Os Filhos da Aurora. escrita por Dan Rodrigues


Capítulo 10
Lorem Retro, o homem desconhecido.


Notas iniciais do capítulo

Vocês vão se apaixonar ainda mais na leitura deste capítulo. É simplesmente adorável, leia leia leia.



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Ricoh não agüentou. Desceu do palco, correndo para a floresta. Não agüentou ouvir aquilo, e no momento em que ele pisou na orla da floresta, sentiu aquele formigamento familiar nas costas, e sua camisa se rasgando. Suas asas tinham crescido. Ele agora as batia de tal forma, que não tardou a subir dez metros de altura, planar do ar, observando as flores. Virou para trás e viu os olhares atentos da multidão boquiaberta.

- Ricoh, volta já aqui! – Gritou Salgueiro.

Ele não deu ouvido. Precisava descansar pensar em tudo o que estava acontecendo. Não se importava em ser atacado por casus, só queria ficar sozinho, pensando. Ele não tardou a encontrar um lugar onde a luz conseguia atingir o chão, um campo de flores e grama, uma grama macia. Ele deitou-se na grama, tocou as flores, ele adorava flores, sentia saudades de sua casa, onde tinha um jardim, um jardim repleto das mais bonitas que ele conseguira cultivar.

Pensou em Sarah, e como ela se sentira triste e desapontada. Ele devia ter dado uma chance para a garota, mas sabia que não se aprende a amar. O amor induzido é um erro que pode magoar mais de uma pessoa.

Ele tocou as flores novamente, as que estavam a centímetros de seu rosto. Era como apertar Marshmellows, e o perfume, um perfume leve e suave, surpreendentemente intereçante, nada se comparava aquelas flores, de uma cor que variava de rosa a lilás, as pétalas movendo-se como se as flores tivessem vida própria. Aquele universo de coisas incríveis seria mais atraente aos olhos de Ricoh se ele estivesse ali ao lado de seus pais, que no momento nem imaginavam nada sobre sua origem, e se não tivesse herdado os poderes do mais perigoso Astrano, mesmo eles sendo o mais forte.

As asas tinham desaparecido. Uma brisa leve roçava o rosto do jovem Ângelus, e a grama tinha um aspecto macio, sedoso, logo veio uma sensação de sono, um sono profundo agradável e quente, um sono inesperadamente intenso.

Então veio o sonho, em um sono profundo como aquele, um sonho não era mais do que o esperado.

Sonhou que acordava saída dali e caminhava entre as flores. Então, um homem, um homem com asas como as dele, e em sua forma astrana, saía de uma árvore no meio da floresta, carregando uma clava igual à dele também. O homem tinha o cabelo loiro, levemente enrolado, os olhos brilhavam com as mesmas cores e luzes da aurora, pareciam acompanhar a dança. Não era muito jovem, aparentava ter mais de trinta anos e usava vestes naturais do planeta. Mirou Ricoh atentamente, parecendo muito confuso, como se estivesse vendo sua imagem mais nova fora do espelho, se é que Astranos conheciam espelhos. Ele não estava usando camisa, e seu físico demonstrava super-força.

Não tardou para que um grupo exageradamente grande de Casus se aproximasse com intuito de atacar o homem e Ricoh. O homem pôs-se na frente de Ricoh, e começou a rebatê-los com a clava. Mas a força dos casus era maior, comparada à do que atacara Ricoh pela primeira vez na floresta. Eles farejavam os dois e miravam um e depois o outro, como se também percebessem uma pequena semelhança.

- Use sua arma também! – Gritou o homem ao garoto. – Vamos, voe, fuja daqui, eles são muitos, vá buscar ajuda! – Exclamou o homem. – Mas o garoto não se mexia. Parecia ter perdido a mobilidade, não conseguia mover um músculo. – Você não está me ouvindo?

Então, o sonho foi desaparecendo, e Ricoh acordou, com uma dor de cabeça estonteante. Ele percebeu então que o cenário onde estava dormindo tinha mudado completamente, e ele estava ali, em pé, atrás do homem com asas, debaixo da árvore da qual ele saltara. Agora, totalmente despertado, ele tinha que ativar novamente os poderes, ele tinha de se defender, já podia até ouvir o rosnado estridente e cortante dos casus ao seu redor, tentando agarrar sua perna, tentando puxá-lo.

Ele soltou o colar do pescoço, esperando que a transformação acontecesse. Então sentiu a fumigação nas costas, sabia que aquilo era um sinal das asas crescendo, se transformando, e a clava então surgiu em sua mão, era leve para que ele conseguisse ser ágil nos movimentos, mas pesada ao atacar o inimigo.

Na mesma hora, saltou aos pés dele um Casus, sumas mãos peludas e as unhas gigantes tentando cortá-lo. Ele atacou-o com sua clava, não sabia de onde vinha tanta força, não compreendia por que, mas lançara o casus a metros dali. Outros monstros também o atacaram, e um quase conseguiu agarrar a perna dele, se o homem não tivesse o defendido.

- Voe! – Foi a única coisa que Ricoh escutou, e a expressão do homem torcendo para que ele o entendesse, a voz ofegante.

Ele bateu as asas o mais forte que pôde, sentiu seus pés saindo do chão, então ele já estava a cinco metros de altura quando conseguiu ver o que o homem fazia para se defender. Ele uma luz ardente por todo o corpo, quase que como uma aura, uma aura que queimava a pele dos casus, e afastava-os.

- Oi? Garoto? – A voz do homem, agora calma, como se nada tivesse acontecido chamava-o.

Ele acordou novamente, o cenário voltando ao normal, voltando para o campo de flores, onde ele tinha se deitado. Mas será que não era outro sonho? Ele pensara ter acordado da última vez, mas não foi bem o que aconteceu. Ele mirou o homem, agora tentando mais do que nunca voltar a dormir.

O homem segurou seus ombros, e chacoalhou-o, tentando levantá-lo, mas ele não queria.

- VAMOS ACORDE! Ô, GAROTO, ACORDA! – Gritou o homem, com um tom desesperado na voz.

Ele se sentou.

- Mas por que, quem é você? Eu quero dormir mais um pouco! – Disse o garoto com voz sonolenta, tentando se soltar do homem para se deitar.

- Não, acorde, não vê que foram as flores! Essas são as rosas do sono, se você continuar aqui vai adormecer novamente e pode nunca acordar!

Ele pegou Ricoh nos braços, levou-o para longe das rosas, e o pôs em pé. Ele já podia sentir novamente o corpo, não sentia mais aquele calor, e sim o frio, um frio congelante que despertaria qualquer um. Mas também veio novamente a dor de cabeça, ele sentia sua cabeça abrir como se um prego estivesse adentrando-a. Ele desmaiou. O homem segurou-o em seus braços, e começou a caminhar com ele pela floresta. Eles passaram por um caminho de flores flutuadoras e carnívoras, as que Sarah vira na primeira visita a Aurors.

E chegaram a uma cabana. Uma pequena cabana de madeira, parecendo abandonada. O homem estendeu a mão com dificuldade para carregar o garoto inerte nos braços. A porta se abriu com um rangido fino. Ali, apenas uma cama e um móvel muito semelhante a um armário, onde coisas reluziam com a luz da aurora, revelando cores intensas e vibrantes. Ele pôs Ricoh na cama, abriu o armário e tirou de lá uma massa de cor azul neon, a massa tremia levemente. Ele a colocou na testa na testa do garoto, parecendo ligeiramente preocupado se aquilo o ajudaria. Tirou um pedaço da massa, abriu a boca de Ricoh e com uma certa dificuldade a empurrou para dentro da boca do garoto, fazendo movimentos com o queixo dele no intuito de que ele mastigasse aquilo, para que o efeito do possível remédio fosse mais imediato.

E depois de alguns minutos a massa começou a tremer mais intensamente, agora assumindo a forma da testa do garoto, e desaparecendo aos poucos como radiação que é absorvida pelo corpo.

Ricoh sentou-se na cama com um baque surdo, produzido pela madeira. Mirou o homem, como se nunca tivesse desmaiado e sentindo-se mil vezes melhor.

- Está melhor? – Perguntou o homem.

- É como se não tivesse doído. Mas quem é você? – Disse Ricoh agora com um tom de curiosidade na voz.

- Lorem Retro... meu nome é Lorem Retro.

- Quem é você, e o que estava fazendo no Campo das Rosas do Sono?

- Bom, eu fui contratado para ser um de seus treinadores. Vou ensinar vocês táticas de batalhas, no Magna-Movens.  Eu estava caçando, um astrano tem que comer outra coisa a não ser Estruga!

- O que é Estruga?

- Droga, eu devia saber, você é um dos viajados! – Exclamou Lorem, tão baixo que Ricoh quase não compreendeu.

- Por acaso viajado significa que eu fui para a Terra e passei 16(dezesseis) anos da minha vida aprendendo todos os costumes de lá?

- Sim, e você ainda vai saber o que é Estruga, vai estudar isso, mesmo que para nossa raça isso seja como arroz para a espécie humana.

- Ah, sim. – Disse o garoto, assentindo.

- Mas é diferente, entende? Tem outros aspectos, outras formas, por exemplo, o arroz é em grãos, enquanto a Estruga é uma massa amarelada super nutritiva, te dá força. Enquanto arroz tem um tantinho de carboidrato, não é o bastante para sustentar uma pessoa nem se você comer muito.

- Como você sabe sobre o arroz? – Disse Ricoh, agora franzindo os lábios.

- Ah, garoto, eu estudo, só isso. Aqui nós estudamos outras civilizações, este mundo é recheado de guerras, não dura dois anos sem guerra e eu as conhecem bem. – Respondeu Lorem, agora mirando o vazio, como se tivesse participado de uma e se arrependido.

- Você já batalhou em uma guerra? – Perguntou Ricoh, tentando mostrar o máximo de interesse.

Lorem sussurrou em uma língua estranha que parecia mais com o ranger de uma porta emperrada ao abrir.

- O quê?

- Nada, isso não importa o que importa é o que você tava fazendo nos campos do sono, garoto, não sabe que é perigoso?

- Eu não sabia que existia esse tipo de flor, e muito menos que existiam campos repletos delas, mas elas são super atraentes e macias, são ótimas!

- Eu sei, é por isso que elas te fazem dormir. São tão atraentes quentes e macias que te fazem dormir se você deitar. Você poderia dormir pra sempre, sabia? Nunca mais acordar, ficar preso nos sonhos é isso que você quer? E quem te deu permissão pra sair perambulando pela floresta sozinho? – Disse Lorem em tom de sermão.

Ricoh hesitou, olhou para um lado, fez cara de criancinha raivosa e respondeu:

- Fuji. Era uma cerimônia em que nós tínhamos que mostrar nossos poderes, eu não consegui. Todos me vaiaram.

- Então só por que todos te vaiaram você fugiu, foi choramingar? – Disse o homem, quase sentindo uma certa raiva do garoto. – Garoto, se você não agüenta uma vaiazinha de nada, como você poderia um dia participar de uma guerra?

- Não, não é só isso, também tem os meus poderes, herdei os poderes de Hidarck, O Sanguinário!

- Não é possível... é...

- Ricoh...

-... é... Ricoh, você não se parece nem um pouco com Hidarck, a personalidade? Tsk, tsk, tsk, não é nada parecida com a dele, você não tem coragem suficiente para se parecer com ele. – Disse Lorem franzindo novamente a testa, como se quisesse que o garoto acreditasse em todas as suas palavras.

- Você o conheceu? Fala dele como se conhecesse!

- Não. – Disse Lorem, virando o rosto para que o garoto não entendesse as expressões tão demasiadamente salientadas em seu rosto. – Ah, mas quem não sabe o mínimo de informações sobre ele? Ele era cruel! – Lorem parecia ter nojo das próprias palavras.

- Ah, vamos, levante, eu preciso te levar de volta ao castelo. – E agora vamos seguir outro caminho!

Ricoh ficou com a língua coçando para fazer mais perguntas, ele tinha que perguntar.

- Sonhei com você, sabia? – Ele disse quando o homem preparava-se para levantar da ponta da cama onde estava sentado.

- E o que exatamente sonhou? – Disse o homem encarando-o.

- Você saia de uma árvore, os casus nos atacavam e você me protegia. – Disse o garoto resumindo.

- Tsk, tsk, tsk, besteira, besteira, garoto, besteira. – Disse Lorem como se quisesse não só convencer o garoto, mas também a si mesmo. – Vamos.

Os dois levantaram-se, Ricoh já podia caminhar. Então adentraram a floresta, e seguiram pelo caminho das plantas carnívoras. 


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Notas finais do capítulo

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