Só queria saber...


Ele suspirou.


– Sim. – mentiu – Eu a amo.


Ela desviou o olhar diante da resposta.


– Mesmo?


Ele a observou.


– Mesmo.


Ela encarou o teto por um tempo, por fim falou:


– Eu não acho que vá sentir de novo por ninguém o que eu senti por você. – ela disse como se falasse do tempo – Nunca mais. Eu não acho nem que eu vá conseguir me apaixonar de novo... E mesmo que eu conseguisse, ainda não seria do jeito que foi com você.


Draco ficou surpreso com aquela confissão. Hermione parecia estar sendo tão sincera que, diferente da conversa anterior deles, Draco realmente acreditou nela.


– Obrigada por hoje. – ela mudou de assunto quando viu que ele não disse nada – Você sempre me salva.


– Só quando você deixa.


Ela sorriu de lado.


– Se lembra da noite que eu fui embora? – ele a olhou impaciente, como se não acreditasse que ela estava fazendo aquela pergunta. – Eu te disse que você ficaria melhor sem mim... E eu estava certa. Taylor é uma ótima garota. E isso é muito entediante porque eu não posso nem falar mal dela. Ela é perfeita pra você.


Você era perfeita pra mim. – ele falou, sem conseguir se controlar. – Mas você estragou tudo, Granger.


– É... – ela concordou – Você tem razão. Eu estraguei tudo mesmo.


Eles se olharam nos olhos por um tempo.


– Sinto muito. – ela murmurou e não obteve resposta – Se isso significar alguma coisa pra você, saiba que se meus poderes me permitissem voltar no tempo e mudar tudo, eu mudaria em um segundo. Mas eu não posso.


– Vindo de você, significa muito. – dizendo isso, ele se aproximou mais dela e a abraçou.


Depois de um segundo de surpresa, Hermione passou o braço em volta da cintura dele e fechou seus olhos, com a cabeça encostada no seu peito. Aproveitou a sensação do corpo dele contra o seu, sentindo o perfume dele a deixar tonta, como sempre acontecia toda vez que ele chegava perto demais. O cheiro dele era como sempre foi. O cheiro do mais lindo, o mais perfeito garoto da face da Terra.


Nenhum dos dois queria ser o primeiro a encerrar o abraço e nenhum dos dois encerrou. Acabaram por dormir assim.


**********


Taylor, como de costume desde que se tornara monitora, acordou bem cedo para fazer seus deveres. Ao contrário de muita gente, gostava de resolver tudo que tinha para resolver de manhã, assim talvez conseguisse ficar livre á noite. Saiu do dormitório das meninas do sétimo ano concentrada em não deixar a pilha de livros que carregava cair no chão até poder despejá-los na mesa mais próxima do salão comunal. Começara a descer as escadas com dificuldade, usando o máximo do equilíbrio que possuía quando ouviu a passagem para o salão comunal se abrir e, pela primeira vez, desviou o olhar dos livros para dar de cara com Draco entrando furtivamente no lugar.


Aquilo foi suficiente para fazer todos os livros caírem com tudo no chão.


Ela o olhou de cima a baixo e o óbvio lhe veio a mente: ele não tinha dormido na sonserina. Estava com a mesma roupa com que tinha saído para a monitoria noite passada, com a exceção de que sua gravata estava frouxa em volta do pescoço, sua camisa estava completamente amarrotada e ele vinha trazendo os sapatos na mão.


– Taylor... – ele murmurou, visivelmente surpreso em vê-la ali.


Ela pestanejou, por um momento surpresa demais para conseguir dizer qualquer coisa.


– Por favor, não fique zangada. – ele se aproximou dela com medo da sua reação e a segurou gentilmente pelo braço – Eu posso explicar.


– Explicar o quê? – ela finalmente conseguiu falar, e seu tom mostrou que estava furiosa – Vai dizer que você passou a noite na sala da monitoria adiantando seus afazeres?


– Taylor...


– Com quem você estava? – perguntou, apesar de saber muito bem qual era a resposta.


Draco desviou o olhar se sentindo meio envergonhado com aquela situação. Não que ele sempre tivesse sido o cara mais honesto de Hogwarts, mas agora as coisas eram diferentes. E ele queria que desse certo com Taylor. Mas por algum motivo, principalmente desde que Hermione voltou, ele não conseguia fazer nada direito quando se tratava do namoro deles. Tudo que ele conseguia fazer era continuar estragando tudo.


– Não aconteceu nada. – foi o que ele disse depois de segundos de silêncio.


– Você tava com ela, não é? – ela se afastou bruscamente dele – Hermione!


– Eu estava, mas...


– Merlin! Cala a boca, Draco! – ela gritou o mais alto que pôde, surpreendendo Draco. Ele nunca tinha visto Taylor perder a compostura, por mais irritada que estivesse – Você nem tem desculpas pra isso! É ridículo, você não consegue ficar longe dela!


– Isso não é verdade! – ele alterou o tom de voz também – Nós estamos separados há meses!


– Porque ela quer assim! Porque ela está fora de si! Se fosse por você, ainda estariam juntos! O que é loucura, porque eu achei que você fosse a pessoa mais orgulhosa que eu fosse conhecer! Mas você é tão louco por ela, que a qualquer momento que ela precisar, você vai ajudá-la. Essa garota pisou em você!


– Taylor, me ouça... Nada aconteceu, ok? Você está exagerando!


– Exagerando?? Eu descubro que meu namorado passou a noite com a ex dele, e você diz que eu estou exagerando??


– Está, porque tudo que nós fizemos foi dormir. Só isso. – ele suspirou, cansado – Ela está mal, Taylor...


– E isso é da sua conta, porquê...? – ela o encorajou a continuar.


– Olha, nós já conversamos sobre isso, ok? Eu te disse que eu não sou indiferente a Hermione... Eu tentei ser... Mas por mais que ela tenha feito um monte de besteiras, eu ainda me importo com ela... Nós... – ele hesitou – Nós passamos por muita coisa juntos... E agora, ela está passando por muita coisa sozinha...


– Você não é mais o namorado dela. Não é mais sua obrigação protegê-la.


– Eu sei. Mas ela precisou da minha ajuda... E eu quis ajudar. – ele voltou a se aproximar dela – Me desculpe se essas coisas te machucam... Mas eu tenho que ser sincero com você. Por mais que eu queira distância de Hermione... Ás vezes fica difícil, com a guerra, e com nossos amigos e com tudo... nós temos uma história... Mas eu posso jurar pra você, em nenhum momento me passou pela cabeça voltar com ela. E eu juro que nada aconteceu.


– Não sei se eu posso aceitar isso.


Ele balançou a cabeça.


– Nunca quis te colocar nessa situação, Taylor. Juro que eu tenho tentado fazer de tudo pra facilitar as coisas pra você... mas na maioria das vezes, as coisas saíram do controle. Você acredita em mim?


– Acho que sim...


– Não termine comigo, ok? Nós vamos ficar bem, eu te prometo.


Uma lágrima solitária rolou pelo rosto dela enquanto olhava para aqueles olhos azuis que amava tanto que a deixava fraca. Tudo que queria fazer era abraçá-lo naquele momento, e foi o que fez.


**********


Hermione a viu sentada na beira do lago de longe. O rosto da sonserina estava banhado em lágrimas e a grifinória respirou fundo ao se aproximar, já imaginando sobre o que aquilo se tratava. Se sentou próximo á garota e ficou encarando as águas calmas do lago junto com ela.


Hermione achou que Taylor estava tentando se recuperar do choro para falar algo e não se enganou:


– O que você está fazendo aqui? – perguntou baixo, mas em um tom hostil.


A morena suspirou.


– Não sei... Só te vi aqui e achei que... poderíamos conversar...


Taylor riu amargamente.


– Sobre o que? Sobre como meu namorado obviamente ainda te ama?


Hermione sentiu um pouco de pena dela, o que era uma surpresa porque ela não sentia pena de ninguém há algum tempo. Seus olhos caíram no coração de rubi no dedo da sonserina e ela pensou que se quisesse acabar com o namoro de Draco, tudo o que ela tinha que fazer era dizer a Taylor que aquele anel tinha sido oferecido a ela primeiro e que ela, apenas para inaugurar a sua cadeia de atos estúpidos, o tinha recusado e ido embora. Mas naquele momento pareceu uma coisa boba, infantil e má de se fazer.


– Isso não é verdade... – foi o que disse.


– Não é? – Taylor a encarou – Vocês passaram a noite juntos! Não conseguem ficar separados!


– Isso não significa que ele ainda me ame...


Taylor suspirou.


– Ele nunca vai conseguir te esquecer... – falou resignada.


– Taylor...


– Você sabe que é verdade, Granger. Sabe que ele te ama. Você até se aproveita disso. – ela falava enquanto lágrimas escorriam pela sua linda face – Você deixou uma marca no Draco que garota nenhuma vai poder tirar. Você foi a primeira garota que ele amou. Praticamente quebrou aquele feitiço.


– E também a garota que quebrou o coração dele. – Hermione sussurrou – E ele nunca vai me perdoar por isso.


– O que só faz mal pra ele, porque ele não consegue ficar com você nem consegue te esquecer. Do que adianta?


– Eu não sei, Taylor. O que eu sei é que o Draco parece gostar muito de você... E se tratando do Draco, isso é tudo que se pode esperar.


– Não é não. Porque graças a você, ele pode amar. Mas acontece que ele já ama você.


– Ele pode amar você. – Hermione voltou seu olhar para o lago – Eu conheço Draco o suficiente pra saber que ele pode amar você.


– Eu não sei se eu quero.... – a loira disse – Quer dizer, eu já amo ele, e eu não quero ter que esperar esse sentimento crescer nele. Eu não quero sofrer. – ela riu em meio as lágrimas – Salazar Sonserina deve estar se remexendo no túmulo nesse momento... Eu devo ser a pior sonserina de todos os tempos. Eu deveria estar te azarando ou armando um plano pra te fazer sofrer nesse momento...


Hermione também riu.


– Você é diferente. É isso que ele gosta em você... E se serve de algum consolo, eu já perdi as contas de quantas vezes achei que Godric Grifinória iria se levantar do túmulo só pra puxar minha perna á noite...


Elas ficaram mais algum tempo em silêncio.


– Não acredito que estou aqui conversando com você... – Taylor falou.


Hermione hesitou.


– Ele precisa de você, sabe... Eu acho que você faz bem á ele...


– Não, Hermione... – ela balançou a cabeça - Você não consegue entender? Ele precisa de você. Eu vejo e, infelizmente, todos veem. Ele tem estado uma bagunça total desde que você terminou com ele. Como você pode dizer que o conhece e não ser capaz de ver isso?


Hermione não respondeu imediatamente. A verdade era que, talvez ela não fosse mais capaz de sentir esse tipo de coisa. Talvez ela tenha se tornado tão insensível que nem perceba mais os sentimentos dele. É claro, ela via que ele ainda tinha sentimentos por ela, mas não conseguia imaginar que tivesse realmente machucado o Malfoy ao ir embora. Talvez nunca tenha conseguido realmente acreditar no amor dele.


– Mesmo que ele precise de mim, - disse finalmente - ele não precisa de quem eu sou agora. Mesmo que ele ainda me ame, ele não ama quem eu sou agora. Ele ama quem eu era antes... uma lembrança. Ela não vai voltar e ele precisa se acostumar com isso. – Hermione soltou o ar dos pulmões – Todos precisam.


– E eu vou ser seu estepe? Eu não quero isso.


– Você não é meu estepe. Você cuida dele. E é o que ele precisa. E eu preciso que você continue cuidando dele...


– Por quê?


– Porque eu não posso fazer isso. E por mais que não me agrade ver vocês juntos, é bom saber que ele está bem... Pelo menos ele não está dormindo com toda a garota que aparece na frente dele... E mesmo que você não acredite nisso, eu acho mesmo que ele goste de você.


– Por que você está me dizendo isso?


– Eu não sei... – ela respirou fundo – Abrir mão do Draco está sendo a única coisa altruísta que eu fiz em meses. Não questione muito isso.


**********


Naquele mesmo dia á noite, Hermione se assustou com batidas na porta do seu quarto. Olhou no relógio, vendo que era quase meia-noite. Ainda sonolenta, foi ver quem era.


Ao abrir a porta, deu de cara com seu instrutor.


– John? – ela franziu o cenho – Eu já estava dormindo... Eu não disse que não queria que você viesse mais?


– Eu sei. – ele deu um passo em direção a ela e segurou seu rosto, fazendo-a lhe olhar nos olhos – Você vai vir comigo agora, ok?


No mesmo instante, os olhos dela perderam o foco.


– Ok. – respondeu com a voz vaga.


Ele lhe puxou pela mão para fora do quarto e fechou a porta atrás da garota.


– Pra onde vamos? – ela perguntou.


– Sem perguntas, tudo bem?


Ela assentiu.


– Tudo bem.


John a conduziu até a floresta negra, tão concentrado em não perder o foco da compulsão e deixar Hermione sair do transe que não percebeu que um certo sonserino os encarava de um canto escuro ali perto. Ele só queria acabar com aquele feitiço antes que acabasse com ela.


Algumas horas depois, Hermione estava de volta no seu quarto sem se lembrar que sequer tinha saído da sua cama.


**********


Naquela mesma noite, Lucas não perdera tempo e foi procurar o diretor da sua casa nos seus aposentos nas masmorras. Snape não estava feliz em ter sido acordado mas pareceu bastante interessado assim que o sonserino falara a que veio:


– Professor, eu preciso contar uma coisa. É sobre John Stevie.



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Notas finais do capítulo

N/A: Capítulo dedicado á Dryca Cannon que postou uma recomendação tão linda que me deu um novo gás pra continuar escrevendo a fic! =)
Enfim, tenho que admitir que nesse capítulo, a amizade da Pansy e da Hermione falou mais alto que eu. Aquela reconciliação na enfermaria não estava nos planos... Capítulo ficou enorme... Toda vez que eu ia ler, adicionada alguma coisa... A fic ás vezes parece que se escreve sozinha! =)
Tão ansiosa para o próximo capítulo... Lucas vai querer se vingar de John e isso vai ter consequências enooormes para a fic. Eu costumo dividir a fic na minha cabeça em três partes: uma pré-incêndio, outra pós-incêndio e a partir do próximo capítulo a parte final vai começar...
Então sobre o castelo, aqui está uma foto:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/25/Naworth_Castle_air_2.jpg
Na foto dá pra ver que tem essa floresta ali atrás, mas eu não sei se ela é tão grande e fechada como eu descrevi e nem se do outro lado há um precipício com um rio de correnteza forte. A internet não é tão detalhista como eu queria que fosse mas tudo bem... ;-)
Então, acho que por hoje é isso... Muito obrigada pelos comentários e pelos votos, pessoal! Continuem dizendo o que estão achando!