Cien Fleur escrita por Bolt


Capítulo 7
Que escusa o anterior




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Fleur VII
Que escusa o anterior

Antes de dar início ao atual capítulo, é necessário algum esclarecimento. Não, não é que nele haja algo que requeira prévia explicação para o pleno entendimento de algum fato que porvirá; a questão é sobre o capítulo anterior a este. Posto que a predominância dos devaneios lingüísticos do autor sobre a narração dos fatos pode vir a tornar a leitura destes singelos relatos desequilibrada, e até mesmo não agradável, hemos de focar a história e o que nela acontece, hemos de especular os devaneios de nosso objeto de estudos, hemos de mantê-lo e ao mundo que o cerca sob nossos olhares e julgamentos. E embora isso não nos impeça de mergulhar no túnel ilimitado que é a mente do autor, apresento-lhe minhas escusas pelo ocorrido no capítulo que foi.

Contudo, o parágrafo anterior não foi uma promessa de que tais devaneios não ocorrerão novamente. Afinal, eles compõem parte fundamental do estilo e da estética literária de seu humilde narrador. Haverá simplesmente um certo controle, aspirando tanto a manter o equilíbrio da história, quanto a fazê-la apreciável por Páris e Aquiles, ao mesmo tempo. Novo desafio velho.

Voltemos então, ao nosso foco: era Greenville, Cien Fleur, e, agora, era Luke. E ele, em Énergie High, novo centro estudantil do qual ele passa a fazer parte nesta altura da narrativa. Colégio e rotina novos. Que significado teria isso? Para ele, provavelmente uma brusca mudança no dia-a-dia e no próprio viver. Ao passo que é para nós, uma nova oportunidade de observá-lo em ambiente não conhecido. O estudante de biologia que acompanha a narrativa pode encarar nossa relação com Luke como simples Mutualismo. Ou não, posto que Luke não tira proveito algum dela... Pois bem, prossigamos.

* * *

Era Luke, e em seus pensamentos, naquele momento, não mais havia Liz, havia apenas o entusiasmo e a ânsia por uma vida diferente, por uma rotina diferente, por novos amigos e novos eventos. Talvez uma nova paixão, até. De Énergie, alguns nomes merecem destaque, e inclusive foram citados no Prólogo de Luke, como meu leitor bem se recorda, mas tudo a seu tempo; eles serão novamente referidos quando a narrativa o permitir.

Durante quase que toda a sua vivência na diminuta cidade de Greenville, Luke permanecia insatisfeito com o colégio em que estudava. Não que ele fosse ruim (era um dos mais respeitados e bem conceituados de Greenville), mas do seu ponto de vista, era o pior lugar para se ir... E para fazê-lo ainda pior, ele era obrigado a permanecer ali em cinco dos dias de cada uma das semanas, e assim foi durante aproximadamente cinco longos ciclos sazonais. Era o período vespertino do Colégio Saint-Thomas de Morcerf.

E foram, sim, cinco ciclos sazonais completos de sua vida, gastos naquele lugar. Cada aula assistida era um martírio; cada professor, mais um velho severo e rabugento a atenazá-lo; cada hora, várias horas; cada colega de classe, mais um adolescente leviano e infantil a atenazá-lo da mesma maneira.

Notou que voltamos no tempo novamente, leitor?

Há pessoas que também merecem ser citadas em Saint-Thomas de Morcerf por terem feito parte importante da vida de Luke, e decididamente, na construção de sua personalidade. Aquelas que o ajudaram a tornar sua permanência no colégio algo não tão maçante, especialmente na oitava série do ensino fundamental. Havia Davi, Nicholas e Raphaël. Embora os tenha conhecido no ano anterior, as amizades foram se solidificando pouco a pouco com o passar do tempo e com a descoberta tanto de pontos em comum quanto de pontos em divergência.

Até que divergiram seus caminhos, ao término do curso fundamental. Luke estendia sua permanência em Saint-Thomas de Morcerf por mais dois ciclos sazonais, enquanto seus amigos iam cada um para um colégio diferente, embora isto não os tenha impedido de manter contato constante, nem de fortalecer mais ainda seus laços de amizade.

Vale ressaltar que o tempo agora descrito tratará da época em que ele conhecera a Cien Fleur, em paralelo às suas desventuras escolares.

* * *

Período I        C.F.
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Então, o primeiro ano do ensino médio se inicia; ou como dir-lhe-íamos se fôssemos seus professores, “Uma nova e importante etapa de sua vida tem início”. Sim, muito importante, de fato. Mas não tendo a escola como causa de tal importância, e sim os diversos fatores e eventos externos que, também, contribuiram sobremaneira para seu crescimento. Não tendo sido esta uma cousa necessariamente boa, embora não necessariamente ruim. Encare-as simplesmente como experiências diferentes, leitor. Exemplo disto foi o hábito de consumir bebidas alcoólicas; e a conseqüente apreciação destas, que foi no que tornou-se o beber para desinibir. Época esta também em que Luke teve seu primeiro real caso amoroso: era uma garota com o nome de Luiza, que vivia em outra província, ao norte de Saint-Catherine. Caso este que fê-lo aprender muito sobre sonhos apaixonados e princesas encantadas. E claro, voltar à realidade.

Também neste mesmo único ciclo sazonal novas e várias amizades surgiram. Algumas delas valiosíssimas, e que por certo merecem ser referidas até em algum episódio diferenciado. Surgiram Armand, Juancarlo e Renée, sobre os quais brevemente discorrerei (em especial Renée); Layla, Marchello, Alice e Liz, que havíamos conhecido no capítulo V; entre novos visitantes de Cien Fleur que lhe foram introduzidos. Armand era um dos seus novos colegas de classe, posto ter resolvido mudar de período na primeira série. Um ser a quem Luke pôde surpreender e cativar deveras, e que em reciprocidade o cativou e surpreendeu da mesma maneira; dono de uma personalidade paradoxalmente comum e incomum, fora estímulo a mais para que Luke aprendesse a perseguir e explorar seus talentos. Mais ou menos nesta época, passou a ser escritor amador e escreveu sua primeira história relativamente longa. Um suspense sobre música que o agradou sobremaneira.

Mais um ciclo de quatro estações se inicia, e Luke estava na segunda série.

As coisas até que estavam bem, leitor; mas as aulas continuavam sendo encaradas por ele como um martírio, posto que seu colégio continuava a ser o mesmo Saint-Thomas de Morcerf, com o mesmo pátio, os mesmos professores e novos adolescentes infantis e levianos a atenazá-lo. Observa-se com isto que apesar de ser aberto a novas amizades, não o demonstrava facilmente.

Meu leitor terá de fazer a fineza de perdoar este parágrafo, por ser ele indigno de figurar como conclusão do capítulo:

A bênção veio no final daquele inverno: a abertura do teste seletivo para as bolsas da terceira série do colégio Énergie High, no qual Luke se inscreveu, estimulado pela avidez por sair de Saint-Thomas de Morcerf, e também porque a realização do teste não lhe tinha despesa alguma ou sacrifício algum. Luke concorreu por elas e graças ao louvável resultado que obteve, foi premiado com uma bolsa de quase cem por cento.

Digamos que, o ingresso naquele novo centro estudantil havia sido a primeira real conquista de nosso amigo. Para ele.


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