Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 5
Nice boys


Notas iniciais do capítulo

"Nice Boys"? - quero dizer, de bons garotos eles não têm nada, vamos combinar ;] Mas fingir um pouquinho que são bons garotos não faz mal a ninguém e só ajuda a banda :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/150799/chapter/5

“Nice boys don't play rock and roll. I'm not a nice boy!”

06 de fevereiro de 2003 – Colégio Interno Save Our Souls (dormitório masculino)

Willian P.O.V

Eu nunca pensei que matar aula num colégio no Brasil fosse tão… Bem, digamos que no primeiro dia de aula eu misticamente virei vocalista de uma banda e agora tem três garotas vestidas de homem tentando invadir o dormitório masculino sem ser pegas. E o melhor é que eu to ajudando.

- Fala sério, a gente ta ridícula! – disse Maely, olhando-se na janela para tentar arrumar o bigode falso.

- Eu adorei – disse Suzannah, fazendo poses estranhas para evidenciar seus “músculos” feitos com meias enroladas. – Eu tenho bigode!

- Você ta parecendo a hipopótamo com esse bigode, Suzannah – comentou Gabriel.

- Não me chame de Suzannah, agora eu sou o Sr. Simon.

- Vamo, povo, antes que a hipopótamo realmente apareça e perceba esse “impecável” disfarce – falou Gabrielle, empurrando-nos e impedindo Suzannah de matar Gabriel.

Continuamos a entrar pelo corredor do dormitório; quanto antes chegássemos no quarto, mais rápido sairíamos, afinal de contas, o quarto não era dos maiores e com sete pessoas lá dentro… bem, não ia ser muito fácil.

- Cara, eu to mesmo dentro do dormitório masculino! – disse Suzannah, olhando para as paredes como se elas fossem muito diferentes de qualquer outra parede da escola.

- Acho melhor você andar logo, as pessoas estão começando a desconfiar da sutil desproporcionalidade entre o seu tamanho e os seus músculos. – comentei, empurrando-a na direção do quarto.

Metade do povo se empoleirou na cama do J.C e a outra, na minha. Peguei a minha mala e joguei em cima da cama, ao lado da Maely.

- Era mesmo necessário todo mundo vir aqui só pra dizer o que ele deve vestir? – perguntou J.C, espremido entre Gabriel, Gabrielle e Matheus na cama da direita. – É fácil se vestir!

- Ele é o vocalista, tem que estar bem vestido. – retrucou Gabrielle. Ela ocupava mesmo muito espaço quando vestida de homem.

Abri a mala e, conforme ia tirando as coisas que havia jogado lá dentro, percebi que todos começaram a me olhar de um jeito estranho.

- Por que você trouxe um abajur dentro da mala? – perguntou Maely – Tipo, aqui não tem tomada!

- Não sei. Eu meio que abri a mala e fui jogando coisas aleatoriamente. – respondi.

- Percebe-se.

- Você poderia pelo menos ter colocado mais… roupas na mala – disse Suzannah. – Fala sério, até eu sei disso!

- Ah, eu coloquei, bem, três pares de roupa e é mais ou menos isso ai – respondi, jogando o abajur de lado.

- Não, é impossível, deve ter alguma coisa aí dentro – disse Gabrielle, lutando para se desvencilhar de Gabriel e chegar até a outra cama.

- Gabrielle, suas costeletas ficaram grudadas na minha camiseta! – avisou Gabriel, pegando o chumacinho de pelos com cara de nojo.

- Cale-se e não me atrapalhe – gritou ela pegando as costeletas de volta e começou a tirar coisas de dentro da minha mala e jogar em Suzannah. – Fala sério, fala sério, fala sério, fala sério!

- O que? – perguntei.

- Olha só o que eu achei! – disse ela, girando nas mãos algo que parecia um pedaço de pano com a estampa da bandeira dos Estados Unidos.

- O que é… isso? – perguntou Matheus.

- Sei lá – respondeu Gabrielle, esticando o “shorts” – mas é igualzinho o do Axl!

- É o que, hein?! – perguntei, tirando o pano das mãos dela – Isso com certeza não é coisa minha.

Arremessei o shorts na lixeira de papeis do J.C.

- NÃO! – gritou Maely, pulando para pegar o shorts antes que caísse na lixeira – Isso aqui vai servir direitinho! É isso aqui que você vai usar!

- O QUE?

- Vai ficar LINDÃO! – disse Matheus apaticamente.

- Esse negócio vai ficar extremamente gay – comentou Gabriel, tirando o shorts da mão de Maely.

- E ele com certeza não vai caber aqui dentro! – disse Suzannah. – Mas se alguém amarrar ele, a gente pode tentar.

- É melhor deixar que ele mesmo tente se enfiar ai dentro – falou Gabrielle, pegando o shorts de volta e pendurando no meu ombro.

- Ou é isso, ou vamos fazer compras – comentou Matheus, com certeza achando graça da situação.

- Ah, o Axl não fica tão ruim assim quando usa… isso. E olha só, um montão de fãs acha ele lindão – disse Suzannah, olhando para mim com um misto de pena e esperança.

- Tá, eu vou tentar.

- É isso ai!

- Suzannah, ele disse que ia tentar – falou Gabriel, no momento em que entrei no banheiro.

Beleza, agora como eu faço pra caber aqui dentro? Gostaria de saber como foi que esse treco veio parar dentro da minha mala!

- JÁ FALEI PRA NÃO ME CHAMAR DE BAIXINHA! – estava gritando Suzannah quando entrei no quarto, tentando arrancar as orelhas de Gabriel.

Todos ficaram em silêncio por um momento e eu me senti estranhamente constrangido. Fala sério, no que eu fui me meter?

- É, ficou legal – comentou Suzannah, puxando as orelhas de Gabriel para os lados no fim de cada palavra.

- Ficou tão pequeno que a blusa tampou o shorts e parece que você está de camisola – disse J.C, coçando a cabeça.

- Isso quer dizer que ta igualzinho o Axl – falou Maely. – Só falta…

Ela parou por um momento para me analisar, colocou a mão no bolso e tirou de lá uma bandana vermelha. Subiu em cima da cama e amarrou a bandana na minha testa; por um momento, pensei em perguntar quem tinha apagado as luzes.

- Tá, ta melhorzinho – disse ela, descendo da cama. Puxei a bandana para cima, tentando enxergar alguma coisa.

- Essa blusa não ta legal – falou Gabrielle com os olhos semicerrados.

- Tira. – mandou Maely.

- É O QUE?

- Tira logo a blusa.

- Ah, não – falei, puxando a blusa mais para baixo – Assim ninguém consegue ver o short… o que me deixa mais ridículo ainda, porque parece que eu estou de camisola, mas pelo menos é menos humilhação que esse negócio com a bandeira dos Estados Unidos.

- Mas esse é justamente o problema. Não estamos vendo o shorts – disse Matheus, com voz de riso.

- Coloca essa blusa aqui em vez dessa ai – falou J.C, me jogando uma camisa xadrez. Troquei as camisas, ainda com um pouco de receio.

- É isso ai, ta perfeito. – disse Gabrielle – Agora o J.C…

- NÃO, PODE PARAR COM ISSO! – gritou ele e colocou todo mundo para fora do quarto.

De modo que lá estávamos nós, sentados em baixo de uma árvore no jardim do colégio.

- Certo, como a apresentação vai ser à noite e nós não podemos sair, é a hora perfeita para usarmos minha arma secreta – estava dizendo Gabrielle, enquanto comia uma maçã.

- Que arma secreta? – perguntou Gabriel, com a boca toda suja do salgadinho que estava dividindo com Suzannah.

- A velha, careca, Zacarias, Margareth! – respondeu Gabrielle, como se fosse óbvio.

- Pode explicar o que você quer dizer com usar a velha como arma secreta? – pediu Maely.

- Há cinco anos que o Raul manda recados para a velha careca por nós. Chegou a hora de revelarmos quem é o admirador secreto. É simples, a gente vai até o Raul, fala pra ele preparar as velas aromáticas, explica o que fazer com as velas, volta pra escola, pega a velha, leva ela pro Raul e então ZÁS!

Suzannah levantou a mão, como se quisesse fazer uma pergunta e Gabrielle olhou para ela como faria um general.

- Sim?

- Será que dá pra você explicar o plano agora? De-va-gar?!

Gabrielle levou as mãos a cabeça e respirou fundo durante alguns segundos.

- Presta atenção – disse ela, como se fala a uma criança de quatro anos que dois e dois são quatro. – A gente sai daqui como de costume e vai pro Raul, combina com ele um jantar com a velha, volta pra cá, explica pra velha que é a gente que entrega as cartas do admirador secreto e que ele quer ter um encontro com ela, mas com a condição de que apenas nós podemos levar ela até lá. Como ela é uma velha, seca e decrépita sem esperança nenhuma, é claro que ela vai aceitar (eca), então a gente leva ela com o Raul e vamos pro show.

- Ah, agora eu entendi, obrigada.

- Raul, chegamos! -  gritou Gabrielle, entrando no restaurante/loja de música.

- Ah, vocês vieram! Decidiram trabalhar hoje? – perguntou ele.

- Sem piadas, Raul. – disse Maely – você nos deus uma semana de folga para ensaiar.

- O negócio é o seguinte, a Margareth vem jantar com você hoje. Tchau – disse Suzannah e voltou para a porta.

- O QUE? VOLTEM AQUI! – gritou Raul de volta. – Que negócio é esse?

- A gente escutou a velh… A Margareth falando que gostaria muito de conhecer o seu admirador secreto – disse Gabrielle, mentindo sem ficar vermelha -, então vamos trazer ela aqui hoje. Você sabe, sexta-feira…

Raul pareceu meio desconcertado com a notícia repentina, mas no fim, acabou concordando e saiu desesperado, deixando o restaurante com Alfredo para se arrumar para a grande noite.

- Beleza, agora só falta a velha – disse Gabriel, enquanto seguíamos de volta para o colégio.

- Como vamos fazer para convencê-la? – perguntou J.C.

- Você vai falar com ela – respondeu Gabrielle.

- EU?

- Sim. Ela gosta de você – disse ela.

- De onde você tirou essa idéia?

- Seu nome não é Julio Cézar? – perguntou ela.

- É – respondeu ele, como se a última coisa que quisesse era se lembrar disso.

- Então, e a velha careca não é professora de história? Ela te adora por causa disso! A história de Roma, sabe?!

- Não tem nada a ver – comentou J.C, mais para si mesmo que como resposta.

- Tá, olha lá. É só você chegar lá e falar com a velha – disse Gabrielle, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

- Você tem certeza disso? – perguntou J.C, saindo do “esconderijo” (atrás da máquina de refrigerantes).

Como não houvesse resposta, ele endireitou seus sei-lá-quantos metros e foi até a porta da sala dos professores. Bateu, mas quem abriu foi a hipopótamo (qual o nome dessa mulher?).

- O que você quer? – perguntou ela num tom desconfiado.

- Eu gostaria de falar com a professora de história e…

- MARGARETH! – gritou ela. – Aquele comprido do terceiro ano quer falar com você. Pode entrar, moleque.

J.C olhou para nós e fez um sinal de positivo. Mudamos de esconderijo, para ter uma visão melhor da conversa, mas a hipopótamo fechou a porta.

- Boa sorte – sussurrou Gabrielle.

Dois minutos depois, um vulto saiu correndo da sala dos professores, gritando:

- Com licença, estou com pressa!

Logo depois, saiu o J.C, com cara de quem tinha visto algo muito medonho.

- E então, missão cumprida? – perguntou Gabrielle.

- Acho que sim. – respondeu ele respirando aliviado – Só deu tempo de falar que passaríamos no quarto dela às sete e meia; depois que eu toquei no assunto “admirador secreto”, ela meio que entrou em pânico. Foi bem assustador.

- Certo, vamos nos arrumar. Encontramos-nos na frente do dormitório feminino às sete e vinte e cinco em ponto. – disse Gabrielle – Quem se atrasar, morre.

- Beleza.

Às sete e vinte e três, eu, J.C, Matheus e Gabriel estávamos parados no lugar combinado. Suzannah e Maely chegaram logo depois.

- Suzannah, onde você vai com essa mala enorme? – perguntou Gabriel, ao vê-la chegando com uma mala que era quase do tamanho dela, o que, sinceramente, não queria dizer muita coisa.

- Olha, eu coloquei muitos shorts aqui. Se o Will mudar de idéia, eu empresto um para ele, não vai fazer muita diferença, acho que vai ficar até um pouquinho mais largo – respondeu ela, pegando na mão um shorts cor-de-rosa.

- Me sinto bem melhor agora, obrigado – respondi.

Três minutos depois, eis que chega Gabrielle, com uma mochila camuflada nas costas e a expressão de que era capaz de matar alguém com um palitinho de churrasco. É sério, deu medo.

- Ora, vejam só quem se atrasou! – zombou Matheus.

- Cale-se – respondeu ela, respirando fundo – Vocês não sabem como minha colega de quarto pode ser irritante, então fiquem quietos.

- Ta, vamos embora.

Batemos à porta do quarto da Margareth e ela abriu instantâneamente, o que me fez crer que estivera esperando atrás da porta, pronta, há muito tempo. Tentei conter uma risada quando vi o vestido vermelho que a fazia parecer uma tulipa… murcha.

- Nossa, a senhora está… liiinda – comentou Suzannah, provavelmente tendo os mesmos pensamentos que eu.

- Sete pessoas para me levar até lá?

- É que o seu admirador quer segurança absoluta para sua querida e amada dama – respondeu Suzannah.

- Você, me proteger? – perguntou a velhota – Com esse tamanhinho?

- Ta me chamando de baixinha? Eu vou matá-la! – respondeu Suzannah. Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, J.C a segurou como a um saco de arroz.

- Vamos embora. – disse ele.

Margareth parecia estar à beira de um ataque de nervos; Suzannah não parava de se debater, sendo segurada por J.C. Até agora, tudo parecia estar correndo muito bem.

Mas à medida que fomos nos aproximando do restaurante/lojas de música do Raul, a velha começou realmente a ter um ataque. Não literalmente.

- Ai meu Deus, é o seu Raul! É o seu Raul mesmo? Me diz que é o seu Raul! É o seu Raul, AI MEU DEUS!

- Cala a boca – sussurrou Suzannah, já cansada de se debater.

Entramos no restaurante e, juro, foi de dar nojo. O Raul estava parado ao lado de uma das mesas, de terno azul-marinho e o bigodinho penteado… eca.

- Raul? – disse a velhota – Era você, esse tempo todo?

- Acho melhor a gente ir antes que piore – comentou J.C, ainda segurando Suzannah embaixo do braço.

- É isso ai.

Saímos do restaurante e fomos para a parte de trás da loja, onde os nossos instrumentos estavam nos esperando, junto com a caminhonete do Raul. Fomos ajeitando-os na parte de trás da caminhonete e já estávamos quase prontos para sair quando Raul chegou com uma gaita.

- Hm, pra quê isso? – perguntou Maely

- Vocês vão precisar – respondeu Raul.

- Mas quem vai tocar isso aqui?

- O grandão ali sabe!

J.C pegou a gaita e Raul se virou para voltar.

- Boa sorte – gritei. (Eca, eca, eca!)

Raul virou, sorriu: - Pra vocês também!

Fez tchauzinho e se foi.

- Ta legal, é agora – disse Gabrielle, pulando para um dos bancos da caminhonete.

- Eu dirijo! – gritou Suzannah, sentando-se no banco do motorista.

- Você não sabe dirigir e nem mesmo alcança os pedais – disse Gabriel, sentando-se ao lado de Gabrielle e empurrando Suzannah para fora.

- Eu dirijo – falei, subindo na caminhonete.

- Por que você? – perguntou Matheus, com a sua cara habitual de mal-humor.

- Porque eu tenho carta! – respondi, balançando a carteira de habilitação na frente dele. A expressão de Matheus foi murchando aos poucos e eu quase pude sentir as ondas de raiva me atingindo.

- Lá atrás! – disse Gabriel para Maely, Suzannah e Matheus.

O povo se ajeitou junto com os instrumentos lá atrás e eu dei partida na caminhonete. A última coisa que me lembro de ter ouvido antes do ronco do motor – que parecia ser de 1800-e-lá-vai-bolinha – foi a Suzannah cantando algo como “INÚTIL, A GENTE SOMOS INÚTIL!”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: "It's alright". Prometo postar, junto com o capítulo, uma foto do Axl com o shorts da bandeira, que é como o Will vai ficar quando tirar a camisa - partindo do príncípio de que eles são praticamente "iguais".