O Preço de Amar Um Malfoy escrita por BlissG


Capítulo 28
Erros


Notas iniciais do capítulo

Todos nós os cometemos. Eles geralmente começam com a melhor das intenções como manter um segredo pra proteger alguém. Ou se distanciando da pessoa que você se tornou. Ás vezes, nem sabemos os erros que cometemos para chegar onde se está. Ou descobrimos bem a tempo para acertar novamente. Mas cada erro acontece por uma razão. Pra te ensinar uma lição que nunca teria aprendido. E felizmente, para você nunca mais cometer aquele erro novamente. (Gossip Girl)



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Como marcado, Harry, Rony e Luna chegaram no quarto de Hermione ás oito horas da noite. Depois de muita discussão, ficou decidido que ia ser Rony mesmo quem ia quebrar a horcrux.


Quando Hermione abriu a porta naquela noite, Rony parecia mais pálido que o normal e bastante nervoso, Harry parecia nervoso e bravo e Luna parecia que estava nervosa e chorosa. Hermione não os culpava, ela própria estava se sentindo meio agitada.


- Rony, tem certeza absoluta que quer fazer isso? – ela perguntou.


Rony bufou, como se já tivesse ouvido aquela pergunta milhares de vezes. Ele já devia ter ouvido mesmo.


- Sim, eu tenho. Por que todo mundo acha que eu não posso encarar isso?


- Você sabe que não é isso, Rony... – Harry falou.


- Nós só não queremos te ver com dor. – Luna completou com uma voz que Hermione achou ser esperançosa, como se ela achasse que ele fosse desistir.


- Então me deixem sozinho! – ele exclamou – Ninguém está pedindo para vocês assistirem!


Harry revirou os olhos.


- Até parece.


- Vamos acabar logo com isso... – o ruivo falou.


Luna respirou fundo e foi até o namorado, ficando na ponta dos pés e dando um beijo nele.


- Te amo, amor.


Rony sorriu.


- Também te amo.


Hermione desviou o olhar diante da cena íntima do casal e não pôde evitar dar um pequeno sorriso, sentindo seu coração aquecer. Em seguida, sentiu uma pontada na cabeça e suspirou:


- Ok, ok... vamos lá!


Harry entregou o bracelete para Rony. O grifinório olhou para a jóia em forma de cobra e respirou fundo, colocando-o no seu pulso. Hermione percebeu que as mãos dele tremiam um pouco.


E então começou.


Rony soltou um grito tão alto que Hermione agradeceu a Merlin por eles terem decidido fazerem isso no quarto dela e não na torre da grifinória, já que seu quarto tinha um feitiço de proteção sonora. Ele caiu no chão próximo a cama aos berros e começou a se contorcer.


Hermione prendeu a respiração. Parecia um milhão de vezes pior que cruciattus.


- Rony! – Luna se aproximou dele, lágrimas começando a rolar pelo seu rosto.


A corvinal se abaixou perto do namorado tentando abraçá-lo, mas ele se mexia e se batia tanto que aquilo era impossível.


Ela olhou para Harry e Hermione.


- Façam alguma coisa! – gritou.


- Não tem nada que a gente possa fazer! – exclamou Harry.


- Ti... tira isssso de mi-mim! – ele balbuciava – Tira! Por favor!


Luna segurou o braço dele, querendo fazer exatamente o que ele pedia mas Hermione foi mais rápida e a parou, a afastando dele.


- Hermione! – a loira exclamou.


- Luna, não! - Hermione gritou, fazendo sua voz se sobressair a de Rony.


- Ele está com dor!


- Não dá pra voltar atrás agora! – ela retrucou.


Luna voltou a se aproximar dele, chorando baixinho.


Harry conjurou uma bacia com água e Hermione molhou um pano ali.


- Rony, - ela segurou o rosto dele, tentando fazê-lo ficar parado – fica calmo, pára de se mexer. Isso não vai ajudar em nada.


- Hermione, - ele chorava – tira isso de mim! Por favor! Dói muito!


- Eu sei. – ela falou – Eu sinto muito! Mas vai ficar tudo bem, ok? Você vai ficar bem...


Ela passou o pano no rosto dele delicadamente.


- Só tenta respirar, ok? – ela inspirou e expirou o ar dos pulmões e ele imitou o gesto dela. Ela teve quase certeza de ouvir Luna fazendo o mesmo.


Hermione entregou o pano para Luna, que estava mais calma agora, e a garota passou a umedecer o rosto do namorado.


A morena se afastou, suspirando. Ia ser uma longa noite...


***


Harry se aproximou de Hermione, que estava sentada no parapeito da janela do seu quarto. Já era madrugada e o castelo todo estava em silêncio. Tudo que era possível ouvir era o barulho do vento do lado de fora e os murmúrios de Rony ali no quarto.


Ele estava muito mal. Há algumas horas atrás tinha começado a dizer coisas sem sentido e também tinha começado a ter febre. Os três não viam a hora daquilo acabar. Hermione olhou no relógio do quarto pela milionésima vez naquela noite. Pelas suas contas, podia acabar a qualquer momento agora.


- Sabe, ainda há salvação para você... – disse Harry, se sentando ao lado dela.


- O que você quer dizer? – ela perguntou.


- Que você andou por aí nesses últimos tempos, fingindo que não se importava com nada... Mas hoje, quando Rony precisou... você o ajudou... E antes, deu pra perceber que você queria que ele fizesse isso tanto quanto Luna e eu... E naquele dia no nosso dormitório... – ele hesitou, a observando – você achou ter visto Neville naquele dia, não foi?


Hermione desviou o olhar.


- Você enlouqueceu, Harry...


- Só queria que soubesse que é normal... Eu mesmo já achei ter visto meus pais ou Sirius várias vezes... É só coisa da sua cabeça...


Ela não respondeu.


- O que vai precisar pra você entender que as coisas que aconteceram naquela noite não foram sua culpa? – ele a observou.


- Harry... eu não quero falar sobre isso, ok?


- Hermione...


- Eu não fiz nada pelo Rony... E mesmo que aquilo tivesse sido alguma coisa demais, eu faria por qualquer pessoa. – ela o encarou duramente – Não se engane.


- Eu acho que quem está enganada aqui é você, Hermione. – ele disse – Porque você viu Neville naquele dia, o que significa que uma parte sua ainda se importa, por mais que você odeie isso.


- Gente... – Luna os chamou – Acho que acabou.


Os dois se aproximaram da cama de Hermione, aonde Rony estava deitado. Harry pegou seu pulso e tirou o bracelete, que se desmanchou como pó nas suas mãos. Mas não foi aquilo que lhes chamou a atenção. O pulso de Rony, exatamente aonde a pulseira estava, apresentava um ferimento preocupantemente profundo e sangrava sem parar.


- Rony... você está bem?


Ele não respondeu. Rony tinha perdido a consciência.


- Eu vou chamar Madame Pomfrey. – disse Hermione, saindo do quarto.


***


O dia seguinte era manhã de segunda-feira e todos os alunos do sexto e sétimo ano de Hogwarts se encontravam no salão principal da escola. Todos exceto dois. Hermione não deixou de perceber que Rony e Luna não estavam lá.


O ruivo ia ficar bem, Madame Pomfrey tinha assegurado, mas ainda precisava ficar mais um tempo na enfermaria. Ele tinha perdido muito sangue e nenhum feitiço que fechasse o ferimento tinha funcionado, então eles tiveram que fazer aquilo do jeito trouxa. Harry estava por ali, sentado sozinho e quieto. Hermione sabia que ele se sentia culpado por ter deixado Rony passar pelo sofrimento daquela noite, o que era bem hipócrita da parte dele já que ele quase lhe passou um discurso sobre como não deveria se culpar pelo que tinha acontecido.


Hermione suspirou.


Estavam ali no salão principal mas ninguém sabia exatamente o porquê. Só tinham recebido um aviso dos diretores de suas casa dizendo-lhes para aparecerem lá no horário marcado.


O falatório era ensurdecedor. Todos conversavam e trocavam informações, tentando chegar a alguma conclusão do porquê foram chamados ali.


- Seja o que for – falou Lucas, que estava em um canto com Draco, Pansy e Taylor -, já está atrasado. São oito e meia e o horário marcado foi oito horas.


Assim que ele disse isso, a porta do salão principal se abriu e John Stevie passou, abrindo caminho em meio aos alunos e surpreendendo-os. Com certeza ninguém tinha pensado em nada que envolvesse o treinador de Hermione Granger. O homem já tinha a atenção de todos quando ele parou no meio do lugar e fez sinal para se afastarem.


- Bom, - começou em alto e bom som – vocês devem estar se perguntando o que estão fazendo aqui. Acontece que, na última semana, Dumbledore me pediu um favor. Ele pareceu perceber que seria ótimo se os bruxos não dependessem apenas de sua magia para sobreviver, que saber dar uns socos pode muito bem salvar sua pele em muitas situações, principalmente quando se está em guerra e não se sabe quando você vai poder estar com uma varinha em mãos. Então ele resolveu aproveitar o fato de que eu já estou por aqui, para me pedir para dar umas aulas de defesa pessoal para os que estejam interessados.


Vários sussurros correram pelo salão diante daquela informação. John fez uma pausa de alguns segundos.


- Vocês não são obrigados a isso. – ele falou parecendo desinteressado – Sinceramente? Quanto menos de vocês se interessarem, melhor pra mim. Agora, quem estiver realmente interessado, assine o nome em um pergaminho para mim, ok? – ele olhou com impaciência para a cara dos alunos – É isso, podem dar o fora.


Diante disso, o falatório voltou, mais alto que antes. Alguns alunos já começavam a formar uma fila para assinarem o pergaminho, enquanto outros iam imediatamente embora e outros, ainda indecisos, conversavam sobre o assunto.


- Você deve estar amando isso! – exclamou Hermione se aproximando de John.


Ele a olhou parecendo entediado.


- Não tinha te visto aí. – falou somente.


Ela parou na frente dele, de braços cruzados.


- Então, - ela sorriu – o que Dumbledore teve que fazer pra te obrigar á esse sacrifício?


John bufou.


- O velho praticamente triplicou meu salário. – respondeu – Proposta irrecusável.


Ela assentiu.


- Claro que sim... O que mais te obrigaria a fazer isso?


- Eu devia ter pedido mais até, se quer saber. – ele olhou para a fila enorme que se formava – Ensinar esse bando de idiotas a lutar... – falou como se fosse um absurdo – Muitos deles não sabem nem segurar uma varinha direito! Isso vai ser pior que ensinar a... – ele a olhou – você!


Ela revirou os olhos sabendo que ele falava da boca pra fora.


- Ei, - ele apontou com a cabeça para um grupo de alunos parado no meio do salão – do que eles estão falando?


Hermione seguiu seu olhar e viu Lucas, Pansy, Draco e Taylor no que parecia ser uma discussão muito fervorosa.


- Posso imaginar...


***


- Você ficou louca, Pansy? – exclamou Lucas pelo que Draco achava ser a terceira vez – Você não vai lutar!


- Claro que eu vou! – ela devolveu – Eu preciso saber me defender também!


- Você não precisa saber se defender! Eu vou aprender a defender vocês!


- Nossa! – ela revirou os olhos – Tô me sentindo muito protegida!


- Você tá grávida! Você nem vai participar de luta nenhuma na guerra, se quer saber!


- Não vou? – ela o encarou com uma expressão desafiadora – Quem vai me impedir?


- Eu vou!


Ela olhou para Draco.


- Você não fala nada? Concorda com isso?


O loiro suspirou, sabendo que aumentaria ainda mais a fúria da amiga com o que iria dizer.


- Pansy, pensa direito. – tentou manter a voz baixa, ao contrário dos amigos - Lucas tem uma certa razão...


- Certa razão?! – o outro sonserino quase berrou – Eu estou coberto de razão e você sabe disso, Draco!


- Não está nada! – Pansy respondeu – Eu estou grávida, não estou doente!


- Mas Pansy... – tentou intervir Taylor – essas lutas são meio brutas... Você pode se machucar seriamente, e com isso colocar em risco a vida do bebê... É isso que você quer?


- Isso é ridículo! – ela deu uma olhada no salão – Vamos ver se eu não vou lutar!


E dizendo isso, se afastou.


- Pansy! – Lucas foi atrás dela – Aonde você vai?


Draco e Taylor não viram outra alternativa a não ser os seguir também.


Ela logo chegou aonde queria. Parou aonde John e Hermione conversavam.


- John! – falou – Você pode, por favor, dizer pra esse idiota – ela apontou para Lucas – que não tem problema nenhum em eu lutar, mesmo estando grávida?


- Ah, por favor... – Lucas revirou os olhos e falou para Pansy – O que ele sabe?


Lucas tinha uma certa implicância com John, provavelmente herdada da implicância que Draco tinha com John. O loiro tinha falado tanto na cabeça dele, por tanto tempo, do quanto odiava o treinador de Hermione que grande parte daquele sentimento parecia ter sido transferido para o amigo.


- Eu sei mais do que você pensa, pirralho... – respondeu John, com ar de superioridade.


- Olha como você fala comigo, vovô... – replicou Lucas.


- Lucas, cala a boca! – mandou Pansy.


Draco e Taylor se juntaram ao grupo.


- Pansy, - Hermione tentou chamar a atenção da amiga para ela – Lucas só está preocupado com você. E com o bebê.


- Isso não é problema dele. – ela respondeu – É meu bebê!


- É meu também! – o garoto exclamou.


Hermione tinha esquecido das brigas de Pansy e Lucas. E também de como eles ficavam irracionais durante as discussões.


- É mesmo, Pansy? - falou – Porque da última vez que eu chequei, precisava mais que uma mulher pra se fazer uma criança.


- Obrigado por ficar do meu lado, Hermione. – falou Lucas.


- Bom, - disse John - eu acho que Pansy está certa.


- O quê? – perguntaram todos, em uníssono. Até mesmo Pansy.


- Isso mesmo. – ele repetiu – Parkinson está grávida mas ainda tem o direito de escolha. Se ela quer treinar, ela vai treinar.


Pansy sorriu vitoriosa.


- Viu? – falou para Lucas – Vamos, vou assinar meu nome.


Ela se afastou e o sonserino olhou para John com os olhos faiscando.


- Se alguma coisa de grave acontecer com a Pansy, você vai ter que se ver comigo, vovô. – isso sendo dito, ele se afastou para entrar na fila com a namorada.


John soltou uma risada de quem duvidava do que o sonserino tinha dito e também se afastou.


Só restaram Draco, Taylor e Hermione. O garoto parecia ter ficado tão irritado quanto Lucas de repente.


- O quê? – Hermione perguntou, quando viu que Draco a encarava com raiva.


- Espero que tenha percebido o que seu amiguinho fez. – o loiro disse.


- Vamos embora, Draco. – Taylor tentou puxar o namorado pela mão, ele por sua vez não lhe deu a mínima atenção.


- E o que ele fez, Draco? – perguntou Hermione, fingindo uma voz paciente.


- Ele deixou que Pansy lutasse, quando ela claramente não pode, só para nos contrariar. – respondeu - Bem maduro da parte dele. Espero que se lembre disso quando ela sair machucada dessa história. Da última vez que eu chequei, vocês ainda eram amigas.


Ele saiu de mãos dadas com Taylor e foi se juntar a fila com Pansy e Lucas – que ainda discutiam. Hermione suspirou e percebeu, com uma certa raiva, que ele estava certo.


Decidiu que falaria sobre aquilo com John.


***


Enquanto Pansy e Lucas continuavam numa discussão sem fim durante toda a manhã, Draco e Taylor mal trocaram uma palavra. O garoto até tentara puxar assunto com a sonserina durante as aulas mas ela não parecia estar no clima de conversa. A relação deles tinha esfriado completamente depois da noite do baile mas agora ela mal olhava pra ele. Na hora do almoço, ele resolveu saber o que estava acontecendo:


- Por que está desse jeito a manhã inteira, Taylor?


Ela suspirou.


- Não é nada, Draco. Deixa pra lá.


Ele franziu o cenho.


- Não, me diz o que está havendo. Não é possível que não seja nada.


Ela hesitou um pouco, e então respondeu:


- Eu estou pensando se seria um pouco demais pedir a você que não falasse com Hermione de novo.


Ele ficou surpreso.


- Como?


- Você... vive dizendo que não quer mais saber dela. Mas parece que vire e mexe você procura um motivo pra falar com ela!


- Taylor, isso é loucura! – ele a encarou – Eu estava brigando com ela hoje de manhã!


- Mesmo assim, ainda estava falando com ela, não é? Vocês brigavam o tempo todo também antes de namorarem. Isso não quer dizer nada.


- Taylor, é diferente agora...


Ela ficou em silêncio por uns instantes.


- Na noite do baile, eu te pedi pra você fazer alguma coisa... algo que me fizesse confiar em você de novo. E você não moveu um dedo pra isso.


- Porque eu não sei o que fazer, Taylor! – respondeu, começando a ficar impaciente.


- Por que você não começa parando de agir como se isso fosse coisa da minha cabeça?! – falou, com a voz embargada – Você ainda sente alguma coisa por ela! Não é só coisa da minha cabeça!


Ele respirou fundo e os dois ficaram em silêncio por um tempo. Por fim, Draco segurou a mão da garota e a beijou.


- Olha, isso não quer dizer nada pra mim, mas se é tão importante pra você... Eu prometo que não vou falar com Hermione de novo, ok? Eu sinto muito por ter te magoado, e vou começar a te recompensar por isso.


Ela deu um leve sorriso.


- Ok...


***


- Que palhaçada foi aquela? – foi a primeira coisa que Hermione falou para John quando encontrou com ele no seu treino.


Ele pestanejou.


- Tá falando do quê, garota? – ele perguntou, confuso.


- Eu estou falando de você ter permitido que Pansy treinasse, John. – ela respondeu – Você sabe muito bem que é muito arriscado para o bebê. Por que você fez isso?


- Olha, - ele começou – pra começar, ela nem deveria ter ficado grávida, ok? Ela só tem 17 anos, por Merlin!


- Ok... – Hermione cruzou os braços e o encarou – E isso é da sua conta porquê...?


- E depois, - ele continuou como se não tivesse sido interrompido – ter um filho numa guerra? Isso é loucura!


- Isso é problema deles, John! – Hermione exclamou – E mesmo assim, ela não poderia abortar. Não seria certo.


- Oh, - ele a encarou com falsa surpresa – agora você resolveu ser a favor da vida? Me desculpe se eu estiver errado, mas há alguém nessa sala que não tenha matado uma pessoa?


Hermione não pensou em mais nada depois disso. Apenas lhe socou.


O golpe foi tão inesperado que John cambaleou uns três passos para trás, levando a mão ao seu nariz que sangrava.


- Sua idiota! – ele olhou para sua mão banhada de sangue – Olha o que você fez!


Hermione apontou o dedo na direção dele.


- Você nunca mais me diga uma coisa dessas, entendeu? – gritou - Nunca mais!


- Ah, me esqueci que você parece ter sérios problemas com a verdade, não é? – ele lhe lançou um olhar malicioso – Será que sua ficha ainda não caiu, Granger? Você matou uma pessoa. Um amigo seu. E não há nada que você possa fazer para reverter essa situação. E quer saber mais? Eu posso apostar um milhão de galeões que até o final dessa guerra, ele não vai ser a única pessoa que você vai matar!


- Isso não é verdade! – ela gritou, um pouco descontrolada. Fazia tempo que não se sentia daquele modo. Parecia que seu sangue fervia, um monte de emoções querendo voltar a surgir – Eu já estou melhor agora! Você sabe disso! Um erro daqueles não vai acontecer nunca mais!


- Não estou dizendo que vai ser um erro... – ele falava em um tom baixo e venenoso, ao contrário dela – Eu sei que da próxima vez que você matar alguém, vai ser porque você quis!


- Eu nunca mataria ninguém de propósito!


Ele gargalhou.


- Mataria sim! – os dois se encararam em silêncio por alguns segundos – Quem você quer enganar, Granger? Todo mundo sabe que você não é mais a garotinha de antes... Se você olha pra mim, e acha que eu sou todo errado ou que ajo pelos motivos errados, talvez você devesse se olhar no espelho. Você pensa que o motivo pelo qual você está assim é certo? Não é. E você acha que seus adorados amigos vão ser tão bonzinhos com você pra sempre? Eles só são assim com você porque eles ainda olham pra você e vêem a doce Hermione de antes! Mas um dia eles vão se cansar disso e vão passar a ver a verdade! Que você tinha motivos pra ficar mal até um certo ponto! Mas os erros que você cometeu pra chegar aonde você chegou... – ele se aproximou dela – os erros que eu sei que você ainda vai cometer... não se justificam por nada que você tenha feito nesse mundo.


- Eu não vou cometer mais nenhum erro. – ele falou, com a voz embargada. – Eu aprendi minha lição.


- Você não pode evitar. – ele falou – É quem você é. Quem você se tornou. Conseguiu assumir o controle dos seus poderes... E é uma bruxa poderosa agora. Quase invencível... Mas a que preço? – ela ficou em silêncio -  O que a preciosa Ordem da Fênix, o que os seus preciosos amigos... O que seu precioso Draco vai fazer com você quando descobrir o que você fez pra chegar aonde está?


Ela o encarou por alguns segundos com um ódio incrível faiscando no olhar e em seguida saiu a passos firmes. John pensou ter ouvido um barulho de choro antes da porta da sala bater atrás da garota.


***


As palavras de John ressoavam na cabeça de Hermione enquanto ela andava lentamente pelos corredores desertos de Hogwarts. O som dos seus passos faziam barulho quando tocavam no chão frio do castelo e, do lado de fora, relâmpagos rasgavam o céu enquanto barulhos cada vez mais fortes de trovões eram ouvidos.


Pela primeira vez em meses, lágrimas escorriam pelo rosto da garota, mas ela mal parecia notar.


Vinha se segurando durante tanto tempo, evitando sentir qualquer tipo de coisa que agora, parecia estar sentindo todos os sentimentos reprimidos de três meses de uma vez só. Seu coração doía e ela estava com dificuldades de respirar. Seus pés andavam no automático e a levavam para um dos lugares que mais tinha evitado ir desde a sua volta.


Quando viu, estava de frente para a sepultura de Neville. Eles tinham construído um pequeno cemitério em um lado deserto dos terrenos de Hogwarts, como uma forma de homenagear os bruxos que tinham morrido e que morreriam na guerra. Hermione tinha evitado aquele lugar com fervor desde que tinha voltado para Hogwarts, mas agora, seus pés a levavam até ali.


Grossas gotas de chuva começavam a cair e logo não era mais possível dizer se o rosto de Hermione estava molhado por causa da chuva ou porque ela chorava desesperadamente.


Se ajoelhou na grama, encarando a foto da sepultura do seu antigo colega de casa.


- Oi... – falou em meio ao choro – Sou eu. – fez uma pausa, sem saber mais o que dizer. Então resolveu falar o que estava entalado na sua garganta, a coisa que mais queria que ele soubesse – Só queria dizer que... eu nunca quis que aquilo acontecesse a você. – ela suspirou - Nunca.


Seu choro veio com tanta força agora que ela não conseguiu dizer mais nada. Perdeu as forças nos joelhos e acabou sentada no chão, suas lágrimas se misturavam a chuva. Ficou assim por bastante tempo, chorando por tudo que tinha acontecido. Chorando tudo que não chorou nos últimos meses, tudo que não tinha se permitido chorar.


Sentiu vontade de gritar diante a dor que estava sentindo. Se sentia fraca mas continuou falando, assim que pôde.


- Queria que soubesse também que se houvesse qualquer forma... qualquer uma... de voltar no tempo e mudar tudo, eu mudaria... Eu iria até o fim do mundo pra ter você aqui... pra sua avó... para os nossos amigos... Eu sei que todos eles sentem a sua falta...


Ela foi interrompida quando ouviu passos e se virou para ver quem era. Se surpreendeu ao ver Pansy.


- Hermione... – a sonserina se aproximava com uma cara preocupada – eu vi você saindo do castelo... O que está fazendo? Vai pegar uma pneumonia desse jeito...


- Eu só... – ela se virou para a sepultura novamente e Pansy se abaixou ao seu lado – queria falar com ele um pouco... dizer o quanto eu sinto muito...


- Mione... – Pansy passou o braço em volta da amiga e afagou seu cabelo – Longbottom podia ser meio obtuso ás vezes... mas eu tenho certeza que ele sabe disso... Ele sabe até melhor que você...


- Pansy... – a garota lutou para falar em meio ao choro – como eu cheguei aqui? Eu me sinto tão... perdida... Eu não sei mais quem eu sou... O que eu devo fazer... Eu fiz tanta besteira...


- Tudo tem um jeito, Hermione... Só não desista. Não desista de si mesma, até porque eu não desisti de você. E eu posso contar pelo menos mais dez pessoas que também não. – Pansy a fez encará-la – Você só precisa de ajuda... Mais que tudo, você precisa se deixar ajudar... Nós todos te amamos, você só tem que ser sincera com a gente...


- Eu não posso. – ela falou – Se eu contar o que eu fiz, todos vocês vão me odiar...


- Nós nunca poderíamos te odiar, Hermione... – Pansy olhava para a amiga com um misto de sentimentos. Pena, dor, preocupação... Acima de tudo medo pelo que ela poderia estar se referindo. – O que você fez, Hermione?


A garota apenas negou com a cabeça, dizendo que não lhe contaria.


- Me diga. Talvez nós possamos te ajudar. Nós vamos resolver isso, ok? Todos nós.           


Mas Hermione não lhe ouvia mais. Sentindo-se mais fraca do que nunca, ela se deixou encostar em Pansy e fechou seus olhos, perdendo completamente a consciência.


Pansy arregalou os olhos quando sentiu que Hermione desfalecia em seus braços.


- Hermione? Ai, meu Merlin... – ela tentou sacudi-la - Mione!


***


Pansy estava sentada em uma cadeira da enfermaria, tremendo de frio devido ao banho de chuva que tinha tomado e aos prantos pelo estado da amiga. Desde que tinha chegado na enfermaria com Hermione, não tinha conseguido parar de chorar e ela nem era uma pessoa que chorava muito. Ver Hermione, sempre tão forte e corajosa, naquele estado tinha a assustado. Agora estava mais preocupada com a grifinória do que nunca. Ela estava fora de controle. Completamente fora de controle. E agora estava ali, gelada... estirada na cama da enfermaria como se estivesse... Pansy interrompeu sua própria linha de pensamento. Não queria nem pensar naquilo.


- Pansy! – ela levantou a cabeça e encarou Lucas e Draco entrarem na enfermaria afobados, como se tivessem corrido muito.


Se sentiu um pouco mais aliviada ao ver os dois e ao mesmo tempo sua vontade de chorar triplicou.


- O que aconteceu? – perguntou Lucas, se sentando ao lado dela – Recebemos o recado que você estava aqui. – ele pareceu checá-la de cima a baixo – Você está machucada?


- Não. – ela respirou fundo, tentando se acalmar para explicar o que tinha acontecido – É Hermione... – falou com a voz embargada – Ela não está nada bem...


Os dois olharam em volta e Draco viu que havia uma cama que estava cercada por uma cortina branca. Presumiu que a garota estivesse ali. O loiro não soube explicar o aperto que sentiu no coração naquele momento.


- O que ela tem? – ele perguntou á Pansy.


- Eu não sei. Madame Pomfrey tentou de tudo, Hermione não acorda... Acho que agora foi atrás de Dumbledore. Ela parecia muito preocupada quando saiu daqui...


- Mas o que aconteceu? – perguntou Lucas.


- Ela desmaiou do nada! – contou – Ela estava no túmulo do Longbottom... Estava chorando muito e dizendo umas coisas... sem sentido... Disse que nós íamos odiá-la... Pela primeira vez desde que ela voltou, ela parecia... sabe, com ela mesma... E aí ela desmaiou...


- Calma... – Lucas a abraçou – Ela vai ficar bem... Não tem razão nenhuma para ela não ficar...


- Não sei, Lucas... Talvez tenha...


Draco respirou fundo, sabendo que Pansy estava certa. Eles não sabiam tanto da vida de Hermione como antigamente. Talvez tivesse mesmo uma razão para ela estar daquele jeito que só ela mesma sabia.


Ele próprio se sentou, com a cabeça doendo de preocupação, sentindo raiva de Hermione pela milésima vez por tudo que ela tinha feito com ele. E, dessa vez, sentindo também raiva de si mesmo por ainda se preocupar com ela depois de tudo que ela tinha feito com ele.


***


Rony e Harry estava no salão comunal da grifinória há algum tempo jogando xadrez bruxo. Aquela era basicamente a única coisa – ou uma das poucas coisas – que Madame Pomfrey o tinha permitido fazer. Conversavam sobre amenidades quando se assustaram ao ouvir gritos da mulher gorda, cinco segundos antes de Luna aparecer no lugar.


- Luna! – Rony levantou os olhos para a namorada e viu que ela chorava – Como você entrou aqui? O que aconteceu?


- É a Hermione. – falou ela – Ela está na enfermaria.


Rony e Harry se entreolharam com idênticas caras de preocupação.


- É ruim, gente. – as lágrimas escorriam levemente pelo rosto da corvinal – Muito ruim.


***


Madame Pomfrey colocou todos para fora da enfermaria quando voltou com o professor Dumbledore. Harry e Rony, que chegaram depois com Luna, ainda tentaram entrar para ver a amiga mas Madame Pomfrey havia sido clara. Ninguém entrava na enfermaria. Então só restou para eles ficarem sentados no chão do corredor, encarando a porta do cômodo, até que a mulher lhes desse notícias. A preocupação de todos atingiu o auge quando um quartanista apareceu lá com o braço quebrado por voar naquele temporal e Dumbledore lhe mandou procurar Snape para lhe dar uma poção. O que Hermione poderia ter que era contagioso? Sim, porque aquela era a única explicação para aquele mistério todo.


- Vocês estão pensando a mesma coisa que eu? – perguntou Pansy, depois de longos minutos em silêncio.


- Que Hermione talvez tenha feito alguma coisa para se prejudicar? – respondeu Rony – Acho que todos estamos.


- É a única explicação, não é? – falou Harry – O que poderia atingi-la dessa forma além de si mesma?


- Mas o que a levaria a fazer isso? – perguntou Lucas.


- Por quê a Lovegood não responde isso? – falou Draco – Não é ela que tem esse tipo de poder aqui?


Todos olharam para Luna.


- Eu não posso ver. – ela respondeu, baixo – Acho que tem alguma coisa me bloqueando... Ou esse é um tipo de magia que não está ao meu alcance... Não faço idéia...


Ouviram passos no corredor e todos se viraram para ver John se aproximando. Ele olhou para o grupo sentado no chão com um olhar superior e entrou na enfermaria sem bater ou pedir permissão. Todos continuaram em silêncio, esperando ouvirem os gritos de Madame Pomfrey o expulsando de lá como quando Harry e Rony tentaram entrar, mas a espera foi em vão.


- Por que ele pode entrar? – perguntou Rony, indignado.


Ninguém respondeu. Segundos depois, Harry murmurou.


- Odeio esse cara.


- Olha só... – Lucas fingiu surpresa – Potter finalmente tem alguma coisa em comum com os sonserinos que tanto odeia...


- Mas quem não percebe que o fato de Hermione estar assim é por causa dele?! – falou Rony – Ela está cada dia mais parecida com ele! Até quando ela estava com vocês, ela era melhor!


- Vou aceitar isso como um elogio. – falou Pansy.


- Hey, eu tive uma idéia! – exclamou Rony.


- Lá vem... – murmurou Draco.


O ruivo lhe lançou um olhar feio enquanto se levantava. Sacou sua varinha e conjurou um par de orelhas extensíveis.


- Brilhante, Rony! – Luna se levantou também, seguida de Harry.


- O que vocês estão fazendo, seus loucos? – perguntou Pansy.


- Shh... – Luna falou – Só se aproximem.


Os três sonserinos se aproximaram desconfiados, mas uma expressão de entendimento tomou conta dos seus rostos quando começaram a ouvir a conversa.


- Incrível... – murmurou Lucas.


- Como todos os Weasley’s são, Mason... – falou Rony.


- Por favor, Weasley... – o garoto respondeu.


- Calem a boca, vocês! – exclamou Pansy, fazendo todos ficarem em silêncio.


Passaram a ouvir a conversa:


- Mas isso é um absurdo! – falava Madame Pomfrey – Como você pôde deixá-la fazer uma coisa dessas?


- Temos que manter a calma, Papoula. – falava Dumbledore em tom baixo, mas os garotos puderam notar uma certa tensão em sua voz.


- Manter a calma, Alvo? Esse rapaz colocou uma de suas alunas em alto risco!


- Peraí um instante! – falou John – Eu não obriguei Hermione a nada! Ela fez o que fez porque quis!


- Você era responsável por ela! – retrucou madame Pomfrey.


- Ela não precisa que ninguém seja responsável por ela! Hermione já é maior de idade!


- Ora essa...


- Papoula, - falou Dumbledore – será que eu posso ter uma conversa particular com o Sr. Stevie?


A mulher suspirou, resignada.


- Ok, Alvo.


A mulher deve ter ido para as suas acomodações porque Dumbledore esperou alguns segundos para continuar.


- Tenho que dizer, John, que estou extremamente decepcionado com você.


- O quê? – ele perguntou em um tom meio indignado – Ela faz a burrada e eu sou o culpado?


- Eu não estou falando somente do que aconteceu hoje e acho que o senhor sabe disso perfeitamente. – Dumbledore fez uma pausa – Precisamos desfazer esse feitiço o mais rápido possível, antes que ele cause danos permanentes na senhorita Granger.


- Esse feitiço só tem feito bem a ela! – John exclamou – E vai fazer muito bem a sua querida Ordem da Fênix se ela continuar com ele.


- Nada que vêm da magia negra pode trazer algo de bom, John. – Dumbledore falou em um tom forte e imperativo, que poucas vezes usava.


O grupo do lado de fora da sala prendeu a respiração ao ouvir isso, como se tivessem ensaiado. Seus olhares se cruzaram com uma preocupação compartilhada misturada com uma certa descrença diante do que ouviam.


- Vocês e suas mentes fechadas... Com isso, vocês vão ganhar a guerra!


- A que preço?


- Isso foi uma decisão de Hermione. Ela escolheu isso e sabia das consequências quando fez o feitiço. Foi idéia dela, pra começo de conversa. Você não pode obrigar as pessoas a fazer o que você quer sempre, Dumbledore! Elas não são marionetes na sua mão! Se ela quis se sacrificar pela guerra, isso é problema dela!


- Não se sacrifica pela guerra, John. Se sacrifica pelo amor. E eu lamento que você tenha perdido sua família antes de ser capaz de entender isso...


Draco se afastou das orelhas extensíveis e os outros o olharam.


- Já ouvi o suficiente...


Ele fez menção de ir embora mas Pansy o impediu.


- Onde você vai?


- Estou indo procurar Taylor.


- Mas... – ela franziu o cenho – não quer saber se ela vai ficar bem?


- Ela vai, Pansy. – ele suspirou – Hermione não vai morrer assim. Ela só perdeu o controle por alguns minutos.


Todos os outros o olhavam como se ele estivesse falando grego.


- Do que você tá falando, cara? – perguntou Lucas.


- Vocês são lufa-lufas ou o quê? Tá na cara que Hermione fez algum tipo de magia negra pra conseguir controlar os poderes!


- Eu não acredito nisso. – falou Rony – Hermione não seria capaz.


- A Hermione de antes não seria capaz, Weasley! Não consegue ver que nós não conhecemos a Hermione de agora? Podemos esperar tudo dela! Quando vocês vão parar de se surpreender?!


- Isso não é verdade. – falou Pansy – Eu estava com Hermione antes dela desmaiar. Ela voltou a ser a mesma, eu vi!


- Como eu disse, - falou Draco – ela perdeu o controle por alguns minutos!


- Como assim, Malfoy? – perguntou Harry, muito sério.


- Assim, Potter. Hermione fez magia negra pra controlar os poderes. E, deixa eu te explicar uma coisa: quando se faz magia negra, você não pode simplesmente esperar que as coisas aconteçam. Você tem que abrir mão de alguma coisa. E pensando nas atitudes de Hermione ultimamente, eu diria que ela abriu mão dos seus sentimentos.


- Como é? – perguntou Rony.


- Oh, ela ainda os têm. – ele continuou – Mas se ela entrar em contato com eles, ela morre. Deve ter sido por isso que ela desmaiou. Pansy disse que ela estava chorando. Ela poderia ter morrido naquele momento.


- Isso é loucura. – falou Harry – Estou com Rony. Nós conhecemos Hermione há anos, ok? Ela não teria coragem de fazer algo assim.


- Ele está certo. – falou Luna, que vinha estado calada desde então – É isso que vêm me bloqueando. Vejo isso com clareza agora.


- Luna... – falou Rony, em um tom meio decepcionado.


- É claro... – Harry arregalou os olhos verdes, surpreso – Foi por isso que ela não explicou direito como encontrou aquele colar... É óbvio que ela teria facilidade em encontrar um objeto com magia negra, já que ela mesma tinha magia negra no corpo.


Todos estavam perplexos.


- É verdade. – Luna suspirou – A situação de Hermione é bem pior do que a gente podia imaginar.


***


Quando Hermione abriu os olhos, apenas dois dias depois, a primeira pessoa que viu foi John, sentado de braços cruzados em um sofá próximo a sua cama, com uma carranca maior que a normal.


- E a bela adormecida finalmente acorda... – ele falou, amargo – Me diga, como eles te chamam de ‘a bruxa mais inteligente de Hogwarts’? Porque, falando sério, se isso for verdade, não quero nem conhecer a pessoa mais burra desse lugar!


- Ai, John... – ela murmurou com a voz fraca, enquanto passava a mão no rosto – Cala a boca.


- Sério, Hermione! – ele se levantou do sofá, se aproximando dela – Como você pôde ser tão estúpida?? Você não aprende nunca, não é?


- Do que você tá falando? – perguntou, completamente perdida.


- De você e da sua falta de responsabilidade! Você pisou na bola de novo, e por causa disso vai sofrer as consequências do que fez! E eu também, por tabela!


- Antes de me culpar, - ela falou – pode me dizer o que aconteceu?


- Todos sabem agora do seu pequeno feitiço.


A surpresa preencheu a sua expressão.


- O quê?


- Exatamente. Você achou que eles não iriam querer saber o porquê de você ter desmaiado do nada?


- Merlin... – ela respirou fundo, tentando entender o que aquilo significava.


- Eles vão marcar uma reunião da Ordem da Fênix assim que souberem que você acordou.


- O que vão fazer comigo? – ela perguntou, sabendo exatamente que os membros da Ordem da Fênix eram completamente contra qualquer coisa que envolvesse magia negra.


- Não faço idéia.


Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes. John estava se segurando para não continuar brigando com Hermione. Olhou para ela e tentou imaginar o que poderia estar passando pela cabeça da garota. Ela era tão imprevisível. Uma coisa era certa: ela parecia triste. E ao constatar aquilo, John falou:


- Você não pode se deixar abalar por isso, ok? Tem que continuar se concentrando em controlar suas emoções. Caso contrário, você vai acabar se matando.


- John... – ela o encarou – Talvez fazer esse feitiço tenha sido um erro... Eu não sei se eu posso continuar com isso... – uma lágrima solitária rolou pelo rosto da garota – Eu fiquei bem quando estava só com você mas esse lugar... Essas pessoas... Eu não acho que eu seja capaz de ficar indiferente a eles. Eu pensei que poderia mas eu estava errada. São muitas coisas... Eles sempre significaram muito na minha vida. Eu não consigo mais...


Ela tentou se acalmar para não voltar a desmaiar cinco minutos depois de ter acordado e John sentiu um pouco de pena dela, o que o surpreendeu.


- Isso é por causa do Malfoy?


Hermione demorou um pouco a responder.


- Não sei... Talvez...


- É incrível! – ele bufou, indignado - Você teve um rendimento perfeito nessas últimas semanas, mas é só você chegar perto do Malfoy que parece que você cai aos pedaços. Esse cara te faz mal!


- Não é só ele... É tudo...


John a encarou.


- Você pode desfazer o feitiço... – ele sugeriu, para a sua própria surpresa e a dela.


- Eu não posso... Eu teria que abrir mão de outra coisa e eu... não sei o quê...


Ele a observou por um tempo, pensando que não gostava nem um pouco de ver Hermione naquele estado. Se sentou na beirada da cama e soltou um suspiro:


- Esquece um pouco isso, ok? – ele lhe disse – Não vai ajudar em nada você ficar pensando nisso.


- Mas eu tenho que achar uma solução...


- Olha, - ele a interrompeu – deixa comigo. Vou dar um jeito.


- Como?


- Oh, Merlin. – ele revirou os olhos impaciente -  Você ficou tão burra agora que nem sabe o significado da frase ‘deixa isso comigo’?


- John...


- Cala a boca, Granger. Eu assumo esse problema daqui pra frente.


- Ok... – ela murmurou – Obrigada... Eu acho...


Ele fez uma pausa e apenas a encarou por alguns segundos.


- Que foi? – ela perguntou vendo que ele não tirava os olhos dela.


- Eu acho que eu não te digo isso com muita frequência, mas... você é mais forte do que pensa. Mais forte que muita gente que eu já conheci. Então... Não vai ser um feitiço estúpido que vai te matar, ok?


Ele colocou a mão na nuca da garota e a puxou para mais perto, lhe beijando.


Parecia que ele nunca a tinha beijado antes. Diferente dos seus outros beijos, aquele foi lento e quase carinhoso. Aquilo deixou Hermione tão surpresa que ela nem pensou em se afastar.


***


Pansy rumava para a enfermaria, como tinha feito nos últimos dois dias que Hermione estava lá. Ao contrário do que Draco estava fazendo, ela não tinha passado a ignorar Hermione. Iria ficar do lado dela. Sabia melhor do que ninguém que ás vezes se perdia o controle de uma situação, se cometia erros... Draco devia saber disso também... Era o que, infelizmente, tinha acontecido com Hermione. Mas, apesar de tudo, Pansy ainda acreditava nela. Acreditava que assim que ela conseguisse perceber no que tinha se metido, tudo ficaria bem de novo. E ser abandonada pelos amigos não iria acelerar nenhum pouco isso.


Empurrou a porta da enfermaria torcendo para que, quando visse a amiga, ela já estivesse acordada. Dumbledore disse que não demoraria e Pansy gostaria muito de falar com Hermione, entender direito tudo que estava acontecendo. Esperava que a amiga fosse sincera com ela.


Mas a cena que viu a impediu de ir em frente.


Hermione estava sim acordada, como desejara. Mas também estava aos beijos com John. Arregalou os olhos ao ver a cena que comprovava tudo o que desconfiara desde o começo e que Hermione negara veemente, olhando nos seus olhos.


Pansy saiu da enfermaria, fechando a porta atrás de si.

Como marcado, Harry, Rony e Luna chegaram no quarto de Hermione ás oito horas da noite. Depois de muita discussão, ficou decidido que ia ser Rony mesmo quem ia quebrar a horcrux.


Quando Hermione abriu a porta naquela noite, Rony parecia mais pálido que o normal e bastante nervoso, Harry parecia nervoso e bravo e Luna parecia que estava nervosa e chorosa. Hermione não os culpava, ela própria estava se sentindo meio agitada.


- Rony, tem certeza absoluta que quer fazer isso? – ela perguntou.


Rony bufou, como se já tivesse ouvido aquela pergunta milhares de vezes. Ele já devia ter ouvido mesmo.


- Sim, eu tenho. Por que todo mundo acha que eu não posso encarar isso?


- Você sabe que não é isso, Rony... – Harry falou.


- Nós só não queremos te ver com dor. – Luna completou com uma voz que Hermione achou ser esperançosa, como se ela achasse que ele fosse desistir.


- Então me deixem sozinho! – ele exclamou – Ninguém está pedindo para vocês assistirem!


Harry revirou os olhos.


- Até parece.


- Vamos acabar logo com isso... – o ruivo falou.


Luna respirou fundo e foi até o namorado, ficando na ponta dos pés e dando um beijo nele.


- Te amo, amor.


Rony sorriu.


- Também te amo.


Hermione desviou o olhar diante da cena íntima do casal e não pôde evitar dar um pequeno sorriso, sentindo seu coração aquecer. Em seguida, sentiu uma pontada na cabeça e suspirou:


- Ok, ok... vamos lá!


Harry entregou o bracelete para Rony. O grifinório olhou para a jóia em forma de cobra e respirou fundo, colocando-o no seu pulso. Hermione percebeu que as mãos dele tremiam um pouco.


E então começou.


Rony soltou um grito tão alto que Hermione agradeceu a Merlin por eles terem decidido fazerem isso no quarto dela e não na torre da grifinória, já que seu quarto tinha um feitiço de proteção sonora. Ele caiu no chão próximo a cama aos berros e começou a se contorcer.


Hermione prendeu a respiração. Parecia um milhão de vezes pior que cruciattus.


- Rony! – Luna se aproximou dele, lágrimas começando a rolar pelo seu rosto.


A corvinal se abaixou perto do namorado tentando abraçá-lo, mas ele se mexia e se batia tanto que aquilo era impossível.


Ela olhou para Harry e Hermione.


- Façam alguma coisa! – gritou.


- Não tem nada que a gente possa fazer! – exclamou Harry.


- Ti... tira isssso de mi-mim! – ele balbuciava – Tira! Por favor!


Luna segurou o braço dele, querendo fazer exatamente o que ele pedia mas Hermione foi mais rápida e a parou, a afastando dele.


- Hermione! – a loira exclamou.


- Luna, não! - Hermione gritou, fazendo sua voz se sobressair a de Rony.


- Ele está com dor!


- Não dá pra voltar atrás agora! – ela retrucou.


Luna voltou a se aproximar dele, chorando baixinho.


Harry conjurou uma bacia com água e Hermione molhou um pano ali.


- Rony, - ela segurou o rosto dele, tentando fazê-lo ficar parado – fica calmo, pára de se mexer. Isso não vai ajudar em nada.


- Hermione, - ele chorava – tira isso de mim! Por favor! Dói muito!


- Eu sei. – ela falou – Eu sinto muito! Mas vai ficar tudo bem, ok? Você vai ficar bem...


Ela passou o pano no rosto dele delicadamente.


- Só tenta respirar, ok? – ela inspirou e expirou o ar dos pulmões e ele imitou o gesto dela. Ela teve quase certeza de ouvir Luna fazendo o mesmo.


Hermione entregou o pano para Luna, que estava mais calma agora, e a garota passou a umedecer o rosto do namorado.


A morena se afastou, suspirando. Ia ser uma longa noite...


***


Harry se aproximou de Hermione, que estava sentada no parapeito da janela do seu quarto. Já era madrugada e o castelo todo estava em silêncio. Tudo que era possível ouvir era o barulho do vento do lado de fora e os murmúrios de Rony ali no quarto.


Ele estava muito mal. Há algumas horas atrás tinha começado a dizer coisas sem sentido e também tinha começado a ter febre. Os três não viam a hora daquilo acabar. Hermione olhou no relógio do quarto pela milionésima vez naquela noite. Pelas suas contas, podia acabar a qualquer momento agora.


- Sabe, ainda há salvação para você... – disse Harry, se sentando ao lado dela.


- O que você quer dizer? – ela perguntou.


- Que você andou por aí nesses últimos tempos, fingindo que não se importava com nada... Mas hoje, quando Rony precisou... você o ajudou... E antes, deu pra perceber que você queria que ele fizesse isso tanto quanto Luna e eu... E naquele dia no nosso dormitório... – ele hesitou, a observando – você achou ter visto Neville naquele dia, não foi?


Hermione desviou o olhar.


- Você enlouqueceu, Harry...


- Só queria que soubesse que é normal... Eu mesmo já achei ter visto meus pais ou Sirius várias vezes... É só coisa da sua cabeça...


Ela não respondeu.


- O que vai precisar pra você entender que as coisas que aconteceram naquela noite não foram sua culpa? – ele a observou.


- Harry... eu não quero falar sobre isso, ok?


- Hermione...


- Eu não fiz nada pelo Rony... E mesmo que aquilo tivesse sido alguma coisa demais, eu faria por qualquer pessoa. – ela o encarou duramente – Não se engane.


- Eu acho que quem está enganada aqui é você, Hermione. – ele disse – Porque você viu Neville naquele dia, o que significa que uma parte sua ainda se importa, por mais que você odeie isso.


- Gente... – Luna os chamou – Acho que acabou.


Os dois se aproximaram da cama de Hermione, aonde Rony estava deitado. Harry pegou seu pulso e tirou o bracelete, que se desmanchou como pó nas suas mãos. Mas não foi aquilo que lhes chamou a atenção. O pulso de Rony, exatamente aonde a pulseira estava, apresentava um ferimento preocupantemente profundo e sangrava sem parar.


- Rony... você está bem?


Ele não respondeu. Rony tinha perdido a consciência.


- Eu vou chamar Madame Pomfrey. – disse Hermione, saindo do quarto.


***


O dia seguinte era manhã de segunda-feira e todos os alunos do sexto e sétimo ano de Hogwarts se encontravam no salão principal da escola. Todos exceto dois. Hermione não deixou de perceber que Rony e Luna não estavam lá.


O ruivo ia ficar bem, Madame Pomfrey tinha assegurado, mas ainda precisava ficar mais um tempo na enfermaria. Ele tinha perdido muito sangue e nenhum feitiço que fechasse o ferimento tinha funcionado, então eles tiveram que fazer aquilo do jeito trouxa. Harry estava por ali, sentado sozinho e quieto. Hermione sabia que ele se sentia culpado por ter deixado Rony passar pelo sofrimento daquela noite, o que era bem hipócrita da parte dele já que ele quase lhe passou um discurso sobre como não deveria se culpar pelo que tinha acontecido.


Hermione suspirou.


Estavam ali no salão principal mas ninguém sabia exatamente o porquê. Só tinham recebido um aviso dos diretores de suas casa dizendo-lhes para aparecerem lá no horário marcado.


O falatório era ensurdecedor. Todos conversavam e trocavam informações, tentando chegar a alguma conclusão do porquê foram chamados ali.


- Seja o que for – falou Lucas, que estava em um canto com Draco, Pansy e Taylor -, já está atrasado. São oito e meia e o horário marcado foi oito horas.


Assim que ele disse isso, a porta do salão principal se abriu e John Stevie passou, abrindo caminho em meio aos alunos e surpreendendo-os. Com certeza ninguém tinha pensado em nada que envolvesse o treinador de Hermione Granger. O homem já tinha a atenção de todos quando ele parou no meio do lugar e fez sinal para se afastarem.


- Bom, - começou em alto e bom som – vocês devem estar se perguntando o que estão fazendo aqui. Acontece que, na última semana, Dumbledore me pediu um favor. Ele pareceu perceber que seria ótimo se os bruxos não dependessem apenas de sua magia para sobreviver, que saber dar uns socos pode muito bem salvar sua pele em muitas situações, principalmente quando se está em guerra e não se sabe quando você vai poder estar com uma varinha em mãos. Então ele resolveu aproveitar o fato de que eu já estou por aqui, para me pedir para dar umas aulas de defesa pessoal para os que estejam interessados.


Vários sussurros correram pelo salão diante daquela informação. John fez uma pausa de alguns segundos.


- Vocês não são obrigados a isso. – ele falou parecendo desinteressado – Sinceramente? Quanto menos de vocês se interessarem, melhor pra mim. Agora, quem estiver realmente interessado, assine o nome em um pergaminho para mim, ok? – ele olhou com impaciência para a cara dos alunos – É isso, podem dar o fora.


Diante disso, o falatório voltou, mais alto que antes. Alguns alunos já começavam a formar uma fila para assinarem o pergaminho, enquanto outros iam imediatamente embora e outros, ainda indecisos, conversavam sobre o assunto.


- Você deve estar amando isso! – exclamou Hermione se aproximando de John.


Ele a olhou parecendo entediado.


- Não tinha te visto aí. – falou somente.


Ela parou na frente dele, de braços cruzados.


- Então, - ela sorriu – o que Dumbledore teve que fazer pra te obrigar á esse sacrifício?


John bufou.


- O velho praticamente triplicou meu salário. – respondeu – Proposta irrecusável.


Ela assentiu.


- Claro que sim... O que mais te obrigaria a fazer isso?


- Eu devia ter pedido mais até, se quer saber. – ele olhou para a fila enorme que se formava – Ensinar esse bando de idiotas a lutar... – falou como se fosse um absurdo – Muitos deles não sabem nem segurar uma varinha direito! Isso vai ser pior que ensinar a... – ele a olhou – você!


Ela revirou os olhos sabendo que ele falava da boca pra fora.


- Ei, - ele apontou com a cabeça para um grupo de alunos parado no meio do salão – do que eles estão falando?


Hermione seguiu seu olhar e viu Lucas, Pansy, Draco e Taylor no que parecia ser uma discussão muito fervorosa.


- Posso imaginar...


***


- Você ficou louca, Pansy? – exclamou Lucas pelo que Draco achava ser a terceira vez – Você não vai lutar!


- Claro que eu vou! – ela devolveu – Eu preciso saber me defender também!


- Você não precisa saber se defender! Eu vou aprender a defender vocês!


- Nossa! – ela revirou os olhos – Tô me sentindo muito protegida!


- Você tá grávida! Você nem vai participar de luta nenhuma na guerra, se quer saber!


- Não vou? – ela o encarou com uma expressão desafiadora – Quem vai me impedir?


- Eu vou!


Ela olhou para Draco.


- Você não fala nada? Concorda com isso?


O loiro suspirou, sabendo que aumentaria ainda mais a fúria da amiga com o que iria dizer.


- Pansy, pensa direito. – tentou manter a voz baixa, ao contrário dos amigos - Lucas tem uma certa razão...


- Certa razão?! – o outro sonserino quase berrou – Eu estou coberto de razão e você sabe disso, Draco!


- Não está nada! – Pansy respondeu – Eu estou grávida, não estou doente!


- Mas Pansy... – tentou intervir Taylor – essas lutas são meio brutas... Você pode se machucar seriamente, e com isso colocar em risco a vida do bebê... É isso que você quer?


- Isso é ridículo! – ela deu uma olhada no salão – Vamos ver se eu não vou lutar!


E dizendo isso, se afastou.


- Pansy! – Lucas foi atrás dela – Aonde você vai?


Draco e Taylor não viram outra alternativa a não ser os seguir também.


Ela logo chegou aonde queria. Parou aonde John e Hermione conversavam.


- John! – falou – Você pode, por favor, dizer pra esse idiota – ela apontou para Lucas – que não tem problema nenhum em eu lutar, mesmo estando grávida?


- Ah, por favor... – Lucas revirou os olhos e falou para Pansy – O que ele sabe?


Lucas tinha uma certa implicância com John, provavelmente herdada da implicância que Draco tinha com John. O loiro tinha falado tanto na cabeça dele, por tanto tempo, do quanto odiava o treinador de Hermione que grande parte daquele sentimento parecia ter sido transferido para o amigo.


- Eu sei mais do que você pensa, pirralho... – respondeu John, com ar de superioridade.


- Olha como você fala comigo, vovô... – replicou Lucas.


- Lucas, cala a boca! – mandou Pansy.


Draco e Taylor se juntaram ao grupo.


- Pansy, - Hermione tentou chamar a atenção da amiga para ela – Lucas só está preocupado com você. E com o bebê.


- Isso não é problema dele. – ela respondeu – É meu bebê!


- É meu também! – o garoto exclamou.


Hermione tinha esquecido das brigas de Pansy e Lucas. E também de como eles ficavam irracionais durante as discussões.


- É mesmo, Pansy? - falou – Porque da última vez que eu chequei, precisava mais que uma mulher pra se fazer uma criança.


- Obrigado por ficar do meu lado, Hermione. – falou Lucas.


- Bom, - disse John - eu acho que Pansy está certa.


- O quê? – perguntaram todos, em uníssono. Até mesmo Pansy.


- Isso mesmo. – ele repetiu – Parkinson está grávida mas ainda tem o direito de escolha. Se ela quer treinar, ela vai treinar.


Pansy sorriu vitoriosa.


- Viu? – falou para Lucas – Vamos, vou assinar meu nome.


Ela se afastou e o sonserino olhou para John com os olhos faiscando.


- Se alguma coisa de grave acontecer com a Pansy, você vai ter que se ver comigo, vovô. – isso sendo dito, ele se afastou para entrar na fila com a namorada.


John soltou uma risada de quem duvidava do que o sonserino tinha dito e também se afastou.


Só restaram Draco, Taylor e Hermione. O garoto parecia ter ficado tão irritado quanto Lucas de repente.


- O quê? – Hermione perguntou, quando viu que Draco a encarava com raiva.


- Espero que tenha percebido o que seu amiguinho fez. – o loiro disse.


- Vamos embora, Draco. – Taylor tentou puxar o namorado pela mão, ele por sua vez não lhe deu a mínima atenção.


- E o que ele fez, Draco? – perguntou Hermione, fingindo uma voz paciente.


- Ele deixou que Pansy lutasse, quando ela claramente não pode, só para nos contrariar. – respondeu - Bem maduro da parte dele. Espero que se lembre disso quando ela sair machucada dessa história. Da última vez que eu chequei, vocês ainda eram amigas.


Ele saiu de mãos dadas com Taylor e foi se juntar a fila com Pansy e Lucas – que ainda discutiam. Hermione suspirou e percebeu, com uma certa raiva, que ele estava certo.


Decidiu que falaria sobre aquilo com John.


***


Enquanto Pansy e Lucas continuavam numa discussão sem fim durante toda a manhã, Draco e Taylor mal trocaram uma palavra. O garoto até tentara puxar assunto com a sonserina durante as aulas mas ela não parecia estar no clima de conversa. A relação deles tinha esfriado completamente depois da noite do baile mas agora ela mal olhava pra ele. Na hora do almoço, ele resolveu saber o que estava acontecendo:


- Por que está desse jeito a manhã inteira, Taylor?


Ela suspirou.


- Não é nada, Draco. Deixa pra lá.


Ele franziu o cenho.


- Não, me diz o que está havendo. Não é possível que não seja nada.


Ela hesitou um pouco, e então respondeu:


- Eu estou pensando se seria um pouco demais pedir a você que não falasse com Hermione de novo.


Ele ficou surpreso.


- Como?


- Você... vive dizendo que não quer mais saber dela. Mas parece que vire e mexe você procura um motivo pra falar com ela!


- Taylor, isso é loucura! – ele a encarou – Eu estava brigando com ela hoje de manhã!


- Mesmo assim, ainda estava falando com ela, não é? Vocês brigavam o tempo todo também antes de namorarem. Isso não quer dizer nada.


- Taylor, é diferente agora...


Ela ficou em silêncio por uns instantes.


- Na noite do baile, eu te pedi pra você fazer alguma coisa... algo que me fizesse confiar em você de novo. E você não moveu um dedo pra isso.


- Porque eu não sei o que fazer, Taylor! – respondeu, começando a ficar impaciente.


- Por que você não começa parando de agir como se isso fosse coisa da minha cabeça?! – falou, com a voz embargada – Você ainda sente alguma coisa por ela! Não é só coisa da minha cabeça!


Ele respirou fundo e os dois ficaram em silêncio por um tempo. Por fim, Draco segurou a mão da garota e a beijou.


- Olha, isso não quer dizer nada pra mim, mas se é tão importante pra você... Eu prometo que não vou falar com Hermione de novo, ok? Eu sinto muito por ter te magoado, e vou começar a te recompensar por isso.


Ela deu um leve sorriso.


- Ok...


***


- Que palhaçada foi aquela? – foi a primeira coisa que Hermione falou para John quando encontrou com ele no seu treino.


Ele pestanejou.


- Tá falando do quê, garota? – ele perguntou, confuso.


- Eu estou falando de você ter permitido que Pansy treinasse, John. – ela respondeu – Você sabe muito bem que é muito arriscado para o bebê. Por que você fez isso?


- Olha, - ele começou – pra começar, ela nem deveria ter ficado grávida, ok? Ela só tem 17 anos, por Merlin!


- Ok... – Hermione cruzou os braços e o encarou – E isso é da sua conta porquê...?


- E depois, - ele continuou como se não tivesse sido interrompido – ter um filho numa guerra? Isso é loucura!


- Isso é problema deles, John! – Hermione exclamou – E mesmo assim, ela não poderia abortar. Não seria certo.


- Oh, - ele a encarou com falsa surpresa – agora você resolveu ser a favor da vida? Me desculpe se eu estiver errado, mas há alguém nessa sala que não tenha matado uma pessoa?


Hermione não pensou em mais nada depois disso. Apenas lhe socou.


O golpe foi tão inesperado que John cambaleou uns três passos para trás, levando a mão ao seu nariz que sangrava.


- Sua idiota! – ele olhou para sua mão banhada de sangue – Olha o que você fez!


Hermione apontou o dedo na direção dele.


- Você nunca mais me diga uma coisa dessas, entendeu? – gritou - Nunca mais!


- Ah, me esqueci que você parece ter sérios problemas com a verdade, não é? – ele lhe lançou um olhar malicioso – Será que sua ficha ainda não caiu, Granger? Você matou uma pessoa. Um amigo seu. E não há nada que você possa fazer para reverter essa situação. E quer saber mais? Eu posso apostar um milhão de galeões que até o final dessa guerra, ele não vai ser a única pessoa que você vai matar!


- Isso não é verdade! – ela gritou, um pouco descontrolada. Fazia tempo que não se sentia daquele modo. Parecia que seu sangue fervia, um monte de emoções querendo voltar a surgir – Eu já estou melhor agora! Você sabe disso! Um erro daqueles não vai acontecer nunca mais!


- Não estou dizendo que vai ser um erro... – ele falava em um tom baixo e venenoso, ao contrário dela – Eu sei que da próxima vez que você matar alguém, vai ser porque você quis!


- Eu nunca mataria ninguém de propósito!


Ele gargalhou.


- Mataria sim! – os dois se encararam em silêncio por alguns segundos – Quem você quer enganar, Granger? Todo mundo sabe que você não é mais a garotinha de antes... Se você olha pra mim, e acha que eu sou todo errado ou que ajo pelos motivos errados, talvez você devesse se olhar no espelho. Você pensa que o motivo pelo qual você está assim é certo? Não é. E você acha que seus adorados amigos vão ser tão bonzinhos com você pra sempre? Eles só são assim com você porque eles ainda olham pra você e vêem a doce Hermione de antes! Mas um dia eles vão se cansar disso e vão passar a ver a verdade! Que você tinha motivos pra ficar mal até um certo ponto! Mas os erros que você cometeu pra chegar aonde você chegou... – ele se aproximou dela – os erros que eu sei que você ainda vai cometer... não se justificam por nada que você tenha feito nesse mundo.


- Eu não vou cometer mais nenhum erro. – ele falou, com a voz embargada. – Eu aprendi minha lição.


- Você não pode evitar. – ele falou – É quem você é. Quem você se tornou. Conseguiu assumir o controle dos seus poderes... E é uma bruxa poderosa agora. Quase invencível... Mas a que preço? – ela ficou em silêncio -  O que a preciosa Ordem da Fênix, o que os seus preciosos amigos... O que seu precioso Draco vai fazer com você quando descobrir o que você fez pra chegar aonde está?


Ela o encarou por alguns segundos com um ódio incrível faiscando no olhar e em seguida saiu a passos firmes. John pensou ter ouvido um barulho de choro antes da porta da sala bater atrás da garota.


***


As palavras de John ressoavam na cabeça de Hermione enquanto ela andava lentamente pelos corredores desertos de Hogwarts. O som dos seus passos faziam barulho quando tocavam no chão frio do castelo e, do lado de fora, relâmpagos rasgavam o céu enquanto barulhos cada vez mais fortes de trovões eram ouvidos.


Pela primeira vez em meses, lágrimas escorriam pelo rosto da garota, mas ela mal parecia notar.


Vinha se segurando durante tanto tempo, evitando sentir qualquer tipo de coisa que agora, parecia estar sentindo todos os sentimentos reprimidos de três meses de uma vez só. Seu coração doía e ela estava com dificuldades de respirar. Seus pés andavam no automático e a levavam para um dos lugares que mais tinha evitado ir desde a sua volta.


Quando viu, estava de frente para a sepultura de Neville. Eles tinham construído um pequeno cemitério em um lado deserto dos terrenos de Hogwarts, como uma forma de homenagear os bruxos que tinham morrido e que morreriam na guerra. Hermione tinha evitado aquele lugar com fervor desde que tinha voltado para Hogwarts, mas agora, seus pés a levavam até ali.


Grossas gotas de chuva começavam a cair e logo não era mais possível dizer se o rosto de Hermione estava molhado por causa da chuva ou porque ela chorava desesperadamente.


Se ajoelhou na grama, encarando a foto da sepultura do seu antigo colega de casa.


- Oi... – falou em meio ao choro – Sou eu. – fez uma pausa, sem saber mais o que dizer. Então resolveu falar o que estava entalado na sua garganta, a coisa que mais queria que ele soubesse – Só queria dizer que... eu nunca quis que aquilo acontecesse a você. – ela suspirou - Nunca.


Seu choro veio com tanta força agora que ela não conseguiu dizer mais nada. Perdeu as forças nos joelhos e acabou sentada no chão, suas lágrimas se misturavam a chuva. Ficou assim por bastante tempo, chorando por tudo que tinha acontecido. Chorando tudo que não chorou nos últimos meses, tudo que não tinha se permitido chorar.


Sentiu vontade de gritar diante a dor que estava sentindo. Se sentia fraca mas continuou falando, assim que pôde.


- Queria que soubesse também que se houvesse qualquer forma... qualquer uma... de voltar no tempo e mudar tudo, eu mudaria... Eu iria até o fim do mundo pra ter você aqui... pra sua avó... para os nossos amigos... Eu sei que todos eles sentem a sua falta...


Ela foi interrompida quando ouviu passos e se virou para ver quem era. Se surpreendeu ao ver Pansy.


- Hermione... – a sonserina se aproximava com uma cara preocupada – eu vi você saindo do castelo... O que está fazendo? Vai pegar uma pneumonia desse jeito...


- Eu só... – ela se virou para a sepultura novamente e Pansy se abaixou ao seu lado – queria falar com ele um pouco... dizer o quanto eu sinto muito...


- Mione... – Pansy passou o braço em volta da amiga e afagou seu cabelo – Longbottom podia ser meio obtuso ás vezes... mas eu tenho certeza que ele sabe disso... Ele sabe até melhor que você...


- Pansy... – a garota lutou para falar em meio ao choro – como eu cheguei aqui? Eu me sinto tão... perdida... Eu não sei mais quem eu sou... O que eu devo fazer... Eu fiz tanta besteira...


- Tudo tem um jeito, Hermione... Só não desista. Não desista de si mesma, até porque eu não desisti de você. E eu posso contar pelo menos mais dez pessoas que também não. – Pansy a fez encará-la – Você só precisa de ajuda... Mais que tudo, você precisa se deixar ajudar... Nós todos te amamos, você só tem que ser sincera com a gente...


- Eu não posso. – ela falou – Se eu contar o que eu fiz, todos vocês vão me odiar...


- Nós nunca poderíamos te odiar, Hermione... – Pansy olhava para a amiga com um misto de sentimentos. Pena, dor, preocupação... Acima de tudo medo pelo que ela poderia estar se referindo. – O que você fez, Hermione?


A garota apenas negou com a cabeça, dizendo que não lhe contaria.


- Me diga. Talvez nós possamos te ajudar. Nós vamos resolver isso, ok? Todos nós.           


Mas Hermione não lhe ouvia mais. Sentindo-se mais fraca do que nunca, ela se deixou encostar em Pansy e fechou seus olhos, perdendo completamente a consciência.


Pansy arregalou os olhos quando sentiu que Hermione desfalecia em seus braços.


- Hermione? Ai, meu Merlin... – ela tentou sacudi-la - Mione!


***


Pansy estava sentada em uma cadeira da enfermaria, tremendo de frio devido ao banho de chuva que tinha tomado e aos prantos pelo estado da amiga. Desde que tinha chegado na enfermaria com Hermione, não tinha conseguido parar de chorar e ela nem era uma pessoa que chorava muito. Ver Hermione, sempre tão forte e corajosa, naquele estado tinha a assustado. Agora estava mais preocupada com a grifinória do que nunca. Ela estava fora de controle. Completamente fora de controle. E agora estava ali, gelada... estirada na cama da enfermaria como se estivesse... Pansy interrompeu sua própria linha de pensamento. Não queria nem pensar naquilo.


- Pansy! – ela levantou a cabeça e encarou Lucas e Draco entrarem na enfermaria afobados, como se tivessem corrido muito.


Se sentiu um pouco mais aliviada ao ver os dois e ao mesmo tempo sua vontade de chorar triplicou.


- O que aconteceu? – perguntou Lucas, se sentando ao lado dela – Recebemos o recado que você estava aqui. – ele pareceu checá-la de cima a baixo – Você está machucada?


- Não. – ela respirou fundo, tentando se acalmar para explicar o que tinha acontecido – É Hermione... – falou com a voz embargada – Ela não está nada bem...


Os dois olharam em volta e Draco viu que havia uma cama que estava cercada por uma cortina branca. Presumiu que a garota estivesse ali. O loiro não soube explicar o aperto que sentiu no coração naquele momento.


- O que ela tem? – ele perguntou á Pansy.


- Eu não sei. Madame Pomfrey tentou de tudo, Hermione não acorda... Acho que agora foi atrás de Dumbledore. Ela parecia muito preocupada quando saiu daqui...


- Mas o que aconteceu? – perguntou Lucas.


- Ela desmaiou do nada! – contou – Ela estava no túmulo do Longbottom... Estava chorando muito e dizendo umas coisas... sem sentido... Disse que nós íamos odiá-la... Pela primeira vez desde que ela voltou, ela parecia... sabe, com ela mesma... E aí ela desmaiou...


- Calma... – Lucas a abraçou – Ela vai ficar bem... Não tem razão nenhuma para ela não ficar...


- Não sei, Lucas... Talvez tenha...


Draco respirou fundo, sabendo que Pansy estava certa. Eles não sabiam tanto da vida de Hermione como antigamente. Talvez tivesse mesmo uma razão para ela estar daquele jeito que só ela mesma sabia.


Ele próprio se sentou, com a cabeça doendo de preocupação, sentindo raiva de Hermione pela milésima vez por tudo que ela tinha feito com ele. E, dessa vez, sentindo também raiva de si mesmo por ainda se preocupar com ela depois de tudo que ela tinha feito com ele.


***


Rony e Harry estava no salão comunal da grifinória há algum tempo jogando xadrez bruxo. Aquela era basicamente a única coisa – ou uma das poucas coisas – que Madame Pomfrey o tinha permitido fazer. Conversavam sobre amenidades quando se assustaram ao ouvir gritos da mulher gorda, cinco segundos antes de Luna aparecer no lugar.


- Luna! – Rony levantou os olhos para a namorada e viu que ela chorava – Como você entrou aqui? O que aconteceu?


- É a Hermione. – falou ela – Ela está na enfermaria.


Rony e Harry se entreolharam com idênticas caras de preocupação.


- É ruim, gente. – as lágrimas escorriam levemente pelo rosto da corvinal – Muito ruim.


***


Madame Pomfrey colocou todos para fora da enfermaria quando voltou com o professor Dumbledore. Harry e Rony, que chegaram depois com Luna, ainda tentaram entrar para ver a amiga mas Madame Pomfrey havia sido clara. Ninguém entrava na enfermaria. Então só restou para eles ficarem sentados no chão do corredor, encarando a porta do cômodo, até que a mulher lhes desse notícias. A preocupação de todos atingiu o auge quando um quartanista apareceu lá com o braço quebrado por voar naquele temporal e Dumbledore lhe mandou procurar Snape para lhe dar uma poção. O que Hermione poderia ter que era contagioso? Sim, porque aquela era a única explicação para aquele mistério todo.


- Vocês estão pensando a mesma coisa que eu? – perguntou Pansy, depois de longos minutos em silêncio.


- Que Hermione talvez tenha feito alguma coisa para se prejudicar? – respondeu Rony – Acho que todos estamos.


- É a única explicação, não é? – falou Harry – O que poderia atingi-la dessa forma além de si mesma?


- Mas o que a levaria a fazer isso? – perguntou Lucas.


- Por quê a Lovegood não responde isso? – falou Draco – Não é ela que tem esse tipo de poder aqui?


Todos olharam para Luna.


- Eu não posso ver. – ela respondeu, baixo – Acho que tem alguma coisa me bloqueando... Ou esse é um tipo de magia que não está ao meu alcance... Não faço idéia...


Ouviram passos no corredor e todos se viraram para ver John se aproximando. Ele olhou para o grupo sentado no chão com um olhar superior e entrou na enfermaria sem bater ou pedir permissão. Todos continuaram em silêncio, esperando ouvirem os gritos de Madame Pomfrey o expulsando de lá como quando Harry e Rony tentaram entrar, mas a espera foi em vão.


- Por que ele pode entrar? – perguntou Rony, indignado.


Ninguém respondeu. Segundos depois, Harry murmurou.


- Odeio esse cara.


- Olha só... – Lucas fingiu surpresa – Potter finalmente tem alguma coisa em comum com os sonserinos que tanto odeia...


- Mas quem não percebe que o fato de Hermione estar assim é por causa dele?! – falou Rony – Ela está cada dia mais parecida com ele! Até quando ela estava com vocês, ela era melhor!


- Vou aceitar isso como um elogio. – falou Pansy.


- Hey, eu tive uma idéia! – exclamou Rony.


- Lá vem... – murmurou Draco.


O ruivo lhe lançou um olhar feio enquanto se levantava. Sacou sua varinha e conjurou um par de orelhas extensíveis.


- Brilhante, Rony! – Luna se levantou também, seguida de Harry.


- O que vocês estão fazendo, seus loucos? – perguntou Pansy.


- Shh... – Luna falou – Só se aproximem.


Os três sonserinos se aproximaram desconfiados, mas uma expressão de entendimento tomou conta dos seus rostos quando começaram a ouvir a conversa.


- Incrível... – murmurou Lucas.


- Como todos os Weasley’s são, Mason... – falou Rony.


- Por favor, Weasley... – o garoto respondeu.


- Calem a boca, vocês! – exclamou Pansy, fazendo todos ficarem em silêncio.


Passaram a ouvir a conversa:


- Mas isso é um absurdo! – falava Madame Pomfrey – Como você pôde deixá-la fazer uma coisa dessas?


- Temos que manter a calma, Papoula. – falava Dumbledore em tom baixo, mas os garotos puderam notar uma certa tensão em sua voz.


- Manter a calma, Alvo? Esse rapaz colocou uma de suas alunas em alto risco!


- Peraí um instante! – falou John – Eu não obriguei Hermione a nada! Ela fez o que fez porque quis!


- Você era responsável por ela! – retrucou madame Pomfrey.


- Ela não precisa que ninguém seja responsável por ela! Hermione já é maior de idade!


- Ora essa...


- Papoula, - falou Dumbledore – será que eu posso ter uma conversa particular com o Sr. Stevie?


A mulher suspirou, resignada.


- Ok, Alvo.


A mulher deve ter ido para as suas acomodações porque Dumbledore esperou alguns segundos para continuar.


- Tenho que dizer, John, que estou extremamente decepcionado com você.


- O quê? – ele perguntou em um tom meio indignado – Ela faz a burrada e eu sou o culpado?


- Eu não estou falando somente do que aconteceu hoje e acho que o senhor sabe disso perfeitamente. – Dumbledore fez uma pausa – Precisamos desfazer esse feitiço o mais rápido possível, antes que ele cause danos permanentes na senhorita Granger.


- Esse feitiço só tem feito bem a ela! – John exclamou – E vai fazer muito bem a sua querida Ordem da Fênix se ela continuar com ele.


- Nada que vêm da magia negra pode trazer algo de bom, John. – Dumbledore falou em um tom forte e imperativo, que poucas vezes usava.


O grupo do lado de fora da sala prendeu a respiração ao ouvir isso, como se tivessem ensaiado. Seus olhares se cruzaram com uma preocupação compartilhada misturada com uma certa descrença diante do que ouviam.


- Vocês e suas mentes fechadas... Com isso, vocês vão ganhar a guerra!


- A que preço?


- Isso foi uma decisão de Hermione. Ela escolheu isso e sabia das consequências quando fez o feitiço. Foi idéia dela, pra começo de conversa. Você não pode obrigar as pessoas a fazer o que você quer sempre, Dumbledore! Elas não são marionetes na sua mão! Se ela quis se sacrificar pela guerra, isso é problema dela!


- Não se sacrifica pela guerra, John. Se sacrifica pelo amor. E eu lamento que você tenha perdido sua família antes de ser capaz de entender isso...


Draco se afastou das orelhas extensíveis e os outros o olharam.


- Já ouvi o suficiente...


Ele fez menção de ir embora mas Pansy o impediu.


- Onde você vai?


- Estou indo procurar Taylor.


- Mas... – ela franziu o cenho – não quer saber se ela vai ficar bem?


- Ela vai, Pansy. – ele suspirou – Hermione não vai morrer assim. Ela só perdeu o controle por alguns minutos.


Todos os outros o olhavam como se ele estivesse falando grego.


- Do que você tá falando, cara? – perguntou Lucas.


- Vocês são lufa-lufas ou o quê? Tá na cara que Hermione fez algum tipo de magia negra pra conseguir controlar os poderes!


- Eu não acredito nisso. – falou Rony – Hermione não seria capaz.


- A Hermione de antes não seria capaz, Weasley! Não consegue ver que nós não conhecemos a Hermione de agora? Podemos esperar tudo dela! Quando vocês vão parar de se surpreender?!


- Isso não é verdade. – falou Pansy – Eu estava com Hermione antes dela desmaiar. Ela voltou a ser a mesma, eu vi!


- Como eu disse, - falou Draco – ela perdeu o controle por alguns minutos!


- Como assim, Malfoy? – perguntou Harry, muito sério.


- Assim, Potter. Hermione fez magia negra pra controlar os poderes. E, deixa eu te explicar uma coisa: quando se faz magia negra, você não pode simplesmente esperar que as coisas aconteçam. Você tem que abrir mão de alguma coisa. E pensando nas atitudes de Hermione ultimamente, eu diria que ela abriu mão dos seus sentimentos.


- Como é? – perguntou Rony.


- Oh, ela ainda os têm. – ele continuou – Mas se ela entrar em contato com eles, ela morre. Deve ter sido por isso que ela desmaiou. Pansy disse que ela estava chorando. Ela poderia ter morrido naquele momento.


- Isso é loucura. – falou Harry – Estou com Rony. Nós conhecemos Hermione há anos, ok? Ela não teria coragem de fazer algo assim.


- Ele está certo. – falou Luna, que vinha estado calada desde então – É isso que vêm me bloqueando. Vejo isso com clareza agora.


- Luna... – falou Rony, em um tom meio decepcionado.


- É claro... – Harry arregalou os olhos verdes, surpreso – Foi por isso que ela não explicou direito como encontrou aquele colar... É óbvio que ela teria facilidade em encontrar um objeto com magia negra, já que ela mesma tinha magia negra no corpo.


Todos estavam perplexos.


- É verdade. – Luna suspirou – A situação de Hermione é bem pior do que a gente podia imaginar.


***


Quando Hermione abriu os olhos, apenas dois dias depois, a primeira pessoa que viu foi John, sentado de braços cruzados em um sofá próximo a sua cama, com uma carranca maior que a normal.


- E a bela adormecida finalmente acorda... – ele falou, amargo – Me diga, como eles te chamam de ‘a bruxa mais inteligente de Hogwarts’? Porque, falando sério, se isso for verdade, não quero nem conhecer a pessoa mais burra desse lugar!


- Ai, John... – ela murmurou com a voz fraca, enquanto passava a mão no rosto – Cala a boca.


- Sério, Hermione! – ele se levantou do sofá, se aproximando dela – Como você pôde ser tão estúpida?? Você não aprende nunca, não é?


- Do que você tá falando? – perguntou, completamente perdida.


- De você e da sua falta de responsabilidade! Você pisou na bola de novo, e por causa disso vai sofrer as consequências do que fez! E eu também, por tabela!


- Antes de me culpar, - ela falou – pode me dizer o que aconteceu?


- Todos sabem agora do seu pequeno feitiço.


A surpresa preencheu a sua expressão.


- O quê?


- Exatamente. Você achou que eles não iriam querer saber o porquê de você ter desmaiado do nada?


- Merlin... – ela respirou fundo, tentando entender o que aquilo significava.


- Eles vão marcar uma reunião da Ordem da Fênix assim que souberem que você acordou.


- O que vão fazer comigo? – ela perguntou, sabendo exatamente que os membros da Ordem da Fênix eram completamente contra qualquer coisa que envolvesse magia negra.


- Não faço idéia.


Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes. John estava se segurando para não continuar brigando com Hermione. Olhou para ela e tentou imaginar o que poderia estar passando pela cabeça da garota. Ela era tão imprevisível. Uma coisa era certa: ela parecia triste. E ao constatar aquilo, John falou:


- Você não pode se deixar abalar por isso, ok? Tem que continuar se concentrando em controlar suas emoções. Caso contrário, você vai acabar se matando.


- John... – ela o encarou – Talvez fazer esse feitiço tenha sido um erro... Eu não sei se eu posso continuar com isso... – uma lágrima solitária rolou pelo rosto da garota – Eu fiquei bem quando estava só com você mas esse lugar... Essas pessoas... Eu não acho que eu seja capaz de ficar indiferente a eles. Eu pensei que poderia mas eu estava errada. São muitas coisas... Eles sempre significaram muito na minha vida. Eu não consigo mais...


Ela tentou se acalmar para não voltar a desmaiar cinco minutos depois de ter acordado e John sentiu um pouco de pena dela, o que o surpreendeu.


- Isso é por causa do Malfoy?


Hermione demorou um pouco a responder.


- Não sei... Talvez...


- É incrível! – ele bufou, indignado - Você teve um rendimento perfeito nessas últimas semanas, mas é só você chegar perto do Malfoy que parece que você cai aos pedaços. Esse cara te faz mal!


- Não é só ele... É tudo...


John a encarou.


- Você pode desfazer o feitiço... – ele sugeriu, para a sua própria surpresa e a dela.


- Eu não posso... Eu teria que abrir mão de outra coisa e eu... não sei o quê...


Ele a observou por um tempo, pensando que não gostava nem um pouco de ver Hermione naquele estado. Se sentou na beirada da cama e soltou um suspiro:


- Esquece um pouco isso, ok? – ele lhe disse – Não vai ajudar em nada você ficar pensando nisso.


- Mas eu tenho que achar uma solução...


- Olha, - ele a interrompeu – deixa comigo. Vou dar um jeito.


- Como?


- Oh, Merlin. – ele revirou os olhos impaciente -  Você ficou tão burra agora que nem sabe o significado da frase ‘deixa isso comigo’?


- John...


- Cala a boca, Granger. Eu assumo esse problema daqui pra frente.


- Ok... – ela murmurou – Obrigada... Eu acho...


Ele fez uma pausa e apenas a encarou por alguns segundos.


- Que foi? – ela perguntou vendo que ele não tirava os olhos dela.


- Eu acho que eu não te digo isso com muita frequência, mas... você é mais forte do que pensa. Mais forte que muita gente que eu já conheci. Então... Não vai ser um feitiço estúpido que vai te matar, ok?


Ele colocou a mão na nuca da garota e a puxou para mais perto, lhe beijando.


Parecia que ele nunca a tinha beijado antes. Diferente dos seus outros beijos, aquele foi lento e quase carinhoso. Aquilo deixou Hermione tão surpresa que ela nem pensou em se afastar.


***


Pansy rumava para a enfermaria, como tinha feito nos últimos dois dias que Hermione estava lá. Ao contrário do que Draco estava fazendo, ela não tinha passado a ignorar Hermione. Iria ficar do lado dela. Sabia melhor do que ninguém que ás vezes se perdia o controle de uma situação, se cometia erros... Draco devia saber disso também... Era o que, infelizmente, tinha acontecido com Hermione. Mas, apesar de tudo, Pansy ainda acreditava nela. Acreditava que assim que ela conseguisse perceber no que tinha se metido, tudo ficaria bem de novo. E ser abandonada pelos amigos não iria acelerar nenhum pouco isso.


Empurrou a porta da enfermaria torcendo para que, quando visse a amiga, ela já estivesse acordada. Dumbledore disse que não demoraria e Pansy gostaria muito de falar com Hermione, entender direito tudo que estava acontecendo. Esperava que a amiga fosse sincera com ela.


Mas a cena que viu a impediu de ir em frente.


Hermione estava sim acordada, como desejara. Mas também estava aos beijos com John. Arregalou os olhos ao ver a cena que comprovava tudo o que desconfiara desde o começo e que Hermione negara veemente, olhando nos seus olhos.


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Notas finais do capítulo

N/A: Olá, gente... Como andam? Espero que tenham gostado do capítulo =) A fic está caminhando pra reta final agora, e como eu estou alguns capítulos a frente pra depois não precisar voltar e mudar nada do que já foi postado, já estou quase terminando de escrever :( Como vocês viram, a nossa antiga Hermione está voltando e começando a se arrepender dos seus atos, na medida que as coisas estão acontecendo ela está vendo que ir embora não foi uma idéia tão brilhante quanto ela achou que fosse na época... Eu estou tentando ao máximo caprichar no final e estou muito ansiosa pra vocês lerem e saber o que vão achar, e mais ansiosa ainda pra soltar o trailer da continuação, pra vocês saberem do que vai se tratar a história... Eu sou tão ansiosa que eu tenho que me controlar pra não falar nada aqui e acabar estragando o fim dessa fic... Mas vocês tem algum palpite? ;-)
Obrigada pelos comentários e pelos votos. Os comentários tem um papel importante pra fic, eu preciso muito saber o que vocês estão achando.



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