Pokémon: Ano Sombrio escrita por Linkusu


Capítulo 3
Capítulo 3: Batalha entre quatro paredes.


Notas iniciais do capítulo

NOTAS DE TRADUÇÃO:
Nome traduzido Ataque origina

Mordida Bite
Bomba de Lodo Sludge Bomb
Chifrada Horn Attack
Investida Tackle
Giga Impacto Giga Impact
Nocautear Take Down



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                Antes de fazer minha escolha, eu dei uma rápida analisada no campo de batalha. Ele era pequeno e baixo, sendo assim, Ruffly teria muito pouco espaço para executar manobras aéreas e não poderia tomar vantagem de seu tipo voador. Nesse caso, minha melhor escolha seria...

-Pup, hora do show! – Eu sabia que era uma escolha arriscada, mas estava contando com a sorte de que esse Nidorino não tivesse nenhum golpe do tipo Lutador.

Quando Pup saiu da Pokébola, tudo que pude ouvir foram algumas exclamações de surpresa. Isso já era de se esperar, afinal de contas Lillipup não é um Pokémon nativo de Kanto, então essa deve ter sido a primeira vez que todos ali viam um pessoalmente.

-É verdade, se você veio de Unova, seus Pokémons são de Unova! – Angelo compartilhou conosco sua brilhante conclusão. Uau. – Cara, eu já tinha até me esquecido! Ver um Lillipup me pegou de surpresa!

-Ô imbecil, é pra você servir de juiz pra batalha, e não ficar admirando os Pokémons! – falava novamente alguém da plateia.

-Ah cara, qual é! É a primeira vez que eu faço isso, pega leve e deixa eu me preparar! Caham, bom, então essa será uma batalha entre o Lillipup de Neil contra o Nidorino de Bruce! Os dois estão preparados? – Angelo olhou para nós dois e não levantamos nenhuma objeção.  – Então, que comece a batalha!

Quando Angelo proferiu aquelas palavras, Pup começou a rosnar bravamente, sem temer seu adversário. Ao fazer isso, algo me chamou a atenção: o Nidorino de Bruce não parecia responder com confiança. Na verdade, ele olhava ao seu redor e não fazia nenhum barulho, como se estivesse tímido. Tímido...? Eu estudei a 2 anos atrás que a personalidade de um Pokémon afeta sua performance nas batalhas. Se eu não estiver enganado, Pokémons tímidos são mais rápidos do que o normal. Sempre me falaram para prestar atenção nesse detalhe quando fosse capturar um Pokémon. Nesse caso, eu precisava me certificar se aquele Nidorino tinha realmente uma natureza tímida ou não. Aproveitei-me do fato de Bruce não ter dado nenhum comando e decidi fazer o primeiro movimento na batalha.

-Pup, use o ataque Mordida.

Pup disparou na direção do Nidorino ao ouvir minha ordem e deu um salto para frente, pronto para acertar seu oponente, quando Bruce finalmente fez seu primeiro movimento.

-Nidorino, Bomba de Lama.

Sem um segundo de hesitação sequer, o Nidorino de Bruce lançou uma bola roxa de sua boca, acertando Pup em cheio e o arremessando de volta para o outro lado do campo. Porém, devido a sua inabalável determinação, Pup rapidamente se recompôs do ataque e avançou o mais rápido que pôde em direção ao seu inimigo. O Nidorino, porém, apenas olhou fixamente na direção de Pup, sem esboçar nenhum tipo de preocupação, e quando este estava prestes a executar o ataque Mordida, Nidorino deslizou suavemente para o lado, fazendo com que o golpe de Pup acertasse o ar. Enquanto eu estava brincando com golpes básicos como Mordida, aquele Nidorino sabia a Bomba de Lama?! Nossa diferença de níveis ficou mais do que óbvia a partir daquele momento, mas eu não podia recuar agora.

-Não desista ainda, Pup. Prossiga com uma sequencia de Investidas.

Pup girou para a direção em que Nidorino havia desviado, e deu um grande impulso para frente com seu corpo, cujo qual o Nidorino desviou sem muito esforço dando um pulo por cima. Pup continuou sem hesitar com as investidas como eu havia ordenado, mas era inútil: aquele tímido Nidorino que havia começado a batalha sem nenhum tipo de confiança, agora estava com um determinado olhar em seu rosto. Pup atacava e ele desviava, numa dança feroz onde claramente era Nidorino quem estava ditando o ritmo. Bruce apenas observava calmamente.

-Então, esse é o limite de suas habilidades... – Bruce falou num tom baixo e tranquilo. Estaria ele apenas me testando naquele tempo todo? – Nidorino, Chifrada.

Aproveitando os ataques incessantes de Pup, Nidorino posicionou seu chifre na frente de uma das investidas, acertando seu adversário em cheio e mandando-o para cima. Ele havia usado a força das investidas de Pup para fortalecer sua Chifrada, contra-atacando meu Pokémon sem sofrer dano. Foi um ataque crítico executado de maneira perfeita. Pup foi arremessado de volta para meu lado do campo, levantando-se com muita dificuldade e cambaleando enquanto tentava se manter consciente.

-Acabou... – Bruce falou sem muita empolgação. – O resultado dessa batalha já é óbvio.

A plateia estava em completo silêncio. Eles olhavam fixamente para mim, esperando minha decisão. Estariam eles desapontados com meu desempenho, ou espantados com as habilidades daquele cara? No meu caso, era com certeza a segunda opção. A atmosfera era pesada, meu coração estava acelerado, meu sangue pulsava fervendo em minhas veias. A única vez em que me senti tão encurralado assim foi quando tive uma batalha contra meu pai quando eu era menor. Por mais que eu não quisesse admitir, era como Bruce havia dito: o vencedor dessa batalha estava mais do que óbvio. Mesmo que eu quisesse continuar, seria inútil prosseguir com a batalha. Quando eu me preparava para levantar minha mão e desistir, Pup olhou para mim, soltando um alto rugido.

-Pup... Você...

Eu apenas olhei para seus olhos e entendi sua mensagem. O desejo dele era o mesmo que o meu. Ele queria continuar batalhando. Por mais que Pup soubesse que não teria chances de vitória, ali estava ele implorando para que eu lhe desse uma segunda chance. Seus olhos ferviam com uma incessante vontade de vencer, fogo esse que acendeu minha alma e renovou minha força de vontade. Se Pup estava disposto a ganhar, então eu também estava!

-Não pronuncie o fim de uma batalha quando seu adversário ainda está de pé. Isso foi apenas o aquecimento. – eu disse confiantemente ao meu adversário.

A plateia começou a gritar de empolgação. Alguns gritavam em coro o meu nome, enquanto outros gritavam sua torcida e suporte para Bruce. Ele apenas olhou fixamente para os meus olhos e proferiu palavras banhadas em raiva.

-Você vai continuar? Com um Pokémon nesse estado?

-Eu apenas estou satisfazendo a vontade de Pup. Ou melhor, a nossa vontade.

-Ridículo. Você é o treinador, seu Pokémon não deve decidir nada por você. É o SEU dever saber quando é a hora de parar. – Ele olhava para mim, como se me pedisse para retornar meu Pokémon.

Aquelas palavras apagaram a chama em minha alma como um balde de agua fria. Eu sabia que o que ele falava fazia sentido. De repente eu já não estava mais tão motivado quanto antes. Ele havia plantado a semente da dúvida em mim, mas eu, em minha teimosia, insisti no meu ponto de vista.

-Exatamente, sou eu quem decide quando é a hora de parar. E é por isso mesmo que eu decido que essa batalha ainda não acabou. - Pup deu um sorriso de determinação. Isso era tudo que ele precisava ouvir. Bruce, por outro lado, me olhou com um pouco de desprezo e um ar de superioridade. Ele já não me via mais como um adversário, e sim como uma mera inconveniência.

-Tão infantil... – Agora ele falava sem sequer olhar em meus olhos. – Pessoas como você não deveriam se envolver em batalhas Pokémon.

-Calado, eu não preciso ficar ouvindo sermões de alguém que nem ao menos nos conhece. Pare de agir como se você soubesse alguma coisa.

-Pelo visto ter um líder de ginásio como pai deve deixar seu ego muito inflado... Humf.

-Quer tirar a prova? Eu não preciso de um pai líder de ginásio para passar por cima de você.

-Essas palavras seriam mais convincentes se você tivesse a força necessária para dar algum sentido a elas. – Ele falava com tanta indiferença que nem parecia que estava sendo provocado.

Eu já estava perdendo a paciência com esse cara, mas eu tinha que me acalmar. Precisava pensar numa maneira de ataca-lo. De algo aquele primeiro embate entre Pup e Nidorino havia servido: para provar minhas suspeitas. A velocidade com a qual aquele Nidorino se movimentava não era normal, sem dúvidas a natureza dele era tímida. Eu poderia tomar vantagem disso levando golpes diretos e contra-atacando em seguida, já que Pokémons tímidos costumam ter ataques físicos mais fracos do que o normal, mas o problema é que ele havia usado a Bomba de Lama, um golpe especial, o que significava que ele poderia acabar facilmente com a batalha usando apenas golpes especiais. Eu também não tinha como tirar vantagem do campo de batalha pois se eu quebrasse algo, estaria causando prejuízo ao colégio e me metendo numa enrascada.

-É matar ou morrer, não tenho outra escolha. – eu sussurrei para mim mesmo. – Pup, Giga Impacto!

Pup começou a deslizar sua pata frontal esquerda no chão, como se estivesse se aquecendo. Um ofuscante brilho branco tomou conta de seu corpo enquanto ele corria cada vez mais rápido na direção de seu oponente. Era o Giga Impacto, o golpe mais forte que Pup conhecia, tendo sido ensinado pelo meu pai antes do mesmo ir embora para Kanto. Bruce apenas olhou sem se sentir intimidado, estendeu seu braço e falou:

-Está na hora de ensinar a você que não existem golpes fortes o suficiente para contornar uma grande diferença de níveis. Nidorino, Chifrada.

Enquanto Pup corria em alta velocidade com um grande brilho branco contornando-o, Nidorino corria mais velozmente ainda, sem medo, indo diretamente de encontro ao Giga Impacto. Por um momento, tudo pareceu parar. Uma solitária gota fria de suor percorria o meu rosto cheio de ansiedade e nervosismo. Os dois Pokémon estavam prestes a se colidir. Seria uma simples Chifrada forte o suficiente para parar o Giga Impacto? Não, não podia ser, seria impossível. Porém, quando os dois Pokémon se colidiram, Pup parecia estar em desvantagem. Ele continuava insistindo no ataque com toda sua força, mas Nidorino não recuava. Após um violento embate entre os golpes, o impacto finalmente separou os dois, arremessando eles para lados opostos.

O Nidorino de Bruce foi arrastado para trás, mas conseguiu se manter de pé. Balançando sua cabeça para retirar a poeira, ele rapidamente voltou ao normal. O Giga Impacto havia causado um dano baixíssimo nele, era como se nada tivesse acontecido. Eu arregalei meus olhos em espanto. Meu ataque mais poderoso não havia sequer abalado ele. Pup, entretanto, estava caído no meu lado do campo, ofegante e sem nenhuma força restante. Seu corpo estava coberto por machucados. E mesmo assim, ele conseguiu levantar-se mais uma vez. Mesmo com todas as energias de seu corpo drenadas, ele ainda conseguia lutar com sua força de vontade apenas.

-Pup... – Eu olhei para baixo e fechei meus olhos. – Acabou...

                Não havia mais nada que eu pudesse fazer. Pup precisaria esperar algum tempo até que sua força voltasse depois daquele Giga Ipacto. Mais um ataque de Nidorino e aquela batalha estaria acabada. Porém, o tempo se passou, e Bruce não ordenou nenhum ataque. Curioso, eu abri meus olhos novamente. Porque ele não acabava logo com aquela batalha?

                -Recue seu Pokémon. – ele me ordenava, com os braços cruzados. – Eu não irei finalizar essa batalha até você fazer a escolha correta. Termine isto. Engula seu orgulho e desista de uma vez.

Grande parte da plateia ficou em silêncio, enquanto outra parte começava a cochichar. “Ei, isso não está começando a ficar um pouco sério demais?”, uma das alunas falou baixinho. Algo que havia começado como uma simples partida amistosa havia se tornado uma rixa pessoal entre dois treinadores. Um conflito de ideologias.

Eu olhei para Pup mais uma vez, e ele rugia com determinação para Bruce. Ele queria provar que ainda não estava acabado. Queria provar que era um Pokémon tão forte quanto o Nidorino. Suas energias já haviam voltado, e ele desejava prosseguir com a batalha.

                -Então, tudo bem, eu irei finalizar essa batalha. – Eu falei num tom de ironia. – Pup, Nocautear!

                -Tsk! Então eu irei lhe ensinar da maneira difícil o que acontece com treinadores irresponsáveis como você.

                Nocautear era o segundo golpe mais forte de Pup. Eu não podia arriscar outro Giga Impacto. Porém, o Nocautear também causava danos colaterais no Pup. Mas na hora, eu estava com tanta adrenalina na cabeça que não consegui me lembrar disso. Nidorino desviou impecavelmente, fazendo Pup bater no chão e tomar todo o dano. Logo em seguida, Nidorino deu mais uma chifrada em Pup, jogando-o longe. Bruce nem ao menos abria a boca. Nidorino poderia acabar com aquilo usando o mesmo golpe várias vezes seguidas, enquanto Bruce apenas assistia sem lhe dar nenhum comando. Aquilo já não era mais uma batalha, era uma completa humilhação.

                Pup se levantou uma ultima vez, mas seus olhos eram de um Pokémon praticamente inconsciente. Sangue escorria de seus ferimentos, deixando sua pelagem vermelha. As pessoas na plateia observavam horrorizadas. “Que tipo de treinador irresponsável é ele?!”, alguns falavam. Mas eu estava tão absorvido na batalha que tudo que eu queria era provar a Bruce que ele estava errado. Porém, quando eu estava prestes a dar meu ultimo comando, a porta da sala se abriu e um homem entrou nela.

                -Ô seus selvagens! Não dá nem pra deixar vocês sozinhos por uns minutos que vocês já começam a fazer delinquências! – era um dos professores, o responsável pela nossa primeira aula, professor Phillip, carinhosamente chamado de “tio Phil”.

                -Ops! O tio Phil chegou! Er... Bom, nesse caso, como nenhum dos dois Pokémon está caído, eu declaro essa luta oficialmente um empate! – Angelo falava com pressa, enquanto os outros alunos começavam a arrumar a sala, colocando as cadeiras de volta em seus respectivos lugares.

                -Pup, retornar. Você foi ótimo, amigo. - eu falei enquanto retornava Pup para a pokébola dele. Bruce fazia o mesmo com Nidorino.

                -Eu tenho que concordar, ele foi ótimo de fato. – Bruce confirmou enquanto se aproximava de mim. – Você, por outro lado, foi uma completa desgraça.

                -Como é que é!? – eu respondia com raiva.

                -Se seu Lillipup continuasse batalhando por mais tempo ele poderia ter se ferido gravemente, seu babaca. – ele disse com uma nítida raiva em seus olhos. – Deixe-me lhe dizer uma coisa: mesmo se o professor não tivesse chegado agora, eu teria retornado meu Nidorino de qualquer forma. – Eu estava com medo de perguntar o motivo, mas a curiosidade foi maior.

                -Porque?

                -Porque caso seu Lillipup continuasse lutando por mais tempo, ele iria morrer. – aquelas palavras causaram um frio na minha espinha. Eu comecei a me sentir mal. – Eu não o culpo, ele se mostrou um ótimo Pokémon. Nas mãos certas, ele seria formidável. Leal como um amigo deve ser ele continuou de pé, lutando até o final pelo seu treinador... Um treinador infantil e indigno da amizade de um Pokémon tão honrável. Você não entende, seu idiota? O motivo pelo qual ele quis continuar mesmo quando claramente não tinha mais energias para isso, foi para não decepcionar você!

                Eu não conseguia responder. Eu abria a minha boca e tentava falar, mas nenhuma palavra saia. Dentro de mim, crescia um sentimento de culpa. Pup... Então foi por isso que você lutou tão determinado? Por mim? Poderia eu ter interpretado de forma errada suas ações?

                -Mas como um garoto mimado que não aceita a derrota, você continuou sem nem ao menos analisar o que seria realmente melhor para seu Pokémon. Saber quando parar também é o dever de um treinador, e é por isso que você não passa de nada mais do que um amador. Que essa batalha tenha lhe servido de lição. – Ele se virou e começou a andar de volta ao seu lugar, mas antes de se sentar, ele olhou para trás e proferiu suas últimas palavras. – Está feliz com o seu “empate”? Humf. Da próxima vez, saiba escolher melhor seus adversários. Espero que esteja satisfeito com o que você fez hoje... Novato.

                Eu voltei ao meu lugar, completamente abalado. Derrotado. Humilhado. Aquele que havia começado como um dia agradável, havia se tornado um dos piores de minha vida. O professor começou a falar algumas coisas, mas eu não conseguia prestar atenção em nada. Estava me sentindo culpado demais para isso. Eu sou um estúpido...


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Notas finais do capítulo

Prévia do próximo capítulo:

“Quando chegamos na cena do crime, encontramos as 2 vítimas caídas no chão. [...]
A síndrome de Lavender... É uma história bem macabra passada de geração em geração pelos cidadãos de Lavender.[...] A sombria história que ronda o passado de Lavender Town...”

Capítulo 4: Síndrome de Lavender, parte 1.
Estréia: 13 de Agosto.



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