Little Princess Ii escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 9
A menina gelada e o fogo dançante


Notas iniciais do capítulo

O título parece até nome de crônica =D

Boa leitura!



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Capítulo 9 – A menina gelada e o fogo dançante

Pov's Bella:

         Eu estava em meu quarto. Franzi o cenho e estranhei; era o meu quarto no Palácio do Sol. Ora, mas se eu estava na Terra...? Ah. Deixe para lá, esses sonhos já me levaram às praias, casas e quartos que nem sei se existiam realmente – por que não o meu Reino?

         Analisei melhor o lugar, era um dos meus quartos – nunca entendi direito, mas eu devia ter dois ou três quartos no Palácio. Coisas de minha mãe.

         Esse, por acaso, era o meu mais recente, o que fora feito assim que eu entrara nos meus quatorze anos. Ainda havia outro, tão antigo quanto minha irmã, meus pais diziam – eu gostava de imaginar que fora dela. Eu não tinha certeza.

         Bom, deixando isso de lado, sentei-me na minha cama. Ela balançou para cima e para baixo sob meu peso, completamente confortável. Ri alegremente, esparramando-me no colchão.

- Aí deve estar confortável, imagino – disse uma voz alegre e infantil. Olhei em volta, alarmada, sabia que devia ser mais um de meus sonhos esquisitos, mas ainda era bizarro.

         E se tornou mais bizarro quando vi a figura que estava no meu quarto: Isabella Cullen. Ela olhava para mim com olhos divertidos diante do meu susto, e eles eram duas poças de dourado grande e curioso. Seus cabelos eram leves cachos sobre os ombros. Era a segunda vez que eu a via com clareza a meses – por algum motivo inexplicável, ela continuava aparecendo, assim como todo o mundo no sonho, embaçada.

- O que está fazendo aqui? – perguntei. Então me toquei de minha rudeza e corei, pedindo minhas devidas desculpas.

         Princesa ou não, eu ainda era uma pessoa educada e não devia tratar ninguém como inferior a mim. Se bem que essa Bella parecia ser muito superior a minha pessoa; como se soubesse algo que não sei.

- Ora, relaxando. Como você – dito isso, sentou-se no sofá vermelho que ficava na parede em contrária à cama.

         Certo. Relaxando.

- Você nunca falou comigo nos meus sonhos – constatei o óbvio -... Por que está fazendo isso agora?

- Sonhos? – Bella deu sua risadinha de criança feliz, olhando para mim com seus olhos – Não eram sonhos. Isso é um sonho real, certamente. Por isso falo com você. Os outros eram algo como... memórias.

- Memórias? Sonho real? Eu não entendo.

         Bella sorriu para mim: - Ficaria surpresa se entendesse – ela absolutamente escondia algo de mim. O modo como falara não queria dizer que eu era burra, somente que havia coisas no mundo sobre mim que eu simplesmente não sabia, ou entendia.

         Tipo tudo. Incrível.

- Bom... – comecei como quem não quer nada, enquanto me levantava e caminhava em direção as prateleiras, passando a mão pelas coisas que ali havia – pode me explicar?

         A menina sorriu mais largo ainda, um sorriso de rasgar o rosto com diversão: - Tem certeza que quer saber? Sinceramente, acho que ainda não está preparada e ainda há muita coisa para enfrentar quando sair daqui.

- Dos meus sonhos, você quer dizer? – eu indaguei e ela assentiu quietamente, deixando o sorriso sumir e o rosto assumir uma seriedade assustadora para uma garotinha.

         Mas, sendo vampira, perguntei-me quantos anos ela teria agora.

- Posso pelo menos perguntar uma coisa?

- Já está perguntando. Mas vá em frente.

- Esse "sonho"... É real, ou é tudo uma coisa da minha mente estranha? – o sorriso da menina voltou novamente com diversão e alegria.

- Claro que é coisa da sua mente, Bella, é um sonho. O seu sonho. Mas por que não seria real? – ela disse para mim.

         Analisei. Cara, eu definitivamente quero saber quantos anos ela tem, talvez Bella Cullen possa me ensinar algumas coisinhas sobre a vida – seria no mínimo, interessante.

- Ei... – eu disse, sentia que Bella sumia aos poucos, assim como o meu quarto. Eu estava acordando, então me apressei – você é uma Cullen, certo?

- Sim – ela disse e pela primeira vez naquele sonho, Isabella pareceu tão confusa quanto eu.

- Então, por que não está com eles?

         Seu rosto se contorceu numa careta vaga, seu corpo parecia se esvair em fumaça cada vez mais rápido, quando respondeu, somente sua voz foi ouvida e seus olhos dourados vistos: - Hm... Bem, digamos que aconteceram uns problemas na Inglaterra e...

         E eu senti minha consciência voltar ao meu corpo.

         Tentei me mexer, mas uma voz sussurrante - doce como mel, aliás -, cochichou para mim: - Não se mexa.

         Ouvi passos quase imperceptíveis, não fosse minha boa audição e depois alguém chamar um nome em um tom de voz de quem poderia conversar ao seu lado:

- Carlisle.

         Outros passos. Algumas respirações ansiosas. Alguém fez "chiu!" no que imaginei ser o andar debaixo, pois os passos e respirações eram mais baixas.

         Novamente, tentei mexer-me, no entanto, meu corpo parecia repentinamente pesar uma tonelada e finalmente tomei consciência do quão cansada eu estava.

- Ela não está se mexendo – uma voz familiar disse ao meu lado. Num estalo de memória reconheci: Angela. E ela parecia bem preocupada com algo.

         Será que era comigo? Mas eu nem sabia exatamente por que estava deitada. Lembrava de ardência na garganta, cansaço. Lembro-me também que em determinado momento meus poderes não funcionaram. Porém... não funcionaram para quê?

- Mas seu coração bate e está respirando regularmente – outra voz, totalmente desconhecida, disse tranquilamente. Senti a pessoa que disse isso pegar meu pulso, checando a pulsação.

         Seus dedos eram frios, causando uma sensação morna em meu corpo.

- Tem certeza que ela está bem? Está desacordada há dois dias inteirinhos! – uma voz exclamou exageradamente alta e eu logo reconheci: Lucy.

- Tenho certeza – a mesma pessoa de voz desconhecida falou e ouvi uma caneta arranhando delicadamente uma folha enquanto alguém escrevia com rapidez.

         Gemi um pouco, tentando sair desse torpor que estava o meu corpo. Este, felizmente, pareceu finalmente receber a ordem de que eu queria me mexer, pois meus olhos abriram-se, batendo contra a claridade que entrava pelas janelas de vidro do local.

         Levei alguns segundos para analisar a cena a minha volta. Eu estava deitada no que parecia um consultório improvisado, em cima de uma maca e com aparelhos do meu lado.

         Vi que havia um fio conectado a minha pele, e a máquina ao meu lado fazia aquele bip irritante, então imaginei que eram as batidas do meu coração.

- Não, não tire... – Ben disse quando coloquei as mãos sobre o fio.

         Entretanto, ninguém me impediu quando simplesmente o tirei e a máquina parou de apitar, exibindo uma linha reta no monitor. Eu estava bem – tirando as dores musculares e a leve coceira na garganta -, não precisava de coisas médicas.

         Na sala, relativamente grande, havia muitas pessoas. Bem ao meu lado estavam meus amigos e surpreendentemente, Jacob, de mãos dadas com Lucy – os dois me olhavam como se eu fosse uma irmã acidentada de algum deles.

         Ben e Angela me olhavam no seu raro – bom, eu quase nunca me machuco – olhar de padrinhos preocupados e hesitantes.

         Para minha surpresa maior ainda – se é que isso era possível – ali estavam todos os garotos e garotas Cullen, vampiros curiosos me olhando sem a menor vontade de me atacar. Bisonho.

         Alice sorriu para mim, mesmo parecendo confusa e ansiosa. Emmett tinha os braços em volta dos ombros de Rosalie, que não parecia tão má agora, até mesmo me dirigia um sorriso mínimo. Jasper olhava tudo de cenhos franzidos. E Edward, de um modo frustrante e como sempre, olhava-me indecifrável.

         Mas também tinham quatro vampiros que eu nunca ouvira falar ou vira na minha vida. Um era alto, loiro e, não sei por que, mas logo me toquei que era ele que estava checando minha pulsação há pouco. Ele tinha feições bonitas e gentis, usava um jaleco de médico e já entendi quem ele era: Carlisle Cullen, o homem que cuidara de Bella na hora de sua transformação e o médico-vampiro.

         Que mundo estranho.

         De mãos dadas com o mesmo, imaginei que a mulher fosse sua companheira. Esme, se não me falha a memória. Ela possuía um rosto com traços maternais e formato de coração. Seus cabelos eram cor de mel, assim como seus olhos.

         E mais duas pessoas que eu nunca vira, mas, se eram quem eu imaginava ser – de acordo com as eternas fofocas sobre os Cullen em Forks – estes eram Corin e Chelsea.

         Ambos eram altos. Chelsea era quase como Esme, e pareciam ter praticamente a mesma idade também, vinte e poucos. Seus cabelos eram claros e seus olhos estavam ocres, ao invés de completamente dourados – ela não caçava há algum tempo.

         Corin parecia seu companheiro, com suas mãos entrelaçadas ruidosamente. Tão alto e musculoso quanto o Emmett, seus olhos dourados pareciam sorrir para mim. Seus cabelos escuros caiam sobre a testa charmosamente.

- Ela parece mais confusa que uma criança perdida da mãe num parquinho – ouvi Emmet comentar, aparentemente tentando aliviar a tensão que se instalara ali.

         E foi como se a palavra "criança" desencadeasse uma série de flashes em minha cabeça. Isabella. Sonhos. Sol. Exército. Nefilins. Rhemain. Queimação. Falta de poderes. Cullen. Lobos. Tudo.

         Acho que alguma coisa em minha expressão foi mudando aos poucos, não sei, estava tão desconecta do mundo, que mal ouvi as palavras alarmadas de Carlisle:

- Seus batimentos estão aumentando rápido demais. Rápido, alguém...

- Não se preocupe – ouvi vagamente Angela acalmá-lo, assim como a todos. – Seus batimentos cardíacos às vezes ficam mais rápidos, ninguém entende exatamente por que.

- Ahn? – todos disseram em sincronia, exceto meus amigos.

- Sua outra parte, digo, sua outra parte hibrida, faz com que isso aconteça, aparentemente. Por isso ninguém sabe por que, sua espécie é única.

- Mas, maldição, ela é hibrida de bruxa e mais o quê?! – olhei para Corin quando este exclamou isso, batendo as mãos costas das mãos nas coxas, em frustração.

         Então meus amigos ainda não tinham contado – eu não sabia se isso era melhor ou pior.

- Bella? – Esme dirigiu-se pela primeira vez para mim. Virei meus olhos em sua direção, mostrando que ela tinha toda a minha atenção – Gostaria de algo, querida?

- Acho que um copo de água, por favor – minha voz soou rouca aos meus ouvidos, e fraquinha. Como alguém que não usufrui da voz há muito tempo.

         Em silêncio, esperamos ela voltar com um copo cheio de água gelada na mão em alguns segundos. Bebi avidamente, querendo que essa coceira seca na garganta parasse – seria um problema a menos, ai eu teria somente as dores nos músculos para me preocupar.

         Mas, mesmo bebendo todo o copo em alguns segundos, minha garganta ainda estava seca. Passei as mãos por ali, estava realmente incomodo. Não, não doía como há alguns dias, ou horas, não sei. Somente era realmente chato.

- Bella? – Lucy me chamou. Não dei atenção, continuei passando a mão no pescoço.

- Precisa de mais água, querida? – ouvi Chelsea perguntar preocupadamente.

         Gemi fracamente, o som vinha do fundo de minha garganta, parecia que alguém estava me estrangulando. Puxei minhas pernas para mim e as abracei, colocando a cabeça entre os joelhos.

- O que você está sentindo, Bella? – Angela perguntava, passando as mãos sobre minha cabeça – Está com sede, fome, sono, dor...?

- Minha garganta – eu sussurrei tão entrecortado que ainda parecia que alguém apertava meu pescoço.

- Ela ainda dói? – Ben perguntou incrédulo. Aquele mel todo que eu tomara obviamente não tinha resolvido nada.

- Cada vez mais – e eu estava tomando conta desse fato. Desde que eu acordara há alguns minutos a dor em minha garganta ia aumentando e a muscular sendo esquecida.

- Dor de garganta? – Carlisle perguntou.

- Sim, muita, demais, horrores – murmurei, segurando com força meu pescoço – Faz essa dor parar, faz PARAR! – gritei a última parte.

         Minhas palavras fizeram Carlisle hesitar por milésimos de segundo, antes dele começar a agir rapidamente. Pegou aquela luzinha bizarra enquanto me mandava abrir a boca e apontava para minha garganta. Vi quando sua testa franziu.

- Estranho – ele comentou – sua garganta está perfeitamente normal. Nenhuma inflamação nem nada anormal.

- Mas está doendo tanto – eu disse e gemi novamente no meu "estrangulamento".

         Aquela mesma sensação de quando eu fora para a floresta lutar com Rhemain estava voltando. Agora eu ouvia tudo, escutava tudo, sentia tudo.

         Engoli seco, ouvindo os corações de meus amigos pulsarem. Claro que eu tinha boa audição, mas não chegava a ouvir com tanta... exatidão. Era um som molhado, rápido, vibrante. Uma veia pulsou tão claramente no pescoço de Lucy que desviei os olhos.

         Jasper me olhou estranho: - Ela está com sede.

         Eu não entendi exatamente, minha garganta arranhava demais para prestar atenção. Mas as pessoas aparentemente entenderam e essas quatro palavras causaram impacto, pois todos ofegaram coletivamente, olhando-me com atenção.

         Edward olhou atentamente para Carlisle por segundos, como se pudesse ver através dele, antes de sair da sala sem falar nada, correndo.

- Bella, mas... Ela não é... Não entendo... – meus amigos e os vampiros balbuciavam palavras desconexas quando Edward voltou para o quarto improvisado.

         Em sua mão direita havia uma taça de vinho, com uma bebida de cor avermelhada, esquisita. Parecia algum tipo de vinho muito tentador no momento, como se eu fosse uma alcoólatra desesperada.

         E acho que isso causou mais curiosidade entre os vampiros – eu ainda não entendia.

         Edward chegou perto de mim e falou numa voz calma, porém cheia de doçura: - Beba, vai fazer você se sentir melhor.

         Olhei por alguns instantes em seus olhos dourados, tentando encontrar alguma brincadeira, zombação, ou até uma mentira. Mas aqueles vampiros – vampiros! – estavam realmente me ajudando, então, peguei com delicadeza o copo de sua mão.

         Rapidamente, antes de levar a taça aos lábios, observei o copo na mesinha de cabeceira que antes tivera água – por que ela de repente parecia tão sem graça?

         Quando provei a bebida na taça, soube exatamente o que era: sangue. Porém, não parei de beber, na verdade, solvi do sangue mais rapidamente, ansiosa por mais. Era delicioso, como se eu fosse escolher entre suco e Coca – água e sangue.

         Ele desceu gostosamente pela minha garganta, a primeira bebida que ao que parecia séculos não arranhava, na verdade, parecia amaciar tudo lá dentro.

         Infelizmente, o sangue acabou mais rápido do que eu esperava e tive de devolver a taça para Edward, que me olhava curioso, e postou a taça em uma mesa.

- Bella... Seus olhos! – Jacob exclamou, reparando em algo que eu não conseguia ver.

         Todos olharam mais de perto e fiquei curiosa. Alice me entregou um espelhinho e olhei para mim mesma. Primeiramente, eu só via meu rosto de sempre: cabelos caramelados, pele branca, bochechas rosadas. Entretanto, quando direcionei o olhar para os olhos, arfei, surpresa.

         Meus olhos não estavam mais azuis céu, como era de se esperar. Estava surpreendentemente castanhos chocolate, tão profundos quanto os de meu pai. E, assim como de meu pai, vi um fogo bruxuleando, dançando nas órbitas como se estivesse vivo.

         Bizarro, muito bizarro. Fiquei tão surpresa quando vi o fogo, que tive que me controlar para não quebrar acidentalmente o espelho da Alice.

- Ah – foi a única coisa que consegui dizer.

         Meu cérebro trabalhava rápido. Podia ser minha falta de poderes? Não, não fazia sentido – eu estava me sentindo mais forte que nunca. E se fogo bruxuleava tão feliz em meus olhos, por que diabos eu estaria fraca?

Talvez a queimação na garganta? Não, também não. Eu não sentia mais ela, minha garganta estava como todos os dias, sem dor. Minha magia da parte bruxa? Bom, era muito improvável, eu tinha total controle sobre meus poderes e isso nunca ocorreu...

         Sangue? Certo... Era o que eu tinha acabado de beber, não é?

         Por que não?

         Mentalmente, torci meu rosto numa careta. O sangue naquela hora estava delicioso, mas, agora, parecia tão repugnante que quase o vomitei todo de volta. Eu não queria tomar sangue nunca mais. Nunca. Aquilo fora somente uma coisa momentânea, não é como se eu tivesse que ficar tomando sangue de tempos em tempos como os vampiros – eu nem mesmo sou vampira!

Levantei os olhos da maca e olhei para todos na sala. Pensativos, confusos, curiosos. Eu podia ver todas as emoções que passavam por seus rostos e, quando estes viraram quase simultaneamente na minha direção, soube que tinha muitas explicações a dar.

Mas como explicaria algo que nem mesmo eu entendo?


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