Sobre Metal e Sangue escrita por JojoKaestle, LudMagroski


Capítulo 7
Enfrentamos robôs assassinos e as luzes de Tulle


Notas iniciais do capítulo

O nome original do capítulo é "Enfrentamos robôs assassinos e as luzes cegantes de Tulle", mas não foi possível colocá-lo por limite de caracteres.



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– Deidre! - a voz me fez sobressaltar, acertando o vidro da cabine com o braço direito. Pisquei algumas vezes, tentando afastar o sono até que a imagem de Erwan entrou em foco. Zahra suspirou profundamente e se estivesse claro acho que poderia ver seus olhos revirando irritados. Anoitecera desde que tinha me encostado na lateral da cabine para descansar e não era possível distinguir o que nos cercava a mais de cinco metros de distância, a única coisa que ouvia era a voz de Edda em algum ponto atrás de mim.

– Preste atenção – continuou Erwan – você quase ia perder a nossa chegada.

– Chegada?- murmurei, esfregando os olhos – Mas ainda estamos no meio do deserto!

– Veja por si mesma.
Fixei meu olhar à nossa frente e durante algum tempo nada mudou. Os faróis do veículo jogavam luz no caminho pedregoso e novamente me admirei com a velocidade em que estávamos. E então o horizonte começou a clarear. A princípio era só uma luz trêmula no firmamento que depois foi ganhando a companhia de muitas outras, formando uma imensa nuvem luminosa que se estendia no céu.

– O que- comecei.

– São as luzes de Tulle. – interrompeu Zahra, levantando os olhos do caminho para poder observar também - podem ser vistas a quilômetros de distância.
Iria abrir a boca para fazer um comentário quando as luzes começaram a assumir diferentes cores, como fogos de artifício permanentes. As cores rasgavam o céu, brilhantes como estrelas.

– É lindo. – comentei, enquanto Edda parecia fazer observação semelhante na parte de trás. Zahra assentiu.

– Vai ficar ainda mais forte.
E era verdade. A cada quilômetro que nos aproximávamos as luzes ganhavam maior intensidade até que finalmente pudemos ver os contornos altos e delgados de Tulle. Era uma cidade imensa e inúmeros prédios se erguiam em direção ao céu, altos de uma maneira que não me arriscaria a chutar quantos andares tinham. Entramos em uma via expressa com cinco faixas e admirei Zahra por conseguir dirigir num trânsito tão complicado. Tulle era um show pirotécnico e duvidava que o dia fosse mais claro naquela cidade. As vias eram iluminadas por postes imensos que se erguiam em cada lado e serpenteavam pela cidade, cortadas por viadutos enormes, cruzamentos de muitas faixas, se erguendo em vários metros em determinado ponto para mergulharem em um túnel logo em seguida. Passamos por um outdoor que mostrava um anúncio de produtos de beleza em luzes neon fixado acima da estrada, a atriz parecia estar lavando os cabelos com ouro líquido e quando passamos por ele parte do shampoo parecia respingar na estrada, encolhi a cabeça automaticamente e esperei que ninguém tivesse visto. Muitas telas de TV extravagantes estavam presas nos prédios mostrando propagandas, anúncios de determinado show que aconteceria em breve e programas de meteorologia. Parecia que teríamos uma noite seca e agradável. Passamos por muitas vitrines em que os modelos de roupa de tempo em tempo mudavam de posição e sorriam ou acenavam para as pessoas que passavam. A quantidade de lojas que nos cercavam indicava que deveríamos estar no centro da cidade e mesmo que a imagem projetada de um imenso relógio em uma das construções indicava que eram oito horas da noite, o número de pessoas que andava pelas ruas era muito pequeno. Já era a quarta vez que contava um grupo com uniformes azuis escuros e uma sigla bordada no ombro esquerdo patrulhando as calçadas. Cada membro possuía um sabre como o de Rhes pendurado na cintura, muitas vezes acompanhado por uma arma de fogo. As pessoas passavam por eles abaixando a cabeça e apressando o passo, ansiosas em sair do caminho. Não precisei do comentário pouco amigável de Erwan para saber que se tratava de robôs subornados ao novo governo. A cidade parecia os pais de uma criança travessa, forçando um sorriso e tentando parecer normal enquanto torcia para que as visitas não descobrissem a parede rabiscada com lápis de cor.

Zahra nos guiou por ruas paralelas que iam se tornando mais estreitas à medida que nos afastávamos do maior movimento. Os grandes prédios davam lugar a construções mais baixas e galpões, a luz diminuindo até que os faróis do veículo só eram auxiliados por postes cujas lâmpadas tremeluziam ou estavam funcionando parcialmente. Diminuímos a velocidade até pararmos e Erwan assentiu com a cabeça para mim. Sai da cabine para observar o galpão que se erguia a nossa frente, era consideravelmente menor que os restantes que nos cercavam e não vi nenhuma janela. A porta de trás abria-se para a viela que terminava em um beco sem saída que Zahra usara como estacionamento, ela saiu da cabine e jogou casacos em nossa direção.

– O que – comecei, tirando o meu da cabeça.

– São trajes de espiões, o que esperava?- Edda me deu uma cotovelada e piscou. A encarei com os olhos arregalados.

– O frio, Deidre, o frio. – murmurou Danton, que já estava com o seu fechado até o queixo. E só então me dei conta de como o ar gelado entranhava em minha pele, vesti o casaco que era duas vezes o meu tamanho e acotovelei Edda de volta.

– O que fazemos agora?- perguntei subitamente animada.

– Falar mais baixo seria um bom começo. –retrucou Zahra – Apenas não atrapalhe.
Todos sabiam exatamente o que fazer. Zahra baixou a traseira da pseudocaminhonete e os meninos começaram a retirar os equipamentos que tínhamos trazido, pareciam apenas discos grandes de metal, mas quando Erwan tocou algo em sua lateral repentinamente começaram a ganhar altura, transformando-se em grandes cilindros de metal. Acompanhei Edda até a porta do galpão, a garota tirou um velho grampo de cabelo das calças e o inseriu na fechadura.

– Sabe, nos revezamos. Cada semana saem três grupos para buscar mantimentos e um para procurar novos alvos. Não podemos repetir o mesmo galpão ou armazém duas vezes, para não levantar muitas suspeitas e precisamos achar aqueles em que a segurança é muito baixa. – sussurrou, girando o grampo – Claro que às vezes temos problemas, mas você precisa ver como alguns galpões daqui são bem guardados, é praticamente impossível chegar perto.

– Por que todos esses galpões?

– Esta parte da cidade chama-se Privas, o bairro de armazenamento. A alguns quilômetros fica o aeroporto e todos esses galpões aqui tem mercadorias que vão ser transportadas para outras cidades e países. Por isso é preciso vir todas as semanas para colher as informações, é raro que os mantimentos fiquem estocados por mais tempo que isso. Ah, como gosto dessas fechaduras antigas. – acrescentou quando ouvimos um sonoro clique.

O restante foi relativamente fácil. Arrombamos algumas caixas e transferimos seu conteúdo para os cilindros de metal, o mais rápido e silenciosamente possível. A maioria continha mais e mais enlatados pouco saborosos, mas eu e Edda contemos um grito de felicidade ao abrir uma recheada de biscoitos e outros doces. Sempre que um cilindro estava cheio, acionávamos um botão que automaticamente o fechava e Erwan comentou que eles manteriam os alimentos bem conservados. A pior parte foi recolocá-los no veículo e depois de meia hora de trabalho pesado e alguns xingamentos de Zahra por quase ser atingida por um cilindro que se soltara dos demais finalmente estávamos prontos.

– Bem, isso correu melhor que o esperado. – concluiu Erwan, observando os dezesseis cilindros estocados na traseira do veículo. Danton pediu para ocupar o meu lugar na cabine e com um aceno de cabeça indicou Edda. Assenti, sem esconder o riso.
Durante todo o percurso Edda tagarelou sobre os mais diversos assuntos. Apenas sorria e assentia a cabeça em resposta, pensando em culpar o vento pela minha falta de atenção. Aparentemente ninguém achava estranho um veículo carregado com crianças na traseira, o que me causou um imenso alívio. As pessoas estavam ocupadas demais em chegar em casa o mais rápido possível e os robôs não pareciam notar a nossa presença, talvez crianças não figurassem em sua lista de potenciais rebeldes.

– Para onde estamos indo?- perguntei para Edda, tentando soar mais alto que ela e o vento. Tive que repetir a pergunta para que ela entendesse.

– Limoges! – respondeu contra o vento e vendo minha expressão confusa acrescentou – Você vai perceber quando chegarmos perto.
A paisagem mudou novamente. Pela primeira vez pude ver um pouco de verde entre o cimento. Os prédios começavam a ter pequenas áreas verdes em seus balcões, pude jurar ter visto uma árvore na cobertura de uma construção.

– São jardins residenciais Deidre, os ricos são os únicos que os tem por aqui. – comentou Edda enquanto passávamos por vários prédios que tinham suas varandas e balcões cobertos por grama, canteiros de flores e pequenos arbustos floridos. Era uma vista muito bonita no meio da noite. Depois os prédios deram lugares a mansões rodeadas por campos e árvores, uma delas tinha até um lago adornado de pequeninos pontos de luz que apareciam e desapareciam diante dos nossos olhos, vagalumes. As calçadas eram de um branco leitoso que brilhavam contra a luz da lua e até o vento parecia mais leve e puro, as casas eram rodeadas de muros baixos e cercas, que nada escondiam. Imaginei o que Adele acharia daqueles belos jardins.

– Imagino que não viemos passear pelo bairro nobre. – disse para Edda e ela assentiu.

– Viemos por ela. – falou, indicando uma enorme caixa d’água que se erguia contra o céu a alguns quarteirões. Tulle era recheada por cilindros imensos como aquele, feitos de metal e posicionados a muitos metros de altura. Por se situar em meio ao deserto todo o suprimento de água era proveniente do subsolo e imensas galerias foram construídas a muitos metros de profundidade para captá-la e distribuí-la pela cidade. Ainda assim o suprimento era escasso e periodicamente eram feitas manutenções nas galerias para ampliá-las e durante esse tempo os habitantes eram abastecidos pelas gigantescas caixas.

– Por que especificamente esta?- a idéia de roubar água em um bairro nobre não me agradava. Edda deu de ombros.

– Erwan e seu idealismo. Ele acha que não seria justo retirá-la de outro lugar. Não que vá fazer cócegas. – acrescentou, quando chegamos mais próximo. Levantei o pescoço ao máximo e a única coisa que pude ver era a base da caixa d’água, um imenso círculo a mais de cem metros de altura. Toda a estrutura ultrapassava facilmente e altura de todos os prédios que havia visto naquela noite e só de imaginar a vista de cima tive vertigem. Quando paramos saltei do veículo ainda com a cabeça rodando.

– Não vamos precisar subir, não é? – perguntei, temendo a resposta. Erwan me olhou como se fosse suicida.

– Subir? Claro que não. – e com a ajuda de Zahra retirou uma espécie de mangueira do meio dos cilindros. Eles a fixaram em uma entrada abaixo da lataria do veículo e repousaram a outra extremidade no chão.

– Agora procuramos o ponto onde podemos ligá-la. – falaram na minha direção.

– E onde este ponto fica? – Zahra abriu os braços indicando todo o raio em volta da caixa d’água e deu de ombros. Edda estava agachada a poucos metros de distância vasculhando a grama.

– Achei. – anunciou triunfante. Aproximamos-nos e o que Edda indicava consistia em uma placa de cimento que quando retirada com algum esforço revelou um ponto de ligação usado provavelmente em casos de manutenção da caixa d’água, além de uma pequena manopla.

– E vocês têm certeza que se ligarmos a mangueira a água vai sair? – perguntei. Assentiram em resposta e Danton foi buscar a mangueira, pensei por um momento que precisaríamos de um adaptador, porém a extremidade da mangueira encaixou-se perfeitamente. Zahra girou a manopla e então esperamos.

– E agora vamos simplesmente encher o veículo com água? – minha voz cortou o silêncio.

– Fizemos algumas mudanças na lataria, por dentro ela é toda revestida para armazenar a maior quantidade de água possível. – respondeu Danton – Assim poupamos espaço para os cilindros.

– E ainda assim ele funciona? Genial.

– Perdemos um pouco de velocidade, nada demais. – retrucou orgulhoso.
Enquanto esperávamos até que o carro estivesse cheio, me afastei um pouco para explorar as redondezas. A caixa d’água ficava a poucos metros da calçada alva e do outro lado da rua se erguia uma mansão rodeada por uma cerca viva. Tive curiosidade em saber como seria viver em um lugar tão grande assim, rodeado por jardins enormes e afastado de qualquer perigo. Talvez não tão afastado agora, toda a rua estava deserta e as luzes dentro das casas estavam acesas, de alguma forma aquelas pessoas não pareciam mais confiantes que as que tínhamos visto no centro da cidade mais cedo. Para os robôs elas não passavam de humanos afinal, não importando se tivessem uma mansão ou uma casa no subúrbio. Sua poupança não os salvaria agora, pensei com amargura. Ouvi os passos tarde demais.

Ergui a cabeça na direção do barulho e minha barriga pareceu dar uma reviravolta. Os postes iluminavam a figura que se aproximava, mas pelo porte e de como andava já sabia do que se tratava. Não aqui, não agora, por favor. Mas o robô patrulhava com toda calma, não parecendo notar que poucos metros de distância meu coração batia acusadoramente. Olhei para os outros, tentando avisá-los de alguma forma. Zahra estava no lugar do motorista com os braços cruzados, observando os medidores no painel modificado com pouco interesse. Edda e Danton estavam a alguns metros de distância, prontos para remover a mangueira do ponto de ligação da caixa d’água. Erwan foi o único que notou. Estava encostado na lateral do veículo onde a mangueira se ligava na lataria e quando captou meu olhar imediatamente se endireitou. Olhou de mim para o robô que ainda não nos percebera e se aproximou da janela de Zahra, à medida que falava a postura da menina mudou, seus olhos me encararam e depois olhou para Edda e Danton desavisados vários metros atrás do veículo. Suor brotava da minha testa apesar do frio. Estava a pelo menos vinte e cinco metros dos outros, mais do que o suficiente para um robô me alcançar sem grande esforço. Quando me virei em sua direção novamente sabia que tudo tinha dado errado. O robô tinha parado e estava se comunicando com alguém por um pequeno dispositivo, me encarava durante todo o tempo e quando colocou o dispositivo de lado seus olhos brilhavam num tom verde fosforescente. Não fiquei para admirá-los.

Corri o mais rápido que pude em direção ao veículo enquanto via Zahra dar ré violentamente. A princípio achei que tinha atropelado Edda e Danton, mas segundos depois eles surgiram, escalando a traseira do veículo. Atrás de mim o barulho característico dos amortecedores nas pernas do robô entrando em ação enquanto corria fez-se ouvir. Corri ao longo da calçada, esperando que Zahra entendesse o que pensava em fazer. O veículo avançou na minha direção, entrando na rua e pareou comigo quando os passos pesados do robô estavam em meus calcanhares. Danton e Edda estenderam as mãos na minha direção e reunindo todas as forças que me restavam pulei ao seu encontro. Os dois agarraram os meus braços e meu corpo bateu com força contra a lataria do veículo com o impacto, quando olhei para trás pude ver que o robô não desistira, ainda corria alguns metros atrás de nós sem diminuir o ritmo. Com esforço Danton e Edda me puxaram para dentro da caçamba rasa.

– Tudo bem? - perguntou Edda sobre o meu corpo deitado, buscando fôlego. Só consegui balançar a cabeça enquanto tentava respirar normalmente.

– Ela está bem! - gritou Danton para que Erwan e Zahra ouvissem. Depois também se agachou ao meu lado.

– Desculpem, acho que estraguei tudo. – murmurei. Os dois negaram efusivamente.

– Não, não. – falou Danton – Você nos avisou Deidre, ele nos pegaria se você não estivesse lá.

– E tudo vai ficar bem. – afirmou Edda encostando a mão na minha – Nós vamos pra casa agora.
Não íamos. No próximo cruzamento em que passamos mais dois robôs se juntaram ao nosso perseguidor. Os três se mostravam incansáveis.

– Como eles podem correr tão rápido? – falou Danton – Nós só pegamos um pouco de água, estão ouvindo? UM POUCO DE ÁGUA!
Os robôs não pareceram nem um pouco abalados, se Zahra não conseguisse despistá-los de alguma maneira logo teríamos problemas de verdade. Edda ainda segurava minha mão quando um deles saltou sobre o veículo. A reação de Zahra foi mais rápida que pudemos pensar. Com um solavanco, girou o veículo numa curva fechada, tão fechada que o robô foi lançado para longe, junto com alguns cilindros. Estava pronta para comemorar quando não senti mais o aperto da mão de Edda contra a minha.

– Edda?! – gritei, me erguendo e tentando segurar na lateral do veículo. Minha voz era um tom quebrado de desespero – EDDA!
Finalmente a vi. Um trapo de roupas quicando contra a rua metros atrás de nós, a cena parecia em câmera lenta, seu corpo batendo contra o cimento duro até parar. Automaticamente dei um passo para frente, mas Danton me segurou, seu corpo tremia.

– Zahra – chamou – ZAHRA, ELA CAIU! PARE O CARRO, PARE A DROGA DO CARRO!
A resposta veio imediatamente. Com um impacto que nos fez cair no chão, Zahra parou o veículo. Enquanto nos levantávamos ela passou por nós, olhando para a figura de Edda caída mais de um quilômetro de distância e os dois robôs que restavam vindo em sua direção.

– Peguem o carro e saiam daqui, agora. – falou sem nos encarar e pude ver que uma lágrima descia pelo seu rosto. Correu em direção a Edda, seu bastão aparecendo em suas mãos segundos depois. Antes que pudesse dizer alguma coisa Erwan passou por nós e se juntou a ela. Danton os viu partindo e se levantou.

– Vamos. – disse pulando da parte traseira do veículo e abrindo a porta da cabine.

– Vamos? - perguntei, seguindo-o - Vamos para onde? Nossos amigos estão lá!
Danton deu de ombros e ocupou o lugar de Zahra.

– Você ouviu o que Zahra falou.

– E quem se importa com o que Zahra fala? Você que sabe tanto sobre robôs me diga Danton, me diga! O que eles vão fazer com Edda e os outros?
Danton encostou a cabeça no volante e ficou em silêncio.

– Diga! – gritei.

– Não vão pegá-los e simplesmente trancá-los em algum lugar, se é o que você quer saber – disse sombrio – Não sei por que estão tão agressivos, não fizemos nada que justificasse essa reação.

– Então vamos ajudá-los. – conclui – Quão bom você é na direção?
Danton me encarou e seus olhos de repente despertaram, ele sorriu.

– Bem o suficiente para atropelar algumas latas.

– Ótimo, agora vamos. – falei, fechando a porta da cabine e escalando a lateral da caçamba – Apenas se assegure de atropelar um deles e vou pensar em alguma coisa.

– Este é o meu medo. – respondeu Danton, dando ré numa velocidade imensa e acelerando em direção das figuras à nossa frente.
Enquanto nos aproximávamos tentava desesperadamente pensar em alguma coisa. Erwan e Zahra estavam duelando com os dois robôs, Edda estava caída a poucos metros de distância, sem se mexer. Erwan quando viu que nos aproximávamos chutou um dos robôs com toda força afastando-o de perto deles e o colocando no nosso caminho. Danton passou por cima dele sem piedade, quebrando seu corpo em dois. Deu a volta e iria investir contra o último robô que permanecia em pé, quando este parecia se dar conta do que se seguiria e investiu contra Zahra.

– Danton, Danton, não! – gritei, mas ele já diminuía a velocidade - Passe por eles, passe e espere por mim.
Quando Danton acelerou em direção ao grupo e no último momento desviou para o lado gritei para Erwan que tirasse Edda de perto e o garoto correu para segurá-la como uma figura de vidro delicada enquanto Zahra ainda bloqueava os ataques do robô. Seus olhos flamejavam e o robô estava com o braço esquerdo inutilizado, mas ainda se sustentava. Desci a traseira da caçamba e empurrei um cilindro contra a rua. Ele tombou, mas ainda era muito pesado para que conseguisse empurrá-lo e se passássemos do ponto correria o risco de acertar Zahra. Sentei e usei as pernas para empurrar, o cilindro começava vagarosamente a s mexer.

– Mexa-se, seu monte de metal maldito! - praguejei entre os dentes, as pernas ardendo de tanto forçar. Finalmente não senti mais resistência e minhas pernas chutaram o ar. Endireitei-me para ver se tinha dado certo e pude ver um robô despedaçado, uma Zahra estarrecida e inúmeros biscoitos e doces espalhados pelo chão, fiz uma careta de desagrado e chamei Danton pare que desse meia-volta.

Segundos depois estávamos ajoelhados ao redor de Edda. A garota estava com o braço anormalmente torcido para um lado, várias feridas se distribuíam pelo seu rosto e sangue empapava seu cabelo loiro.

– O que vamos fazer? - perguntei com a voz embargada. Danton não parecia ser capaz de responder, apenas acariciava o braço de Edda de leve. Virei meu rosto para Erwan e Zahra. –Vocês estão bem?

– Estaria melhor se você não tivesse jogado um cilindro de metal contra mim! – gritou Zahra – Você sabe como essa passou perto?

– Do que você está falando? Você está aqui, não está? E o robô está lá!- respondi, indicando o monte de metal retorcido a alguns metros de distância.

– E se tivesse atingido me atingido ou a Erwan?! E se tivesse atingido Edda, Deidre? O que a grande heroína teria feito?

– Mas não atingiu, Zahra. Pare. – respondeu Erwan olhando para Edda, ainda a segurava em seus braços - Devemos a nossa vida a Deidre esta noite, Edda precisa de nós agora.

– Precisamos levá-la para um médico, um hospital. – balbuciei, tentando encontrar uma confirmação em seus olhos.

– Edda precisa de um médico, vamos levá-la. – anunciou Erwan, contando com a ajuda de Danton para levantá-la.

– Mas na nossa situação... – começou Zahra.

– Vamos levá-la – repetiu Erwan decidido.
Quando estávamos a poucos metros de alcançar o veículo um som metálico nos fez parar. O robô que Zahra havia jogado contra a parede ainda estava andando e a cada passo que se aproximava com seus movimentos danificados ia puxando sua arma presa a cintura e tentava, vacilante, ter uma mira boa o suficiente para atirar. Antes que o fizesse mergulhei em direção aos destroços de seu companheiro em meio aos doces e depois de segurar três diferentes pacotes de cookies encontrei o que procurava. Disparei três vezes e acertei duas, o robô ainda ensaiou um passo antes de cair no chão, seus olhos verdes agora desligados. Os outros me encaravam com os olhos arregalados, mas simplesmente avancei para ficar ao lado de Edda em silêncio e nenhum deles comentou algo a respeito.


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Notas finais do capítulo

Um pouco de ação para vossas senhorias. Obrigada por ler.

— Lud



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