Seus olhos estavam brilhando enquanto me puxava para a sala. Ele tinha algum plano que me incluía, disso eu tinha certeza. Mesmo ele não estando na forma de criança, conheço essa cara em qualquer lugar.

Quando chegamos, ele puxou uma cadeira e eu me sentei. Na mesma hora, me veio uma idéia na cabeça. O homem do meu suposto sonho se chamava... Logan – ou Victor -, meu pai se chamava Logan, pelo o que eu saiba. Será que aquele homem era o meu pai? Dei um grito agudo quando conclui meu pensamento, e Max deu um pulo da cadeira.

-Ele é o meu pai, não é? Ele é, né? – perguntei. Meus olhos estavam brilhando, pelo menos eu sentia que estavam, e Max olhava para mim como se falasse “de onde você tirou isso?”, mas eu tinha certeza que ele era meu pai, e ninguém iria me confundir. Fiquei mais animada em ver meu pai do que eu esperava!

-Sim, ele é, não vou negar. Nós estamos perto de onde ele está, e precisamos ajudá-lo, mas Eric nunca concordaria com isso porque ele acha muito perigoso sair do pégaso sem que ele (o pégaso) esteja cansado. Só precisamos arranjar um jeito de fazer com que ele não perceba que saímos. Mas antes temos que ajudar ele a sair da caverna. Faremos assim, eu o ajudo a sair da caverna e você explica tudo ao Luke e monte um plano com ele para fazer com que Eric fique ocupado enquanto nós saímos do barco. Fechado?

-Fechado.

Corri para procurar Luke que estava na cozinha roubando bolachas e balas. Ele olhou para mim e limpou suas mãos na camiseta.

-Não conta para Max! Ele vai me matar, cara! – suplicou.

-Não vou contar. Luke, vem aqui preciso te contar um coisa – contei a ele o que tinha combinado com Max e ele ouviu com mais atenção do que eu esperava que alguém faria comigo – uma menina de 9 anos.

-Tenho uma idéia. Fala para o Max que eu dou um jeito e que pode sair daqui a dois minutos. Ah, e não fala da bolacha e balas – deu uma piscadela para mim e saiu correndo. Só ouvi ele falar “tudo bem Eric? Quer ir para o quarto um pouquinho? Você ta com uma cara de cansado!”

Corri para o cômodo onde Max estava olhando para o mapa sem tirar os olhos dele. Ele estava se concentrando tanto no mapa que parecia muito difícil de saber onde ficava o final, sendo que tinha uma frestinha no mapa que mostrava que era o fim.

-Max, é igual labirinto não é? Posso tentar? Acho que eu consigo.

-Não é tão simples. Não fala onde fica o final. É muito complicado, mas tenta. Vai ver você consegue.

Peguei o lápis, e fiz o caminho e Max ficou olhando, o pontinho que estava parado começou a se mover e chegou rapidamente a saída. Max ficou boquiaberto, mas estalei o dedo e ele saiu do transe.

-Que ótimo, uma menina de nove anos consegue terminar um labirinto e eu que tenho duzentos não consigo – bufou Max, mais para si mesmo do que para mim.

Virei os olhos e olhei para ele esperando uma reação. Nada. Ficou olhando para o mapa. Temos pouco tempo para sair do barco e – salvar meu pai? Ah, sei lá. Sei que nós temos que ser rápidos, e não posso esperar até ele sair de sua pequena meditação sem movimentos, ou qualquer coisa que ele esteja fazendo.

-Max?! MAX! A gente realmente precisa ir! Luke está fazendo de tudo para deixar o velho ocupado! – Gritei no ouvido dele. Ele levou um susto, olhou para o mapa e o colocou no seu bolso.

-Vamos. Tem uma saída na cozinha. Vamos rápido! – Ele me apressou.

Será que meu pai iria ficar bem? Se a gente demorasse de mais? Tinha alguém seguindo ele, e de fato ele estava fugindo dela. Fico pensando em o que eu falaria para ele quando o visse. “Oi papai! A quanto tempo!” ou “Olá Logan... Como vai você?” Acho que não optaria por nenhuma das duas...

Nós passamos pela sala tentando não fazer barulho algum, sucesso. Quando chegamos à cozinha, Max abriu a porta e nós saímos. Quase fui levada pelo vento, mas me segurei na porta. Tinha uma montanha bem perto da gente. Se pulássemos bem alto conseguiríamos pisar lá. Mas se não conseguíssemos cairíamos num abismo sem fim – acho que o meu abismo tem uns dois mil metros de profundidade.

Tecnicamente eu não sou muito boa para correr. Menos ainda para pular. Então não vejo porque Max fica olhando para lá com o olhar que fala “ela vai pular isso!”, mas acho que devo estar interpretando errado.

-Você vai pular né? – ele falou. Não, realmente não estou interpretando errado.

-Sem chances. Eu vou cair! Não tem nenhuma tabua? – perguntei.

-Estamos em movimento, Missie. Ou você pula ou vou ter que te empurrar por contra gosto. Lembre que vamos encontrar seu pai. Finalmente – ele falou. Acho que o finalmente foi mais para ele, porque soou bem fraquinho o som.

Certo, sei que eu tenho que pular, mas eu morro de medo de altura, não sou boa em pular e meu equilíbrio não é dos melhores. Eu vou, mas se eu morrer espero que Luke fique se culpando a vida inteira e vou ficar aterrorizando o durante a noite.

-Tá, o que eu faço quando chegar lá? Te espero? E se a pedra quebrar? – falei muito calmamente.

Ele me olhou desesperado, para frente e para mim, e quando percebi o que estava acontecendo entendi o que ele estava planejando.

-Sem chances! Não vou ir sozinha! Esta acabando a montanha, ou você vem ou não vem. Não vou pular de jeito nenhum! Nem sei o que fazer – falei. Realmente agora eu pareci uma criança bem mimada. Mas eu nem liguei. Só sei que não ia ir sozinha.

-Segura isto – ele tirou uma coisa do bolso e meu deu. Era uma folha. Depois ele assobiou bem alto e o pégaso virou para mais perto da montanha – se isso fosse possível. Estava quase no fim quando Max me empurrou para dentro da montanha.

A ultima coisa que eu ouvi ele falar foi “Olhe para a folha!” Olhei para a folha e nada. O que eu menos queria era ficar sozinha sem ninguém para me guiar e – incrível! – Max realizou. Realmente estava com raiva dele. Sobretudo eu realmente queria ver meu pai. É estranho, eu sei... mas eu iria tentar e fazer de tudo para achá-lo.