Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 2
Welcome to the Jungle (parte um)


Notas iniciais do capítulo

É aqui que as coisas começam a ficar mais claras, os personagens começam a ser desvendados...Uma dica: fiquem de olho nas datas, no começo de cada capítulo; é essencial, se não quizerem se perder.



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“You know where you are? You’re in the jungle, baby, you gonna die”

05 de maio de 1998 – Colégio Interno Save Our Souls

Mely P.O.V

Foi colocar os pés no colégio novo e vi que seria difícil me adaptar; em primeiro lugar, porque tudo parecia ser arrumadinho demais e depois, é claro, o fato de que eu parecia ser a única em um raio de 10Km que não usava a blusa por dentro da saia e meias ¾ com mocassins.

Logo na entrada, reparei em dezenas de placas com dizeres que variavam entre “Não pise na grama” e “Não jogue lixo nos jardins”. Tentei visualizar mais alguma coisa do campus, mas algo estranhamente destorcido atrapalhou minha visão; demorei alguns segundos para perceber que era uma velha – e jurava ser a reencarnação do Zacarias -, o rosto contorcido em algo que julguei ser um sorriso.

- Olá, você deve ser a senhorita... – ela parou um segundo para consultar uma lista presa em uma prancheta marrom – Russo!?

- Sim.

- Eu sou a professora Margareth e leciono História aqui no S.O.S. Acompanhe-me, mostrarei o colégio à Srta.

Enquanto a mulher – mais feia que briga de foice – ia desfiando história sobre a fundação do colégio e mais um montão de coisas que não me dei o trabalho de prestar atenção, passei a prestar atenção nos demais alunos espalhados pelo gramado. Pude facilmente identificar os grupos: a maioria, com o uniforme todo certinho no lugar, com certeza eram os C.D.F’s; um grupinho esquivo na lateral do prédio com óclinhos do tipo John Lennon, drogados; um aglomerado de loiras que certamente nem mesmo sabiam o significado da palavra “aglomerado”, as patricinhas.

Foi então que meu raciocínio foi bruscamente atrapalhado por gritos de socorro.

- Waaah!, salvem-me, eu imploro! O hipopótamo me pegou! SOCORRO! – eram os gritos de uma garota que parecia estar se divertindo mais do que precisando mesmo de socorro, sendo arrastada por uma mulher – que, devo acrescentar, parecia mesmo um hipopótamo – em cujo rosto brilhava algo que não pude identificar: sujeira ou bigode?!

- Não julgue nosso colégio pela forma com que Suzannah se comporta, por favor – pediu a velha que me acompanhava, dando uma pausa em seu tour monótono. – Vai notar que é bem comum a Suzannah ser arrastada para a detenção. Bem, as aulas começam em meia hora, esteja pronta. Aqui está seu horário e a chave do seu armário. Nos encontramos de novo na hora do almoço, vai ser preciso fazer uma reformulação nos dormitórios e vai ser lá que vai conhecer seu novo parceiro de quarto.

Não que estivesse muito animada para ir para a aula, principalmente levando em conta que a primeira aula do meu horário era matemática, mas realmente só tinha meia hora e não estava certa de que acharia o meu armário com tanta facilidade. Aquela velha falou tantas coisas que se esqueceu de me dizer onde estavam os armários… ou eu não prestei atenção. Enfim.

Cacetada. Era isso que eu estava pensando, perdida naquele imenso colégio onde os corredores pareciam todos iguais, dez minutos atrasada para a minha primeira aula. Pelo menos havia feito um pequeno progresso ao encontrar os armários, o que não foi tão legal assim, já que só serviu para me atrasar ainda mais.

Já estava ficando desesperada. Não era possível que toda a organização que parecia haver naquele colégio não me disponibilizava um único monitor para salvar a vida de uma novata. Eis que me surge, então, uma alma viva. Mas não parecia ser, nem de longe, um monitor. Andava tão calmo, que cheguei a pensar que não estava em horário de aula, o que era simplesmente impossível, já que as aulas eram iguais para todos os alunos – pelo menos fora isso que a velha de história dissera.

- Está perdida? – perguntou o rapaz, com um sorriso ofuscante. Parecia ter saído de uma revista de moda ou um filme hollywoodiano.

- Hm, sim; sou nova aqui e estou atrasada para minha aula de matemática.

- Você é da sexta série? – perguntou com uma sobrancelha arqueada.

- Sim. E você?

- Legal, também sou. Meu nome é Matheus, vou te mostrar o caminho. E não se preocupe, o Sr. Newton é meio cego e deixa a porta sempre aberta, nunca enxerga quem entra ou sai.

Ótimo. E eu que pensava que as aulas de matemática seriam um martírio.

- Meu nome é Maely, obrigada pela ajuda.

Matheus parecia ser legal, mas o modo como andava e procurava seu reflexo em tudo que parecesse meramente espelhado me fez pensar que talvez o aglomerado de loiras que vira na entrada fosse um pouco menos fútil que ele.

Viramos um ou dois corredores quando Matheus parou e me fez colidir com ele. Ele levou o dedo indicador aos lábios num pedido mudo de silêncio e me indicou a sala, entrando logo em seguida. Legal, perdera preciosos dez minutos tentando encontrar um lugar que estava a dois corredores de distância; aquele seria um difícil começo.

Deu-se que da aula de matemática realmente não se aproveitava nada, o sinal das aulas foi e voltou e nesse meio tempo somente algumas poucas pessoas deram sinal de vida.

No momento em que o professor saiu da sala, algo passou por ele em velocidade não-calculável.

- VOLTEI! – gritou. Era a tal de Suzannah – E então, o que eu perdi? Não me digam que o ceguinho encostou o rosto na lousa outra vez e ficou com a cara toda azul?! Droga, eu sempre gosto de ver isso.

Detalhe: ela estava falando sozinha.

Neste momento, entra em cena outra figurinha notável: a dona de História.

- Ah, já voltou. Que lástima. – disse ela, referindo-se à Suzannah, de um modo que sugeria superioridade em todos os sentidos – Eu me pergunto como uma coisinha tão pequenininha como você consegue arranjar tanto problema.

Suzannah parecia à beira de um ataque de nervos, o rosto estava da cor de seus cabelos: vermelho flamejante. Aparentava poder estraçalhar alguém só com os olhos.

- Odeio que me chamem de baixinha! – murmurou ela, os olhos presos na dona de História que, apropósito, eu não me lembrava do nome.

- Vá sentar-se, Suzaninha. – provocou a mulher. Ela obedeceu, mas seguiu a professora com os olhos pelo resto da aula, sentada no cantinho da sala. Nem sequer abriu o caderno, pude reparar.

- Hoje vamos falar sobre a reforma da igreja católica. Alguém sabe me dizer quem desencadeou o movimento protestantista? Suzaninha?

Suzannah continuava a encarar a professora, só interrompendo o olhar para fazer uma careta e mostrar a língua.

- Imaginei que você não teria nada a dizer. Maely?

- Hm, quem desencadeou o protestantismo foi Lutero, afixando noventa e cinco...

- Muito bem! É isso mesmo! Está vendo, Suzaninha?! É assim que deve ser uma aluna de verdade.

Senti uma energia negativa vindo em minha direção, diretamente do canto da sala. Ao me virar, assustei-me ao ver o olhar de Suzannah sobre mim, dizendo claramente que não estava gostando da minha presença.

- Suzaninha – disse a professora, chamando a atenção dela -, vou dar mais uma chance para você. Diga-me pelo menos uma das 95 teses de Lutero.

Vi Suzannah ficar escarlate mais uma vez e abrir a boca – provavelmente para uma resposta mal-educada – quando um velhinho de aparência simpática abriu a porta e sorriu.

- Olá, diretor. O que o senhor deseja? – perguntou a professora num tom de voz que dizia claramente que o diretor interrompera seu divertimento. Todos os alunos se levantaram e saldaram o diretor, menos Suzannah, que fechou a cara um pouco mais e cruzou os braços.

- Vim avisar que todas as aulas do dia foram canceladas e os alunos devem se dirigir ao refeitório para a distribuição dos quartos. Decidi fazer isso mais cedo para dar tempo de todos fazerem suas mudanças.

- Sim, mas antes de saírem… - começou a professora.

Assim que o diretor deixou a sala, no entanto, esta explodiu em vivas e correria para fora, sem se importar com o que a professora tivesse para falar.

Segui o fluxo de pessoas, já que não fazia idéia de onde poderia ser o refeitório e logo depois me vi num salão amplo e cheio de mesas.

- Sentem-se, por favor – disse uma mulher em um microfone sobre um pequeno tablado em frente ao que imaginei ser a cantina. – Alunos novos, sejam bem vindos. Antigos conhecidos, sosseguem! Isso foi com você, senhor Simpson.

A mulher era alta, morena, e parecia ser o tipo de personalidade que conseguia ter controle sobre os alunos.

- Quando eu chamar seus nomes, peguem uma chave com a professora Ana. - Continuou ela apontando a mulher que estava ao seu lado segurando um grande molho de chaves – Cada chave tem um número que corresponde a um quarto, e assim que pegarem a chave dirijam-se ao seu respectivo dormitório.

A mulher começou a chamar vários nomes, mas a única coisa com que eu me importava era, com quem eu iria dividir o quarto, já que... Eu não conhecia ninguém.
- Suzannah Simon e Maely Russo. - OMG’ vou dividir o quarto com uma menina que aparentemente me odeia, LEGAL!

Caminhei até a professora Ana – que acabei descobrindo depois que era professora de sociologia – e peguei uma das chaves que ela estendia a mim e Suzannah. Tentei dar um sorriso em direção a ela, mas ela já havia virado as costas e saído andando.

De modo que lá estava eu, a caminho dos dormitórios e, caramba!, como essa escola é grande. Haviam dois prédios, um verde, que aparentava ser o feminino, e o outro azul, que era o masculino.

Ao entrar no dormitório, percebi mais um monte de placas, estas dizendo que era proibido ouvir musica, entrada de garotos, animais de estimação, COMIDA!

Cara, que tipo de lugar proíbe comida?!

Assim que encontrei meu quarto, constatei que era pequeno, e já estava extremamente bagunçado, o que me fez crer, que Suzannah já havia passado por ali. Estava arrumando as coisas quando ouvi gritos, sai no corredor para ver do que se tratava, quando fui atropelada por um vulto que entrou no quarto e se enfiou em baixo da cama.

- Olha, isso aqui parece o meu fone de ouvido, e esse o meu livro de historia... espera... SÃO OS MEUS! - Dei uma olhada dentro do quarto para ver quem era o ser que estava falando sozinho em baixo da cama e percebi que era Suzannah – Se essas coisas são minhas, significa que eu estou no meu quarto, AAH EU ME ESCONDI NO MEU QUARTO, ELES VÃO ME ACHAR AAAAAH!

A mulher hipopótamo se aproximou da porta do quarto, esbaforida, a procura de algo.

- Você!, onde está a Simon?!- bufou a mulher hipopótamo.

- Por quê?  O que aconteceu?

- Dessa vez aquelazinha conseguiu um passe pra detenção pro resto do mês, e isso vale para os seus comparsas - Nesse momento pude constatar que a sujeira era bigode!

- Eu vi ela correndo e gritando que iria se esconder no dormitório masculino – Grande Maely, por que uma pessoa iria gritar onde iria se esconder?!

- Obrigada - disse ela fazendo reverencia, e se afastou correndo.

-Rá, finalmente me vinguei daquela velha careca! – Ouvi Suzannah dizendo enquanto saia da cama com uma peruca na mão.

Ela se aproximou de mim sorrindo e me deu umas palmadas nas costas –que mais pareciam querer arrancar meus pulmões do que me agradecer-,dizendo:

- Manola, obrigada! Pensei que você era só uma nerd idiota puxa saco de professor, mas agora vejo que vamos nos dar bem!

- Não foi nada. Mas e ai... O que é... Isso?! – disse me referindo ao que parecia ser uma peruca.

- Rá, é o cabelo da velha,careca,Zacarias, dona de Historia!

- Aah, então...

- É isso ai! E agora vamos nos livrar disso!

– Vamos?

- É, vamos lá – disse ela me arrastando. Decidi não contrariar.

Enquanto saiamos do prédio, Suzannah falava sobre fazer algo como um ritual de magia negra, quando foi interrompida.

- Aha! Suspeitei desde o principio que vocês duas estavam mancomunadas! Agora me acompanhem, detenção por um mês! – Disse a mulher hipopótamo com uma satisfação mal reprimida.

Suzannah começou a correr em círculos e, para ser levada a detenção, foi preciso que a mulher hipopótamo – afinal, qual era mesmo o nome dela? – corresse atrás dela e a arrastasse, como havia feito mais cedo naquele mesmo dia.

Percorremos a escola toda para chegar à sala da detenção, já que ficava do outro lado de onde estávamos. Suzannah ainda estava sendo arrastada pela mulher hipopótamo e eu apenas as seguia, um pouco assustada.

A mulher abriu a porta, jogou Suzannah em uma das carteiras, abriu o jornal que estava em cima de uma mesa e sentou-se preguiçosamente.

- As regras são as seguintes: - foi dizendo a mulher hipopótamo – não permito cochichos, cochilos, barulhos irritantes e nem ao menos que olhem para os lados. Apenas sentem-se, calem a boca e me deixem fazer as palavras cruzadas em paz!

Suzannah varreu a sala com um olhar, demorando-se um segundo em uma garota que estava sentada no canto da sala e sorriu, levando as mãos ao bolso das jeans e começou a escrever em um papel que tirara de lá.

Sentada ao seu lado, pude ler o que estava escrito:

“Mano, qual é o plano de fuga e onde está o Gabriel?”

Então amassou o papel e jogou para o fundo da sala, enquanto a hipopótamo estava distraída com as palavras cruzadas.

Um segundo depois, o papel estava de volta na mesa de Suzannah, com uma resposta:

“O plano de fuga ‘tá lá fora. Daqui a pouco vc descobre. P.s: quem é a guria nova? “

“Relaxa, ela é do mal” – escreveu Suzannah e mandou o papel de volta.

A mulher hipopótamo levantou os olhos do jornal por um momento, mas logo voltou sua atenção de volta às palavras cruzadas. Bem neste momento, um barulho estrondoso se fez ouvir do lado de fora da sala e ela levantou-se correndo, abriu a porta e, recomendando que não fizéssemos nada que não quiséssemos nos arrepender mais tarde, saiu e trancou a porta.

- Beleza, - disse a menina com a qual Suzannah estivera trocando bilhetinhos – é o sinal do Gabriel. Vamo nessa.

E, dizendo isto, retirou um objeto estranhamente parecido com uma cruza de canivete e alicate do bolso e usou para destrancar a porta. Assim que a porta foi aberta, saímos correndo em direção contrária à do estardalhaço que havia lá fora, onde a mulher hipopótamo se encontrava.

Paramos em uma sala, que a menina abriu do mesmo modo como tinha aberto a porta da detenção e sentamo-nos na mesa do professor. A menina estendeu a mão em minha direção, dizendo:

- E ai, gente boa, meu nome é Gabrielle e o seu?

- Eu…

- Essa aqui é a Maely, manola! – interrompeu-me Suzannah, com um braço em meus ombros.

Neste momento, a porta se abriu mais uma vez e por ela entraram dois meninos: um loiro e muito parecido com Gabrielle e o Matheus, o garoto fútil que havia me mostrado onde ficava a sala de matemática.

- E ai, pessoal, o que foi que nós perde… EPA, quem é a carne nova? – perguntou o garoto loiro.

- Maely, esse aqui é o meu irmão, Gabriel. Gabriel, essa é a Maely. – respondeu Gabrielle - E esse outro aqui…

- Já nos conhecemos – respondeu Matheus.

Do mesmo jeito que havia aberto, Gabrielle trancou a porta da sala, voltou a sentar-se à mesa e olhou seriamente a todos.

- Vejam bem, o plano de hoje é o seguinte: - foi dizendo ela – agora que tiramos a hipopótamo do caminho, temos até às seis horas, que é quando os portões são fechados, para ficar à toa.

Um barulho alto na porta interrompeu o breve discurso de Gabrielle; parecia que alguém estava tentando arrombar a porta.

- EU SABIA QUE VOCÊS ESTAVAM AQUI! – gritou a mulher hipopótamo ao conseguir abrir a porta.

- Como descobriu? – perguntou Gabriel.

- Ah, eu vi vocês correndo pra cá – respondeu ela.

- Você perdeu, minha velha! – gritou Suzannah.

- É isso ai – continuou Gabrielle – As regras são claras, se a gente consegue fugir, estamos livres, esse foi o nosso acordo!

- Acordo? – perguntei.

- Sim. Como somos “Vips” na detenção, resolvemos fazer um joguinho. – disse Matheus.

– E AGORA ESTÁ DOIS A ZERO! – gritou Gabriel.

- Vamos mudar as regras – disse a mulher hipopótamo, aparentemente gostando da diversão. – Se eu conseguir achar vocês em quinze minutos após a fuga, vocês voltam para a detenção, com o dobro de tempo a ser pago pelo castigo.

- Desafio aceito – respondeu Gabrielle. As duas apertaram-se as mãos e a mulher hipopótamo saiu, não sem antes dizer um “até a próxima vez” com um sorriso irônico.

Legal. Algo me dizia que haveriam muitas próximas vezes.

- Beleza, vamos andar por ai.

Dez minutos depois, já estávamos do lado de fora do colégio – graças aos dotes de Gabrielle -, a andar pelas ruas de Brasília. Em uma esquina, encontramos um pequeno aglomerado de garotos com roupas surradas, camisas de banda, piercings e uma música extremamente alta. Apesar da aparência estranha, a música era realmente boa, uma sensação de poder me atravessou. Era como se aquele som despertasse em mim um turbilhão de sensações que eu não conseguia explicar, mas parecia compartilhar com Gabrielle, Suzannah, Matheus e Gabriel inconscientemente. Era o Rock.

Ficamos um momento parados, próximo ao som.

- To com fome – disse Suzannah, interrompendo minha linha de pensamento.

- Me sobrou quinze – comentou Gabriel, retirando um punhadinho de notas do bolso.

- Há! Eu tenho vinte! – exclamou Gabrielle.

- O meu acabou…

- Suzannah, o que é que você fez com o dinheiro? – perguntou Matheus, pegando uma nota de dez.

- Primeiro, eu vi um óculos super lindo! Aí, eu comprei cinco saquinhos de confete, perdi vinte reais na rua, uma caixinha de jujubas e… Bem, foi mais ou menos isso. – respondeu ela.

- De que dinheiro vocês estão falando? – perguntei, ainda com os olhos no grupinho de pessoas próximo ao som.

- Ah, é o dinheiro do governo – disse Matheus.

- São cinqüenta reais – continuou Gabriel.

- Se você não recebeu, logo vai receber. É meio que um fundo, muito pobre, aliás, que a gente ganha todos os meses do governo pra comprar roupas e coisas do tipo, só pra não dizer que somos detentos dentro do colégio. – explicou Gabrielle.

- Gabriel, será que alguém pode me emprestar dinheiro? – pediu Suzannah.

- Ta, eu pago pra você, desde que não saia tão caro quanto da última vez. – respondeu Gabriel.

- Vamos lá que eu gosto da comida daquele tiozinho – disse Gabrielle, arrastando-nos para um barzinho/lanchonete.

Logo que entramos, Suzannah foi pedindo um lanche, que aparentava ser o mais caro do cardápio, ao que Gabriel quase teve um infarto:

- Suzannah! – berrou ele – Eu só tenho quinze reais!

- Relaxa, deu quinze certinho! – respondeu ela.

- E eu? Vou comer o que?

- Ah, eu dou um tequinho do meu pra você… MAS SÓ UMA MORDIDINHA!

- Beleza, deixa eu ver se entendi. Você pediu o lanche mais caro daqui, ÀS MINHAS CUSTAS, que vem com uma miniatura do Dexter, docinhos sortidos e um lanchinho minúsculo?

- É isso ai. – respondeu Suzannah – Eu estava pensando em você quando li “Brinde, um mini lanche”.

- Ai, meu rico dinheirinho! – disse Gabriel olhando tristemente para a ilustração do seu lanche no cardápio e entregando o dinheiro, com relutância, ao caixa.

- Maely, pode pedir ae que eu pago – falou Gabrielle, abraçando-me pelo pescoço.

Acabei pedindo um lanche comum.

Enquanto Suzannah e Gabriel ainda brigavam sobre o pedido, um homem entrou na lanchonete com o que parecia ser um violão nas costas e encostou-se no balcão.

- Cheguei mais cedo para minha aula hoje – disse ele ao atendente, um senhor baixinho e gorducho que parecia ser muito “gente fina”.

- Olá, Silvio – respondeu o senhor – Vá entrando e afinando seu violão, assim que o outro atendente chegar, começamos com a nossa aula.

- Que legal, sempre quis tocar algum instrumento musical – disse Gabrielle, enquanto nos dirigíamos para uma mesa com nossas bandejas.

- Alguém sabe o que era aquela música que estava tocando no radio daquele povinho na entrada? – perguntou Matheus.

- Era o Sex Pistols, não era? – comentou Gabrielle com Gabriel.

- Era. – respondeu ele – Nosso ex-vizinho era fã deles.

- Eu senti uma coisa estranha quando ouvi aquele som… Eu senti PODER! – gritou Suzannah, amassando seu lanche.

- Ainda bem que o meu é este aqui – disse Gabriel, tirando seu minúsculo lanche da área de risco.

- Oh Gabrieeeeel… - chamou Suzannah meio que cantarolando, piscando os olhos várias vezes.

- Ah, nem vem! Coma sua miniatura do Dexter agora!

- Ah, vai, não seja pãoduro! Só um tequinho, vai!

- Só um tequinho e o lanche já era! – reclamou ele, mudando de lugar.

- Tirando a parte em que a Suze surtou e gritou PODER!, eu concordo com ela – falei, observando-a virar o rosto na direção contrária de Gabriel e fazer bico. – Seria mesmo legal se a gente pudesse aprender a tocar.

- O tiozinho ali ensina – disse Gabrielle, apontando para o senhor que estava do outro lado do balcão.

Suzannah, então, jogou a miniatura do Dexter na cabeça do Gabriel – que, em conseqüência, derrubou o “grande” lanche que estava prestes a morder -, levantou-se e foi até o atendente.

- Por que eu não dei o lanche pra ela logo de uma vez? Ia ser menos doloroso – resmungou Gabriel, sendo arrastado pela irmã atrás de Suzannah.

- Ô Tio, você dá aula de música? – perguntou ela, ficando na ponta dos pés para alcançar o senhor.

- Meu nome é Raul, eu não gosto que me chamem de “tio” e, sim, dou aula de música.

- Mas, então, tio, tem como a gente fazer aula com você? – perguntou Gabrielle.

Raul respirou fundo durante alguns segundos para depois responder: - Depende. O que vocês gostariam de tocar?

- Música – respondeu Suzannah.

- Ta, mas que instrumento? – perguntou Raul, massageando as têmporas.

- Eu quero bateria! – gritou Gabrielle.

- Guitarra! – disse Gabriel, massageando a cabeça, no local onde o Dexter havia o acertado.

- Ainda não tenho certeza do que eu quero tocar – falei.

- Beleza, tem vários tipos de instrumentos. Venham comigo, vou mostrar a vocês. – disse Raul, levando-nos pela porta a qual o homem que estava com um violão entrara havia pouco.

O lugar era como uma galeria, cheia de portas e, no centro, uma sala rodeada de instrumentos dos mais loucos aos mais comuns, de todas as cores possíveis e imagináveis. Conforme íamos passando por eles, Raul ia dizendo seus nomes e alguém de nome notório que tocava aquele tipo de instrumento.

- E esse aqui é o contra baixo…

- Ah, eu quero esse! Ele tem um braço tãããão grandão! – disse Suzannah.

- Querida, olha o tamanho disso – falou Raul, pegando o instrumento e colocando de pé ao lado de Suzannah – Ele é do seu tamanho, você não vai conseguir tocar isso nunca!

- Como é que é? Você está me chamando de baixinha? – gritou ela, ficando da cor dos cabelos mais uma vez – Pois agora é que eu quero tocar isso mesmo! Vou provar que eu consigo tocar isso aqui!

Me afastei um momento, parando de prestar atenção no falatório de Suzannah e me aproximei das guitarras. Parei em frente a uma delas e li a inscrição “Gibson”.

- Ah, essa é a Gibson Les Paul – disse Raul, aproximando-se de mim – Uma das minhas preferidas…

Era como se alguma coisa em mim chamasse por aquele instrumento.

- É isso que eu quero tocar – falei, passando a mão na guitarra preta.

- Ei, eu quero esse – gritou Matheus do outro lado da sala.

- Você gosta de teclado? – perguntou Raul.

- Bem, não é que eu goste, é que as teclas… São ótimas superfícies refletoras – respondeu ele, ajeitando o cabelo.

- Ta, então vamos discutir a forma de pagamento – disse Raul, virando as costas para Matheus e seu reflexo.

- Como é que é? Pagamento? – perguntou Suzannah.

- É, vocês pagam, eu dou aula; é assim que funciona – respondeu ele.

- A gente não tem dinheiro…

Num minuto estávamos olhando os instrumentos e no outro, estávamos sendo arrastados para fora, de volta à lanchonete.

- Sem dinheiro, sem aula. Como vocês acham que eu vou dar aula pra vocês sem receber?

- Ah, você é um tio bonzinho! – disse Suzannah.

- Não me chame de tio! E CAIAM FORA DAQUI!

Nesse momento, Suzannah olha para a porta da lanchonete e grita:

- CORRE!

Suzannah pula para trás do balcão e, sem entender, o resto de nós a seguimos.

- Saiam já…

- Olá, senhor Raul. – disse uma voz familiar, interrompendo a bronca.

- Quem é? – sussurrei. – Por que pulamos aqui?

- É a veia careca! – murmurou Suzannah.

- O mesmo de sempre, por favor – continuou a professora de história que eu sempre me esquecia do nome.

- Dona Margareth, sempre preocupada com o corpo, hein, só toma suco natural. – respondeu Raul. Quase vomitei; aquele tom de voz era acusador: ele estava cantando a veia careca.

Dei uma olhada por cima do balcão somente pelo tempo suficiente para ver o rosto da professora se distorcer no que parecia ser um sorrisinho. VISÃO DO INFERNO!

- Obrigada pelo suco. Quanto devo mesmo? – perguntou ela.

- Não, não é nada – respondeu Raul, meio abobado.

Ouvi os passos dela se afastarem e saímos de trás do balcão. Raul estava olhando para um ponto fixo na porta pela qual a professora havia acabado de passar, com o rosto apoiado nas mãos.

- Será possível? – disse Suzannah, parando na frente de Raul – Você gosta da velha?

- NÃO OUSE CHAMÁ-LA DE VE… espera, o que vocês ainda estão fazendo aqui?

- Realmente, ele gosta da professora Margareth – disse Gabrielle e Gabriel fez uma careta.

- Vocês a conhecem? – perguntou Raul.

- É, ela é nossa professora de história. – respondi.

- É o seguinte – disse Matheus – você ensina a gente a tocar e a gente ajuda o senhor a conquistar o coração da vel… Margareth.

- E emprega a gente! – acrescentou Gabriel.

- Trabalho? – perguntou Suzannah, desapontada.

- Como eu vou empregá-los? – perguntou Raul, embora já estivesse considerando a idéia – vocês tem só dez anos…

- DOZE! – defendeu-se Suzannah.

- E você parece que tem oito! – rebateu Raul.

- Ei, é pegar ou largar! – disse Gabrielle.

- Pra que vocês querem emprego?

- Como você acha que vamos comprar nossos instrumentos? – perguntou Matheus.

- Tudo bem, mas vocês vão ter que ter cuidado. Quando aparecer algum fiscal, terão de fingir que são clientes. Vocês começam amanhã.

- Fechado.


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Notas finais do capítulo

Comentem a respeito. São os elogios e críticas que constroem verdadeiramente uma fanfic.Esperamos que tenham gostado e continuem a acompanhar. A história está só no começo e muitas coisas ainda vão acontecer!Fiquem atentos, às vezes até nós mesmas nos confundimos :D



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