Entre o ódio e o amor escrita por Teddie, Madu Alves


Capítulo 3
Talvez amigos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/152410/chapter/3

Madeline’s POV




            O resto do dia foi mais para eu tomar um bom banho e ver como era a casa. Leia-se mansão. Ao total, aquela casa tinha sete quartos, um banheiro em cada quarto. Mais dois banheiros, cozinha, sala de estar e de jantar. Agora eu me pergunto quem deixa essa casa para seis adolescentes morarem sem supervisão? Eu não deixaria.



            Eu ainda não havia feito questão de conhecer os outros moradores. Eu não queria conhecer nem o Christopher e o Thomas.



            Thomas.



            Eu não sabia o porquê, mas esse nome me fez sorrir. Ele parecia ser um cara legal. Fazer amizade com ele não poderia ser tão ruim assim. Poderia?



            Não poderia. Era ruim. Eu não podia fazer amizades e criar laços. Provavelmente alguma coisa ruim aconteceria e eu ficaria arrasada, igual como eu fiquei quando ela morreu. Sacudi a cabeça para tirar esses pensamentos da cabeça! Foi para isso que eu vim, para esquecer. E eu iria esquecer!



            Depois de uma noite sem sonhos, acordei decidida a decorar meu quarto. Era muito branco para mim. Ele precisava de cor.



            Tomei um banho demorado, me maquiei como sempre, para esconder meus olhos azuis e me arrumei. Desci para tomar café da manhã. A casa estava silenciosa, talvez ninguém tivesse acordado ainda. Tinha um barulho vindo da cozinha, mas não me importei.



            - Avassalador um cara interessante, posso ser o seu amante, policia ou traficante, mais não se esqueça que eu sou um pouquinho maluco depois que eu empurro tudo... Eu grito pau no cú do mudo... Do mudo... Do mudo...



            - Que porra é essa? - perguntei incrédula.



            O que eu vi? Eu vi um Thomas dançando funk e rebolando até o chão de olhos fechados e uma colher de pau na mão e um iPod na outra mão. O negocio devia estar muito alto, pois ele não me escutou falar.



            Ele ainda não tinha me visto, por isso continuou cantando e rebolando até o chão.



            - Pra, pra te enlouquecer, pra te enlouquecer, eu peguei uma gonorréia e vou passar para você.



            Com esse trecho eu não agüentei e comecei a rir. E rir muito, tão alto que ele me ouviu e tratou de tirar os fones e disfarçar. Traduzindo ele ficou vermelho e começou a tossir.



            - Oi Madeline, eu tava aqui, é, aqui fazendo meu café da manhã.



            - É eu vi - disse séria, ele pareceu ficar mais vermelho - Avassalador - com essa comecei a rir mais.



            Ele estava tão vermelho que pensei que ele ia explodir de vergonha. Foi engraçado.



            - Vai sair? - ele disse tentando mudar de assunto.



            - Ah, vou sim. Aquele quarto está horrível, ele precisa de um toque Madeline. - sorri.



            Ele foi deixando de ficar vermelho, provavelmente estava grato por eu não voltar ao assunto do café da manhã.



            - Ótimo, deixa só eu trocar de roupa e podemos ir - ele disse já saindo da cozinha.



            - Como assim podemos?



            - Ué Madeline, eu vou com você. - ele disse como se fosse o obvio.



            - Mas ô da gonorréia, - ele ficou vermelho de novo - Eu não te chamei.



            - Então vamos considerar que você estará me dando uma carona, e que vamos às mesmas lojas, mas nós não vamos estar perto um do outro, mesmo que nós vamos às mesmas seções da loja. A de decoração. - Ele argumentou sorrindo.



            Sinceramente, eu não me importava de ir com ele, mas eu queria me esforçar para não virar amiga dele. Mesmo ele parecendo um cara legal.



            Mas, era só uma carona, que mal havia nisso?



            - Avassalador, você tem cinco minutos pra se arrumar e me encontrar aqui - ele abriu um sorriso e permaneceu parado - Quatro minutos, e eu não me importo de ir sem você.



            Com isso ele subiu as escadas correndo e bateu a porta do quarto dele.



            Sentei numa cadeira que ficava de costas para a porta e fiquei esperando Thomas. Passou os cinco minutos e nada dele, eu já estava disposta a ir embora sem ele, quando ouvi passos na entrada.



            - Até que enfim Avassalador. Pensei que tinha morrido no seu quarto - disse sorrindo e me virando para ir embora.



            Não era Thomas e sim Christopher. Fechei a cara na hora.



            - Eu não sou avassalador ainda, mas eu posso ser o seu, se você quiser - ele disse se aproximando e colocando um braço de cada lado da mesa, me prendendo onde eu estava.



            Tentei sair dali, mas ele fez mais força nos braços.



            - Faço questão não, obrigada - tentei sair mais uma vez - Pode me deixar sair Christopher?



            - Faço questão não, obrigado. Eu sei que você me que Madeline, todas querem.



            Eu poderia bater nele mais uma vez para tentar sair, mas uma idéia melhor passou pela minha cabeça.



            Posicionei minha perna entre suas pernas, colando nossos corpos e sussurrei em seu ouvido:



            - Quero é?



            - Quer - ele disse sorrindo, provavelmente pensando que eu já tinha caído na dele.



            Olhei bem em seus olhos e vi desejo. Ele iria ver outra coisa.



            Usei toda minha força e dei uma boa joelhada nele. Christopher reprimiu um grito e caiu no chão com as mãos no amigo dele.



            - Quem sabe numa próxima ocasião, Christopher. - disse saindo da cozinha, deixando-o jogado no chão - THOMAS, SE VOCÊ NÃO DESCER EM - olhei no relógio - DEZ SEGUNDOS, EU VOU EMBORA SEM VOCÊ - gritei e na mesma hora Thomas desceu as escadas correndo.



            Ele olhou para cozinha e viu o Christopher no chão.



            - O que ele ta fazendo no chão? - perguntou confuso.



            - Dei uma joelhada nele - disse e ele me olhou com um misto de espanto e admiração.



            - Cara, quero morrer seu amigo - ele disse, olhando admirado para o cara jogado no chão.



            Como tudo no mundo não era bom, Thomas ajudou o otário a se levantar.



            - Não somos amigos - murmurei, dando graças a Deus que ele estava prestando atenção no Christopher.



Thomas’s POV



            - Não somos amigos - ela murmurou e eu fingi não escutar.



            Não entendia essa garota. Uma hora ela me zoava porque eu tava dançando funk e em outras dizia que não éramos amigos. Mas eu iria entender...



            - Vamos - eu disse quando terminei de ver se Chris estava ok.



            Ela havia feito um grande estrago, o moleque nem conseguia respirar direito.



            Ela somente assentiu e partimos em silencio para a garagem.



            Na garagem tinha apenas dois carros: Uma picape gigantesca preta e um Audi cinza. Eu já sabia qual era o dela. Por isso fui direto para a picape. Ela estranhou, mas não disse nada, apenas destravou sua picape e entrou, eu fiz o mesmo.



            Ela deu a partida em silencio e fomos para cidade. O clima estava estranho dentro do carro e o silencio estava desconfortável. Eu queria quebrar o silêncio, mas Madeline me dava medo, com aquela maquiagem toda e depois de dar uma joelhada no Christopher, eu não iria ser o doido de perguntar as coisas para ela, não por enquanto pelo menos.



            - Posso ligar o rádio, Madeline? - disse tentando quebrar o silêncio.



            - Pode, Thomas. - ela disse sem tirar os olhos da pista.



            Liguei o rádio e começou a tocar uma música que eu adorava.



Fuck you - Lily Allen



            - Eu gostava muito dessa música - ela disse suspirando.



            - Gostava? Isso está no passado, vamos, cante comigo e aprenda a gostar de novo - eu disse e comecei a cantar - Olhe dentro, olhe dentro da sua mente pequena. Depois olhe mais atentamente, porque ficamos tão desanimados, tão enjoados e cansados. De todo ódio que você guarda.



            Eu até cantava bem.



            - Cante comigo - pedi, ela apenas negou sorrindo - Então você diz que não é normal ser gay. Eu acho que você é malvado. Você é apenas um racista que sequer serve para amarrar meus cadarços. Seu ponto de vista é medieval



            Ela pareceu pensar um pouco, mas me surpreendi quando ela começou a cantar. Ela cantava muito bem.



            - Foda-se, foda-se muito, muito mesmo. Porque suas palavras não condizem e está ficando muito tarde. Então por favor, não se aproxime.


            Rimos e continuamos a cantar.



            - Você se sente. Você gosta de ter uma mente pequena? Você quer ser como seu pai É aprovação que você quer?  Bem, não é assim que vai encontrá-la - riamos muito, aquilo estava muito legal - Me deixe cantar sozinha agora - eu concordei.



            - Você, você realmente curte viver uma vida tão cheia de ódio? Porque há um buraco onde sua alma deveria estar. Você está perdendo o controle. E é realmente nojento.



            Rimos mais um pouco, aquilo estava muito divertido. Nem tínhamos notado direito que já havíamos chegado à loja



            Voltamos a cantar junto.
 


            -Foda-se. Foda-se muito, muito mesmo. Porque odiamos o que você faz e odiamos toda sua turma. Por favor, não se aproxime. Foda-se. Foda-se muito, muito mesmo. Porque suas palavras não conduzem e está ficando muito tarde. Então por favor, não se aproxime. Vá se foder, vá se foder, vá se foder. Vá se foder, vá se foder, vá se foder. Vá se foder



            Deixei-a cantar a próxima parte sozinha. Ela estava se divertindo muito, eu também estava. Ela estava dançando e eu também, ela dançava bem também.



            - Você diz você acha que precisamos ir pra guerra, bem, você já está em uma. Pois são pessoas como você, que precisam de uma lição. Ninguém quer sua opinião



            A musica tinha nos envolvido muito, voltamos a cantar junto.



            - Foda-se. Foda-se muito, muito mesmo. Porque suas palavras não condizem e está ficando muito tarde. Então por favor, não se aproxime. Foda-se. Foda-se muito, muito mesmo Porque suas palavras não condizem e está ficando muito tarde. Então por favor, não se aproxime. Vá se foder. Vá se foder. Vá se foder



            Terminamos a música com grande estilo.



            Rindo feito retardados.



            Mas pelo menos estávamos nos divertindo.




Charllote’s POV



            As coisas em casa estavam estranhas. Christopher estava deitado no sofá com as mãos lá em baixo. Se é que me entendem. E ele também murmurava coisas como “não me quer” e “ela vai ver”, às vezes até “coitado dele”. Eu já estava a ponto de ligar para algum hospital. Um hospício era a melhor opção



            Já a loirinha lunática, leia-se a garota da malas, estava de cabeça para baixo na poltrona, cantando alguma coisa bem baixo, já que seu iPod estava em sua mão e os fones nos ouvidos.



            Thomas tinha dado um chá de sumiço. O Josephe estava lendo algo no quarto dele. Como eu sabia? Olhei pela fechadura.



            Havia uma garota, eu a vi de relance quando discuti com a loirinha. Ela parecia ser roqueira por causa da maquiagem pretíssima. O que em minha opinião rapidamente formada era idiotice.



            O que eu estava fazendo além de prestar atenção na vida dos outros? Estava vendo televisão. Os canais ingleses eram tão chatos, por isso coloquei num filme, um filme no qual eu nem estava prestando atenção.



            Que decadência de minha parte.



            Quando já estava jogando no celular, eis que chegam uma roqueira com um leve sorriso e um Thomas sorridente, eles estavam com sacolas.



            A loirinha olhava-os com interesse e diversão, já eu os olhava com curiosidade.



            - Onde estavam? - perguntei ignorando os bons modos.



            Thomas respondeu ao mesmo tempo em que ela:



            - Fazendo compras - ele disse.



            - Não interessa - ela disse. Que mal educada!



            Eles se olharam, ele fez uma expressão que parecia que estava a repreendendo e ela arqueou uma sobrancelha, como se estivesse zombando da moral dele. Mas por fim cada um levou o que tinha nas mãos para o quarto e depois foram juntos para a piscina.



            Resolvi ignorá-los.




Madeline’s POV



            - Avassalador, foi interessante o dia de hoje - eu disse sentada na cadeira, com ela na cadeira do lado.



            - Não me chame assim, eu me lembro da vergonha que eu passei - ele disse rindo.



            - É mais forte que eu, eu não me divirto assim desde.. Desde... - de repente eu não sorria mais



            Lembrei-me de tudo que foi acontecendo comigo e da ultima vez que sorri verdadeiramente e que me diverti.



            - Desde quando Madeline? - ele perguntou



            - Desde muito tempo - respondi sorrindo, mas o sorriso não chegava aos olhos.



            - Madeline, por que usa tanta maquiagem? - ele perguntou de novo.



            - Eu já disse que é porque eu gosto - respondi alterada.



            - Não é não - ele disse tão alterado quanto eu - Eu sei que não é, posso não saber o motivo certo, mas eu sei que você não é essa pessoa que está tentando parecer ser.



            Fui embora em direção a casa, mas ele me seguiu.



            - Você não sabe de nada - disse subindo as escadas.

           


            - Posso não saber ainda - ele disse me parando. - Mas se você me contar, eu posso ficar sabendo. De uma chance para si mesma Madeline, vamos tentar pelo menos, seja minha amiga, me de uma chance também.



            Continuei andando até a porta do meu quarto.



            Era nessas horas que eu me dividia em duas. Uma parte queria confiar no Thomas e o deixar ser meu amigo, já a outra queria se isolar em seu próprio mundo sem deixar ninguém entrar.



            Mas eu já havia tomado minha decisão, mesmo que depois eu me arrependesse.



            - Tudo bem. Podemos ser... Amigos - e com isso entrei no meu quarto deixando um Thomas feliz do lado de fora!



            Eu só esperava ter feito a escolha certa.



Christopher’s POV




            Já era noite e todos estavam reunidos na sala para se conhecerem melhor. Bem todos menos a Madeline.



            Madeline.



            Ela podia ser gostosa, e bonita com aqueles cabelos ruivos quase castanhos e toda aquela maquiagem que a deixava sexy e misteriosa. Mas ela era muito irritante, metida, arrogante e outros adjetivos que eu não consigo pensar no momento.



            E não era só porque ela me deu uma joelhada, que por sinal doeu muito. Era pelo jeito que ela me olhava, como se não se importasse comigo! Como se não me quisesse! Depois da joelhada quem não quer mais ela sou eu.



            Talvez eu devesse investir na Charllote. Ela era bem gostosa, cabelos castanho escuro, olhos da mesma cor, o desejo de todos os caras. E ela estava do meu lado, reclamando da demora da Madeline.



            - Aquela garota chata, por que ela não desce logo, hein.



            - Não fale mal dela, ela só gosta de ficar sozinha, mas já que você faz tanta questão eu vou chamá-la - Thomas disse indo buscá-la.



            Como assim ela tava de amizade com ele e me dava joelhadas? Isso não ia ficar assim



            Depois de uns cinco minutos ele voltou com uma Madeline de cara fechada e com um livro na mão. Ela estava com os mesmos óculos de mais cedo e estava uma gostosa com aqueles shorts.



            Ela se sentou no chão e abriu o livro sem dar a mínima atenção a nenhum de nós. Charlie fez uma cara nada amigável, mas resolveu falar:



            - Bem a parada aqui vai ser bem simples, temos que dizer só nossos nomes, de onde viemos, e o curso que vamos fazer, tudo bem? - Todos concordaram menos Madeline, que estava concentrada em seu livro. - Bem, eu começo. Sou Charllote, mas me chamem de Charlie, vim de Little Rock, Arkansas e vou cursar Biologia.



            - Minha vez - disse a lourinha sorrindo muito - Sou Katherine, Kate se preferirem, vim de Liverpool e vou cursar Moda.



            - Clássico - zombou Thomas.



            - Como assim? - perguntou Kate confusa.



            - Nada, Barbie Liverpool, nada - poucos riram do apelido tosco - Sou Thomas, Vim de Sidney e vou fazer Direito.



            - Sou Christopher, Chris, e vim de New Jersey, vou fazer Medicina.



            Sobrou só o nerd e a roqueirinha. Como o nerd viu que a roqueira não ia se manifestar resolveu falar:



            - Sou Josephe, Vim de Montpellier, França e vou cursar Engenharia.



            - Sabe o que eu nunca entendi Josephe? Porque seu nome termina com a letra “e”, e não com o “h”, igual nos EUA, Austrália e Inglaterra - Disse Thomas.



            - Coisa de franceses - respondeu Josephe apenas.



            - Posso te chamar de Joe, é mais simples e irado - Thomas perguntou. Joe apenas concordou.



            O silencio reinou na sala. Todos esperavam Madeline falar. Como era previsto Thomas teve que cutucá-la.



            - Ah! Sim, é Madeline, Londres, Arquitetura. - ela disse apenas e voltou para seu livro



            Charllote então resolveu destilar veneno:



            - Porque está usando um colar com a letra “t”?
 


            Confesso que fiquei curioso e surpreso. Curioso porque poderia significar T de Thomas ou de qualquer outra pessoa. Por algum motivo isso me irritou.



            Surpreso porque ela fez uma cara de surpresa tão grande, como se não tivesse reparado que tinha colocado esse colar. Depois respondeu:
 


            - Não é da sua conta - sua voz não estava com raiva, estava distante e triste. Como se lembrasse de algo ruim.



            Com isso ela foi embora e só escutamos a porta de um dos quartos bater. Os outros voltaram a conversar normalmente como se nada tivesse acontecido, mas Thomas às vezes lançava um olhar preocupado para o corredor dos quartos.



            Eu estava certo que Madeline escondia algo.                                    



            E mais certo ainda que eu descobriria o que era...




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram ?