Eu estava no meu quarto – algum tempo antes de ir dormir – arrumando meu cabelo para esconder aquele machucado. Jesse ainda não havia aparecido. Quando, finalmente terminei de esconder minha ferida, peguei o pijama e fui me vestir no banheiro – hábito que ganhei por causa de Jesse. Depois de me trocar, deitei na cama e esperei o sono chegar, mas ele não vinha. O que Jesse estava escondendo de mim? Eu não iria conseguir dormir até descobrir. Jesse estava escondendo algo de mim. Não se esconde segredos das pessoas em quem confiamos.

Então tentei chamá-lo, mas ele não respondia. Acho que estava brincando comigo. E eu não estava gostando.

— Jesse.

Deixei escapar um murmúrio, de tanto que pensava nele. Mas pelo jeito deu certo, olhei para o lado e lá estava, acariciando Spike – um gato estúpido que cuido por causa de um garoto que morreu e não sabia o que fazer com ele – gato de sorte...

— Chamou, hermosa? – perguntou.

— Jesse, eu ainda não agradeci por ter me salvado... – parei um pouco. Será que era necessário? Sim... era. Então continuei – Obrigada.

Jesse apenas sorriu. Belos dentes brancos. As vezes é irritante quando ele não fala nada.

— Jesse... Por que você não quer me contar?

— Contar o quê? – Jesse estava confuso.

— O que você estava escondendo de mim.

— Escondendo? – Jesse levantou a sobrancelha com a cicatriz — Ah, aquilo... – Jesse começou a rir — Suzannah, eu não estou escondendo nada!

— Jesse, não minta pra mim!

— Suzannah, pelo que eu saiba é você que mente pra mim – ele parou de sorrir.

Pegou pesado.

Realmente fiquei sem jeito, por que eu não poderia falar que era mentira. Ele estava certo.

— Jesse, por que você está fazendo isso?

— Isso o quê?

— Escondendo e mentindo! – acabei de falar o que eu geralmente faço... eu realmente não tinha condições de reclamar de Jesse.

— Suzannah... – Ele veio até minha cama e se sentou. Depois levantou meu cabelo — Esse machucado mexeu com seu cérebro... O que eu podia estar escondendo de você?

— Alguma coisa... Branca, que cabe na palma da mão, quem sabe? – falei sarcástica, mas Jesse não se incomodou com isso.

— Hermosa, vá dormir. Amanhã você tem aula – ele falou, voltando a sorrir

— Jesse, se você não me falar... – Eu ia cometer a maior idiotice da minha vida. Era o fim — Eu nunca mais falo com você – Eu me virei e puxei a coberta.

Jesse ficou sério.

Certo, parem de rir.

Por que eu falei isso? E se Jesse nunca me contar. E se for algo envolvido com a morte dele? – coisa que ele não se sente muito a vontade em comentar – E se eu nunca mais falar com Jesse?

Pensei em pular em cima de Jesse e pedir desculpas por ter sido tão infantil. Se ele não quer falar, é porque ele não quer falar! E eu respeito isso!

Então Jesse rompeu o silêncio do quarto.

— Tudo bem então, Suzannah. Boa noite – E se desmaterializou sumindo sem que eu pudesse dizer algo para impedí-lo.

Onde tinha ido parar o "Hermosa"?

É. Era o fim. Depois disso o que eu iria fazer?

Certamente eu ia pensar em algo amanhã. Já era tarde e eu estava muito cansada. Demorou um tempo até que conseguisse dormir. A ultima vez que me lembro em que olhei o relógio, era uma da madrugada.

E agora? O que eu faço?

Não ouvi respostas, tudo se escureceu. Os sonhos viriam agora, espero que mais tranqüilos do que a vida real que já me trás muitos problemas.

Enfim adormeci.