Prólogo

23 de novembro de 1990.

O garoto estivera remoendo aquele pensamento durante algum tempo, cercado de pessoas cujos rostos retorcidos de lágrimas ele não conhecia a maioria. Também não entendia muito bem o que estava acontecendo, sua única preocupação era quando a mãe levantaria daquela estranha cama rodeada de rosas.

As perguntas rodeavam sua cabeça como vespas: porque todos choravam e o único rosto familiar o abraçava como se quisesse lhe mandar uma mensagem silenciosa que ele próprio não entendia.

Era nisso que ele estava pensando quando sua tia pareceu se inquietar ao toque de um estranho. O homem, coberto de tatuagens, pareceu familiar em sua visão, de um jeito que não conseguia entender.

- Fique aqui – disse-lhe a mulher, afastando-se com o estranho.

Interessado, ele apurou os ouvidos para ouvir melhor a conversa, mas só conseguiu captar pequenos fragmentos.

- O que está fazendo aqui? – perguntou a tia, enxugando uma lágrima com o lenço bordado.

- Ela era importante para mim. – respondeu o homem.

- Você não devia estar aqui.

- Eu tinha que vir me despedir.

A mulher pareceu lutar contra um impulso e se afastou por um momento, o lenço cobrindo o rosto. O garotinho imaginou que esta fosse a oportunidade que o homem estivera esperando, então aproximou-se da mulher rodeada de rosas e descansou uma das mãos sobre as dela.

Como se sentisse o olhar atento do garoto, o homem se virou, a sombra de um sorriso perpassou seu rosto e então, aproximou-se.

- Poderia me fazer um favor?

O menino assentiu em silêncio.

- Entregue isto àquela mulher – pediu o homem, levando a mão á gola da camisa e puxando um colar. Ele o colocou nas mãos do garoto e se afastou em direção à porta. Lançou um último olhar á mulher e saiu.