Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 4
It’s so easy


Notas iniciais do capítulo

Certo, não é tão fácil assim, mas tudo bem. ¬¬'



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“So come with me, don't ask me where cause I don't know. I'll try to please you, I ain't got no money but it goes to show, it's so easy”

02 de fevereiro de 2003 – Colégio Interno Save Our Souls (ginásio de esportes)

Gabriel P.O.V

- Ela já devia ter chegado, está demorando de mais. – comentou Matheus, sem conseguir desgrudar os olhos da tentativa quase frustrada da Suzannah de subir em um pilar para se jogar, caso a mulher hipopótamo aparecesse.

- Tá, agora eu fico aqui. Se ela aparecer, eu a agarro, enquanto vocês fogem. MAS não se esqueçam de me salvar depois.

- Quais são as chances dela vir nos procurar no ginásio? – perguntou Maely – Quero dizer, quem pensaria em nos procurar em um lugar destinado a pratica de esportes?

Nem Maely terminou de falar, a porta abriu.

- SEGUREI, EU PEGUEI, CORRAM! Ela está mais magra e com cabelão, mas não importa, eu pegue... Perai, magra e cabelão? – acrescentou ela, se afastando do rosto da pessoa para olhar melhor, estando ela pendurada nas costas dela. - Oi. Você não é a mulher hipopótamo...

- Não – disse a pessoa, tentando desamassar a roupa enquanto Suzannah descia de suas costas.

- Perai, você, você… - disse ela, gesticulando sem parar na direção de Matheus e na do carinha que ela acabara de atacar. – Ah, você é o carinha que roubou o trono dele! Maely, Maely, ele é o carinha que eu falei que… Maely?

Mas Maely parecia um pinguim estático, olhando pra cara do garoto amassado por Suzannah.

- Você está mais ou menos torto nessa área – disse o garoto alto, bem alto, alto mesmo, que estava ao lado do carinha amassado.

- Mas você ta apontando pra mim todo…

- Maeeeely?! – continuou Suzannah – Maeleeeey!

- MAELY! – gritou Matheus, chacoalhando Maely pelos ombros e a tirando do transe.

- QUE QUE FOI? – perguntou ela, com a mão no coração.

- Você nunca… Porque você nunca fez isso comigo? Você magoou meu coração…

- Fiz isso o que? É que ele parece…

E no momento em que ia explicar o que estivera fazendo olhando com cara de batatinha pro cara amassado, a porta do ginásio abriu com um estrondo que acabou fazendo a Suzannah pular e, bem, ficar em uma posição estranha que deveria querer sugerir que era boa em artes marciais. Mas era só a Gabrielle que, por sinal, acabara de abrir a porta na cara do carinha do cabelo comprido.

- Caramba, se continuar assim você vai precisar de um rosto novo! – comentou o cara alto, tirando o cabeludo de trás da porta.

- Gente, gente, gente! Recebi um recado do Raul e… Por que estão me olhando com essas caras? O que foi que eu…? – Foi dizendo Gabrielle, mas parou de falar quando se virou e viu o carinha cabeludo, curvado em um ângulo estranho.

- Caramba, J.C, você não disse que era um lugar tranqüilo? – perguntou o cabeludo.

- AI MEU DEUS, EU NÃO ACREDITO QUE EU AMASSEI ELE! – gritou Gabrielle – Hm, quem é ele? – acrescentou ela, sussurrando.

- Ainda não tivemos chance de descobrir – disse Matheus, olhando com a cara amarada de Maely para o cabeludo.

- Ele parece ter algum tipo de ímã para malucas psicopatas… - falei, ou tentei, porque fui interrompido pela Suzannah, que pulou em cima de mim e começou a me espancar sem motivo aparente.

- QUEM É A MALUCA PSICOPATA? EU ESTAVA TENTANDO PROTEGER SEU PESCOÇO TAMBÉM! Se não fosse minha personalidade de heroína encubada, você poderia estar morto agora!

- Mas era só…

- NÃO INTERESSA! – gritou ela, como se encerrasse o assunto.

Com isso, o ginásio pareceu ficar anormalmente quieto.

- Caraca, assim vocês vão assustar eles. – disse Gabrielle, chegando mais perto dos dois estranhos.

- Você acabou de quebrar a cara de um deles – comentei, observando os rostos dos dois carinhas se contorcer em algo que parecia ligeiramente com medo.

- Meu queridíssimo irmãozinho, CALE-SE! – respondeu ela – Aquele ali é o meu irmão, Gabriel, e eu sou a Gabrielle. Eu herdei a inteligência e a beleza, como podem notar, e ele…

- Somos gêmeos!

- JÁ DISSE PRA FICAR QUIETO! – gritou ela de volta. Tive pena dos ouvidos dos garotos. – Aquela pequenininha ali, grudada nas orelhas do Gabriel é a Suze…

- Pequenininha é a sua avó!

- …nunca a chamem de pequenininha, fica a dica. Aquele de cara amarrada é o Matheus, mas vocês já devem saber disso. E aquela ali, que ta olhando pra gente com cara de pingüim é a Maely. E vocês?

- Certo, eu sou o Willian e ele é o J.C e…

- Ae, toca aqui – disse Suzannah, fazendo toquinhos estranhos com eles, que mal conseguiram acompanhar. – Perae, vocês estão matando aula?

- É que…

- Relaxa, galera, eles são mals. – disse ela e voltou a puxar minhas orelhas.

- Enfim, temos dois novos recrutas na nossa gangue, mas voltando ao que interessa… - disse ela, puxando os dois garotos para a arquibancada. – CIRCULO NA MINHA FRENTE EM TRÊS, DOIS…

- Por que temos que fazer círculo? – perguntei.

- Por que sim, fica quieto e senta ae logo. – respondeu ela, entrando no meio do círculo. J.C e o cabeludo pareciam ligeiramente confusos. – Seguinte, aqui ta a carta do Raul, deixe-me ler para vocês com meus super dotes em leitura.

“Tudo certo ai, pessoal? Espero que sim, mas não vem ao caso. O negócio é o seguinte, o meu amigo é dono de um bar daqui da cidade e o palco vai estar disponível pra banda de vocês na semana que vem. Eu sei que vocês não tem um vocalista ainda, mas ainda tem uma semana para conseguirem um. Qualquer coisa, é só colocar a pequenininha pra cantar que dá tudo certo (espero); isto é, a gente pode rezar bastante pra eles prestarem mais atenção no fato dela parecer que tem dez anos que na música. É isso ai, até de tarde.”

- Vou matá-lo, enforcá-lo, afogá-lo, ressuscitá-lo, cloná-lo várias vezes e então torturá-lo até a morte, um por um! – gritou Suzannah.

- Tá, onde a gente vai arranjar um vocalista E um outro tecladista se em três anos não conseguimos ninguém? – perguntou Matheus, olhando seu reflexo na tela do celular.

- Outro tecladista? – perguntei.

- É verdade, seria interessante ter dois, sabe, pra tocar aquele tecladão monstro, já que o Matheus é incompetente e não tem coordenação motora pra isso! – respondeu Suzannah.

- Algum de vocês sabe tocar teclado? – perguntou Maely, encarando o grandalhão e o cabeludo.

- Eu fui obrigado a fazer aulas de teclado, mas isso foi a muito tempo atrás, não faço idéia se ainda consigo fazer algu…

- ÓTIMO, o J.C é o novo tecladista! – gritou Gabrielle – De modo que o Will é o vocalista. Pronto, isso é tão fácil.

- De onde você tirou a idéia de que eu canto alguma coisa? – perguntou o cabeludo.

- Ah, é que você parece o santíssimo, todo poderoso, aquele-que-não-pode-ser-nomeado… Bem, ele pode-ser-nomeado, só não pode ser ofendido. O PROTEGIDO!, da Maely.

- Mas quem? – perguntou o cabeludo, olhando para Suzannah como se ela fosse incapaz de formular uma frase que fizesse sentido.

- O AXL! Poxa vida, o cara é um clone do Axl e nem ao menos sabe quem é o Axl – disse Matheus, emburrado.

- Ah, era por isso que ela tava zumbizando aquela hora! – comentou Gabrielle, me cutucando, como se eu não tivesse percebido.

- A gente podia levar eles pro Raul – falei, pensando que o Raul iria gostar da nossa eficiência (ou do fato de que não iríamos precisar colocar a Suze pra cantar).

- Se liga, ainda estamos na primeira aula! – disse Matheus. Algo me dizia que ele não estava muito feliz hoje.

Mais um barulho na porta e desta vez era mesmo a hipopótamo. (Alguém sabe o nome dessa mulher?) Suzannah se desdobrou em outra posição estranha, mas acabou perdendo o equilíbrio e caindo em cima do cabeludo outra vez.

- VOCÊS! EU FINALMENTE… Ah, meu Deus! Tem mais dois, e você é o aluno novo! Eu não posso mais com isso, eles se multiplicam como coelhos! Até você, J.C?!

- É isso ai, e já se passaram vinte minutos! – disse Suzannah, se livrando do cabeludo (e o deixando estatelado no chão) – Agora já são quiiiiiinze a quatro, você está perdendo suas habilidades hipopotísticas!

- Como? Não importa – respondeu a hipopótamo – Vocês não terão tanta sorte na próxima vez! Deus, me ajude com esses um, dois, três… enfim.

- O que foi isso? – perguntou J.C quando a mulher hipopótamo saiu do ginásio, ainda nos contando nos dedos.

- É simples. Quando vamos para a detenção, nós fugimos. Foi isso que aconteceu hoje. – respondi.

- Mas como isso é muito comum, acabamos fazendo um jogo com a hipopótamo – explicou Gabrielle. – Se ela não nos acha em quinze minutos, não pode nos manter na detenção, mas se ela nos encontrar, é o dobro da pena e não fugimos durante todo o dia.

- Adorei isso! – disse J.C.

- Quanto tempo a gente tinha que ficar na detenção hoje mesmo? E por que? – perguntei.

- Hoje era o dia todo. Ainda por causa do saco de bolinhas que a Suze e a Maely jogaram do alto da escada semana passada.

- Bolinhas! – gritou Suzannah com os olhinhos brilhando.

- E pensar que um monte delas caiu na minha cabeça. Eu só estava segurando a escada para ela tirar o boné do Gabriel (QUE ELA MESMA TINHA JOGADO) no lustre do refeitório. – disse Maely, com a cabeça entre as mãos.

- E o meu boné acabou ficando lá, né?!

- Certo, já que não íamos assistir aula hoje mesmo, não tem por que ficarmos aqui. – disse Gabrielle.

- Tem lógica isso – comentou J.C.

- Como a gente faz pra sair daqui? – perguntou o cabeludo, já gostando da idéia.

- Sigam-se os bons! – disse Gabrielle e começou a sair do ginásio como se estivesse em um dos filmes do 007.

- Pirada.

- QUE HISTÓRIA É ESSA DE “COLOCA A PEQUENININHA PRA CANTAR”, TIO RAUL? – começou a gritar Suzannah, assim que colocamos os pés no restaurante/loja de música do Raul. – E QUE HISTÓRIA É ESSA DE DIZER QUE EU TENHO DEZ ANOS? EU TENHO DEZESSETE! DEZESSETE!

- Dezessete? – perguntou Raul, saindo de trás do balcão e olhando para Suzannah de cima a baixo. Acredito que o fato dela estar ao lado do J.C não ajudou muito. – Errei por pouco.

- Raul, Raul, Raul, olha só: vocalista e tecladista! – disse Gabrielle, arrastando J.C e o cabeludo pra frente, para que o Raul pudesse observá-los.

- ALFREDO! – berrou Raul, ainda observando os dois – ALFREDO!, caramba eu que sou velho e você que é lerdo. TOMA CONTA DO RESTAURANTE QUE EU VOU LÁ PRO FUNDO!

Seguimos para a parte de trás da loja e entramos em uma das salas, a qual tínhamos usado para guardar os instrumentos que compráramos com nosso rico dinheirinho, que trabalhamos para conseguir.

- Fiquem aqui, vou buscar outro teclado. É sempre bom ter dois tecladistas, ainda mais quando um deles é o Matheus. – disse Raul.

- Ei, eu estou ouvindo isso! – respondeu ele, tirando os olhos da guitarra de Maely, que parecia ser mais reflexiva que seu teclado.

- Tire os olhos da minha guitarra! – gritou Maely, abraçando-a.

- Aqui está o teclado. Ligue os fios ae, Gabrielle, mas por favor, não faça nada de errado porque esse aqui ainda é um dos MEUS! – disse Raul, indo se sentar em uma cadeirinha estrategicamente posicionada na frente dos instrumentos. – Estão esperando o que? VÃO LOGO!

Cada um pulou para o seu lugar, mas J.C e o cabeludo pareciam ligeiramente espantados.

- Tá, o que vocês sabem tocar, cantar, sei lá?! – perguntou Gabrielle, sentando-se na bateria e girando a baqueta nos dedos.

- Do-ré-mi-fá! – respondeu J.C, apertando algumas teclas ao acaso.

- Mas o que? – disse Raul. – Tá, vamos ver o que esse outro aqui sabe fazer. E então?

- Nada – respondeu o cabeludo, tentando sair. Mas Suzannah já havia agarrado-o pelo colarinho e o colocado atrás de um microfone.

- Sabe, tem ACDC, Ozzy… Guns – acrescentou Gabrielle, olhando-o de cima a baixo.

- Maely, faça o começo daquela lá que você fica com uma aparência macabra quando toca – disse Raul, se agitando na cadeirinha.

- Puff, todas, então – ri.

- Ele ta falando de Welcome to the Jungle – disse Gabrielle, cortando o olhar mortal que Maely lançara até mim.

- Ah, fala sério, você não conhece mesmo essa música? – perguntou Matheus, logo depois lançando um olhar de “viu, ele nem conhece seus ídolos” pra Maely.

- Sabe, Shananananananana, knees, knees! – cantarolou Maely.

Um sorriso perpassou o rosto do cabeludo por um momento.

- Ae, finalmente! – gritou Gabrielle, arrebentando a bateria com as baquetas.

- Tá, vai logo! – gritou Raul, para fazer Gabrielle parar com o acesso de felicidade.

Maely finalmente começou a música e eu a acompanhei. Estava tudo perfeitamente bem até o cabeludo abrir a boca. A Maely foi a primeira a parar de tocar e logo depois nós fomos parando um a um; Raul quase caiu da cadeira.

- Tá tão… ruim assim? – perguntou o cabeludo, com cara de encabulado.

Raul abriu e fechou a boca bem umas duzentas vezes, mas não conseguiu dizer nada, apenas começou a gesticular com as mãos e olhar para cada um de nós, como que para ter certeza de que todos tinham ouvido o mesmo que ele.

- Desde sempre, eu nunca… eu nunca… nunquinha mesmo, nunca tinha ouvido uma voz que se assemelhasse tanto assim com a daquele infeliz! São Crispim da Serra, a sua é quase…

- Igual?! – acrescentou Gabrielle, saindo de trás da bateria.

- Caramba, como é que você consegue? – perguntou Suzannah, subindo na cadeira de Raul e abrindo a boca do cabeludo pra ver se conseguia descobrir o segredo.

- Grande coisa! – desdenhou Matheus, olhando para Maely, que tinha os olhos grudados no cabeludo.

Deu-se que o J.C também tinha algum talento pro teclado, com dois ou três dias de ensaio, estaria tocando melhor que o Matheus. No fim da música, ele e o cabeludo ainda estavam com cara de “caramba, não sabia que podia fazer isso, sou foda”.

- To tão orgulhoso de vocês – disse Raul, limpando as falsas lágrimas – Lanchinho pra todo mundo por conta da casa.

Voltamos todos para o restaurante e, caramba, ele falou sério quando disse “lanchinho”.

- Suzannah, quem te deu essa Coca? – perguntou Gabrielle.

- Fipo, eu feguei lá com o Falfedo – disse Suzannah com a boca cheia.

- Isso vai ser tirado do seu salário – avisou Raul.


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Notas finais do capítulo

Viu, a gente disse que não era fácil ;)