“- A nossa mente é um lugar impressionante, se você souber usá-la bem, poderá conseguir fazer coisas incríveis.”

Essa fora a primeira frase que ouvi saindo de sua boca. Sua voz rouca e chamativa marcou a minha entrada em Oxford. Meus olhos tentavam fugir dos do meu professor de filosofia, procurando algo conhecido naquele famoso lugar, porém sem sucesso. Estar ali era ótimo, mas me sentia incomodado. Assustado, talvez.

As palavras que saiam de seus finos lábios me admiravam cada vez mais. A emoção estampada em sua voz lembrava a de um amante declarando um soneto para a pessoa amada. Sua inteligência e sorriso me atraíam de um jeito que nem eu conseguia entender. Pensei que seria passageiro, mas depois de quase dois anos, isso aumentou consideravelmente.

Uma corrente de ar bateu violentamente em nossos corpos, me trazendo de volta a realidade. Era uma linda noite de outono e estávamos deitados em um vasto campo, observando a noite estrelada. Abracei-me mais ao cobertor grosso, tentando me proteger. Quando olhei para o lado, Eric continuava a comer lentamente suas uvas, parecendo não ligar para o frio.

Seus cabelos negros e lisos se balançavam com o vento, e a pele clara de seu rosto ficava vermelha por causa da temperatura. Seu maxilar se movimentava lentamente a cada uva mordida, suas feições másculas, mas ao mesmo tempo infantis me cativavam. Não podia ver seus olhos, mas sabia que estaria refletindo perfeitamente as estrelas.

Podia sentir nossos ombros se roçarem às vezes por debaixo do cobertor, a grama do campo não conseguia nos incomodar, os vários forros em que estávamos sentados em cima a impedia.

- Mas me parece algo tão absurdo! Não sei se consigo acreditar – suspirei pesadamente.

- O que você sente quando olha para as estrelas, Thomas?

Levantei meu rosto lentamente e encarei a imensidão azul escura repleta de pequenos pontinhos brilhantes, o céu. As estrelas eram lindas. Dignas de admiração, assim como você. Com um grande suspiro fechei meus olhos, sentindo uma onde de paz me atingir.

- Eu me sinto único, mas ao mesmo tempo me sinto tão pequeno e inútil.

- É bem no final de sua fala que está o grande erro da maioria das pessoas – o vento bateu em seu rosto branco, balançando gentilmente seus cabelos negros. Um sorriso torto surgiu em sua face, mordi meu lábio inferior sentindo a corrente elétrica de animação me dominar aos poucos. Eric começaria mais uma vez com suas palavras sobre vida, sociedade e crença. Quando ele começava a falar era impossível não sorrir. Eric tinha uma visão de mundo incrível, são poucas pessoas no mundo vêem as coisas como ele.

- Não sabeis que sois deuses? – citou uma das frases de um dos muitos exemplares que me dera para ler. – Está tudo aqui! – e colocou lentamente o indicador em minha têmpora – No seu templo.

Abaixei meu olhar, tentando me lembrar das palavras do livro. Tudo que estava escrito nele concordava com tudo que Eric me falava todos os dias, e tentava me incentivar a fazer. Eu sou um deus, todos nós somos.

- Quer uma uva? – perguntou oferecendo o cacho repleto de bolinhas roxas. Eric amava uvas.

- Sim.