- Oi. – ele sorriu.

                - O que você está fazendo aqui? Ou melhor, como você chegou aqui? – brinquei com o taco mais aliviado.

                - Bem... – ele começou.

                - Pedro, o que está acontecendo? – o professor surgiu pro trás de Caspian, interrompendo-o. Os olhos confusos do senhor corriam de Caspian para mim e vice-versa.

                - Está tudo bem, professor. – disse-lhe.

                - Quem é esse? – perguntou olhando Caspian.

                - Professor – aproximei-me dos dois. – este é Caspian, rei de Narnia.

                Seus olhos brilharam por trás dos óculos, completamente encantado.

                - D-de Narnia? – questionou.

                - Ele sabe sobre Narnia? – perguntou Caspian.

                - Se ele sabe? – eu ri – Caspian, este é o professor Kirke, ou, como é mais conhecido em Narnia, Lord Digory.

                Caspian também me olhou encantado e depois se dirigiu ao professor.

                - É uma honra conhecer o homem que viu Narnia nascer.

                - Mas, me diga como chegou aqui? – perguntei.

                - Pelo guarda-roupa...

                - Pedro – o professor chamou-me a atenção, interrompendo Caspian novamente – Perguntas depois, ele deve estar cansado, ou com sono...

                - Não precisa se incomodar... – tentou Caspian. O professor levou a mão à testa.

                - Você é de Narnia mesmo?

                - Sou sim.

                - Professor – interrompi – perguntas depois, lembra?

                - Ora – resmungou ele – Bem, sabia que é uma honra recebe-lo aqui, sinta-se em casa. Já está tarde, não é hora para conversa. Pedro, por gentileza, acomode-o em seu quarto e empreste algumas roupas a ele. Amanhã damos um jeito... Se me der licença, vou voltar a dormir, fique a vontade. – e saiu de volta ao seu quarto murmurando – De Narnia, oh, céus, como é possível?

                Quando ele sumiu na curva do corredor sinalizei para que Caspian me acompanhasse. Preparei uma cama para ele no sofá.

                - Então, como chegou aqui? – perguntei.

                - Aslam me mandou. – ele vestia o pijama que eu lhe emprestara. – disse que ela precisa de ajuda.

                Sabia a quem ele se referia e lamentava que estivesse certo.

                - E como precisa... – lamentei. Ele uniu as sobrancelhas.

                - O que aconteceu?

                - Sinceramente, Caspian, acho que a pessoa mais indicada para lhe contar é ela mesma.

                - Falando nisso, onde é que estão todos? – perguntou animado.

                - Em Londres, mais exatamente a 1000 milhas daqui.

                - E como andam?

                - Bem, Ed está como sempre, Eustáquio muito mudado... Virar dragão fez bem a ele... – comentei. Caspian riu um pouco. – Essa viagem foi a primeira coisa que Lucia nos contou a mim e a Susana quando nos viu... Sabe, ela contou cada detalhe e a Su não gostou nem um pouco da parte dobre a tal Lilliandil. – Ele sorriu um pouco eu suspirei. – E o que aconteceu em Narnia?

                - Nada demais... Correu tudo tranquilamente até o dia em que Aslam chegou. – Ele foi para sua cama e eu para minha. Um silêncio.

                - Pedro? – chamou – e a Susana, como ela está? – pediu uma explicação mais detalhada.

                - Bem, quando ela chegou dos Estados Unidos, levou Ed e Lu para morarem com ela em nossa casa, começou a trabalhar, ingressou na universidade...

                - Pelo visto ela não precisa de mim, ou de minha ajuda.

                - Ah, tudo bem, eu vou te contar. Acontece que há alguns dias, eles receberam um comunicado que o nosso pai estava em debito com o banco e se a divida não fosse paga em um mês, perderíamos a casa. Resumindo, eu fui pra lá tentar negociar e...

                - Não, não. – ele me interrompeu – Não termine, eu aguardo até encontra-la.

                Dei de ombros.

                - Você quem sabe.

                - Boa noite.

[...]

                Na manhã seguinte a conversa foi rica com o professor; ele apresentou Caspian à Dono Marta como um velho amigo meu que viera me fazer uma visita. A conversa varou a manhã no escritório, o assunto nunca morria e sempre era inovado. Eu apenas os assistia.

                Próximo a hora do almoço o telefone tocou e como os dois pareciam nem ter ouvido, eu atendi.

                - Alô.

                - Pedro? – voz do outro lado.

                - Oi, Lu, o que houve? Por que você não está na aula?

                - É por que hoje é feriado. – respondeu como se fosse obvio, e era.

                - Ah, claro. Então, o que você quer?

                - Nada de mais, só queria saber como vão as coisas por aí...

                - Vão bem. – respondi – e por aí?

                - Bem também.

                - Que bom.

                - Era só isso, até amanhã.

                - Lu, Lu! – chamei urgente antes que deligasse. – Espere!

                  - Fala.

                - É que eu tenho uma surpresa para a Su e queria que...