-Ela... – o gordão apontou para mim – ela me bateu professor. Tenho até a marca da mão dela.

  Eu fiquei olhando para o professor e para o gordão que estava deitado no chão igual uma batata mole. Eu bati nele, mas ele que começou a me irritar.

  -Professor, ele não queria me devolver a bola! – eu falei para ele com vontade de dar um soco na cara daquele gordão deitado no chão.

  -Missie! Você não pode bater nas pessoas quando elas não fazem o que você quer. Afinal com quem que estava a bola? – perguntou o professor para o gordão.

  -Comigo professor – disse ele olhando para os amigos pedindo apoio com o olho. – Eu tenho até provas.

  -É verdade, ela pegou da nossa mão professor. A gente tava jogando lá no canto e ela chegou e bateu no rosto do Victor e o empurrou. – disse o outro grandalhão amigo do gordão que estava gemendo no chão, e chamava Victor.

  -É MENTIRA! – gritei para o professor, me arrependendo no mesmo instante porque tinha falada bem na hora em que ele parou de falar. Cedo demais.

  -Missie, acho que você vai ter que vir comigo. – ele olhou por sobre o meu ombro e apontou para Marcus. – E seu amigo também. Ele vai ajudar.

  Marcus não estava nem prestando atenção, ele estava olhando para os lados murmurando: isso não é bom, não é nada, nada bom. Eu olhei para ele e o cutuquei.

  -Marcus, vem. – ele se virou assustado para mim. E ficou repetindo mais para ele do que para mim: ‘isso não é bom, não é nada, nada bom.’ Quando a gente chegou na sala do diretor, o professor olhou para nós e olhou para frente.

  -Diretor, essa menina estava batendo no Victor. – Ele olhou para o diretor, que estava com os olhos no computador. Como o diretor vai saber quem era o Victor? pensei. Ele não saberia, é claro. A não ser que...

  -Então você esta se metendo com o meu filho? – O diretor falou para mim (pelo menos eu acho) risonho, sem tirar o olho do computador. – Tudo bem, tudo bem professor. Deve ser uma namorada dele. Acho que ele deve ter feito alguma coi... – o diretor olhou para mim com os olhos brilhando e o sorriso se desfazendo. – Você é pequena. Não é uma namorada dele.

  -Graças a Deus. – Falei alto o bastante para que o diretor ouvisse.

  -Professor – ele falou, ignorando o meu comentário e se virando para o professor de educação física – o que aconteceu?

  -Victor falou que ele estava jogando bola com os amigos, e Missie chegou e tirou a bola dele dando um tapa na cara dele e o empurrando, diretor – disse o imprestável do professor de educação física.

  -Então... Missie, certo? Você bateu em meu filho? Pode me explicar por quê? – o diretor olhou para mim com a voz e o olhar gentil, mas a minha raiva não me deixou ver os pontos positivos do diretor apenas os negativos. O que foi ruim. Muito ruim.

  -Se você acha que seu filho idiota esta sempre certo espero que reveja como ensinou ele, porque ele é um tremendo de um mentiroso porque eu e o Marcus estávamos jogando bola quando ele chegou e pegou a bola de mim, e ficou me irritando e eu dei um tapa na...

  -Basta – disse o diretor com uma incrível voz calma. – Bom Missie, você acha que meu filho que deveria pegar uma suspensão em vez de você?

  -Sim.

  -Mesmo sabendo que você que bateu nele?

  -Bom... ele me provocou, e eu não podia fazer nada... então eu bati nele – eu disse com uma voz que pareceu insegura demais para a situação, pois eu precisava ter uma voz firme para aquele momento.

  -Então você acha certo nos outros, e deixar que os outros paguem pelo o que você fez? – Quando ele terminou de falar eu percebi que ele estava sendo injusto e eu (acho) estou certa, por que... ah! porque ele me provocou e se ele não tivesse chegado para cima de mim falando que queria a bola nada disso estria acontecendo. Eu fiquei com raiva do diretor, por ser tão imparcial comigo.

  -Olha, se você que proteger o seu filho o problema é seu...

  -Eu não falei nada do meu filho Missie, estou falando se você acha certo bater nos outros e deixar que os outros levem a culpa – eu pensei um pouco. Não é certo, eu sei disso, mas não era esse o motivo que eu estava lá.

  -Não senhor. Não acho certo, mas não é por esse moti...

  -Bom, então está feito. Pode levar ela para a quadra professor. Ela já entendeu o que fez – ele deu um sorriso para mim e se voltou para seu ‘precioso’ computador.

  Bom, já que ele não ia falar mais nada, não fiz questão que ele me entendesse porque nem eu estava me entendendo direito. Já o Marcus ele ficava resmungando sempre a mesma coisa e ficava olhando para os lados procurando alguém. Não fiz questão de perguntar.

  Quando eu cheguei à quadra, já não estava com tanta raiva como estava antes, mas podia sentir alguma coisa em mim queimando. O que eu descobri foi que essa sensação me deixava de algum modo... feliz. Não, não é bem essa a palavra. Deixava-me despreocupada. Mas o Marcus estava me deixando preocupada. Ele não parava de resmungar: ‘isso não é bom, não é nada, nada bom’. Certo, eu achava normal ficar com medo quando ia para a diretoria, mas ele ficou falando isso da quadra para a sala do diretor e da sala do diretor para a quadra. Estranho.

  -Marcus! O que não é bom? A gente já saiu da sala do diretor – ele olhou para mim como se eu fosse a única pessoa que não tivesse entendido. Vai ver ele já tinha ido para sala do diretor e logo depois disso a pessoa ia ficar mais encrencada do que tudo que já tinha passado nessa escola.

  -Missie, a gente precisa encontrar a Laura o mais rápido possível. Não tenho tempo de explicar. Me da o seu telefone, que eu tenho que ligar para sua mãe. Ah! meu Deus, porque? Porque agora? – Isso era estranho. Ele estava falando consigo mesmo, ou comigo? Não tinha sentido eu ficar pensando nisso. Pelo jeito alguma coisa tinha acontecido e não deveria ter acontecido. Será que eles apostaram alguma coisa para ver quantos meses eu ficaria sem me meter em confusão? Acho que não.