A claridade tomava conta dos meus olhos. Levei as mãos até o rosto. Ainda parecia que tudo tinha sido um sonho e que eu acordaria com Sasuke ao meu lado. Aquela gritaria e palavras ressoando em minha cabeça. Como estava me odiando! Levantei e fui até o banheiro. Encarei a face de uma pessoa vil e desumana. “O que você vale, Naruto?” Perguntava-me. Peguei a gilete que estava ao lado da saboneteira. Cortei a pele devagar. Queria que aquele sangue imundo saísse de mim. O ódio por ter cometido a maior besteira da minha vida consumindo-me. Aquele corte estava sendo feitos em cima de vários outros. Se pudesse sumiria. Se pudesse morreria. Após certo tempo, sai daquele cômodo. Este manchado de sangue pelos lados. Não me importava. Nada muito profundo, apenas um corte superficial, mas, o suficiente para me instigar a ir mais fundo. Troquei de roupa e fui até a sala. Os meus olhos vermelhos da noite passada. Nunca devo ter chorado tanto. De repente, sinto uma presença a mais, olho para a janela e vejo que havia um ANBU. Estranhei a Obaa-chan nos mandar em missão outra vez, sendo que havia acabado de chegar, praticamente. O mesmo havia deixado um bilhete sobre a mesinha próxima e saiu. Do lado estava a foto do Time 7. Tempos atrás perguntei de Sakura, mas, ninguém dava uma resposta convincente. Pareciam estar escondendo algo de mim. Assim que li o bilhete, deixei as pernas desfalecerem. Aquilo só poderia ser uma brincadeira de mau gosto. Ela não poderia estar morta. Minha irmã! Não! Só poderia ser um engano. Parti para o escritório de Tsunade deixando a casa da maneira que estava. Tinha que entender melhor aquela situação que para mim, era completamente descabida de justificativas. Bati na porta e não ouvi resposta. Entrei com tudo mesmo vendo que Shizune se aproximava.

- Como assim ela morreu?! – indaguei descontrolado. Tsunade estava de frente para a janela.

- Ninguém te ensinou a bater na porta, idiota? – revidou Tsunade com a voz fraca.

- Naruto não fale dessa maneira! Tenha modos! – exclamou Shizune segurando uma das minhas mãos.

- Não saiu daqui enquanto não me explicarem essa palhaçada! – disse batendo o pé – Encarei-me Tsunade! Agora!

Nunca havia falado com ela daquele jeito violento. O rosto carregado de dor e ódio. Ela não estava brincando. Ficamos em silêncio, apenas nos encarando.

- Leia isto, Naruto – disse Tsunade pegando um outro bilhete que estava em cima da sua mesa – E compareça ao enterro.

- O que é... - Comecei.

- Sente-se Naruto-kun – disse Shizune apontando a cadeira – Acho que vai precisar dela.

À medida que absorvia as palavras de Sakura-chan o meu apreso por Sasuke se tornava pequeno, mas, não a ponto de deixar de me ferir. Ela havia acabado com a sua vida por causa dele. Talvez se eu não estivesse com ele... Quem sabe Sakura-chan poderia ser feliz... Ela poderia estar viva. Todas aquelas desgraças por ele! Sendo que uma delas eu a provoquei. Deveria a partir daquele momento, esquecê-lo. Porém, meu coração não deixava! Droga! Maldito foi o dia que nasci! Tudo aquilo por minha causa... Sai dali deixando o bilhete sobre á mesa.

- Pode esperar por mim... – disse me levantando – Tenho alguns assuntos para resolver.

- Vai falar com ele? – perguntou Tsunade.

- Mereço explicações – disse saindo porta o fora - Shizune, cuide ela.

Sasuke não havia me falado da morte de Sakura-chan. Não estamos juntos agora, mas, eu tinha que saber. Corria até a casa dele com o coração na mão. Não irei falar “nossa”. Assim que cheguei bati na porta diversas vezes. Poderia quebrar a porta se não o visse atendê-la. Não demorou que o trinco fosse virado e ele aparecesse a minha frente. Parecia já estar acordado á algumas horas. O cabelo bagunçado e o olhar não encontrando o meu.

- O que quer aqui? – perguntou exasperado – Não quero te ver! Será que não fui claro quando saiu daqui?

- Pouco me importa! – disse o pegando pela gola da camisa. As costas de encontro à parede próxima – Quando é que iria contar sobre a Sakura?

- Sakura? – indagou. – Então já soube... Queria te poupar...

- Mais cedo ou mais tarde eu iria saber – disse deixando algumas lágrimas caírem – Antes fosse por você!

O larguei e dei as costas. Tudo estava sendo recente demais para mim. O meu rompimento e agora isso! Por que não o odiava?! Por que não o mandava para o inferno?! Pude sentir meu pulso sendo preso. Detalhista! Será que ele havia percebido?

- Está se cortando, Naruto? – perguntou debochado – Não sabia que te fazia tanta falta...

- Sim, eu me corto – disse – E quer saber por quê? Para poder ter algum motivo para o cada dia, ver o amor por você, desaparecer...

O silêncio pairou oura vez. Estava me cortando! Sim, eu estava! Em momento de desespero ou solidão, para me castigar por estar sofrendo, me cortava. Era uma sensação indescritível. Surpreendentemente boa. Era um impulso que não conseguia conter. Estávamos falando coisas demais. Soltei meu pulso e voltei a caminhar. Mas, antes de ir, lembrei-o.

- Não se esqueça do enterro, Uchiha – disse – Será que consegue?

- Irei – disse Sasuke já dentro de casa – Espere por mim.

- Não preciso – disse. Aquilo estava me dilacerando aos poucos. Tinha que partir. Enquanto descia as escadas, pude ouvir a porta se fechar.