Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 8
Nightrain


Notas iniciais do capítulo

Certo, nós ficamos muito tempo ansiosas por quando nós finalmente escreveríamos "Nightrain" no título do capítulo.É certo que a pior ideia que eu já tive foi essa história de colocar os nomes das músicas como título dos capítulos, porque toda vez que vamos escrever um nove, temos que ficar procurando letras de música que se encaixam com o que vai acontecer no capítulo... Fala sério ¬¬'



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/150799/chapter/8

“I'm on the nightrain, ridin' the nightrain. Never to return… Nightrain.”

14 de fevereiro de 2003 – Restaurante/Loja de música do Raul

Maely P.O.V

- Ela ta demorando. – reclamou Gabriel pela centésima vez naquele finzinho de tarde – Por que ela ta demorando? A gente não devia ter deixado ela sozinha. Quero dizer, como ela pretende sair de lá?

- Eu não faço idéia, mas ela disse que estava tudo sob controle e que não deveríamos nos preocupar – respondi, já cansada de ouvi-lo reclamar.

- Sério, quando aquela pequenininha diz que não precisa se preocupar… Se preocupe – disse Matheus olhando sua imagem no espelho. Eu já disse que ele é mais fútil que um bando de patricinhas loiras? Sim, acho que sim.

- É, mas daqui a meia hora o carinha amigo do Raul chega e ela ainda não está aqui – falou J.C.

- Quem é que ainda não está aqui? É o Gabriel, né?! Ele sempre se atrasa – disse Suzannah arrastando uma mochilinha.

- Suzannah! – gritou Gabriel levantando-se de um salto – Finalmente!

- Ah, oi Gabriel.

- Como você fez para sair da escola? – perguntei.

- Ah, sabe, a gente sempre sai de sábado. – respondeu ela, tirando a mochilinha dos ombros – Eu só peguei as minhas malas e sai.

- Suas malas?

- É, sabe, foi muito útil eu ter encontrado o Alfredo no caminho – respondeu ela, apontando para um amontoadinho de malas ambulante.

- Oi, obrigada Alfredo – disse Will pegando as malas. Alfredo fez um joinha e entrou no restaurante. – O que você colocou nessa mala, Suzannah?

- Estão prontos? – perguntou Raul aparecendo na porta.

- Sim.

- Olha só, eu tenho umas recomendações sérias pra vocês. – disse ele – Eu tive um sonho muuito loco. Num futuro próximo, daqui a mais ou menos seis ou sete anos, aparecerão bandas extremamente coloridas e com nomes de funções de jogo, se intitulando rock stars e, se aquilo é Rock, a Xuxa é Heavy Metal.

Não sei se era só impressão minha, mas o Raul parecia que estava meio nervoso.

- Enfim, me acompanhem que eu tenho um presente para vocês…

- Raul? Presente? Você? – perguntou Gabrielle, assustada.

- Quem é você e o que fez com o tio Raul? – disse Suzannah com uma cara estranha e os olhos serrados.

- Sem piadinhas. – respondeu ele, levando-nos até uma das salinhas de instrumentos e apontando para dois violões – É um presente para vocês.

- Ai, meu Deus, a gente ganhou dois violões, que emoção… e foi o Raul quem deu… Que estranho – exclamou Suzannah encarando os violões como se esperasse encontrar uma bomba ou algo assim lá dentro.

- Sim, levem com vocês pra São Paulo. Ah, não se esqueçam daquele animal asqueroso.

- Não fale assim da Samantha II – gritou Gabrielle abraçando o aquário. – Não liga, Sam II, ele não sabe do que está falando…

- Nossa, obrigado Raul, eu sempre soube que você no fundo, no fundo era gente boa! – disse Will carregando os violões para junto dos outros instrumentos.

- Devo aceitar isso como um elogio?

- O ônibus chegou – disse Alfredo aparecendo na salinha. Meu Deus, o Alfredo fala! Eu sempre achei que ele era mudo…

Começamos a carregar as coisas e paramos lá fora para dar uma olhada no ônibus. Havia um cara parado ao lado do ônibus segurando a porta do maleiro aberta.

- Ah, são vocês que vão viajar? – disse ele – Coloquem as coisas no maleiro e espero que nenhum de vocês seja claustrofóbico.

- Por que? – perguntou Matheus parando na metade do caminho entre colocar a mala no maleiro.

- Por que vocês vão viajar no maleiro – respondeu o motorista do ônibus – Vocês não esperavam viajar junto com os outros passageiros, né?! Além do mais, vocês estão indo clandestinamente E DE GRAÇA!

Faz sentido.

Continuamos colocando as coisas dentro do maleiro. A única que se sentiu indiferente a ter de viajar no maleiro foi a Suzannah, porque afinal de contas, não era como se ela fosse se sentir muito apertada nem nada.

- Foi um prazer conhecer vocês – disse Raul quando todos nós nos esprememos no maleiro – Se algum dia vocês voltarem para Brasília, venham me visitar.

- Aah, tio Raul, que bonitinho! – gritou Suze indo abraçá-lo.

- É, tudo bem, tudo bem… - respondeu Raul – Tudo bem, Suzannah, você pode me largar agora… LARGA MINHA PERNA, PEQUENININHA!

- Só não falo nada porque é a última vez que eu to te vendo – disse Suzannah pulando por cima de todos nós para se sentar no seu espacinho.

O cara fechou o maleiro, ligou o motor – que, aliás, fazia um barulho da peste – e depois de algum tempo já estávamos em alta velocidade.

- Como a Gabrielle consegue dormir com todo esse barulho? A gente mal saiu de Brasília! – comentou Matheus.

- Algo me diz que ela está acostumada com ruídos… por causa da colega de quarto dela, sabe!? – respondi.

- Gabriel, chega pra lá, você está ocupando meu espaço – gritou Suzannah deitando-se com os braços abertos – MEU ESPAÇO!

- SEU espaço? – reclamou ele de volta – Você está quase em cima de mim! Vá para um cantinho qualquer, seja onde for, você cabe.

Gabriel foi o segundo a cair no sono, em partes, imagino, por causa da dor da pancada que Suzannah deu nele… Seguido de Matheus (“J.C, seu pé ta na minha cabeça!”, “Mal ae!”), Suzannah e J.C. Logo depois, eu.

- Aaah! – gritei. Percebi com um segundo de atraso que eu acordara por causa de uma dor na canela. Olhei para baixo e vi Suzannah babando em mim. Eca, aquela pequenininha me mordeu… e babou em mim!

Me livrei dela e olhei para os lados. Todos estavam dormindo, menos Will, que estava sentado quietinho com um dos violões que Raul nos dera no colo e olhando para uma foto rasgada.

- Oi, ta tudo bem? – perguntei, sentando-me ao seu lado. Ele murmurou alguma coisa incompreensível em resposta, mas era um tipo de concordância. – Quem é essa mulher?

- É a minha mãe.

- E ela mora em Nova York com a sua tia?

- Não, ela morreu quando eu tinha quatro anos. – respondeu ele.

- Sinto muito.

- Tudo bem – disse ele, alisando a foto como se isso fosse fazer com que ficasse menos amassada. – Já faz muito tempo.

Desviei a atenção da foto para o rosto dele e de novo para a foto.

- Vocês não se parecem muito, não é?

- Já me disseram isso.

- E esse violão ai? – perguntei, estranhando o fato de que ele estivesse com o violão no colo.

- Eu andei tendo umas aulas com o Raul nessas duas últimas semanas – respondeu ele, um sorrisinho finalmente aparecendo no rosto dele.

- Legal, então vamo tocar alguma coisa – sugeri. Na verdade, eu estava era com medo de voltar para perto da Suzannah.

- Bom, então acho que você vai poder me ajudar – disse ele, remexendo nos bolsos da jaqueta. – Eu andei escrevendo algumas coisas, mas… digamos que em duas semanas não dá pra entender nada de melodia.

- Legal, deixa eu ver o que você escreveu.

“Looking at a picture of you in my hands

[Olhando uma foto sua nas minhas mãos]

Wondering if I'm ever gonna see you again

[Imaginando se eu irei vê-la de novo]

Without you I don't know how my life will be

[Sem você eu não sei como a minha vida vai ser]

But I believe

[Mas eu acredito]

It's not goodbye

[Não é adeus]

Cause I will remember you

[Porque eu me lembrarei de você]

And I will see you again

[E eu verei você de novo]

When I rise

[Quando eu subir]

Cause I know and I believe

[Porque eu sei e eu acredito]

I will see you in eternity

[Eu verei você na eternidade]

So close yet so far

[Tão perto mas tão longe]

But in my heart you're here with me

[Mas no meu coração você está aqui comigo]

You did not leave

[Você não partiu]

You just went to live in eternity

[Você apenas foi viver para a eternidade]

Without you I don't know how my life will be

[Sem você eu não sei como será minha vida]

But I believe

[Mas eu acredito]

It's not goodbye

[Não é adeus]

Cause I will remember you

[Porque eu me lembrarei de você]

And I will see you again

[E eu verei você de novo]

When I rise

[Quando eu subir]

Cause I know and I believe

[Porque eu sei e eu acredito]

I will see you in eternity

[Eu verei você na eternidade]

Do you live in the light of the sun again

[Você vive na luz do sol novamente]

Dancing in the river of life and

[Dançando no rio da vida e]

Knowing that'll never end and forever by my side

[Sabendo que nunca vai acabar e para sempre ao meu lado]

And never We'll have to say goodbye

[E nunca vamos ter de dizer adeus]

Cause I will remember you

[Porque eu vou lembrar de você]

And I will see you again

[E eu vou te ver de novo]

When I rise

[Quando eu subir]

Cause I know and I believe

[Porque eu sei e eu acredito]

I will see you in eternity

[Eu verei você na eternidade]”

- Você escreveu isso para a sua mãe? – perguntei, boquiaberta. Will assentiu – Uau, realmente ficou muito bom.

- Obrigado – respondeu ele com o olhar distante.

- Beleza, eu vou te ajudar. A gente pode começar assim…

Depois de algum tempo, a música estava praticamente pronta. Will pareceu ficar mais feliz quando terminamos.

- Só falta a gente cantar – disse ele.

- Só falta VOCÊ cantar – corrigi, pegando o violão das mãos dele.

Começamos a música e, um por um, o pessoal foi acordando.

- De onde veio essa música? – perguntou Gabriel tentando sair de baixo da Suzannah, a única que ainda estava dormindo.

- Nós escrevemos – respondeu Will.

- Tenho que admitir, vocês tem o dom pra coisa!

- Agora eu perdi o sono – comentou J.C.

- Legal, vamos cantar! (Vamos ouvir a Maely tocar violão e o Will cantar) – gritou Gabrielle.

- Cantar o que? – perguntou Matheus.

Comecei a introdução de Black Bird, dos Beatles e na hora todo mundo começou a acompanhar.

Ficamos assim por mais algumas horas, cantando canções aleatórias (ouvindo o Will cantar). Já passava das nove da manhã e resolvemos voltar a dormir, porque ainda faltava um bom caminho pela frente e ficáramos a madrugada toda acordados.

Acabei acordando outra vez por causa de um tranco do ônibus. O pessoal ao meu redor acordou também – Isto é, com exceção da Suzannah.

- Chegamos – falou o carinha simpático motorista do ônibus – Vão pulando pra fora. Se estiquem que já são duas da tarde.

Gabrielle ficou encarregada de acordar Suzannah enquanto descarregávamos as bagagens.

- Caramba, que dor nas costas – comentou J.C o teclado nas costas e a mala na mão.

- Eu não sei o que foi que houve, mas parece que eu levei um soco na barriga – reclamou Gabriel.

- A Suze dormiu a noite toda em cima de você – respondi.

- Você é ótimo com travesseiro, vai por mim – disse Gabrielle saindo do maleiro e batendo na barriga dele.

- Eu… nem to gordo – disse ele engasgando com a força de Gabrielle e olhando seu reflexo com poses estranhas no retrovisor de um carro parado na calçada. É sério, às vezes eu tenho medo.

Suzannah saiu finalmente de dentro do maleiro, espreguiçando-se de maneiras estranhas. Cara, essa menina dormiu das onze da noite às duas da tarde sem acordar nenhuma vez. Que tipo de pessoa faz isso?

- Mano, to com fome – reclamou ela. – Eu tive um sonho bom… quer dizer, mais ou menos bom…

- Por que? – perguntou Matheus endireitando as costas depois de descarregar seu teclado.

- Eu meio que sonhei que estava comendo um espetinho – continuou Suzannah, gesticulando como se estivesse realmente segurando um espetinho – Só que ele era extremamente magro… E tinha um estranho gosto de hidratante. Não que eu já tenha comido hidratante… Espera, eu já comi, sim. Ah, deixa pra lá.

Dei um soco no braço dela. Fala sério, minha canela? Espetinho? Que história é essa?

- Por que eu to apanhando?

Deixei-a falando sozinha e Will agradeceu o motorista do ônibus pela “carona”. Parei para observar onde, diabos, nós estávamos. Havia uma construção grande que se parecia muito com um teatro, cercado de prédios para locação e uma quantidade considerável de pessoas passando de um lado para o outro. Ainda estava observando o movimento quando uma das pessoas me chamou a atenção. Era realmente uma figurinha familiar.

- Paulo? – chamei. O carinha se virou e veio em minha direção sorrindo daquele jeito que fazia a maioria das garotas desmaiarem. Quero dizer, menos eu, porque eu sabia da história dele nos detalhes sórdidos.

- MAELY! – gritou ele.

- PAULO! – berrei de volta, pulando em cima dele. – Você ta aqui?! Nossa, quanto tempo, que saudade e… QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?

- Eu ainda moro aqui – respondeu ele, como se fosse óbvio. E, parando pra pensar, era mesmo – E o que VOCÊ está fazendo aqui?

- Eu tenho uma banda. A gente veio pra competição. – respondi, apostando para um cartaz colado no poste.

- Legal, você tem uma banda! – disse Paulo, virando-se para olhar o resto do pessoal.

- Sim, esses são Matheus, Suzannah, Gabrielle, Willian, J.C e Gabriel.

- Vocês estão com sorte, só restam algumas vagas pra inscrição e eu trabalho aqui. Passo vocês na frente!

- Pergunta – disse J.C, interrompendo-nos e se virando para Gabrielle – Onde a gente vai ficar?

- Ai, meu Deus, eu não pensei nisso. Que tipo de estrategista sou eu?

- Eu acho que eu posso ajudar – disse Paulo, antes que a crise de identidade de Gabrielle tomasse maiores proporções – Meu tio tem um apartamento ali na esquina e, bem, ele foi viajar… eu acho que ele não se importa.

- É sério? – gritou Gabrielle com os olhinhos brilhando – Maely, adorei ele, está aprovado.

- Vocês têm que colocar os instrumentos em uma das salas atrás do palco dentro do teatro – disse Paulo, apontando para a construção gigantesca que eu estivera observando antes dele chegar. – Da última vez que eu olhei, a sala 008 estava vazia. Coloquem suas coisas lá e me esperem, vou buscar uma ficha para vocês fazerem a inscrição.

Enquanto Paulo se afastava para um lado, fomos levando nossos instrumentos para dentro do teatro. Entramos pela parte de trás, onde havia um corredor cheio de portinhas e várias pessoas vestidas de jeitos diferentes entrando e saindo de um lado para o outro, também carregando instrumentos.

- Caraca, tem gente pra caramba aqui. – comentou Will com uma mochila nas costas e uma das malas da Suzannah na mão direita.

Foi relativamente fácil achar e guardar as coisas na sala 008. Ficamos um tempo sentados – a maioria de nós, sobre as malas da Suzannah – até o Paulo voltar com a ficha de inscrição.

Gabrielle foi respondendo às perguntas e Paulo foi anotando na ficha. Enquanto eles faziam isso, percebi que Will e Matheus se afastaram por um momento, mas não dei importância e continuei descansando abraçada no case da minha guitarra.

- Certo, está tudo pronto. A inscrição está feita, então vou levá-los até o apartamento do meu tio. Vocês se arrumam lá e o horário das eliminatórias é terça-feira às dez e meia.

Agarramos nossas mochilas – Matheus, Gabriel e J.C com as malas da Suzannah – e fomos até o apartamento, que realmente ficava na esquina do teatro. Paulo abriu a porta para nós e jogamos tudo na sala de estar.

- Seguinte – disse Paulo, entregando a chave do apartamento para Gabrielle – Tem dois quartos e um banheiro no andar de cima, a sala, uma cozinha por ali e uma areazinha de serviço.

- Adorei – falou Gabriel se jogando no sofá.

- Eu também – comentou J.C empurrando Gabriel para o chão e sentando-se no lugar dele no sofá.

- Tchau pra vocês, alguém tem que trabalhar por aqui. - acrescentou Paulo olhando com uma cara estranha para mim. Em partes, acho que porque eu estava esparramada na poltrona perto da porta. Dei língua pra ele – Até terça, boa sorte pra vocês ai, fui.

- O que diabos vocês estão fazendo? – perguntou Gabrielle quando Gabriel, Matheus e Suzannah acharam um cantinho para sentar-se. – Essas mochilas não vão se desfazer sozinhas e alguém precisa varrer essa casa. O que vocês estão esperando? Já são cinco horas, faz três horas que chegamos e ainda não fizemos absolutamente nada! Maely, levanta a bunda da cadeira e vai fazer alguma coisa, essa casa ta mais empoeirada que o livro de história da Suzannah!

- Mas o que? – reclamou Suzannah.

- VÃO LOGO!

Eu e Suzannah ficamos encarregadas de tirar pó dos móveis, Matheus e Gabriel arrumaram os quartos e o banheiro,o resto ficou de varrer a casa.

- Certo, os quartos estão arrumados – disse Gabriel descendo as escadas.

- Ta, só tem dois quartos, quem vai ficar aonde? – perguntou J.C apoiado na vassoura. Tadinha dela.

- É obvio que a gente vai fazer um sorteio – respondeu Gabrielle largando a vassoura em um canto e sentando-se no sofá com papel e caneta nas mãos.

- O que você está fazendo? – perguntei, me sentando ao lado dela.

- Escrevendo nossos nomes – disse ela, rasgando o papel em pedacinhos e dobrando-os. – Gabriel, vem cá. Me dá esse boné.

- O que você vai fazer com ele? – quis saber Gabriel colocando as duas mãos na cabeça e segurando o boné.

- Me dá logo isso ai.

Gabrielle colocou os papeis no boné e chacoalhou por um momento.

- Maely, pega dois papeis e lê o nome – disse Gabrielle – As duas pessoas a quem os nomes pertencerem vão ficar com um dos quartos, depois mais dois papeizinhos e o que sobrar, fica na sala.

- Certo – respondi, pegando os papéis – Gabrielle e Suzannah.

- Há, vou dormir na cama! – gritou Suzannah pegando sua mochila e levando para o andar de cima.

- Leva a minha também e joga lá – berrou Gabrielle jogando a sua mochila para Suze pegar.

- Não, espera ai, agora quem vai escolher os papeis sou eu – disse Matheus quando fiz menção de pegar mais dois papeizinhos – Só tem mais um quarto, eu tenho que ME escolher e… Maely e Willian? Mas que diabos? Isso quer dizer que eu arrumei os quartos e agora vou dormir na sala?

- É o que eu diga – comentou Gabriel.

- O SOFÁ É MEU – gritou J.C, antes que qualquer um dos dois pudesse gritar antes.

- Beleza, então ninguém tasca a poltrona! – disse Gabriel se jogando nela.

- Quem disse que você vai dormir na poltrona? – perguntou Matheus com cara de poucos amigos.

- Eu – respondeu Gabriel, lambendo o braço da poltrona.

- É, eu acho que vou dormir no chão mesmo.

- Que nojo – disse Suzannah aparecendo no alto da escada – Você nem sabe o que pode ter acontecido ai.

Gabriel colocou a língua pra fora.

- Selá que eu afo a dasta de dentche? – disse ele, abrindo a mochila – Afei.

Em um segundo ele estava jogado na poltrona e do segundo seguinte já estava no alto da escada.

- Cara, eu estou com fome – comentou Will procurando algum lugar para se sentar que não tivesse sido infectado pela baba de Gabriel.

- A gente pode procurar e ver se acha uma bolachinha ou sei lá o que. – disse Suzannah indo em direção a cozinha.

- Suzannah, em que mundo você vive? – perguntei – A gente abriu todos os armários da cozinha e não tinha nem um grãozinho de arroz, só aquelas sei-lá-quantas garrafas de bebida.

- É sério? – disse Suzannah como se não fizesse ideia do que eu estava falando – Então vamos beber! Já sei, a gente pode fazer um vira-vira! Eu sempre quis fazer um vira-vira, é tão legal e…

- O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA? – gritei – A gente tem que estar sóbrio amanhã pra poder ensaiar pras eliminatórias, não pode simplesmente se entupir de bebidas!

- Você gritou comigo? – perguntou Suzannah fazendo biquinho – Tudo bem, eu te perdôo, mas só dessa vez, porque eu concordo com você.

- Certo, então agora eu vou pegar as minhas coisas, expulsar o Gabriel do banheiro e tomar um banho porque, sinceramente, eu estou quebrada.

Subi as escadas e encontrei Gabriel ainda no banheiro, encostado no balcão da pia, escovando os dentes.

- Quanto tempo você leva pra escovar os dentes?

- Já é a quinta vez – respondeu ele, colocando a língua pra fora e voltando a escová-la.

- Ta, então sai daí que eu quero tomar banho.

- Ah, fica a vontade – respondeu ele, virando-se de frente para o espelho.

- SOME DAQUI!

- Ta bom, ta bom… - disse ele saindo com a escova na boca e as mãos pra cima em sinal de rendimento – Povinho estressado, eu hein?!

Demorei uns quinze minutos no banho e abri as portas dos quartos. O primeiro tinha duas camas, um guarda-roupas e um criado mudo; as mochilas da Suzannah e a da Gabrielle já estavam jogadas por lá. No outro quarto, havia apenas uma cama e o guarda-roupa. Bem, não ia caber mais nada lá dentro mesmo.

Eu ia dormir na cama.

Desci as escadas e me assustei ao me deparar com Will em cima de uma cadeira e uma garrafa de Jack Daniels na mão, um tênis só no pé, a calça jeans toda rasgada, sem camisa, coberto de colares e com os cabelos mais confusos que os do Slash, berrando em um microfone imaginário, bem, acho que era (Sweetheart,Sail away sweet sister),o Axl costuma “recitar” antes de cantar Sweet Child o’ mine.

“But if you love somebody else

[Mas se você ama outro]

Sweetheart

[Querida]

I don't wanna know about you

[Eu não quero saber de você]

'Cause you see so many others

[Porque você ve muitos outros]

You know what I mean and

[Você sabe o que eu quero dizer e]

That's why I got to live

[É por isso que eu tenho que viver]

Without you

[Sem você]”

O resto do pessoal estava em volta da cadeira, cada um com uma garrafa diferente, agindo como se estivessem em um show de verdade, vendo o próprio Axl recitar. Fui descendo das escadas, um palavrão ia se formando na minha cabeça a cada degrau.

- MAELY! – gritou Will com aquela voz enrolada de bêbado, descendo da cadeira e tropeçando em Suzannah enquanto ela virava uma garrafa de sakê. – Era você mesmo que eu queria ver! Você e essas… uma, duas… Esse bando de Maely que ta atrás de você!

- Mas que diabos está acontecendo aqui? – gritei. – Eu disse pra vocês não beberem…

- A gente só tomou um pouquinho… - respondeu Suzannah deitando-se no chão com um sorrisinho besta na cara.

- É o seguinte – disse Will vindo até mim e me abraçando – Eu quero te falar uma coisa…

Ele foi chegando perto, perto, perto, tão perto que já era possível sentir a respiração dele batendo no meu rosto e, cara, fedia a Jack Daniels. Dei um soco na cara dele e, não quero dar uma de Matheus, mas aquele soco foi de cinema!

- Ah, fala sério, nem foi tão forte assim – falei, olhando para Will estatelado no chão.

J.C, que parecia ser o menos bêbado, agachou e cutucou Will.

- Eu acho que ele morreu.

- Ele NÃO morreu! – gritei, agachando para tirar minhas próprias conclusões.

- Ele parece morto pra mim – respondeu Suzannah, ainda deitada no chão olhando para o teto.

- Alguém vai ter que se livrar do corpo… - comentou Matheus sorrindo.

- NINGUÉM VAI SE LIVRAR DE CORPO NENHUM! – berrei de volta, vendo o peito de Will subir e descer no ritmo das respirações. – J.C, você é o menos bêbado e, sem favor algum, o mais forte. Leva ele pro quarto enquanto eu dou um jeito nesses quatro aqui.

Coloquei-os em filinha indiana e os levei até a cozinha, onde “acordei-os” um cubinho de gelo nas costas de cada um – dois na da Suze. Missão cumprida. É,mais ou menos. Matheus se jogou no sofá, mas J.C desceu as escadas e o empurrou para o chão, onde ele ficou sem nem mesmo acordar e Gabriel se esparramou na poltrona babada por ele mesmo, babando ainda mais.

Gabrielle e Suzannah subiram as escadas escoradas uma na outra e eu subi atrás para me certificar de que elas entrassem no quarto e não no banheiro.

Por fim, voltei para o quarto onde eu e Will dormiríamos e me deparei com ele esparramado de qualquer jeito na cama. A única cama. A cama em que EU deveria estar deitada!

- Fala sério, você enche a cara, quase me mata com o bafo de pingaiada e ainda deita na cama! – reclamei, jogando um punhado de cobertores que achara dentro do guarda-roupas no chão para tentar improvisar uma cama. – Fique sabendo que amanhã eu vou te espancar até você desmaiar novamente!

Deitei por cima dos cobertores e fiquei um tempão tentando me acomodar. Quando estava prestes a pegar no sono, Will começou a resmungar sozinho. Levantei para espancá-lo, pensando que ele tinha acordado, mas ele estava falando dormindo.

- Ah, não, era só o que faltava – praguejei – Além de tudo, você ainda fala dormindo!

Cheguei mais perto para tentar decifrar o que ele estava falando e o filho da mãe me deu uma “testada”.

- Agora sim, eu vou te matar! – gritei, indo segurá-lo pelo pescoço.

- Maely? Você ainda ta aqui? – perguntou ele naquela voz arrastada de bêbado,ainda me olhando como se visse vinte Maelys – Por que você ta aqui comigo? Vai dormir com o Paulo, aquele seu namorado!

Estava para meter-lhe outro soco na cara, mas não deu pra não rir quando ele disse que o Paulo era meu namorado.

- O Paulo? Meu namorado? Isso seria muito estranho porque… - fui falando, mas percebi que era gastar saliva, porque ele já tinha virado para o lado e voltara a dormir.

Chacoalhei ele para fazê-lo prestar atenção em mim.

- Você ta me ouvindo? – gritei.

- Eu to, eu… - ele me abraçou outra vez – to ouvindo.

Dei outro soco nele. Bafo!

Fala sério, eu mereço.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Créditos à "Música do Will", que é Eternity - JoBros.Próximo capítulo: "Killing Time"P.s: Foi o nome mais bem colocado, dica.