Não me importei de ter pegado no braço de Jason bruscamente e ter feito as aguas nos levarem em direção à praia que fica ao lado de Northerly Island Park. Era lá que meus amigos estavam e posso dizer que não foram por vontade própria já que a parte em que estavam no Northerly estava totalmente destruídas, arvores arrancadas, caídas no chão ou sendo usadas como bastões por gigantes. Sim, tinha gigantes e de vários tipos.

Ashley, Marvin, Leo e Piper estavam no centro da praia com diversos monstros os cercando. Tinha Ciclopes, hiperbóreos, dracaenae, empousae, cães infernais, e muitos outros tipos de monstros que eu nem conheço.

Eu precisava pensar em alguma forma de ajudar meus amigos. Até pensei em fazer uma onda e encobrir todos os monstros, mas meus amigos estavam no centro não dava para fazer isso e garantir que todos eles saíssem bem dessa.

Assim que senti que estávamos na areia soltei o braço de Jason e fiquei confuso. Ok, sei que pode ser meio estranho, mas eu não sabia o que fazer com excalibur. Eu não sabia se podia usar ela, ou se eu deixava esse dilema de lado e usava contra corrente de uma vez.

Felizmente não precisei ficar pensando muito nisso. Quando coloquei um pé fora da agua um cão infernal pulou em minha direção. Automaticamente levantei meu braço direito e golpeei o cão infernal fazendo ele virar pó em milésimos de segundo.

Olhei para a espada em minha mão. A lâmina ainda brilhava em um tom azul mais claro e ele era mais cumprida que contracorrente de fio duplo, me pergunto que tipo de material essa lamina foi feita para ter esse brilho que parecia te hipnotizar se ficasse olhando muito para ela.

O cabo da espada era envolvido de couro escuro, uma guarda bem trabalhada. Parecia ser simples, mas dava para sentir que era uma arma muito poderosa.

Na parte perto do cabo da lâmina que estava escrito excalibur agora só aparecia o escrito se você movesse a espada contra a luz. A espada se equilibrava perfeitamente na minha mão, mais perfeita que contracorrente.

Um rosnado horroroso e ensurdecedor me fez sair dos devaneios de admirar a nova espada e olhar para o ciclope com um imenso bastão feito de metal.

Parecia que eu tinha ficado minutos olhando, analisando, para excalibur, mas ao ver que o pó, que outrora foi um cão infernal, ainda estava caindo no chão não parecia ter passado mais que um segundo. Muito estranho.

Só para ressaltar, me pergunto qual é o problema dos ciclopes com roupas, esse que estava me atacando estava vestindo só uma tanguinha verde musgo de dar arrepios e os outros ciclopes que estavam lutando vestiam roupas mais estranhas e feias.

– Ua-rra-rra-rro-rru. – esse foi o urro do ciclope antes dele abaixar seu bastão de metal em minha direção.

Rolei para o lado me esquivando ao mesmo tempo em que um assobio bem era alto era soado. O bastão do ciclope parou antes de acertar o chão a onde eu estava. Vi Jason do outro lado do bastão do ciclope com sua espada em punho.

Olhei ao redor e assim como o ciclope todos os outros monstros pararam de lutar. Parecendo até uma cena ensaiada, todos os monstros viraram em direção e logo eu também estava olhando naquela direção do mesmo jeito que meus amigos estavam agora. Apesar da distancia eu conseguia enxergar bem o que todo mundo estava olhando.

Encostado contra uma arvore, uma das poucas que ainda estavam de pé, não muito longe da praia estava Luke Castellan com a ponta de sua espada no chão, a mão direita sobre o cabo, como se ela fosse uma bengala, e olhava em minha direção.

Luke estava usando somente a proteção do peito, a parte da frente da armadura. Ao lado de Luke estavam Calipso e Lâmia, ambas vestindo armaduras, com aljavas cheias de flechas penduradas nos ombros, arco na mão e espada embainhada presa na cintura.

Olhei com raiva para Lâmia, ela poderia ser minha meia-irmã, como a maioria dos ciclopes que estavam aqui, mas isso não queria dizer nada. Se eles querem machucar as pessoas que eu amo então não tenho escolha a não ser lutar contra eles.

Não vou deixar ninguém, monstro, semideus, Deus, Titã, ao qualquer um que fosse, machucar minha família. Apertei com mais força o cabo de excalibur. Lutaria com todas as minhas forças para garantir que nada de mal acontecesse com minha família.

– Vejo que esta com uma nova arma. – disse Luke começando a caminhar em minha direção sendo seguido de perto por Calipso e Lâmia.

Os monstros saiam de seu caminho deixando o caminho livre. Marvin, Ashley, Piper e Leo vieram correndo para o meu lado, assim como Jason, passando por entre os monstros que não fizeram um movimento se quer para impedi-los de chegarem até mim.

– E isso é da sua conta por quê? – perguntei encarando Luke com raiva.

Independente do que o levou a ficar do lado de Oceano e Anfitrite, Luke tinha tocado na MINHA noiva e eu não ia deixar isso passar em branco. Mas de jeito nem um que eu ia.

– Nossa, é a primeira que vez que nós nos vemos depois de tudo e já esta com essa raiva toda de mim? – disse Luke fingindo estar ofendido.

– Pra você ver. Você morre como um herói e quando, não sei por que ainda, voltou à vida se junta com as pessoas que querem destruir aquilo por qual morreu. – falei sarcástico.

– Achei que estava com raiva pelo meu encontro com Annabeth ontem à noite. – disse Luke sorrindo maliciosamente.

– Que historia é essa? – perguntou Ashley espantada olhando alternadamente para mim e para Luke que não tirava aquele bendito sorriso do rosto. Trinquei o maxilar com raiva.

– Você foi ao acampamento? – perguntou Marvin perplexo. Luke somente assentiu se divertindo com a situação que causou.

O estranho era que ninguém “amigo” de Luke parecia ter se importado com o fato dele ter ido para o acampamento, parecia até que já sabiam. Estreitei os olhos na direção de Luke. Será que a ida dele ao acampamento falar com Annabeth era parte de algum plano deles?

– Adorei ver a ceninha que você fez na mensagem de Íris. Me faria até chorar se não tivesse sido tão enjoativa de excesso de doce entre vocês dois. – sibilou Lâmia com cara de nojo, mas eu estava pouco me importando com a cara que ela estava fazendo.

O que a Lâmia falou só comprovava que, mais uma vez como sempre, Annabeth estava certa. Eles “grampearam” a nossa conversa na mensagem de Íris, mas como eles fizeram isso?

Eu sabia que Quíron fez isso uma vez, mas isso era porque Íris estava devendo a ele, uma coisa desse tipo, e por isso ele conseguiu nós ajudar naquela época. Quiron é amigo tudo bem, mas agora foram os inimigos.

Me pergunto se a Deusa Íris deve alguma coisa a eles também, mas logo descarto essa pergunta. Eles têm que ter conseguido isso de uma outra maneira. Não quero pensar em Deuses que se aliam ao inimigo.

– Porque não vai comer rato, sua cobra. – disse Ashley fazendo uma careta para Lâmia.

– Cobra mesmo, tem até rabinho de uma, olha só. – disse Leo apontando para a parte inferior de Lâmia que era uma cauda de cobra.

– Seu meio-sangue asqueroso e nojento, vou te comer lentamente. – disse Lâmia arreganhando os dentes na direção de Leo.

– Asqueroso e nojento e assim mesmo vai me comer e ainda lentamente. – disse Leo soando sarcástico. – Bom gosto o seu, rabinho de cobra.

– Hum, a filha de Perséfone. – disse Luke com interesse olhando para Ashley não se importando com as alfinetas de Leo e Lâmia.

Ashley deu um passo para trás assustada com o olhar de Luke. Marvin instantaneamente postou seu corpo na frente do de Ashley.

– Fique longe dela. – disse Marvin com a voz firme e pontando a faca que estava usando em direção a Luke que sorriu de canto.

– Annabeth ainda usa a faca que eu lhe dei. – disse Luke olhando para mim com divertimento. – Isso deve significar alguma coisa, não acha, Jackson?

– Provavelmente Annabeth quer ela mesma te devolver, acabando com você usando ela. – falei tentando não demonstrar como isso me deixou incomodado.

– Claro, eu comprovei isso ontem à noite, como você viu bem, não é? – perguntou Luke sorrindo e piscou para mim. Será que ele não pode falar de outra coisa?

– Isso foi gay, cara. – disse Leo parando de encarar Lâmia e olhando para Luke. – Nada contra gays, eles podem ser pessoas muito legais e divertidas só não da em cima de mim também porque minha fruta é outra.

– Você é idiota, ou se faz de um? – perguntou Luke visivelmente raivoso e isso gerou, mesmo nessa situação, risadas coletivas minhas e dos meus amigos, até alguns monstros faziam esforços para não rirem.

– Boa pergunta. Despois de tudo que passamos voto fielmente na primeira opção. – disse Jason com um sorriso torto.

– Apoiado, Jason. Primeira opção com certeza. – disse Piper com um sorriso no rosto, mas dava para perceber que ela estava tensa.

– Isso é que são amigos, chamando o outro de idiota. – murmura Leo emburrado.

– A conversa já foi longe demais. – disse Calipso se pronunciando pela primeira vez.

Sabe, é difícil pensar nela como inimiga. Não me entendam mal, mas é só que ela cuidou de mim por duas semanas na ilha. Não é fácil você ter que lutar com alguém que cuidou de você com tanto... carinho.

Tenho uma divida com ela, mas dependendo do que acontecer não sei se pagarei essa divida algum dia e pelo que ela me falou na primeira vez que a gente se viu depois da ilha eu não estava duvidando nada que eu não pagaria já que ela falou que esperava que eu morresse como um herói no final de tudo.

– Vamos pegar a espada e sair daqui. É para isso que viemos aqui. – completou Calipso e os monstros urraram em comemoração e olharam sorrindo macabramente em nossa direção.

– Podem esquecer. – falei dando um passo para trás. Uma ideia tinha surgido na minha cabeça e agora que meus amigos estavam perto de mim poderia dar certo.

– Com medo, Percy? – perguntou Luke arqueando uma sobrancelha.

– Ah claro, morrendo de medo de você. – falei sarcástico e dei mais um passo para trás. O bom é que eu não tinha me distanciado muito.

– Nem adianta tentar, Percy, seu plano não vai dar certo. – disse Luke e apontou para algo atrás de mim. – Temos um filho de Poseidon que controla agua tão bem quanto você.

Sei que seria errado dar as costas para Luke e os monstros, mas meu corpo agiu por vontade própria e quando dei por mim estava olhando em direção ao lado e há alguns metros de mim estava Tritão em sua forma humana, em pé sob a agua com uma armadura completa e uma espada presa na bainha em sua cintura.

– Filhos de Poseidon no lado negro da força. – murmura Leo. – Não bastava os ciclopes agora esse cara.

– E vou avisando que o plano da filha de Atena não vai funcionar. – disse Tritão com ar de superioridade. – Então sugiro que apareça Annabeth Chase e seja lá quem for que esta com você. – o grito de Tritão fez todos os semideuses presentes fazerem uma careta.

– Annabeth não esta aqui. – gritou Marvin para Tritão que o fulminou com os olhos.

Marvin, Ashley e eu estavam de frente para o lago enquanto que Piper, Leo e Jason estavam de frente para Luke e os monstros, estávamos ombro a ombro.

– Claro, depois da conversa que tiveram sobre o plano de vocês de entrarem no rio...

– É lago. – corrigiu Leo interrompendo Tritão. – O mundo deve estar perdido mesmo. Um filho de Poseidon não sabendo a diferença entre um rio e um lago, tudo esta acabado mesmo.

– Vou adorar acabar com você filho de He...

– Chega de drama, Tritão. – ouvi Luke falar interrompendo Tritão que bufou raivoso e com um movimento de sua mão fez uma cadeira feita da agua do lago e se sentou nela.

– Que seja, Luke. – disse Tritão com desprezo. – Mas de qualquer jeito, sabemos que a filha de Atena arquitetou um plano sob o plano de vocês e ele não funcionara.

– Você fala de mais. – disse Marvin, mas eu percebia a tensão em sua voz.

– Porque temos alguém que a conhece muito bem. – disse Tritão com divertimento olhando sugestivamente para alguém atrás de mim, provavelmente Luke. – E principalmente, sabemos que ela já esta aqui e eu até já a estou vendo.

A agua se movimentou ao seu lado e um tridente saiu da agua subindo até ficar na altura de Tritão que o pegou com rapidez e o lançou em minha direção, mas o tridente passou por cima da minha cabeça indo mais além.

Segui com o olhar a direção do tridente e o vi se alojando na parede de divisória do pavilhão. Não dava para ver direito por estar muito longe, mas foi possível ouvir um grito feminino vindo daquela direção que por um segundo fez me sentir como se meu coração tivesse sido espetado com uma lamina fria.