Pokémon: Ano Sombrio escrita por Linkusu


Capítulo 1
Capítulo 1: Prelúdio de um ano sombrio.




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Olá! Bem vindo ao mundo dos Pokémon! Meu nome é Neil Liebert, mas as pessoas me chamam apenas de Neil. Esse mundo é habitado por criaturas conhecidas como Pokémon! Para algumas pessoas, Pokémon são bichos de estimação, outros usam eles para batalhas, já outros os estudam. Quando um treinador completa 10 anos de idade, ele pode tirar sua licença Pokémon para viajar ao redor do mundo, conhecendo novos amigos e capturando novos Pokémon!

                ...Ou pelo menos, era assim que costumava ser antigamente. Hoje em dia, eu apenas ouço histórias do meu avô sobre suas “incríveis aventuras ao redor do mundo Pokémon” e imagino como poderia ter sido viver naquela época. Tempos muito mais simples.  Hoje em dia, tirar uma licença de treinador é um tédio. Um processo desnecessariamente longo, complicado e restrito. Não se engane: ser um treinador Pokémon reconhecido pela Liga é algo para poucos, e dificilmente vale a pena. Grandes são as chances de que você simplesmente desista no meio do caminho devido à pressão emocional e psicológica. As competições são concorridas, e apenas os melhores dos melhores conseguem se estabelecer num meio tão disputado.

E eu ainda nem comecei a falar sobre as equipes de ladrões flamboyants que adoram usar nomes esquisitos como “Equipe Plasma”, “Equipe Galáctica”, “Equipe não sei das quantas”. A última moda parece ser uma tal de “Equipe Lua”, que se auto intitula a sucessora de uma equipe famosa que agia em Kanto e Johto, cujo nome eu não consigo lembrar.

                Quando eu era criança, eu sonhava em ser um treinador Pokémon. Falava para meu pai que algum dia eu seria tão bom quanto Hilbert, o campeão da região de Unova, local onde eu moro. Ainda ia mais longe, afirmava que seria melhor que Red e Ethan, dois dos treinadores mais renomados que já existiram. Eu era uma criança inocente. Hoje em dia eu gosto de acompanhar as competições e a carreira de alguns treinadores promissores, mas não tenho mais interesse em me tornar um. A mágica da infância foi substituída pela dura realidade.

                Isso não significa que eu não goste de Pokémon. Na realidade, eu tenho dois. Um Lillipup que capturei perto da minha casa aos meus 9 anos e desde então virou meu leal companheiro em quaisquer circunstâncias, e um pequeno Rufflet que ganhei de presente do meu pai no meu aniversário de 8 anos. Eu não os trocaria por nada nesse mundo. Eu posso parecer um cara bem desacreditado com a vida e indiferente à maioria das coisas, mas a verdade é que no fundo eu sou uma pessoa bem apegada aos meus amigos e familiares. Bom, pelo menos uma parte deles. Eu apenas não gosto de demonstrar muito.

                -Senhor, já chegamos em Saffron City. Tem algo que eu possa fazer por você, ou...? – Uma mulher de longos cabelos cacheados falava comigo. Era uma das aeromoças.

                -Ah, não, obrigado. – Eu respondi. – Já estou indo.

                E mais uma vez eu havia me desligado completamente da realidade em um dos meus longos monólogos internos. “Porque eu sempre faço isso?”, eu me questionava enquanto pegava minha bagagem e me preparava para sair do avião.

                -Identidade, por favor.

                -Aqui está.

                -Neil Liebert, 17 anos, de Unova... – Falava o segurança confirmando as informações em seu computador. – Obrigado. Seja bem vindo a Kanto, esperamos que você aproveite a viagem. – ele disse sem muita empolgação enquanto me devolvia a identidade. Eu não o culpo, já estava bem tarde e deve ser muito chato fingir que se importa com algum estrangeiro qualquer que acabou de chegar.

                Fui andando até chegar a uma grande sala branca com várias pessoas. Algumas sentadas, outras de pé cumprimentando seus conhecidos. Olhei ao meu redor por algum tempo até avistar um homem de camisa social branca e gravata vermelha, acenando para mim. Olhos castanho-escuros, cabelo escuro, curto e bagunçado, e uma rala barba em seu rosto. Definitivamente era meu pai, James Vonruchi.

                -Ei, Neil. – Ele se aproximou sem jeito, com um sorriso um pouco embaraçado em seu rosto. – Como foi a viagem?

                -Normal.

                -Ah, é mesmo? Entendo... – Ele coçava atrás de sua cabeça, sem saber o que falar. – Bem... Você deve estar exausto, não é mesmo? Foi uma viagem longa. Quer ir logo para casa ou prefere fazer um lanche no caminho?

                -Não precisa. – Eu respondia sem muito interesse. – Vamos logo para casa.

                -Ah... Certo. Então, vamos lá. – Ele falava meio sem graça.

                Meu pai e eu não nos damos muito bem desde que ele abandonou minha mãe para vir trabalhar em Kanto. Para falar a verdade, eu não gosto dele. É por causa dele que minha mãe sofreu tanto. Como eu poderia me simpatizar com esse idiota sem consideração? Certo, ele parece ter noção do que causou e se sente culpado, mas isso não muda absolutamente nada. A culpa dele não vai mudar o que aconteceu. Não vai me fazer voltar a vê-lo como um ícone.

                De qualquer forma, eu vou precisar aprender a suportá-lo, já que vou passar um ano morando com ele e sua nova família. Minha mãe teve de viajar e meus tios foram juntos para ajuda-la, por isso ela achou perigoso me deixar sozinho em casa e decidiu pedir para meu pai cuidar de mim esse ano. E também porque ela achou que seria uma boa oportunidade para nos reconciliarmos. Humf, claro, como se isso fosse acontecer.

                -Então, Neil... – Ele tentava puxar conversa comigo enquanto dirigia. – Preparado para a vida em Lavender? Com certeza vai ser uma experiência diferente pra você... Digo, você vem de uma cidade grande como Castelia, então talvez uma cidadezinha pequena como Lavender pareça chata no começo, mas é um local bem agradável de se viver, haha... – Ele tentava dar um riso amigável, mas estava claramente sem jeito para falar comigo.

                -Você não precisa continuar com isso, sabe? – Eu respondi com um tom um pouco rude. – Se você não quiser conversar comigo, não precisa forçar. Eu não vou te obrigar.

                -Ah... Sim, você tem razão. Me desculpe, eu acho que estraguei tudo de novo, haha... – Ele abaixou um pouco a cabeça e deu um suspiro. Seu olhar parecia um pouco melancólico. Eu apenas ignorei e continuei apreciando a paisagem pela janela do carro. Alguns minutos de silêncio depois, ele decidiu puxar assunto novamente. – E então... Como vai a sua mãe?

                -Paraplégica. Lembra?

                -Você é bem direto, não é mesmo? Eu não o culpo... Você tem razão.

                -Uau, coitadinho de você. O filho muito mau está sendo o vilão contra o papaizinho arrependido. Pff...

                -Não, não foi isso que eu quis dizer! Eu só... – Ele tentava achar as palavras corretas, mas acabou se embolando todo. – Olhe... Eu sei que seria egoísmo de minha parte pedir pra você me perdoar, mas apenas, por favor... Dê uma chance a eles, tudo bem? Eles não têm nada a ver com o nosso desentendimento.

                -A ladra de esposos e a sua nova cria maldita?

                -Neil! – Ele levantou o tom de voz pela primeira vez desde que começamos a conversar.

                -O que foi, vai me bater? – Eu olhei pra ele e nos encaramos por alguns segundos. A atmosfera no carro estava bem pesada. Dei um suspiro de tédio e decidi que seria melhor não brigar logo no meu primeiro dia. – Eu não prometo nada, mas vou ver o que posso fazer...

                -Obrigado... – Ele deu um sorriso de alívio. – Olha só, Neil. Aquela ali vai ser a sua nova escola! Você vai ter que andar um pouco pra vir de Lavender até aqui, mas vale a pena, é uma das melhores escolas de Kanto. Suas aulas começam semana que vem, está empolgado?

                -Não muito...

                -É, deve ser duro para você ter que se adaptar a um colégio novo logo no seu ultimo ano. Ter de abandonar seus amigos de Unova e tudo mais... Mas tenho certeza que você vai conseguir se enturmar. De qualquer forma, preparado para tirar sua licença de treinador?

                -Eu não vou me tornar um treinador.

                -Ah... Então você desistiu, não é? Quando você era criança você falava o tempo todo sobre isso... “Red é o melhor!”, “eu quero conhecer e derrotar Hilbert numa batalha um dia!”, “eu vou ser o melhor treinador de todos, e o Ruffly e Pup vão ser os mais fortes de todos os tempos!”. Hahaha. – Ele falava com um sorriso sincero em seu rosto. Não vou negar que ouvir aquilo me dava um pouco de nostalgia. – Falando nisso, você os trouxe?

                -Sim, eles estão na minha mochila. – Ruffly e Pup eram meu Rufflet e Lillipup, respectivamente.

                -Eles são Pokémon bem raros por aqui. Quem sabe você não consiga impressionar seus colegas?

                -É, talvez.

                -Bom, mas você já decidiu o que vai ser? – Eu parei algum tempo para refletir antes de responder. Para ser sincero, eu ainda não tinha a mínima idéia.

                -Estou em dúvida.

                -Entendo. Bom, você ainda tem um pouco mais de tempo para se decidir. Na sua idade, eu também não sabia o que eu queria ser.

                E assim, a viagem prosseguiu com ele me fazendo algumas perguntas e falando sobre diversos assuntos, e eu fingindo que me importava. Em poucos minutos, chegamos em Lavender Town, a cidade onde eu iria morar no próximo ano. Estava tudo escuro, com apenas algumas luzes de postes e casas iluminando a rua que estava deserta, sem nenhum carro além do nosso a vista.

                -Bom, aqui estamos, Lavender Town. Bem calma e pequena, não é? Mas ela já foi menor um dia, acredite. Hoje em dia, ela é até bem grandinha se formos comparar... – Eu olhei ao redor, e parecia uma cidade bem normal. A única coisa que se destacava era uma grande, alta construção no horizonte. Eu olhei para ela por algum tempo. Como estava de noite, não dava para enxergar direito, então só consegui ver uma grande silhueta preta. Parecia estar um pouco acabada, e me passava uma sensação um pouco... Macabra.

                -O que é aquilo? – Pela primeira vez eu puxei o assunto, apontando para a torre.

                -Ah... – Ele olhou para a torre por algum tempo. – Aquilo... Ela costumava ser a torre de rádio de Lavender Town. Hoje em dia ela é apenas uma torre velha e abandonada. Nada de especial sobre ela... – Ele parecia um pouco nervoso.

                -Porque não a demoliram ainda, ou construíram alguma outra coisa no lugar?

                -É uma longa história. Apenas não chegue perto dela, ok? Quanto mais longe você ficar desse local, melhor.

                -Por quê? O que há de tão perigoso nela?

                -Não é que seja perigoso, mas... – Ele parou algum tempo antes de responder. – Algumas coisas estranhas acontecem com pessoas que ficam perambulando muito por essa torre. Eu não sei te dizer muito, mas apenas fique longe e estará tudo bem, ok?

                Mesmo com ele dizendo isso, minha curiosidade já havia sido atiçada. De qualquer forma, já estava tarde e eu não queria pensar muito sobre aquilo. Apenas fechei meus olhos por algum tempo, e quando os abri novamente, já havíamos chegado na residência que seria minha nova casa de agora em diante.

                -Papai, bem vindo de volta! – Uma pequena garotinha veio receber ele com bastante empolgação. Entretanto, quando ela me viu, sua empolgação rapidamente se foi e ela pareceu ficar um pouco tímida, olhando pro chão.

                -Esse daqui é o Neil, o papai te falou sobre ele, lembra? – Ele falou sorridente para a menina, enquanto passava a mão pela cabeça dela. – Ele vai morar com a gente esse ano, não parece divertido? Vamos, Vivi, seja uma boa menina e se apresente a ele.

                -Oi... – Ela falou em um tom de voz baixo, enquanto olhava para mim. – Meu nome é Vivi, eu tenho 6 anos.

                -Olá, Vivi. Eu sou Neil. – Eu tentava parecer amigável, mas falhava miseravelmente. Eu realmente não tenho jeito pra essas coisas de introdução. Porque eu sempre fico parecendo um garoto esquisito e desconfortável nesses momentos?

                -Onde está sua mãe? Vamos apresentar ela também.

                -Mamãe foi pro PokéMart... Ela disse que precisava fazer compras.

                -Ah, entendo. Bom, vamos esperar ela chegar, então. Quer comer alguma coisa, Neil?

                -Não, estou sem fome... – Olhei um pouco ao meu redor. Era uma casa pequena com uma sala, 3 quartos, uma cozinha e um banheiro. Tinham dois sofás e duas mesas na sala, uma grande, provavelmente aonde eu iria comer de agora em diante, e uma pequena que ficava perto dos sofás e da televisão, com algumas coisas em cima dela. As paredes eram pintadas de branco, e os pisos brilhavam como novos.

                -Bom, o seu quarto fica bem ali. Porque não vai arrumando logo suas coisas? Deixe tudo que você tem lá e volte aqui para eu te mostrar o resto da casa, tudo bem?

                Porém, o telefone começou a tocar. Ele me pediu para esperar um pouco e foi atender. Eu fiquei olhando ao redor enquanto a garotinha, a tal de Vivi, se sentava no sofá e mudava constantemente de canais. Após algum tempo, meu pai falou num tom extremamente alto.

                -Como assim?! – Ele parecia muito irritado. – Me espere bem aí, eu já estou indo! – Ele gritou, e logo em seguida colocou o telefone no gancho.

                -Trabalho de novo, papai? – Vivi perguntou.

                -Espere aqui com o Neil, ok? Papai precisa confirmar algumas coisas, talvez eu não volte hoje, tudo bem? Seja uma boa menina e mostre a casa para ele. – Ele falava enquanto vestia uma jaqueta e pegava um monte de coisas. – Neil... Eu sinto muito que nosso primeiro dia tenha que ser assim, mas eu realmente tenho que ir agora. Depois eu falo melhor com você. Cuide de Vivi enquanto eu estiver fora. – Ele foi embora, extremamente preocupado e apressado. O que será que ele ouviu no telefone que o deixou desse jeito?

                Vivi me mostrou a casa. Ela não falou muito, apenas o necessário. Ainda parecia estar tímida com a minha presença. Após ver tudo, ela me deixou no meu quarto. Era um quarto pequeno, com uma tv, alguns móveis e uma cama, tinha também uma janela de tamanho médio, onde era possível ver a tal “torre do rádio” e uma paisagem com algumas casas.

                Deixei as minhas coisas no quarto e fui para a sala. Sentei-me em um dos sofás e comecei a assistir o que a Vivi estava assistindo. Era a exibição de um festival de Hoenn, aparentemente um bem importante para ser transmitido internacionalmente. Uma tal de Wally... Wall... Wall-alguma-coisa cup.

                -Você gosta de concursos? – Eu perguntei a ela.

                -Uhum. – Ela balançou a cabeça, dando “sim” como resposta.

                -Então... Você sonha em ser uma coordenadora?

                -Não. – Ela balançou a cabeça negativamente. – Eu gosto mais de treinadores. Eu vou ser uma treinadora forte, igual a minha mãe. – Um sorriso se formou em seu rosto quando ela disse isso. Devo dizer que me surpreendi um pouco, a maioria das garotas da idade dela se interessam mais por concursos do que por batalhas.

- Você é um treinador?

                -Não... Mas eu tenho dois Pokémon comigo. Quer ver?

                -Sim!! – Ela falou empolgada.

                -Ok, então lá vai. Ruffley, Pup, hora do show! – Era uma frase de impacto idiota que eu criei quando era criança para escolher meus Pokémon. Ei, não me julgue, ok? Velhos hábitos não morrem facilmente.

                -Uaaaau! Eu nunca vi esses antes! Eles são tão bonitinhos, hihi! – Ela falava com empolgação, enquanto acariciava os dois Pokémon. Eles pareciam felizes.

                E assim, nós 4 brincamos um pouco enquanto o tempo passava. Até que ela não era uma má menina. Talvez eu não devesse trata-la rudemente, como meu pai disse, ela não tem nada a ver com nossos problemas. Algumas horas se passaram, e ela foi dormir. Como eu ainda não estava com sono, chamei Ruffly e Pup de volta para suas pokébolas e troquei o canal da TV para um noticiário, cujo qual eu assisti por alguns minutos.

                -E agora, com nossas notícias locais...

                Naquela época, eu não fazia a mínima idéia...

                -Hoje a noite, o corpo de uma mulher foi encontrado morto a algumas horas atrás na rota 8, que liga Lavender Town à Saffron City.

                Mas todos os meus problemas começariam a partir daquela noite. Depois daquele noticiário...

                -A polícia ainda não revelou a causa da morte, mas parece que a vítima foi assassinada por um Pokémon...

                ...Tudo mudaria drasticamente.

                -O nome da vítima é Mary L. Vonruchi.

                O ano mais longo de minha vida estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

O Capítulo 2 será postado entre os dias 6 a 8 de agosto.



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