Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 9
Killing Time


Notas iniciais do capítulo

Leve impressão de que esse capítulo está vergonhosamente menor do que os outros, mas beleza.


P.S: Paula, não nos mate.



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16 de fevereiro de 2003 – Apartamento emprestado
Willian P.O.V

Acordei naquela manhã um tanto quanto perdido. Eu estava deitado em uma cama, certo. Mas como eu vim parar aqui? Onde foi parar meu outro tênis? Ah, a Maely ta aqui também… O QUE A MAELY TA FAZENDO DORMINDO AQUI NO CHÃO? Eu ia deixar ela dormir na cama e… pensando bem, eu não ia mesmo dormir no chão!

Mas como eu sou uma boa pessoa, resolvi colocá-la na cama, já que não conseguiria voltar a dormir, de qualquer maneira. Peguei-a no colo, tentando não acordá-la e parei um momento pra pensar; quando estava dormindo, ela até que parecia uma boa pessoa… sabe, quando não está tentando socar a cara de ninguém. É isso ai, me sinto num daqueles filmes de ação, o herói salvando a mocinha desmaiada! O que diabos eu bebi ontem? Ah, foi o Jack… Ela parece tão bonitinha dormindo, parece até um filhote de cachorrinho felpudinho e… CARA, QUE GAY! Ah, é sério, não vou beber nunca mais!

Me virei para colocá-la na cama, antes que pudesse pensar mais alguma besteira, mas acabei tropeçando no meu tênis e caindo de atravessado na cama em cima da Maely. A coisinha acordou, me deu um soco na cara e voltou a dormir. Que tipo de pessoa faz isso? Pensando bem, ai, por que meu rosto ta todo dolorido? Enfim, a parte boa foi ter achado meu outro tênis quando tropecei.

Saí do quarto e fui praticamente atropelado por J.C, que estava correndo da Gabrielle.

- Volta aqui, se você não me contar, eu jogo a Samantha II em você! – gritou ela com a cobra enrolada no braço quando J.C se trancou no banheiro. Sério, que medo.

Atravessei o corredor até as escadas e ouvi uma porta abrindo atrás de mim.

- I DON’T NEED YOUR CIVIL WAAAR! – estava gritando Suzannah, vestida com algo que parecia ser uma jaqueta com a palavra “REBEL”, mas que ficava extremamente larga nela. Se bem que nem precisava ser muito grande pra isso.

Ela parou, tirou a jaqueta e jogou na minha cara.

- É a sua cara, achei no guarda-roupa – disse ela e correu para descer as escadas na minha frente – IT FEEDS THE RICH WHILE IT…

- J.C, ABRE ESSA PORTA!  - gritou Gabrielle quando eu finalmente ia descer as escadas. Deu um chute na porta e, com o barulho, acredito eu, Maely saiu do quarto. Fala sério, depois de todo o trabalho pra colocar ela na cama, ela acorda!

Maely estava com cara de quem poderia dormir mais um pouco e olhou para Gabrielle, ainda chutando a porta do banheiro, furiosa.

- Mas o que… AH, VOCÊ! – acrescentou Maely me vendo parado no alto da escada.

- O que eu…

Foi eu abrir a boca e ela me deu um soco no braço.

- Mas por que eu to apanhando? – perguntei, ainda sentindo o soco que ela havia me dado no rosto.

- Minha intenção era espancá-lo até a morte, mas como eu estou cansada de mais pra isso, fico devendo. – respondeu ela descendo as escadas – POR QUE DIABOS A GENTE ACORDOU ÀS OITO E MEIA DA MANHÃ?

- MAELY, PARA DE GRITAR! – berrou Gabriel de algum lugar no andar de baixo.

E olha que eu nem tinha conseguido descer as escadas ainda.

- O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AI EM CIMA? – gritou Maely de volta.

Corri para finalmente descer as escadas atrás dela, mas me deparei com Gabriel empoleirado em cima da estante.

- SERÁ QUE VOCÊS NÃO PODEM TER UMA MANHÃ NORMAL, COMO PESSOAS NORMAIS? QUAL É O PROBLEMA DE VOCÊS, POR QUE VOCÊS NÃO PODEM SER NORMAIS COMO EU? – gritou Gabriel de volta – A GABRIELLE E O J.C PASSARAM POR AQUI CORRENDO COMO SE O MUNDO FOSSE ACABAR EM BARRANCO, A VERMELHINHA PASSOU CANTANDO COM AQUELA VOZ DE TAQUARA QUEBRADA DELA E AGORA VOCÊS DOIS QUE NÃO PARAM DE BERRAR!

- Mas eu nem to gritando – reclamei, no momento em que J.C apareceu no alto da escada com as mãos para cima, seguido de Matheus sabe-se-lá-porque e Gabrielle atrás com a… cobra.

- Eu já disse, eu não me lembro… - disse J.C.

- Eu nem mesmo sei sobre o que vocês estão falando! – gritou Matheus, sem se atrever a abaixar as mãos.

- Eu os perdôo – concluiu Gabrielle com os olhos semi-serrados – mas só porque estou cansada de mais para torturá-los até conseguir a resposta.

- BONITO! – gritou Maely de repente, e bem no meu ouvido. Isso só pode ser carma. – MUITO BONITO MESMO! VOCÊS BEBEM ATÉ CAIR, ME DÃO UM TRABALHO DO CÃO E ME ACORDAM ÀS OITO E MEIA DA MANHÃ COM ESSA GRITARIA… BONIIIITO!

Algo me dizia que ela só estava gritando porque todos pareciam estar numa ressaca descomunal. O que me lembra, é a primeira vez que eu bebo pra valer e não to sentindo nadinha!

- WILL, PORQUE VOCÊ NÃO TÁ FAZENDO CARETA QUANDO EU GRITO? – perguntou ela chegando mais perto para gritar – Cara, eu te odeio, você não tem ressaca!

- O que me lembra que eu ainda to com fome – comentou Gabriel com a voz arrastada enquanto descia da estante.

- LEGAL, TODO MUNDO PRA FORA DE CASA! – berrou Maely. Vai ter voz potente pra gritar assim lá longe! – VAMO NO MERCADO!

Saímos do apartamento e começamos a andar em busca de algum mercado que fosse perto o suficiente. Todo mundo parecia estar dormindo em pé, isto é, exceto Maely, porque não tinha bebido nada, e Suzannah, que estava pulando de um lado para o outro ainda cantarolando Civil War.

Comecei a notar que cada vez que meu olhar cruzava com o dela, ela escondia uma risadinha. O mesmo estava acontecendo com a Gabrielle.

Será que minha cara ta roxa? Eu vesti alguma coisa do avesso? Olhei para Suzannah mais uma vez e ela ainda estava com aquela expressão de que estava se segurando para não gargalhar.

- Do que vocês estão rindo? – perguntei, achatando os cabelos na cabeça.

- É que… - começou Suzannah, mas parou de falar e começou a rir de se acabar. Gabrielle precisou sentar no chão de tanto gargalhar. Fala sério, que povo louco! – A Maely falou pra gente que você… - pausa pra rir – Que você acha que o Paulo… O PAULO! É namorado dela.

- Foi o Matheus que disse que achava que o Paulo fosse namorado dela – respondi, apontando para o Matheus, que estava olhando para o nada com cara de bolacha.

- Cara, não grita… - disse ele. O que há com essas pessoas hoje? – Meu cérebro dói, eu quero a minha cama… Quem foi o energúmeno que teve a ideia de vir pra São Paulo?

- Tá, mas o que há de TÃO engraçado em perguntar se o Paulo é namorado dela? – perguntei. Espera, quando foi que eu disse pra Maely que o Paulo era namorado dela? Maldito Jack Daniels.

- É que o Paulo… - continuou Suzannah, parando para rir mais uma vez – o Paulo é gay! Ontem ele chamou a gente para um canto e disse “É uma pena esse Willian não ser como eu. Eu adoro ruivos, eles são tão… vermelhinhos!”. Era mais fácil ele ser o SEU namorado que o da Maely!

Medo.

- Mas o que? – gritou J.C.

- Não grita – pediu Matheus.

- Quem não tem colírio usa óculos escuros – cantou Gabriel, colocando um óculos na cara e logo depois tirando – Minha vó já me dizia pra eu sair sem me molhar. Quem não tem colírio, usa óculos escuros… - continuou, colocando o óculos de novo. Nota mental: ficar bem longe do que quer que seja que o Gabriel tenha bebido.

Andamos por mais alguns minutos e acabamos achando um supermercado na esquina de uma avenida. Entramos e, logo de cara, havia uma prateleira cheia de Jacks. Cara, eu adorei ela. Fui direto até ela, mas Maely descobriu meu plano.

- Onde você vai? – perguntou ela, me puxando para outro lado.

- Eu só vou…

- Não, não vai, não! Você vai pra lá comprar… feijão.

Fui junto com a Gabrielle comprar as coisas “úteis” para se ter em casa, enquanto o resto do pessoal se espalhou pelo supermercado.

Estávamos comparando os preços do arroz quando apareceu uma garota com uma camiseta preta com a estampa de um cara, embaixo estava escrito “Axl Rose”.

Ah, então esse é o Axl!

- Nossa, eu conheço esse cara de algum lugar… - comentei com Gabrielle.

- Ah, ta – disse ela, olhando para a camiseta da garota – tipo assim, todas as vezes que você olha no espelho você vê esse cara!

- Nós nem nos parecemos tanto assim – reclamei – ele tem todas essas tatuagens e eu…

- Se você fizer, você fica igual – respondeu Gabrielle, colocando um saco de arroz no carrinho que eu estava empurrando.

Continuamos andando e encontramos Maely com um carrinho cheio de produtos de limpeza e Suzannah com um carrinho dez vezes o tamanho dela, cheio de doces.

- Onde você vai com isso? – perguntou Gabrielle olhando de Suzannah para o carrinho várias vezes.

- Lá pro caixa, pra pagar, sabe, se não, não dá certo e…

- Nem pensar! – gritou Gabrille – Ai, minha cabeça…

- Faz assim – disse Maely como se explica a uma criança que… bem, que não pode comer tanto doce – Leva um desse, um desse e um desse!

- Mas eu…

- Se não for isso – falou Gabrielle com uma voz macabra – você não leva nada!

- Tudo bem – respondeu Suzannah abraçando os doces – Acho que eu posso sobreviver.

Logo em seguida apareceu o J.C com o braço carregado de pães, o Matheus do lado com um potinho de (eu não acredito que não é) margarina e o Gabriel ainda estava no “quem não tem colírio, usa óculos escuros”.

Fomos até o caixa e Gabrielle pagou as compras. Esperei que eles se distanciassem um pouco com as compras e corri até a prateleira de Jack Daniels; agarrei duas garrafas e corri até o caixa mais uma vez.

A moça do caixa me encarou como se quisesse adivinhar se eu tinha dezoito anos. Fudeu. Tomara que ela não peça minha identidade.

Por fim, ela deu de ombros e passou o código de barras na maquininha. Agora eu só tenho que pensar em como levar isso sem ninguém perceber.

Ótimo, consegui contrabandear as garrafas sem ser pego e escondi na tábua solta do assoalho embaixo da cama. Sou ninja!

- Beleza – disse Gabrielle sentando-se num dos banquinhos do balcão da cozinha – Alguém sabe cozinhar?

- Joga tudo na panela e bota no fogo – respondeu J.C.

- Como liga o fogo? – perguntou Suzannah lutando para conseguir sentar-se no banco.

- É fácil cozinhar… - comecei a explicar.

- Você sabe? – perguntou Gabrielle.

- Um pouco. Minha tia às vezes me obrigava a fazer o meu próprio almoço e…

- Ótimo, fica sob sua responsabilidade – respondeu ela, virando-se para sair da cozinha – Maely, você não está com dor de cabeça, fica aqui pra ajudar ele e, Suzannah…

Ela parou um momento para analisar as tentativas de Suzannah subir no banco alto do balcão.

- …vai fundo que um dia você consegue!

Começamos a fazer o almoço. Suzannah ainda estava tentando sentar-se no banquinho enquanto dava palpites. Isso é que é persistência.

- Por que você está jogando água no arroz? – perguntou ela, parando para descansar um pouco – eu gosto do meu arroz seco.

Ignorei o comentário e continuei a colocar água no arroz. No fim, o que deu pra fazer foi bife, batata frita e arroz, já que eu estava contendo a vontade imensa de preparar um monte de macarrão instantâneo.

Maely foi até a porta da cozinha com um sorrisinho e gritou: “TÁ PRONTO, CAMBADA!”.

- Cara, como a gente é carnívoro – comentou Gabriel, sentando-se num dos banquinhos e pegando um prato. – Não tem nenhum verdinho!

- Você está absolutamente certo – disse Gabrielle espetando o bife dele e pegando para ela – Isso não te pertence, você continua gordinho.

- Mas eu nem engordei!

- Shiii!

- Sabe – comentou J.C enchendo a boca de batata frita – a gente não comprou nada pra beber.

- Não, eu comp… - comecei, pensando nas duas garrafas de Jack Daniels – Tem razão, a gente esqueceu mesmo.

Mordi um pedaço gigantesco do bife para evitar falar qualquer coisa a respeito do meu contrabando de uísque.

- Matheus – chamou Gabrielle quando terminamos de comer.

- Hum?! – resmungou ele com a cabeça apoiada no mármore do balcão.

- Lava a louça.

- O que? Por que eu?

- Porque hoje é o seu dia de lavar louça e o meu de… enfim, eu não vou fazer nada antes das três. – respondeu ela. Matheus não discutiu e recolheu os pratos para lavar. Cara, ele era muito prestativo quando tava de ressaca.

Assim que o Matheus terminou de lavar a louça, ele se jogou no sofá e Gabrielle afundou na poltrona. Gabriel cambaleou até ela, sentou-se nos pés dela, encostou a cabeça no joelho dela e começou a babar. J.C ficou por lá mesmo, esparramado no balcão da cozinha.

Suzannah sentou-se no chão de frente para televisão rodeada de doces e Maely se sentou ao lado dela.

- Eu deixo você pegar – disse Suzannah se referindo aos doces -, mas não ouse tocar nas minhoquinhas!

Caramba, eu não tomei banho! Coisa incrível de se lembrar numa hora dessas.

Subi as escadas e fui até o banheiro. Enquanto assistia o vapor do chuveiro tomar conta do cubículo, comecei a me lembrar do que havia acontecido na noite anterior.

- Eu bebi uma garrafa inteira de Jack, subi na cadeira e… levei um soco. – falei pra mim mesmo – Aaah, eu levei um soco, claro… Cacetada, eu levei um soco! Por isso meu rosto tava todo dolorido de manhã!

Havia um montão de frascos de xampu no armarinho do banheiro, mas xampu dentro do frasco, que era o importante mesmo, quase nem tinha, mas deu pra lavar o cabelo.

Desliguei o chuveiro e fui até o quarto enrolado na toalha. Peguei um shorts preto de dentro da minha mochila e, cara, como esse shorts indecentes aparecem aqui? A questão é que eles são confortáveis, por isso acabei vestindo ele mesmo, uma camisa branca de mangas compridas e a pantufa de vaquinha com olhos esbugalhados da Maely. Na verdade, a parte de calçar a pantufa foi só pra irritá-la. To lindão.

Desci as escadas secando o cabelo com a toalha.

- Cara, pensei que você tivesse sido abduzido e… - começou Suzannah, mas Maely a interrompeu.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM A MINHA PANTUFINHA LINDA?! – missão cumprida. – E que diabos é esse shorts?

- Tem pelinhos – comentou Suzannah – Isso não pinica?

- Que tipo de pergunta é essa? – perguntou Maely. – Ah, deixa pra lá. VOCÊ, tire as minhas pantufas, agora!

Gabriel largou mão de babar no joelho da irmã e ficou de pé, se espreguiçando de jeitos estranhos.

- Por que vocês não conseguem ficar um segundo sem… Will, esse shorts ta MUITO gay! – disse ele. Ignorei-o.

- Por que vocês estão fazendo barulho? – perguntou Gabrielle, levantando-se de um salto da poltrona babada e logo depois olhando para o meu shorts. Qual é a do preconceito? – Isso não pinica?

- Não!

- Caramba, vocês são muito barulhentos – disse J.C vindo da cozinha – Ei, esse negócio indecente não pinica?

Ai, meu Deus.

- Qual é a do preconceito?

- Nada, nadinha mesmo – respondeu Matheus, ainda jogado no sofá e aparentemente sem forças para abrir os olhos – Se você gosta dessas coisas indecentes e piniquentas, tudo bem.

Ele nem ta vendo o shorts!

- Nem ta tão indecente assim – respondi, puxando a barra do shorts pra baixo.

- Se você se abaixar eu posso ver até seu umbigo pelo lado contrário – comentou Gabriel.

- QUAL É A DO PRECONCEITOOO?

- Calem a boca! – gritou Gabrielle. – Que tal a gente pensar no que vamos fazer pra eliminatória amanhã?

- A gente podia ir de Civil War – falou Suzannah colocando meia barra de chocolate na boca.

- Não, tem que ser uma coisa mais animada – retrucou Gabriel sentando-se ao lado dela para furtar o resto do chocolate.

- Então November Rain? – opinou Matheus, finalmente abrindo lugar no sofá.

- Qual parte do “mais animada” você não entendeu? E além do mais, a gente não tem piano – respondeu Gabriel.

- Que tal Pretty Tied Up? – sugeri. Afinal de contas, quem ia cantar era eu mesmo.

- Gostei, vai ser essa – concluiu Gabrielle.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado e muito obrigada pelos reviews que ganhamos (e que esperamos continuar ganhando).

Nota by avaca: eu ri em "(eu não acredito que não é) margarina".