Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 6
It’s alright


Notas iniciais do capítulo

Aí vai o capítulo, é a primeira apresentação da banda, com direito a shorts da bandeira dos Estados Unidos :D



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“Give it all and ask for no return and very soon you'll see and you'll begin to learn that it's alright, yes it's alright”

06 de fevereiro de 2003 – Bar Shotgun Blues

Maely P.O.V

- Meu Deus, há oito anos que eu moro nessa cidade e nunca tinha ouvido falar nesse bar. – estava gritando Suzannah quando a caminhonete parou em frente a um bar com um letreiro néon enorme escrito “SHOTGUN BLUES”.

A porta abriu e o primeiro a sair da caminhonete foi J.C.

- Cara, que caminhonete pequena – reclamou ele, desentortando as costas e alongando os braços.

Fomos descendo um por um e começamos a tirar os instrumentos da traseira. Algum tempo depois, apareceu um cara que parecia ser o dono do bar: careca e todo músculos, na faixa dos trinta.

- Vocês são a banda… Err, qual o nome de vocês mesmo? – perguntou ele.

Nos entreolhamos por um momento. Quero dizer, nome? A gente não tinha nem pensado nisso ainda. Automaticamente, todos nós olhamos para Gabrielle, porque ela era a mente maléfica do grupo. Ela olhou para cima, sorriu.

- Shotgun Blues!

- Que legal, é o mesmo nome do bar. Entrem, por aqui. – disse o dono, levando-nos por uma entrada pelos fundos. – É o seguinte, vocês podem montar os instrumentos aqui e apertar esse botão que o palco vai girar… a maioria das pessoas que vem aqui diz que isso é extremamente brega, então podem montar lá na frente mesmo, se vocês quiserem.

- É isso ai, a gente vai montar lá na frente. – disse Matheus, já carregando seu teclado para o palco.

J.C, Matheus e Gabriel ficaram encarregados de montar os instrumentos, já que, segundo eles, eu, Suze e Gabrielle demoraríamos demais porque éramos meninas e o Will… bem, era só levar em conta o figurino.

- Vocês têm certeza que eu tenho mesmo que ir com isso aqui? – perguntou ele, esticando o shorts.

- Sim – respondeu Gabrielle, ameaçando tirar a blusa.

- EI, EI, EI! – gritou Will, virando o rosto para o outro lado.

- Ah, é verdade, meninas não podem trocar de roupa junto com meninos – disse Gabrielle, ajeitando a blusa de volta no lugar.

- Eu achei um lugar perfeito pra você – falou Suzannah, apontando para um empilhado de caixas cobertas com um lençol. – é como um mini provador.

- Não era pra ser o contrário? – perguntou ele, sendo arrastado por Gabrielle para dentro do provador improvisado.

Suzannah foi a primeira a ficar pronta - afinal, ela era compacta, óbvio -, com uma calça jeans, um cinto com tachinhas e uma camiseta preta. Logo depois, a Gabrielle estava pronta, com uma camiseta do Sex Pistols, All Star e jeans.

- Posso sair daqui? – gritou Will de dentro do provador.

- NÃO! - gritei de volta – Ainda não to pronta.

Ta, não consigo me decidir entre uma blusa preta do Ramones ou uma branca, escrito “God save the Queen” com uma foto do Sid Vicious.

- Ae, chegamos – gritou Gabriel, entrando na salinha em que estávamos e que servia de camarim.

- Eu iria DESSE JEITO! – falou Matheus, apontando para mim, de sutiã de bolinhas. Eu estava em um momento de choque, mas esse comentário foi o suficiente para despertar os gritos dentro de mim.

- O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO AQUI! JÁ PRA LÁ, JÁ PRA LÁ, JÁ PRA LÁ! – berrei, empurrando-os para o “camarim” do Will.

- Mas eu não vou caber… - foi dizendo J.C, mas não me importei em ouvir e, de algum jeito, fiz com que todos  entrassem lá dentro.

- Will? – perguntou a voz do Gabriel, abafada sabe-se lá por que. – Seu cabelo ta na minha cara.

- Matheus, você está em cima da minha perna. – disse J.C – Ta formigando.

- Eeei, não sinta formigamentos perto de mim! – gritou Matheus de volta.

- To pronta! – gritei, tendo escolhido a blusa do Ramones.

Os quatro saíram de dentro do “camarim” dos garotos e Matheus me olhou de um jeito estranho.

- Ah… - disse ele, com tristeza na voz – Eu preferia do jeito que estava antes.

Arremessei a bolsa da Suzannah em Matheus, mas algo saiu errado e ela acabou caindo diretamente em Will.

- Will, você ta bem? – perguntei, correndo até ele e tentando tira-lo de baixo da bolsa de Suzannah.

- Isso está pessoalmente pesado – comentou ele, parecendo estranhamente atordoado e espantado ao mesmo tempo. - Como a Suzannah consegue carregar isso aqui? Como você conseguiu arremessar isso daquela distância? Que tipo de garotas são vocês?

Ajudei-o a se levantar e, nesse meio tempo, J.C já tinha entrado no “camarim” do Will, se trocado e já estava de volta. O próximo foi o Gabriel e por último o Matheus, que estava nos olhando – a mim e Will – com uma cara muito perversa.

- Prontos? – perguntou o dono do bar, batendo na porta.

- Sim – respondeu Gabrielle, saindo da salinha com todos nós no encalço.

O amigo do Raul, dono do bar, foi até o dj com um microfone para anunciar a Shotgun Blues e nos pusemos em formação no palco. As luzes ainda estavam apagadas, mas dava para ver a quantidade de pessoas espalhadas na frente do palco na expectativa de ver quem seria a banda da vez.

Estava tudo muito bem até o Will virar para trás e sair andando de volta para o “camarim”.

- Eu não posso fazer isso – disse ele, descendo do palco.

- O que é que ele ta fazendo? – perguntou Matheus, vindo até mim.

- Enrola ai – falei para o J.C enquanto Suzannah e Matheus iam descendo do palco atrás do Will. – Bad Obsession é uma boa, ta com a gaita do Raul ae? Gabrielle, presta atenção no meu sinal, ele vai fazer o mesmo que em 92 lá em Tokyo.

Corri atrás de Suze, Matheus e Will e encontrei os três parados em frente à porta do “camarim”.

-… eu não sei como explicar, eu simplesmente não posso fazer isso – estava dizendo Will com as mãos na cabeça.

- É muito simples, você só tem que ir pra lá e cantar – falou Matheus. Dei um tapa na testa dele pra ele ficar quieto.

- Deixa a gente te contar uma história – falei, lembrando-me de como tudo isso começou. – Quando a gente tinha doze anos, descobrimos que queríamos ser uma banda.

- Trabalhamos para comprar nossos instrumentos e pagar as aulas de música durante três anos. – continuou Suzannah.

- Desde então, sonhamos com a nossa primeira apresentação, como ela seria, como iríamos nos sentir – falei.

- Mas isso estava fora de questão, até você chegar – disse Suzannah – Porque você é a voz da nossa banda.

- Só que acabou saindo de controle. Esse era pra ser o NOSSO sonho.

- E sinceramente estou me sentindo egoísta…

- E hipócrita – completei – Porque nós nunca nos importamos em perguntar se VOCÊ queria isso, qual era o SEU sonho.

- Realmente não tem problema se você não quiser fazer isso – falou Suzannah – Mas resolve logo que o J.C está ficando sem fôlego já…

- Certo, a gente gira o palco, eu dou uma pane na fiação elétrica e… – fui falando, tentando arquitetar nossa fuga sem sermos linchados pela multidão.

Mas Will começou a dar risada quando Suze pegou um copo de vodka e ameaçou jogar na caixa de força.

- Depois de tudo isso que vocês falaram, EU que me sinto egoísta e hipócrita – disse ele, pegando o copo da mãe de Suzannah – Eu sempre reclamei de não ficar em lugar nenhum tempo o suficiente para fazer um amigo e agora que eu consigo, de uma vez, um punhado, sem o menor esforço, não vou deixá-los na mão. – acrescentou, virando o copo de vodka de uma só vez na boca e voltando para o palco.

- Fala sério, eu que ia beber a vodka – comentou Suzannah enquanto estava sendo empurrada por Matheus atrás de Will.

Gabrielle foi a primeira a notar a nossa volta. E foi bem na hora.

J.C largou a gaita, respirou fundo e finalmente começou de verdade. Só deu tempo para eu e Suze pendurarmos nossos instrumentos e acompanhar.

Will começou a cantar timidamente: “I can't stop thinkin', thinking 'bout sinkin', sinkin' down into my bed”. Sinceramente, do Axl, ele só tinha a aparência e a voz; nada da personalidade explosiva, aquela energia que o fazia pular para todos os lados no palco e falar palavrão sem se importar.

“So who you foolin', don't try ta give me a line. But I can't stop thinkin' 'bout seein' ya, one more time.”

Era estranho olhar para a cara das pessoas na frente do palco. Por um lado era o esperado, exatamente como havíamos ficado da primeira vez que o ouvíramos cantar. A questão era que agora a gente já estava acostumado, e as outras pessoas, não.

Mas a partir do momento em que ele cantou “And you're better off left behind”, foi como se todo mundo despertasse e começasse a cantar junto no refrão:

“It's a bad obsession

It's always messin'

It's always messin' my mind

It's a bad obsession

It's always messin'

It's always messin' my mind”

Não sei se foi o efeito da vodka, mas algo fez com que ele de repente perdesse a vergonha. Na segunda parte da música, Will já estava fazendo dancinhas estranhas, saltitando com o microfone pra lá e para cá, o máximo que o palco conseguia agüentar. E, realmente, ele bem que se parecia muito com o Axl.

Já estava até vendo-o correr, colocar o braço nos meus ombros e berrar na minha orelha… como o Axl faria com o Slash.

Mal acabei de concluir o pensamento e Will se aproximou cantando “So…bad”, me abraçou e gritou “BOOOOOOOOOOY”. Ai, meus ouvidos. Sinceramente, acho que foi por isso que o Slash deixou o Guns.

Depois disso, ele foi até a Gabrielle, depois até a Suze, o Gabriel e ficou um tempinho com o J.C durante o solo de gaita.

“Heads up. It’s a…” - Leve impressão de que ele anda evitando o Matheus.

Foi a música terminar (“Maybe you'll do better next time, Punk!!”), as pessoas começaram a gritar, mas aparentemente não se lembravam do nome da banda.

Seguimos o show cantando depois Mr. Brownstone – várias mulheres gritaram na parte da dancinha -, It’s so easy, Nightrain, Sweet Child o’ Mine, My Michelly e Welcome to the Jungle – acho que ele se esqueceu do shortinho nessa aqui, porque tacou a blusa para um canto e acertou o Matheus, que disse algo que não entendi, mas com certeza não era nada amigável.

No fim, Will começou a agradecer o público, mas… bem, ele estava agradecendo em inglês.

- …I hope you enjoyed and…

- WILL! – gritou Suzannah.

- What? – perguntou ele, fora do microfone.

- A gente ta no Brasil – respondeu ela, fazendo gestos que sugeria que ele estava ficando louco – Você está agradecendo em inglês!

- Oh my fuckin’ God, I’m sorry… Quero dizer, me desculpe e obrigado pela presença, espero que vocês tenham gostado do show.

Deixamos o palco extremamente felizes, as pessoas no bar ainda gritavam.

- Vocês… WOW, caramba! Eu… - veio falando o carinha dono do bar.

- Autógrafos mais tarde… - disse Gabrielle, jogando os cabelos para trás e indo para a saída com os pratos da bateria debaixo do braço.

- Não, espera. Em São Paulo costuma ter uma competição anual de bandas e, pelo que eu vi hoje, vocês tem grandes chances. Conversem com o Raul, ele vai dar os detalhes para vocês. – falou ele, acompanhando-nos e carregando a caixinha da bateria até a caminhonete. – Será que vocês aceitariam vir aqui mais uma vez?

- Pagando bem, que mal tem? – disse Matheus, acomodando o teclado na traseira da caminhonete.

- Tudo bem, tudo bem, eu converso com o Raul depois – respondeu o cara. Algo me dizia que esse cara era extremamente pão duro – exatamente como o Raul.

A viagem de volta para o restaurante/loja de música do Raul foi ainda mais feliz que a ida até o bar, todos pareciam estar em êxtase, rindo alto e falando besteiras.

Estacionamos a caminhonete no lugar e guardamos os instrumentos de volta no lugar de sempre. Passamos pelo restaurante, olhamos pela janela e vimos o Raul e a velha Zacarias se olhando apaixonadamente. Eca.

- J.C, você primeiro – disse Gabrielle, empurrando-o para a porta.

- Por que eu?

- Por que sim – respondeu ela. J.C bateu na porta e a abriu.

- Err, dona… - chamou Gabrielle, tirando-os do transe. Eca de novo.

- Ta tarde, a escola pode perceber que a gente ta fora e…– disse J.C – Vamo embora?

A velhota nos olhou como se fosse capaz de nos colocar um ano na detenção e só não faria porque nós a tínhamos levado até lá, depois olhou para o Raul e disse:

- Uma outra vez voltarei… sozinha.

ECA, ECA, ECA, EEE-CA!

Vale lembrar que ficamos mais de duas horas fora, voltamos com roupas totalmente diferentes e… ela não percebeu nada?

Voltamos para a escola, a velhota estava olhando para o céu com cara de apaixonada (eca) até o Will passar na sua frente – ele ainda estava sem camisa.

- Willian? – perguntou ela, olhando para ele como se ele fosse de outro mundo.

- O que? – perguntou ele, aparentemente não vendo nada de estranho. Algo me diz que ele havia se acostumado com o shorts.

- Eu… você… deixa pra lá. – disse ela – Voltem para seus dormitórios e nenhuma palavra sobre isso com ninguém. Vou aumentar cinco pontos na média de vocês por isso.

- Minha primeira nota azul de História! – comentou Suzannah com os olhos brilhando.

A velha seguiu para o seu quarto e nós nos dirigimos aos dormitórios.

- Foi simplesmente… muito legal – disse Gabrielle agitando as baquetas no ar.

- Eu não sabia que eu podia fazer isso, eu adorei! – comentou Gabriel.

- Esse foi o primeiro de muitos – falou J.C.

- Somos de mais – falou Matheus, entrando no dormitório e acenando um até mais.

Entramos no dormitório feminino. Agora que a adrenalina passara, percebi que estava realmente cansada.

- Preciso desamarrar aquela garota – comentou Gabrielle suspirando – Até amanhã, galera.

- Quem será que ela amarrou? – perguntei a Suzannah, na porta do quarto.

- Sei lá.


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Notas finais do capítulo

É isso ai. Como prometido, aí está. Espero que gostem e, dica, nós amaaaamos reviews!!