Pokémon: Ano Sombrio escrita por Linkusu


Capítulo 2
Capítulo 2: O primeiro dia.


Notas iniciais do capítulo

Aos que comentaram na minha fic, muito obrigado! Não se esqueçam de opinar sobre o que acharam do capítulo. Boa leitura.



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-Mary L. Vonruchi? – Esse nome ecoava na minha cabeça. Não tardou muito para que eu reconhecesse quem era. – Então, foi por isso que ele saiu de casa com tanta pressa e tão nervoso...

                Não havia dúvidas, era a atual esposa... Ou melhor, amante do meu pai. Devo admitir que a notícia me pegou desprevenido. Para mim, ela não passava de nada mais que uma desconhecida, uma pessoa sem face e sem nome que destruiu a minha família. Não havia motivo nenhum para eu me importar com ela, muito pelo contrário. Mesmo assim, eu não conseguia, e nem deveria, ficar feliz com aquela situação. Não acho que ela merecesse esse destino, mas também não estava triste pela morte dela, talvez surpreso fosse a palavra certa. De qualquer forma, eu me sentia um pouco mal pela Vivi. Quando ela soubesse da notícia, ficaria arrasada.

                Enquanto eu ainda me recuperava do impacto daquele noticiário, meu pai estava na cena do crime, junto com vários policiais e detetives que investigavam cada centímetro de evidência que o criminoso poderia ter deixado.

                -Eu vim aqui o mais rápido possível quando eu ouvi a notícia, James. Você tem minhas condolências... – Falava um senhor em torno de seus 50 anos com uma roupa bastante formal, um terno e gravata pretos para ser mais específico. Ele era o chefe da delegacia de polícia, senhor Edward Vaan Wolfgang. Seus cabelos eram brancos como a neve, tendo perdido sua cor original com o passar do tempo, mas eram lisos e bem tratados, relativamente longos, batendo na altura de seus ombros. Apesar da idade, não possuía muitas rugas no rosto, e andava sempre com uma bengala branca com adornos dourados, que tinha uma pokébola prateada de enfeite no topo.

                -Eu ainda não acredito nisso... Tudo isso... – Respondia meu pai com uma expressão deprimida e um copo cheio de café na mão. – Porque a Mary? O que ela fez para merecer morrer?! Maldição! – Ele cerrava seus punhos com toda força que tinha, possuído pela raiva da perda de sua amada.

                -Se você quiser, posso falar com os superiores da liga para lhe darem um período de folga. Você não deveria trabalhar por algum tempo...

                -Não, eu...

                -Eu insisto, James. Seu bem-estar deve ser a prioridade nesse momento. Mas você é quem sabe, não o forçarei a fazer alguma decisão que não queira.

                -Hum... – Ele abaixou a cabeça e ficou em silêncio. Ainda estava muito abalado e não conseguia pensar claramente. – Você tem razão, nesse estado eu não vou ser nada além de um peso morto no ginásio. Não estou em condições nem de falar direito, quanto mais oferecer um desafio digno aos treinadores...

                -Não se preocupe James. – Falava o chefe da delegacia enquanto colocava a mão nos ombros de meu pai e olhava com uma profunda tristeza para o cadáver de Mary. – Nós faremos o que for possível para achar o culpado. Até o fim dessa semana, esse bastardo vai estar atrás das grades, eu prometo. – Ele deu alguns passos e começou a falar com uma das oficiais Jenny que estavam no local.

                Depois de uma noite agitada, os rumores de um assassino em Lavender Town se espalharam como uma doença na manhã seguinte. Ninguém falava de outro assunto. “Será que ele já tem uma nova vítima!?”, “Com certeza deve ter sido a Vernildes, aquela bruxa! Ela sempre teve inveja da Mary!”, elas diziam. Faziam teorias de quem seria o culpado, enviavam denúncias anônimas e trotes à polícia, acompanhavam cada detalhe do caso. Era o novo espetáculo da cidade. Meu pai só voltou pra casa no dia seguinte ao assassinato, completamente arrasado. Vivi perguntou a ele o que havia acontecido, e ele tentou explicar da maneira mais sútil possível, dizendo: “mamãe agora está em um lugar melhor”. A garotinha, com lágrimas nos olhos, perguntava:

                -Então... A mamãe não vai voltar? – Meu pai hesitou em dar uma resposta enquanto olhava incessantemente para baixo. Não conseguia olha-la nos olhos. Vivi começou a chorar e correu para seu quarto.

E assim, a semana se passou sem que nenhum de nós três conversássemos muito sobre o assunto, ou sobre qualquer outra coisa. Não houve nenhum progresso na investigação ao contrário do que o chefe da delegacia havia prometido, mas o resultado não poderia ter sido diferente, afinal de contas, não havia muitas evidências do que tinha acontecido. Seja lá quem fosse o criminoso, com certeza era uma pessoa muito astuta, pois a polícia não tinha 1 suspeito sequer em sua lista.

Entretanto, eu estava mais preocupado com outras coisas. Em primeiro lugar, com o começo de minhas aulas. Em segundo lugar, no que eu faria quando aquele ano acabasse. Quando o despertador tocou naquela fatídica manhã de segunda-feira, eu sabia que estava na hora de me arrumar. Fiz minhas atividades diárias e me vesti o mais rápido possível. Quando fui para a sala, encontrei meu pai, que também estava preparado para sair. Por algum motivo, ele anda saindo bastante nos últimos três dias, e só volta de madrugada. Estranho...

-Ah, Neil... – Ele falou bem desanimado. – Bom dia. Suas aulas começam hoje, não é? Eu deixei um mapa com as orientações para você chegar sem problemas em sua escola, não deve demorar mais do que 20 minutos de caminhada... – Ele falava enquanto abria a porta, preparado para ir embora. – Eu sinto muito por isso... Eu realmente queria te levar para a escola no seu primeiro dia. Não apenas isso, mas desde que você chegou aqui... Eu não planejava que fosse ser dessa forma. – Ele falava angustiado, sem sequer me olhar diretamente nos olhos. – Eu não vou pedir para que me perdoe, mas prometo que logo tudo voltará ao normal e você terá uma festa de boas-vindas apropriada. Não se esqueça, tudo bem?

Eu apenas ouvia silenciosamente as palavras dele. Bem no fundo, eu queria ter falado que não me importava com as boas vindas dele, e que ele deveria estar agonizando pelo que fez a minha mãe, e não por essa mulher que já havia morrido há uma semana. Para que se lamentar sobre o leito dos mortos quando você condenou eternamente alguém que ainda está vivo? Porém, apesar de não parecer, eu não sou um idiota sem consideração, então apenas acolhi as palavras dele com meu silêncio, em respeito à sua dor.

Peguei o mapa que ele havia deixado em cima da mesa, sai de casa e fui andando pela rota 8. Foi então que algo curioso me chamou a atenção. Havia uma mulher pálida sentada em um banco. Ela tinha um longo cabelo rosa, e carregava consigo um guarda-chuva. Porém, não estava chovendo, e não havia sequer uma nuvem no céu. Ela olhou para mim, e apontou para uma direção. Curioso, eu me virei para ver o que era, mas tudo que avistei foi um amontoado de árvores e moitas. Quando olhei de volta para o banco, ela já não estava mais lá. “O que foi isso?”, eu me perguntava enquanto tentava assimilar o que tinha acabado de acontecer. Para onde a mulher havia ido? Não tinha como ela ter simplesmente desaparecido no meio de um campo aberto. Estaria eu louco, tendo imaginado aquele acontecimento? Mesmo estando um pouco assustado, decidi ignorar aquele acontecimento por hora, e segui as coordenadas do mapa até Saffron City, chegando em meu novo colégio. Afinal de contas, eu não queria me atrasar logo em meu primeiro dia.

                Ansioso e nervoso, dei meu primeiro passo dentro do colégio. Minhas mãos suavam ao ver todas aquelas pessoas que eu não conhecia, e meu coração pulsava mais veloz do que o comum. Já havia me esquecido como era a sensação de ser um novato. Dentro do colégio, vários alunos se cumprimentavam de diversas maneiras diferentes, faziam zoações uns com os outros, falavam do que haviam feito nas férias, riam e reclamavam da folga ter durado tão pouco. A partir dali, seria um ano cheio de atividades. A primeira coisa que fiz foi perguntar a um dos funcionários para onde eu deveria ir, e ele me direcionou até um grande auditório cheio de alunos. Entrei, e foi então que um homem barbudo subiu no palanque e, falando pelo microfone, pediu por silêncio. Alguns segundos depois, aquele grande auditório até então preenchido por vozes ensurdecedoras ficou calmo como uma bela paisagem de um quadro.

               O nome do homem era Adam Grundi, o diretor do colégio. Ele se apresentou para todos nós e começou a fazer um discurso. É, tanto faz. Eu não estava muito interessado no que ele tinha pra falar, já que era apenas um óbvio discurso ensaiado com aquelas baboseiras que todo mundo já sabe. Fiquei olhando para cima, distraído em meus próprios pensamentos, e quando finalmente saí do meu “estado de transe”, notei que todos já estavam indo para suas salas. Fiz a mesma coisa e me dirigi até a minha nova sala de aula.

               Ao passar pela porta, notei algumas pessoas olhando para mim e cochichando, outras conversando sem se importar muito com minha presença. Mas o ruim de ser “o cara novo” na sala é que eu sempre tenho a impressão de que todos estão falando sobre mim, e toda pequena risada que eu ouço deve ser alguém rindo da minha cara, mesmo que não seja verdade. Peguei um lugar discreto numa fileira perto da parede, na segunda carteira, e fiquei quieto por algum tempo, apenas observando aquelas pessoas. Não tardou muito para que alguém viesse em minha direção e começasse a falar.

                -Ei, calouro. – Disse um cara de cabelo raspado. Ele era muito alto, magro e tinha olhos verdes. – É verdade que seu pai é o líder de ginásio de Saffron?

                Eles sabiam disso? Rumores sem dúvida se espalham rápido, hein.

                -Sim, sou eu mesmo.

                -Então você é mesmo filho do James?! – Uma garota que estava ouvindo a conversa em outra cadeira falou. – Deve ser, tipo, tão legal ter um pai famoso e renomado! Um dia eu vi uma das batalhas do seu pai, e ele é tão estiloso, derrotou o oponente sem perder nenhum pokémon!

                -Caraca, ai! Então tu deve ser bom pra cacete também, né? – O rapaz de cabelo raspado falava enquanto ria alto ao mesmo tempo. Nossa, que rapaz educado e de linguajar refinado.

                -Eu não sou tão bom assim... – Eu respondi, um pouco envergonhado.

                -Hahaha! Não precisa tentar ser modesto. Aqui tem gente que é convencida sem nem mesmo merecer, né Diana? – Dessa vez, era um garoto de cabelos castanhos e curtos que estava sentado bem atrás de mim que falou, num tom de “cara tranquilo e descolado”, enquanto piscava para a garota que ele tinha provocado.

                -Ai, cala boca Angelo! Tem gente que não se toca, viu. – A tal de Diana respondeu do outro lado da sala, prontamente voltando a falar com seu circulo de amigas e nos ignorando.

                -Mas e então, cara? – O tal de Angelo continuou a falar. – Qual o seu nome mesmo?

                -Neil...

                -Neil, é? É um nome legal, me lembra daquele filme de ficção científica! Err... Aquele lá, sabe qual é? – Não, eu não fazia a mínima ideia, mas fiz um sinal de “positivo” com a cabeça para parecer informado.

                Eles começaram a me fazer diversas perguntas, e eu tentava responder todas, enquanto desviava de outras. “Você é de Unova?! Uau! Então você deve ser rico, né?”, “As minas de Unova são muito gatas?”, dentre outras questões muito cultas. Tentei evitar tocar no assunto do meu pai e o assassinato, e por incrível que pareça, consegui causar uma primeira impressão sem parecer um estranho desconfortável. Uma das garotas até perguntou se eu tinha uma namorada, e apesar de ter ficado um pouco envergonhado, devo admitir que estava gostando de ter o meu momento. Acho que no final das contas ser o filho de um líder de ginásio tem suas vantagens.

                -Então, você já deve ter vencido um monte de batalhas, né? – o cara de cabelos raspados me perguntou, nem deixou eu responder e fez logo outra pergunta – Quantas?

                -Ah... Umas 20, talvez... – Neil, você é um grande, grande mentiroso.

                -Caraca mano! Ô Bruce, acho que seu reinado acabou hein! – ele gritou para um rapaz de cabelos negros e olhos azuis que estava sentado na primeira cadeira de uma das fileiras. O garoto nem olhou, apenas deu um suspiro enquanto fechava os olhos.

                -Pare com isso, não quero me envolver em confusão... – eu falei, tentando evitar desentendimentos.

                -Não tem problema, aquele é o Bruce. – Angelo falou. – Ele é um cara tranquilo. E ele também é o melhor da classe. No torneio anual do ano passado, ele venceu 16 batalhas e perdeu apenas 2! O primeiro lugar do colégio inteiro. Bem impressionante, não? – Ele falou com um sorriso no rosto. – Ei, já sei! Porque vocês dois não travam uma batalha? Enquanto o professor não chega, só pra passar o tempo, sabe? E ai, o que você me diz?

                -Acho melhor não... Se o professor chegar eu vou estar encrencado. – Na verdade, eu estava é com medo de sofrer uma surra colossal nas mãos desse cara.

                -Nada, que isso! O primeiro professor a entrar na nossa sala hoje vai ser o tio Phil, ele é gente boa! – Angelo insistiu, rindo. – Vamos lá, cara! Vai ser rápido!

                -Não, eu não quero incomodar ele, seria rude de minha parte. – Eu estava fazendo de tudo para evitar entrar na batalha.

                -Hum... – o garoto de cabelo raspado se virou e gritou. – Ei, Bruce! E aí, vai vacilar?! Aceita o desafio ou não? – Maldito seja você, garoto gigante que eu não sei o nome.

                -Tanto faz... – Ele respondeu calma e serenamente, sem perder a compostura. – Se ele quiser...

                -Ta ai! Todo seu, irmão!

                -Nesse caso, tudo bem então... Vamos lá. – Eu falava calmamente enquanto levantava da cadeira, mas dentro da minha cabeça eu só conseguia ouvir uma frase: “Eu vou apanhar, eu vou apanhar” ad infinitum.

                Todos tiraram as cadeiras do caminho, arrastando elas pros lados, criando um espaço vazio no meio da sala. De um lado estava eu, do outro, Bruce.

                -Caham! – Angelo pigarreava enquanto se posicionava no meio do “campo de batalha” – Essa é uma batalha não oficial entre o formal vencedor do campeonato do ano passado, Bruce, da cidade de Viridian, contra o novo estudante vindo de Unova, Neil, da cidade de... Err...

                -Castelia, seu idiota. - um dos alunos falou na plateia.

                -Isso! E Neil, da cidade de Castelia! Nessa batalha será permitido o uso de apenas um Pokémon por treinador! Quando o Pokémon de um dos dois lados cair, o vencedor será anunciado!... Cara, isso é tão legal, eu sempre quis fazer isso.

                Um Pokémon, é? Deveria usar Ruffly ou Pup? Antes que eu pudesse me decidir, meu adversário lançou sua Pokébola, revelando um Nidorino como seu Pokémon de escolha.

                -Oh, esse é aquele Nidoran que você capturou ano passado? Então ele já evoluiu?  Bom, isso já era de se esperar do Bruce. E você, Neil, que Pokémon vai usar?

                Meu primeiro dia de aula e eu já consegui me meter numa fria dessas... Pelo visto, esse vai ser um longo dia.


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Notas finais do capítulo

Prévia do próximo capítulo:

“[...] A atmosfera era pesada, meu coração estava acelerado, meu sangue pulsava fervendo em minhas veias. A única vez em que havia me sentido tão encurralado assim foi quando tive uma batalha contra meu pai quando eu era menor. [...]
Eu já estava perdendo a paciência com esse cara, mas precisava me acalmar. ”

Capitulo 3: Batalha entre quatro paredes.

Estréia: dia 8 de Agosto



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