Apesar de tudo Leo estava certo, só na parte de parar de rir. Eu precisava falar com Annabeth o mais rápido possível, não importa as brincadeiras, podiam me fazer rir, mas infelizmente não me fazia esquecer o mais importante.

– Ok, vamos parar com isso. – falei depois de respirar fundo e parar de rir do Leo. – Encontro vocês depois. Primeiro eu preciso conversar com a Annabeth.

– Se incomoda se eu falar com ela junto com você? – pergunto Marvin.

– Não, tudo bem. – isso foi o que eu disse, mas o que eu queria realmente dizer era “Sim, incomodaria e muito porque eu não poderia perguntar o que eu queria realmente, não na sua frente”.

Mas pensando bem, ele pode falar com a Annabeth primeiro depois eu enxoto ele e poderia conversar com ela a sós. É até que não é uma má ideia.

– Então vocês dois esperem a gente junto com Piper e Jason na lanchonete em frente. – disse Marvin para Ashley e Leo que levantou a mão. – O que foi Leo?

– Eu posso ver vocês fazerem o lance da Mensagem de Íris? – perguntou ele empolgado. – Sabe, vocês falaram bastante dela, mas eu nunca vi e eu queria ver. Só por curiosidade se...

– Tudo bem, Leo. – falamos Marvin e eu juntos. Rolei os olhos. Tem horas que o Leo parece uma criança pequena, porque criança ele já é.

Ashley foi até o quarto dos meninos, Piper e Jason estavam lá, enquanto nós três fomos ao banheiro para fazer o arco íris. Leo ficou vidrado olhando tudo enquanto eu ligava a agua do chuveiro e abria mais a janela do banheiro para a luz do sol entrar e refletir nas gotas de agua do cuveiro. Quando o Arco-Íris se formou Marvin pegou um dracma em seu bolso.

– Ô Deusa, aceite nossa oferenda. – disse Marvin e jogou o dracma no arco-íris que desapareceu em um tremeluzir dourado.

– Maneiro, cara. – murmurou Leo ao meu lado animado.

– Annabeth Chase, Acampamento Meio-Sangue. – finalizou Marvin.

Por um momento nada apareceu, mas logo a imagem de um chalé apareceu. Livros organizados nas prateleiras. Mapas de Batalha e projetos de arquitetura decoravam as paredes. As beliches de lado, como se não fossem muito importantes.

Estávamos vendo o chalé de Atena e vi a silhueta de minha noiva, é bom pensar assim, debruçada sobre uma escrivaninha escrevendo alguma coisa e Nico sentado em uma cadeira ao seu lado.

Tapei a boca de Marvin com uma mão quando ele ameaçou falar alguma coisa quando nem Annabeth, ou Nico perceberam a gente. Mandei um olhar de cala à boca para ele e para Leo só para garantir que ele não fale nada também e soltei Marvin.

Eu sei que não é certo bisbilhotar e eu normalmente não sou bisbilhoteiro, mas nesse caso era muito importante, não me culpem e me julguem, Annabeth já vai pegar no meu pé por causa disso e sabe se lá Zeus o que ela vai fazer comigo.

– Olhe bem aqui, Nico. – disse Annabeth apontando alguma coisa na escrivaninha e Nico se inclinou sobre a escrivaninha olhando algo. – Você vai ter que fazer a volta por aqui sem ser visto enquanto alguns campistas distraem eles. Eu vou pelo outro lado usando o meu boné.

– Não pode dar seu boné para nem um dos seus irmãos para você não ter que ir? – perguntou Nico esperançoso mesmo sabendo que Annabeth nunca faria uma coisa dessas, é bem difícil ela emprestar esse boné, só empresta quando é caso de vida, ou morte. Annabeth negou com a cabeça e sorriu de lado.

– Sabe que nada vai acontecer comigo e também... – Nessa hora Annabeth virou a cabeça em nossa direção de forma descontraída. Seu sorriso desapareceu e ela se calou de imediato quando nós viu. Seus olhos se arregalaram e eu sorri de canto.

– Fazendo alguns planos, Annabeth? – perguntei inocentemente cruzando os braços em frente ao peito encarando ela que ainda parecia muito surpresa em me ver.

– Pega no flagra, Annie. – disse Nico se levantando da cadeira e isso vez Annabeth despertar e encara-lo. – Agora desistimos disso, melhor você fica aqui no acampamento e seguimos o seu plano. Aposto que...

– Nem ouse terminar essa frase, Nico di Angelo. – disse Annabeth ferozmente e Nico voltou a se sentar na cadeira desviando seus olhos para o chão.

– Bom, eu já vi como funciona a Mensagem de Íris, então estou caindo fora. Espero vocês dois na lanchonete. Até mais. – disse Leo rapidamente antes de sair disparado do banheiro. Ouvi a porta da frente se fechar com força.

Ninguém pode culpar Leo de ter saído assim, aposto que Nico também queria sair dali, mas com certeza seria pior para ele depois. Annabeth quando fica brava e te lança aquele olhar é de dar medo até em Deuses.

– Algo a dizer em sua defesa, Annabeth Chase? – perguntei olhando diretamente nos olhos dela que estavam muito escuros, iguais a nuvens da pior tempestade que você já viu multiplicada por dez.

Mas eu não me intimidei. Eu tinha que mostrar que eu sou forte e determinado naquilo que busco ter e ser e isso inclui ter que encarar Annabeth sem ter uma imensa vontade de dizer que ela esta certa em tudo para tudo voltar ao normal.

Pensando bem agora. Eu acho que eu nunca falei o nome da Annabeth completo, pelo menos não dessa forma como acabei de falar.

– Sim, Perseu Jackson. – disse Annabeth com tanta frieza que eu senti um ar gelado bater em meu corpo e senti meus pelos do braço se arrepiarem.

– Então, qual é ela? – Me mantive firme e forte.

– Percy, você que não estipulou quanto tempo eu não deveria armar nem um plano e quanto tempo eu deveria ficar aqui no acampamento. – disse Annabeth com um sorriso vitorioso. – Cumpri minha parte, vim para o acampamento com o Nico e fiquei um tempo...

– Muito curto. – murmurou Nico fazendo Annabeth rolar os olhos.

– ... Sem planejar, ou armar, nada. – completou ela.

– Você leva as coisas muito ao pé da letra, Annabeth. – falei emburrado e Marvin assentiu assim como Nico do outro lado da mensagem de Íris.

– Quando for impor alguma coisa a um filho de Atena é melhor achar um jeito deles não burlar. Pense muito antes de propor. – disse Marvin categoricamente e Nico e eu rolamos os olhos quando Annabeth piscou cumplice para Marvin.

– Marvin, porque você não fala logo o que quer com a Annabeth e sai daqui? – perguntei encarando ele sugestivamente e vi ele engolir em seco.

Sorri quando ele logo começou a contar seu plano para Annabeth que enquanto ouvia trocava olhares com Nico. Já disse que odeio esse tipo de conversa muda? Se sim, não vejo problema em dizer de novo. Eu odeio isso.

Depois que Marvin contou o plano Annabeth adicionou algumas ideias a esse plano e fico feliz em dizer que pela primeira vez eu sei de um plano por completo. Depois Annabeth contou como estavam as coisas no acampamento.

Nico gargalhou quando Annabeth contou como estava Damon. Até perguntei o porquê de ele ter agido assim, mas Annabeth disse que depois falava tudo com mais calma.

A conversa entre nós quatro demorou em torno de 20 minutos, o que rendeu mais três dracmas para manter a “ligação”.

Assim que Marvin disse tudo que precisava empurrei, enxotei para ser honesto, Marvin para fora do banheiro a base de protestos dele e risos vindo de Nico e Annabeth. Prometi que em alguns minutos estaria com ele e os outros na lanchonete para não nós atrasarmos mais.

– Eu sei que Luke esteve no acampamento e ouvi toda a conversa de vocês dois, Annabeth. – fui direto ao assunto quando vi Marvin sair do quarto. Fechei a porta do banheiro e virei para olhar para Annabeth e Nico que estranhamente pareciam calmos.

– Bom, pelo menos isso já facilita nossa conversa e pelo tom de voz dele acredito que meu pai vai ter mais uma alma no Mundo Inferior. – disse Nico dando de ombros como se isso fosse muito normal, o que de certa forma é mesmo.

Eu não havia reparado em meu tom de voz. Mas me lembrando agora, foi carregado de ódio, principalmente quando eu disse o nome de Luke.

– Então, vai me dizer o que você e o Nico...

– Annabeth. – disse Nico me interrompendo. – Ela me obrigou a participar de tudo, não tenho culpa de nada, foi por pressão.

– E isso me lembra que eu devo te dizer que você é um frouxo, Nico di Angelo. – falei encarando ele que me olhou com os olhos arregalados. – Como você pode aceitar isso? Sabe que é muito perigoso o que quer que ela esteja armando deveria impedi-la.

– Opa, opa, opa. – disse Nico se levantando da cadeira e me encarando divertido. Estranho. – Se eu sou um frouxo, então você também é, porque você é o que mais faz as vontades dela, não é por isso que eu estou aqui para começo de conversa?

– Eu achei que vocês e Damon ficariam quietos e salvos, por isso deixei você ir com ela. – contrapus apesar de não ser bem por isso que eu fiz.

– Claro.  E o olhar que ela lançou para você na hora não queria dizer nada não é? – perguntou ele divertido cruzando os braços em frente ao peito. – Marvin me contou sobre isso. Não vem querendo dar uma de espertinho para cima de mim não, Jackson.

A imagem tremeluziu e eu já sabia o que era. Procurei rapidamente no bolso da minha calça um dracma antes que a mensagem se dissolvesse. Por sorte eu tinha uma, só uma, no bolso e joguei antes da voz da mulher no meio da nevoa terminar o que estava dizendo.

Sabe, aquela mensagem: Por favor deposite um dracma para mais cinco minutos.

Assim que o dracma sumiu em um tremeluzir dourado a imagem se focalizou de novo. Nico estava sentando na cadeira de novo e Annabeth estava apoiada na escrivaninha de costas.

– Annabeth estava contando que você não tivesse dracmas com você. – disse Nico de forma divertida e ganhou um peteleco na cabeça de Annabeth. – Esquece o que eu disse. – falou massageando a onde Annabeth havia batido nele.

– Vamos logo com isso e me conte o que esta armando, Annabeth, e eu não tenho mais dracmas também. – falei e rezei mentalmente para que Annabeth me respondesse.

– Não posso contar, é perigoso. Podem estar grampeando essa mensagem. – disse Annabeth deixando a mim e a Nico estupefatos.

– Como não? Você acabou de fazer um plano com Marvin que envolve muitas coisas e agora não pode falar sobre isso? – perguntei revoltado e vi Annabeth morder o lábio nervosamente.

Meus olhos se arregalaram e minha boca formou um perfeito ‘O’. Eu não podia acreditar que Annabeth estava armando um plano em cima do plano de Marvin e ainda tinha mais um plano. Ok ficou confuso, mas é mais ou menos assim mesmo.

– Annabeth, você só pode estar de brincadeira. – falei tentando não gritar por causa da raiva que eu estava sentindo. – Porque você sempre faz isso?

– Desculpa. – disse ela com os olhos transmitindo tristeza demonstrando que ela realmente não queria agir assim. – Eu sei que não deveria fazer isso, mas é necessário. Só peço que confie em mim. Sei o que estou fazendo.

– Esse é o problema. – reclamei. – Eu confio em você, sempre vou confiar, mas no que isso adianta no final das contas? Do mesmo jeito vou me preocupar com você, principalmente por te conhecer, saber como você é e por não estar ao seu lado para poder te ajudar e te proteger garantindo que eu faria tudo para terminar bem. Isso acaba comigo.

– Percy, me desculpa. – disse Annabeth com lagrimas nos olhos que escorriam por seu rosto e agora eu estava me sentindo culpado e sentindo meus olhos marejados. Droga. – Mas eu preciso fazer isso, não tem mais ninguém que possa fazer isso sem ser eu.

– Só peço que pense no nosso filho que esta ai em seu ventre, em Damon e em mim. – falei engolindo em seco. Uma lagrima escorreu pelo meu rosto. – Por favor, não se coloque em perigo desnecessário só para provar alguma coisa a quem quer que seja. Todos nós já sabemos, e alguns na pratica, do que você é capaz. Por favor.

– Hormônios de gravida. – reclamou Annabeth secando suas lagrimas. Nico sorria para mim e fez sinal positivo com o dedão levantado. – Quando eu não sabia que estava gravida eles pareciam que nem existiam, que tudo estava normal, mas agora é isso.

– Cara, estou louco para fazer a Clarisse ficar assim. Já pensou filmar a Clarisse chorando? – disse Nico rindo e tanto Annabeth, quanto eu, rimos também. – Isso seria uma relíquia.

Ficamos em silencio. Nico sorria sentado em seu lugar enquanto que eu e Annabeth nós encarávamos.

Não eram necessárias palavras para saber que Annabeth iria do mesmo jeito seguir seu plano, mas pelo menos agora eu sabia que depois do que eu falei ela não tentaria fazer nem uma maluquice que a prejudicasse e ao nosso filho.

Dessa conversa muda eu gosto.

Antes da mensagem tremeluzir e desaparecer vi Annabeth movendo os lábios com um sorriso. Foi inevitável um sorriso bobo não aparecer em meu rosto depois que eu entendi o que ela havia me dito.

– Eu também te amo, Sabidinha. – falei sem tirar o sorriso bobo do rosto olhando para aonde estava à mensagem.