Abri os olhos e não estava encarando o teto do meu quarto, como em todas as manhãs, estava encarando um céu nublado.

Sentei-me na areia, ainda molhada. A chuva já tinha ido embora, e o sol tentava tomar conta daquele lindo céu. Mas parecia que as nuvens iriam ficar, talvez para combinar com o meu humor.

Olhei para todos os cantos daquele parque, e algumas pessoas estavam indo trabalhar ou para a escola e ao mesmo tempo me olhavam estranhas. Não me importei. Levantei-me e fui andando pelas ruas, para tentar achar o caminho de volta para a minha casa.

Enquanto andava passei em frente à casa de Rachel e me lembrei o que tinha acontecido na tarde anterior. Meu coração doeu. Nada tinha sido um pesadelo. Uma lágrima rolou pelo meu rosto até cair no chão. Apenas uma lágrima.

Cheguei em casa e meus pais já tinham ido trabalhar. Tinha um bilhete em cima da mesa da sala, dizendo onde tinha comida, e pedindo para eu ligar para eles assim que visse o bilhete.

Liguei, e como pais responsáveis, me encheram de perguntas do tipo: “Você está bem?”, “Na casa de qual amiga você foi dormir?”, “Por que não atendeu o celular?”, etc... Apenas respondi o necessário, não queria que eles soubessem a onde eu tinha dormido. Minha mãe também disse que Percy passou em casa com uma cara de choro perguntando por mim. Agora ele estava preocupado? Antes de fazer o que fez, nem sentimentos tinha.

Subi para o meu quarto e abri a janela. Percy não estaria em casa agora, até porque ele estaria na escola. Engano meu.

- O que aconteceu? – Ele perguntou triste, acabando de abrir a janela do seu quarto. Ele estava se referindo sobre o que aconteceu ontem.

Eu ainda estava toda molhada, ele apenas olhou minha roupa. Por mim, eu não conversaria com ele, fecharia a janela, e o deixaria falando sozinho para ele passar o que eu também senti, mas o lado meu que mais dominava nesse momento, gritava: “Fale com ele!”

- Você ainda pergunta. Que irônico! – Sorri fria.

Minha cara estava das piores, chorei quase a noite toda. Então deduzo que eu estava inchada.

- Eu estou confuso. Não sei o que pensar, não sei o que fazer, e também não sei o que sinto. – Ele abaixou o olhar. – Preciso que me explique.

- Por que correspondeu ao beijo? – A minha segunda lágrima do dia estava correndo em meu rosto.

- Não sei bem. Ela me beijo de repente. Não sabia se a empurrava ou se correspondia. Mas aquilo foi até bom. – Mais lágrimas correram pelo meu rosto. – Descobri que não sinto nada por ela, definitivamente. – As lágrimas pararam.

- Então, o que foi fazer na casa dela? – Estava brava.

- Pegue. – Ele jogou seu celular para mim. – Olhe as últimas chamadas.

Olhei e as últimas cinquenta chamadas eram de Rachel. Tinha algumas de outras pessoas, mas a maioria das ligações eram delas.

- O que significa? – Meu humor melhorava.

- Ela também me mandou várias mensagens, dizendo que queria voltar porque depois que terminamos sua popularidade caiu. – Ele rolou os olhos. – Fui até sua casa para ela parar de encher o saco, mas ela me beijou, eu apenas retribui, mas não significou nada, eu garanto. – Ele estava desesperado por perdão, eu via isso.

- Não fez nada contra ela? – O olhei séria.

- Grover esta levando uma “cópia” das mensagens que ela me mandou. Vai mostrar para o colégio todo. – Seria o fim da Rachel, todos iriam tirar sarro dela. Sorri ao imaginar isso. - Como você está? – Ele perguntou preocupado.

- Muito melhor. – Soltei um longo suspiro.

- Tem certeza? – Ele não estava acreditando.

- Mas é claro. – Sorri.

- Sabe, quando eu vi você chorando depois do beijo... – Ele pausou. – Eu senti algo estranho. Era uma dor estranha. – Ele colocou a mão no peito, em direção ao coração.

- Eu já senti isso. – Sorri mesmo depois de tudo. – É como se seu coração estivesse caindo aos pedaços, né? – Perguntei sorrindo.

- Talvez até pior, mas é por esse caminho mesmo. – Ele ainda estava com a mão no coração.

- Eu sempre senti isso quando você estava com a Rachel, e senti isso muito pior quando vocês se beijaram ontem. Eu fiquei sem coração. – Abaixei o olhar.

Ele me olhou surpreso. Ele descobriu o que eu realmente sinto. Depois de tanto tempo, ele olhou em meus olhos, e então ele comprovou o que estava pensando. Ele descobriu o que sempre senti por ele. E uma onda de alívio caiu sobre mim.

- Annabeth, você...? – Ele estava surpreso ainda.

- Tenho que ir. – Disse fechando as janelas.

- Annie, espera. – Ele disse triste.

- Eu não posso... – Fechei a janela.

- Annie! – O ouvi chamar meu nome com tristeza.

Fui para a cozinha, já que estava com fome. Peguei apenas uma fruta e sentei no sofá da sala, comendo a maçã.

“- Oi Manola! – Ele riu.

- Oi Manolo! – Eu ri.

- Tenho uma novidade... – Ele estava feliz.

- Está esperando o que para me contar? – Estava curiosa.

- Estou namorando. – Ele sorriu.

A dor foi imensa. Claro, não foi igual ontem, mas estava perto.

Foi ali onde caiu o primeiro pedaço do meu coração, e doeu tanto.

- Com quem? – Estava triste demais para mostrar um sorriso.

- Com a Rachel. – Ele sorriu.

Mais um pedaço do meu coração caiu.

- Você está bem? Seus olhos estão tristes, por quê? – Ele estava confuso.

- Tem aula amanhã, é por isso. – Pensei em uma resposta rápida. – Mas estou muito feliz por você.”

Liguei a TV, e coloquei em um canal onde passava uma série. Pelo visto a menina estava vendo seu ex-namorado com outra, pois ela estava chorando.

Que ironia! Até a TV quis sincronizar com o meu humor hoje.

Fiquei assistindo TV até meus pais chegarem. Perguntaram como eu estava, e foram dormir, pois “tiveram um dia longo”, segundo minha mãe.

Olhei para o canto da sala, e vi um cubo mágico e ri lembrando do quanto Percy odiava aquilo por causa de Grover.

Resolvi ligar para Grover e dizer que eu estava bem, tinha esquecido de falar com ele.

Ele apenas me deu uma bronca de amigo e ficou tudo bem.

Subi para meu quarto e lembrei que eu estava com a mesma roupa o dia inteiro, a mesma roupa molhada, que agora se encontrava úmida.

Tomei um banho e deitei em minha cama e pensei no quanto Percy tinha descoberto um tesouro hoje. Até porque meus conceitos sobre o amor ser algo ruim, estavam mudando, e apenas talvez, isso fosse bom.