Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 14
Back off, bitch (parte um)


Notas iniciais do capítulo

Eu pessoalmente adorei esse capítulo, apesar de que o Paulo estava meio estressado o.O enfim, ai está ;)



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“Face of an angel with the love of a witch!”

20 de março de 2003 – Apartamento emprestado
Willian P.O.V

- Sabãozinho filho da puta, porque você não pode parar em cima da pia, cacete?! – praguejei, me abaixando pela sabe-se lá qual vez para pegar o sabão de pedra que estava usando para lavar a louça do almoço.

- Qual é a do estresse com o pobre sabãozinho? – perguntou Suzannah colocando um CD dentro de um radiozinho vermelho (e, sim, ela estava em cima de um banquinho, já que o radio estava em cima do balcão).

- E qual é a do rádio? – retruquei me encostando no balcão e tacando o sabão de pedra para o lado, desistindo de lavar a louça. E foda-se a louça.

 - É da Maely – respondeu a pequenininha, mudando de música a cada milésimo de segundo. – Que país é esse?, Inútil, Zé Ninguém, Eu nasci há dez mil anos atrás, Erva Venen... AE! Era essa mesmo que eu queria!

A mini pecinha de gente pulou e se sentou em cima do balcão, balançando os pés no ar enquanto fazia coreografias estranhas. Era fato que, qualquer lugar que fosse mais alto que três centímetros a fazia ficar com os pés no ar, mas beleza.

Parei um momento para analisar o radinho, ao som de Suzannah (“É pior do que cobra cascavel, seu veneno é cruel-el-el-el...”) e finalmente encontrei exatamente o que eu estava procurando. Eu sinceramente – e modestamente, oi – era um gênio. Claro que tinha o fato de que a Suzannah tinha contribuído – mesmo que inconscientemente -, mas ela era tão pequenininha que nem contava, de modo que o rótulo de gênialidade era só meu.

- Ei, Suze – chamei-a, estalando os dedos na frente dela para tirá-la do transe em que tinha se metido enquanto cantava.

- EU! – gritou ela, quase caindo do balcão.

- Eu vou precisar desse rádio hoje à noite – respondi com as idéias circulando.

- Beleza, não é meu, mesmo. Mas pra quê, hein?!

- Você vai ver!

- Aaaah, uma aranha, uma aranha, uma aranha! – gritou Gabriel entrando na cozinha feito um jato. – WILL, TIRA, TIRA, TIRA, TEM UMA ARANHA NA MINHA CABEÇA!

- Calma lá, perae – falei, me preparando para esmagar a aranha imaginária do Gabriel. Claro que eu só queria mesmo era dar um tapa na cabeça dele, mas não vem ao caso. Senti um estalo debaixo da palma da minha mão; talvez fosse o cérebro dele se partindo... pensando bem, que cérebro? – Proonto, saiu.

- Valeeeu, cara, você salvou minha vida! – gritou ele pulando em cima de mim e depois se virando para voltar para o que quer que fosse que ele estivesse fazendo. Acontece que nas costas da camisa dele realmente tinha uma aranha, mas, digamos que era uma “Suzaranha”, se é que me entende.

- Você sabe que se ele ver, ele vai ter um ataque, certo?! – comentou Suzannah.

- Um-hum.

- E você sabe que ele vai querer te matar, não é?!

- Um-hum.

- E você não vai avisá-lo, certo?

- É isso ai! – respondi, sentando-me num dos banquinhos do balcão.

- O que é isso ai? – perguntou Paulo aparecendo no batente da porta com uma enorme caixa.

- Ah, Paulo, era com você mesmo que eu queria falar!

- Err, Will, você por um acaso bateu a cabeça, andou fumando maconha ou algo assim? – perguntou Suzannah a meio passo de descer do balcão.

- Não, a Maely não deixa – respondi, voltando-me para Paulo novamente – Seguinte, eu preciso que você arranje pra mim um CD com esse tal de, sei lá, não sei o nome, mas quando eu fui visitar o Rio de Janeiro, tava todo lugar, um tipo de música com um ritmo muito estranho, que ficava repetindo a mesma palavra um zilhão de vezes.

- Dá pra ser mais específico? – pediu Paulo largando a caixa em cima do balcão.

- Hm, é música ruim.

- Aaaaaaaaah, eu acho que você deve estar falando do funk carioca!

- Mas é o que? – perguntei, estranhando totalmente que aquele estilo de música, bem, deplorável seria a palavra, fosse um funk.

- É, mano, tipo MC Marcelo e MC Padilha, Bola de Fogo, esses filho da puta lazarento corno desgraçado da porra. – respondeu ele.

- Will, o que foi que você fez com o Paulo? – perguntou Suzannah pausando a música, com os olhinhos arregalados.

- E-eu?

- Ah, é que eu me irrito, gente – choramingou Paulo escorando na caixa.

- Tudo bem. – falei – Mas é mais ou menos isso que eu tava pensando, enche um CD com música que não presta e trás pra mim. Só que tem que ser antes do show, de preferência.

- PAULO, AINDA BEM QUE VOCÊ CHEGOU! – gritou Gabrielle da sala de estar e vindo até a porta da cozinha – Então, é que hoje a gente ta fazendo uma faxina então será que você poderia...

- Não – respondeu ele – To de folga hoje, meu bem.

- Ah, mas você...

- Não – repetiu – To indo embora, fui, só vim trazer essa caixa. Guarda ela ai em algum lugar e já eu volto... Mas não vou ajudar na faxina, eu fiz minhas unhas hoje, é ruim que eu vou estragar, hein?!

Então ele se virou e saiu, gritando um “volto logo” quando já estava na porta da sala. Com isso, a Gabrielle se virou para mim e ficou lançando olhares significativos da louça meio lavada para a minha cara.

- Qual é a de você vagabundeando com essa pilha enorme de louça pra lavar? – atalhou ela com um olhar mortífero na minha direção – As louças não irão se lavar sozinhas. E você, Suzannah?

- Eu o que? – perguntou ela balançando os pés com cara de inocente. Que, aliás, não engana ninguém.

- O que está fazendo parada ai?

- Eu estou... parada... aqui! – respondeu Suzannah.

- MEXA-SE, MEXA-SE, MEXA-SE! – berrou Gabrielle fazendo com que Suzannah pulasse do balcão e fizesse posição de sentido.

- Sim senhor, Senhor! – gritou ela de volta, batendo continência. Não dá pra levar essa tampinha a sério.

- Eu quero ver essa casa um brinco! – gritou Gabrielle virando-se e saindo no corredor. Não me contive e mostrei o dedo do meio pra ela, aproveitando o fato de que ela estava de costas. Nem fudendo que eu ia voltar a lavar a louça com aquele sabãozinho filho da mãe. – EU VI!

Abaixei o dedo e dei um passo para trás, me concentrando em voltar a lavar a louça.

- Pessoas ninjas – comentou Suzannah baixinho e saindo de fininho para a sala.

Perdi bem uns trinta minutos da minha vida lutando contra as forças ocultas que dominavam o sabão de pedra, sinceramente considerando a hipótese de que aquele sabão não era de Deus.

- Ahá, eu consegui – falei para o sabão, tendo conseguido segurá-lo nas mãos por mais de trinta segundos e agindo como se fosse um super vilão de algum desenho animado – Eu dominei você, escória espumenta, curve-se diante de seu mestre! Eu vou...

- WILLIAN!

- Ah, fala sério, quem foi o estrupício que interrompeu minha gargalhada do mal? – gritei quando o sabão, ou deveria dizer a coisa demoníaca indomável, escapou da minha mão e saiu escorregando pela cozinha.

- Willian! – gritou de novo a criatura desprezível. Eu quis xingar outra vez... e teria feito, teria mesmo. Exceto pelo fato de que era a Maely e eu pretendia ter todos os meus ossos no lugar para a apresentação de noite.

Imagine a minha reação quando ela veio enfurecida por alguma razão e escorregou na escória espumenta demoníaca. Tentei não rir, eu juro que tentei, mas com certeza era totalmente impossível não rir, porque ela começou a espernear e gritar.

Fui até ela para ajudá-la a se levantar, mas ela me repeliu.

- Sai daqui! – berrou ela toda estatelada no chão – Não encosta, NÃO ME TOCA! Eu vou levantar so-zi-nha! Mas não se atreva a sair daí, assim que eu conseguir levantar, nós vamos ter uma conversinha.

Esperei pacientemente com um sorrisinho sarcástico – durante dois segundos – enquanto ela tentava se levantar, mas ela só fazia escorregar mais e mais. Patético.

- Will! – gritou ela, interrompendo meu divertimento – O que você está fazendo ai parado? Me ajude a levantar, ora essa!

- Mas foi você...

- Não vem ao caso, cala a boca e me ajuda!

Achei melhor não discutir e a ajudei a se levantar. Mas foi ai que eu notei, algo que deveria ter notado logo de cara, algo que fez meu estômago dar um giro completo dentro de mim e parecer que minhas entranhas haviam sumido.

- Eu estava lá no quarto, de boa, fazendo as minhas obrigações matinais – começou ela calma de mais para se tratar de alguma notícia boa, dando passos perigosamente lentos na minha direção, com os olhos se estreitando – quando resolvi afastar a cama para passar pano naquele chão imundo. Então, olha só, eu tropecei. Tem alguma ideia de como isso pode ter acontecido?

- V-você tropeçou? – perguntei, estando irrevogavelmente encurralado entre ela e o balcão da cozinha. – Eu não faço ideia de como pode ter acontecido uma fatalidade dessas...

- Não, é?! – tornou ela, chegando cada vez mais perto – Então me deixe te contar o que aconteceu... Havia uma tábua solta em baixo da cama.

- É?

- É, é sim. E sabe o que tinha debaixo da tábua solta?

- Poeira?! Fungos?! Insetos?! – sugeri, pensando em uma estratégia para sair daquela conversa de maneira inteligente. Ela gargalhou, a dez centímetros do meu rosto, eu quase podia sentir a fúria escapando pela respiração dela, batendo com tudo em mim. Estremeci.

- Antes fosse – respondeu ela com aquela calma de matar – O que eu achei, na verdade, é uma coisa muito mais interessante.

Então ela pousou a garrafa vazia de Jack Daniels em cima do balcão – de uma maneira super delicada, que me admirou o fato de ter permanecido inteira – e eu sabia que não tinha mais saída.

- SERÁ QUE VOCÊ PODERIA ME EXPLICAR O QUE ESSA GARRAFA DO INFERNO ESTAVA FAZENDO DE BAIXO DA MINHA CAMA?

- S-se a cama é s-sua, v-você deveria s-saber...

- NÃO FINJA QUE NÃO SABE DO QUE ESTOU FALANDO, SEU SERZINHO BEBUM DESPREZÍVEL!

- Qual é a da neura com bebida? – perguntei, escolhendo a tática das piadas infames para tentar me livrar da bronca. Mas algo me dizia que aquela não havia sido a melhor das perguntas, porque ela de repente parou de gritar e se afastou, como se de repente voltasse a ser uma garotinha indefesa. Mas só por um momento. Tentei me aproximar dela novamente e perguntar o que havia de errado, mas não houve tempo.

- É isso ai, finalmente acabamos – gritou Gabrielle vindo da sala e se encostando no batente da porta – Agora a gente se esparrama no sofá e é só esperar forevermente até o Paulo chegar... Espera, qual é a do momento tenso aqui, sobre o que vocês estavam conversando?

- Nada! – respondeu Maely lançando-me um olhar escalpelante e olhando de volta para a garrafa vazia, como se dissesse que continuaríamos aquela conversa depois.

Agradeci mentalmente à Gabrielle bem umas cem vezes por ter me livrado dessa e a segui até o sofá da sala. Só que eu não ia me esquecer daquele olhar da Maely e certamente voltaria a tocar naquele assunto.

- Certo, vamos ver o que está passando na TV – disse Gabrielle se jogando no sofá ao lado do J.C. Como uma criança que acaba de ganhar um doce, fui direto para o lado oposto do sofá e me preparei para pular nas almofadas – Will, faça pipocas.

- O que? – perguntei incrédulo, a meio passo de cair de cara nas almofadas fofinhas.

- Você demorou meia hora pra lavar uma meia dúzia de pratos, fala sério, você está nos devendo isso. – decretou ela. Estava a ponto de dar-lhe uma resposta mal-educada quando a porta da sala abriu e o Paulo entrou, parcialmente escondido por uma outra caixa gigantesca.

- Ae, cambada, cheguei – disse ele colocando a caixa no colo do Gabriel, que estava esparramado em sua poça de baba. – Desculpe fazê-los esperar, eu... MAS É O QUE, HEIN? Vocês ainda não tomaram banho? Como é difícil um profissional da minha área lidar com porquinhos! – lamentou ele massageando as têmporas – Bem que minha mãe me disse pra nunca ficar amigo de estrelas do rock.

- Obrigado pela parte em que você diz que somos estrelas do rock – disse Matheus descendo as escadas e impregnando a casa toda com cheiro de perfume importado.

- Não foi um elogio – respondeu Paulo ainda massageando as têmporas. Outro que tenho certeza de que é bipolar, oi. Acontece que quando o Matheus chegou na sala e o Paulo colocou os olhos nele, sua expressão mudou completamente – POR QUE? – berrou ele – Por que vocês não são como o Matheus?

- Fazer o que, nem todos nós podemos ser a Madona nas horas vagas – comentou Gabriel se livrando da caixa que Paulo havia trazido.

- Todo mundo, filinha indiana, um de cada vez, já pro banho e RÁPIDO! – gritou Paulo ignorando quando Matheus fez um gesto ofensivo para o Gabriel.

Um pouco mais de duas horas depois, quando eu finalmente sai do banho e desci as escadas, encontrei todo mundo prontinho, cada um jogado em um canto da sala. Eu não sabia que tipo de curso o Paulo tinha feito, mas qualquer que fosse, era bom. Quero dizer, ele havia sumido com a cara de peixe morto do Gabriel e feito a Suzannah CRESCER! Dá pra acreditar, ela parecia quase de tamanho normal?! Embora, é claro, fosse tudo por causa do salto quinze que ela estava usando e do que o Paulo tinha feito no cabelo dela – isto é, espetado em ângulos estranhos. O mais legal era que ele tinha feito todo mundo parecer, hm, bem.

- Ah, apareceu a margarida! – exclamou Paulo pegando uma troca de roupa do fundo de uma das caixas que ele havia trazido – Achei que tivesse sido abduzido ou sei lá o que.

Ele me entregou a troca de roupa e eu a segurei por um momento, pensando em quando o Paulo tinha virado... macho.

- Tá esperando o que, querido? – gritou ele porque eu não me movia. Pensando melhor, não; o Paulo continuava o mesmo.

- Paulo, você está estressado hoje? – perguntou Suzannah.

Não esperei para ouvir a resposta, apenas subi as escadas outra vez (que saco) e fiquei mais algum tempo por lá, vestindo uma calça jeans com um rasgo indecentemente grande em cada joelho. Quando voltei à sala, encontrei só o Paulo.

- Ué, cadê o resto? – perguntei, incomodado com a jaqueta de couro.

- Cansaram de esperar o noivo – respondeu ele, me entregando um CD, com cara de tédio. Por um momento estive prestes a perguntar se ele queria que eu dublasse alguma coisa, mas ai me lembrei.

- Aah, valeu, valeu mesmo – falei, indo pegar o radinho da Maely que ainda estava em algum lugar na cozinha.

- Ta, ta, vamo logo! – respondeu ele, saltitando para fora de casa.


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Notas finais do capítulo

reviews, por favor? olha minha carinha de cachorrinho pidão: *-* POOR FAVOOOR!? E eu postei rapidinho, viu ;]



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