Cien Fleur escrita por Bolt


Capítulo 6
À ultra-romântica leitora




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Fleur VI
À ultra-romântica leitora


Era Luke, o garoto que denotava novas mudanças em seu jeito de ser; e nele, novos pensamentos, novas distrações... Novos suspiros e novas ilusões. Era a serotonina percorrendo a sua circulação. Ou melhor, era Liz, abstendo-o de ter quaisquer outros tipos de pensamento.

Assim havia sido transformado novamente, e sua linha temporal, novamente marcada em um ponto pós-Cien Fleur.

Como já anteriormente mencionado; e de uma forma que meu leitor por certo achou compreensível ao observar o óbvio, mas fora do ordinário comportamento de nosso não-mais-que-ordinário objeto de estudos; este caiu, fatalmente, ante as fortes artes mágicas de uma bela e estranha feiticeira, que mesmo sem o intencionar, fê-lo encantar-se a ponto de permanecer completamente cego e alienado para com tudo que não fosse a própria. Não mais havia garotas em Greenville, não mais havia a praça Cien Fleur e não mais havia sentido em frequentá-la; mas havia Liz, e isto lhe bastava. Aliás, teria bastado. Digo “teria bastado”, conjugando propositadamente o verbo auxiliar no futuro do pretérito por um óbvio motivo.

A Língua Portuguesa é riquíssima em formas verbais e possui mais morfemas do que fonemas, sim; mas ela peca, e muito, em certos aspectos que primam em outros idiomas, como o próprio inglês que é em nossa época difundido a ponto de fazer sumir de forma paulatina as palavras de nosso próprio idioma e fá-las perecerem e parecerem completamente obsoletas. Recomendo a meu leitor reparar nas vitrines das lojas de seus amados shopping centers ao fazer seu tour pelo próprio. Ele haverá de condizer, ao menos neste ponto.

Também nossos processos de formação de palavras são limitadíssimos em relação à Língua Inglesa. Justaposicionemos duas palavras: temos less e fear; menos e medo, respectivamente. Fearless não tem uma correspondente em nossa língua, embora tenhamos a liberdade para utilizar a expressão “sem medo” que detém semelhante significação, mas que ainda não é um vocábulo diferenciado. Este também é mais um motivo para a frustração do bom autor que escreve neste idioma, que tem por um dos intuitos variar ao máximo o vocabulário de suas histórias a fins de não deixá-las cansativas. Embora alguns ainda possam considerar tal defeito linguístico um desafio para tanto.

...mas havia Liz, e isto lhe teria bastado.

Deixo a cargo de meu leitor o porquê do uso de tal conjugação verbal.

* * *

Não, leitor precipitado; a história de Liz e Luke não teve um desfecho triste, como deves estar pensando, tampouco teve o final feliz que por certo minha querida apreciadora dos romances românticos de José de Alencar esperava. Na realidade, o relacionamento entre a feiticeira e o enfeitiçado é muito mais complexo do que se imagina. Não o absterei da honra de acompanhar nosso objeto de estudos em suas posteriores relações amorosas, mas é mister que saibas, leitor, que meu enfoque não é Liz. Claro, “Mas ela protagonizou algumas das mais atraentes histórias da vida de Luke!” argumentaria minha romântica e sonhadora leitora. Contudo, não narro aqui um romance romântico meloso e piegas que remete à prosa dos princípios do Século XIX, mas sim relatos e estudos sobre a vida de um garoto e seu quotidiano, sem uma trama própria e definida. Claro, é apenas um garoto vivendo sua própria vida e seus próprios amores.

E neles, nada que nos leve além do ordinário, infelizmente.

A despeito do enredo, que fique definido então que o que ele sentia por Liz nunca passara de um amor platônico, que permaneceu por longo período sem ter nunca sido concretizado, obviamente. O que também é óbvio, exceto talvez para a minha ultra-romântica leitora, é que o período foi em demasia longo para que ele esperasse pela concretização de seus desejos, se compreendes o que este humilde narrador denota.

Porquanto grande fora a estupefação de Liz, e não menor sua indignação para com a situação criada pelo garoto a quem acidentalmente havia enfeitiçado, Luke jamais se permitiria deixar cair em suas artes de novo. Infelizmente, como pode assentir meu leitor, não se tem controle sobre este tipo de cousa. Disto já podes concluir o que vem depois, e depois, e depois...

Mas encerremos este longo episódio aqui.

* * *

Era Luke, um inverno depois, e em seus pensamentos, nada mais além do entusiasmo e da ansiedade para com o colégio e rotina novos. Vida nova, efetivamente?


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