Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 13
Double talkin’ Jive


Notas iniciais do capítulo

É isso ai. Dica, a melhor parte desse capítulo é o fim *-*



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“Double talkin’ – I got lies – no more patience man. You dig what I’m sayin’?!”

11 de março de 2003 – Apartamento emprestado
Gabrielle P.O.V

- EEEI, O ENSAIO É PRA HOJE! – gritei, tentado fazer com que aquele bando de babuínos saíssem logo de casa – CLARO, VAMOS ENSAIAR DE MANHÃ, DE MANHÃ É BOM, DE MANHÃ É LEGAL, NÓS VAMOS ACORDAR NO HORÁRIO FELIZES E DISPOSTOS! POR QUE NINGUÉM ESCUTA A GABRIELLE?

- A gente te escuta – reclamou Matheus cobrindo as orelhas com as mãos e descendo as escadas. – bem até de mais.

- ONDE É O INCENDIO? – perguntou Gabriel quase caindo ao tentar descer as escadas correndo. Fala sério, eu digo que eu herdei a beleza e a inteligência... principalmente a beleza. E a inteligência também. Ah, deixa pra lá.

- Que incêndio? – perguntou J.C descendo as escadas como se não estivéssemos atrasados.

- Ah, nada não, é só a Gabrielle gritando que nem louca – respondeu Gabriel abaixando para amarrar o tênis.

- Eu não acredito como esse povo é enrolado – comentei, achando que não podia ficar pior. Mas podia, podia sim.

- WILLIAN!

Nem deu tempo de distinguir quem tinha gritado e um vulto laranjinha desceu as escadas correndo, subiu nas costas do Gabriel, que estava abaixado amarrando o sapato e se empoleirou no alto da estante. Um segundo depois, Maely desceu as escadas em igual velocidade, de pijama. Pra piorar, a Suzannah apareceu no alto da escada num pijama/macacão de pezinhos cor-de-rosa e uma touquinha de ursinho combinando, escovando os dentes e cantarolando sabe-se-lá-o-que.

- WILLIAN BALLEY, EU NÃO GOSTO DE VOCÊ! DEVOLVA A MINHA PANTUFA! VOCÊ VAI ENLARGUECER A MINHA PANTUFINHA COM ESSAS DUAS LANCHAS!

- Duas lanchas? – disse Will com um sorrisinho travesso e balançando os pés com as pantufas de vaquinha – Meus pés ficam perdidos aqui dentro!

- MAS O QUE? CALÚNIA E DIFAMAÇÃO! DESCE AQUI PRA EU ARREBENTAR A SUA CARA!

Will nem respondeu, só mostrou a língua e ficou balançando os pés no alto.

- QUAL É? – gritei, tentando fazê-los parar de berrar – Vocês não têm UM PINGO de responsabilidade!  Horário do nosso ensaio começa em cinco minutos e a gente já devia estar lá, com os instrumentos no palco! Mas ao invés disso, a gente ta aqui, com um marmanjo em cima da estante, um BOCÓ perguntando onde tem um incêndio, esse carinha aqui ta dormindo em pé! O Matheus procura o reflexo dele nos meus olhos quando eu grito com ele e essas duas aqui ainda de pijama!

Encarei cada um deles, para ver se a mensagem tinha surgido efeito, e, devo dizer, sou boa nisso. Exceto, é claro, pela Suzannah, que continuava escovando os dentes.

- For isso não frofoque, é for de fofa choque! – cantarolou ela com a boca toda suja de pasta de dente.

- Qual é a da pequenininha cantando Rita Lee às... dez da manhã?! – comentou J.C. Suzannah começou a subir as escadas e eu tinha alguma esperança de que ela fosse se trocar.

- Eu já sabia que isso ia acontecer – disse Maely, desabotoando a blusa do pijama – por isso eu dormi pre-ve-ni-da.

Por baixo do pijama, ela estava de bermuda e uma camiseta preta. Isso é que é eficiência, que emoção.

- Beleza, então eu acho que vou assim mesmo – falou Will de cima da estante.

- Mas não vai mesmo! – gritou Maely de volta.

- É claro que vou!

- PODE IR TIRANDO ESSAS LANCHAS DE DENTRO DAS MINHAS VAQUINHAS!

- Não mesmo.

- TIRA! TIRA! TIRA! TIRA! TIRA! TIRA! TIRAAAA!! TIRA AGORA!

- Eu mereço – comentei, massageando as têmporas e me jogando na poltrona babada do Gabriel. Eca.

Dez minutos depois, estávamos na sala 008, carregando instrumentos para o palco. Quando chegamos lá, tinha um bando de menina... bem, você sabe de que tipo de menina eu estou falando.

- Heey! – gritou Maely, abraçada na guitarra e balançando o papel que o Paulo havia nos dado e que dizia que aquele era o nosso horário.

- Ah, não, nem pensar! – gritei, chegando perto quando vi que as garotas também tinham um papel igual ao nosso. – Eu não tirei esse bando de babuínos da cama pra ter outro no nosso lugar!

- Acontece que eu tenho uma autorização! – disse uma das garotas, a que parecia ser a líder, de cabelo rosa-choque.

- Mas, acontece, que nós também temos! – respondeu Maely imitando o jeito de a garota falar.

- Aline, essas recalcadas estão incomodando? – perguntou uma garota com baquetas nas mãos.

- Por enquanto, não, Alice. – respondeu a garota do cabelo rosa-choque olhando para Maely com cara de bucho azedo.

- Você chamou a gente de que? – gritou Suzannah apontando o dedo para o mais alto que podia alcançar, aparentemente tentando enfia-lo no rosto dela. Não que estivesse dando muito certo.

- Re-cal-ca-das! – repetiram as duas garotas.

- MAS É O QUE, HEIN?! VOU TE MOSTRAR QUEM É RECALCADA AQUI, SUAS MORCEGONAS!

Acredito que o termo “morcegonas” veio porque, bem, elas pareciam mesmo morcegas, vestidas de preto dos pés a cabeça e maquiagem carregada de... preto, ora essa. A parte em que o termo vinha no aumentativo era de encargo da estressadinha-inha-inha.

- I’m on the nightrain... – ouvimos Gabriel cantar enquanto carregava um dos pratos da bateria como se fosse um chapéu.

- Bottoms up! – respondeu Will aparecendo ao seu lado com outro prato na cabeça.

- I’m on the nightrain...

- Fill my cup!

- I’m on the nightrain…

- Ready to crash and burn, I never… - nesse momento os dois perceberam que estávamos olhando para eles e baixaram os pratos. Fala sério. – Oi, o que a gente perdeu?

- Qual é a das morcegas? – cochichou Gabriel com Will. Não baixo o bastante. Incompetente.

- Ei – disseram as duas morcegas, deixando a mim, Maely e Suzannah sem resposta e indo se enroscar indecentemente em Will e Gabriel.

- Então, qual seu nome, gracinha? – perguntou a do cabelo rosa-choque enrolando o dedo no cabelo do Will.

- Você tem telefone, fofo? – disse a outra, a tal de Alice, praticamente subindo em cima do meu irmão. Que abuso é esse? É inútil, mas é MEU IRMÃO!

- MAS HEIN?! – gritou Suzannah, agarrando os cabelos da garota e a puxando pra longe de Gabriel. Maely fez o mesmo com a outra, mas agarrando os cabelos dela na nuca, onde doía mais e que, obviamente, ficava difícil para Suzannah imitar.

- DESGRUDA, DESGRUDA, DESGRUDA, SAAAI! – berrou Maely arrastando a tal de Aline pra lado mais longe possível de Will.

- Vocês são namorados? – perguntou ela.

- NÃO! – responderam Suzannah, Maely, Gabriel e Will ao mesmo tempo. Medo.

- Então qual é o problema? – disse a Alice, tentando voltar para o lado do Gabriel, mas sendo impedida por Suzannah, que mantinha os cabelos dela enrolados nos dedos.

- Vocês estão roubando nosso horário de ensaio! – gritei em resposta.

- Nós já dissemos, nós temos uma autorização! – gritou de volta a líder da banda, balançando o papel na minha cara. Juro que fiquei com vontade de fazer a menina engolir o papel, mas o Paulo chegou bem na hora.

- Oi! – disse ele, mas não obteve resposta – Nossa, estresse dá rugas, gente!

- Paulo, fala ae pra essas piranhas de quem é o horário agora, fala! – gritou Suzannah balançando ele pela barra da camisa.

- Deixe-me ver essas autorizações – respondeu ele pegando os dois papéis nas mãos. – Com certeza teve algum engano, mas o problema surgiu com o horário das Hell cats, porque quem marcou o horário da Shotgun Blues fui eu mesmo e me lembro de ter verificado a disponibilidade.

- Então quer dizer que... – começou a líder da banda.

- FORA! – gritamos em uníssono, eu, Maely e Suzannah.

As duas morcegas saíram fuzilando a gente com os olhos e o resto da banda – outras três garotas, mas não morcegas! – deixou o palco livre para o nosso ensaio.

- Eu realmente não entendo – comentou Suzannah observando-as se afastar com seus instrumentos.

- O que? – perguntei.

- Quem, em sã consciência, olharia para dois idiotas como esses, que se fingem de japoneses colocando dois pratos na cabeça – respondeu ela, apontando para Will e Gabriel, que estavam montando a bateria e ainda cantarolando Nightrain – quando se tem o Matheus bem ali do lado?

Olhei para os lados e Matheus estava com a maior cara de pastel, indo em direção a Suzannah com os braços abertos, em agradecimento.

- Eeeei, sai pra lá! – gritou Suzannah quando ele fez menção de abraçá-la, se escondendo atrás da Maely – Quem tem dinheiro é a Gabrielle, eu juro que não tenho nada!

Depois dessa, ele deu de ombros e foi para trás do teclado.

- Esse povo, a gente não pode nem elogiar que já vem abraçando, eu hein!? – comentou Suzannah com Maely. Parei de prestar atenção e fui pegar as minhas baquetas.

- Seguinte, vamos começar com...

- Morte, sangue, desespero, preciso de alguma coisa MÁ! – interrompeu Maely quando Will começou a falar, incinerando-o com os olhos.

- Eu tava pensando em uma coisa mais feliz como...

- NIGHTRAIN! – gritou Gabriel.

- Erva Venenosa?! – sugeriu Suzannah.

- Vou ficar lindão cantando isso – respondeu Will – Na verdade eu estava pensando em...

- Used to love her – falou J.C.

- Não, My Michelle é mais legal – gritou Matheus das profundezas ocultas do silêncio.

- EU QUERO TOCAR GARDEN OF EDEN! – berrou Maely antes que Will pudesse abrir a boca outra vez. – VOCÊS VÃO TOCAR GARDEN OF EDEN! ELE VAI CANTAR GARDEN OF EDEN! TODOS NÓS VAMOS TOCAR GARDEN OF EDEN, EU ESTOU COM RAIVA!

Todo mundo ficou um pouco com cara de pinguim estático por um momento, até Will pegar o microfone, evitando movimentos bruscos.

- It’s a critical solution and the east coast got the blues...

A coisa tava meio tensa. Quero dizer, estávamos tocando a música numa boa, mas a Maely estava quase para destruir as cordas da guitarra, solando de joelhos e tudo o mais, como se estivesse tocando para um mar de gente no Madson Square, quando na verdade só tinha o Paulo sentado numa cadeira do lado esquerdo do palco vazio, lixando as unhas como se não tivesse nada mais importante para fazer.

- Lost in the garden of Eden – estava gritando Will no microfone sob o olhar atento do Paulo. – No one gon..

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – interrompeu uma vozinha esganiçada derrubando o Paulo da cadeira e fazendo Maely jogar a palheta longe (que por acaso acertou o J.C) – EU SABIA QUE IA ENCONTRAR VOCÊS DE NOVO! Não aqui... MAS EU SABIA!

- Quem é você? – perguntou Matheus.

- Marielle? – perguntou Paulo deixando a lixa de unha em um canto e ficando de pé na mesma hora.

- Eu?! -  respondeu a garota se virando para ele – Ah, Paulo, é você e... O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?

- Eu to...

- Ah, qual é, meu pai me colocou como supervisora dessa birosca, se ele souber que os funcionários estão por ai lixando as unhas enquanto deveriam estar... fazendo coisas de funcionários... ele me mata – choramingou ela se jogando na cadeira em que Paulo estivera sentado.

- Dá pra alguém explicar o que diabos está acontecendo aqui? – perguntou o paspalho do meu irmão.

- Ah, essa é a Marielle, minha chefona – respondeu Paulo voltando a lixar as unhas.

- Sinceramente, eu só estou trabalhando porque meu pai é sovina de mais para contratar mais funcionários. – respondeu a tal de Marielle – Mas não importa, EU ACHEI VOCÊS!        

- Mas é o que, hein?! – gritou Maely arrancando a palheta das mãos do J.C – Eu não to entendendo nada. Como assim você “achou a gente”?

- É o seguinte – respondeu a garota levantando da cadeira em um pulo, na qual Paulo se jogou outra vez – eu vi vocês no bar Shotgun Blues lááá em Brasília há mais ou menos um mês e eu simplesmente ADOREI vocês! Quando a apresentação terminou, eu tentei falar com vocês, mas vocês já tinham ido embora e agora... Vocês estão aqui!

- Aah, olha só – gritou Suze dando uma cotovelada nas costelas do Gabriel – já temos uma fã!

- C-claro – respondeu ele se curvando com a dor e se distanciando dela.

- Eu procurei taanto vocês! – gritou a garota, Marielle – É assim, ó. Todo ano meu pai faz um festival beneficente pra arrecadar fundos pra seja-lá-o-que-for e ajudar sei-la-o-que, vocês sabem, essas coisas ai. Então ele liberou quinhentos reais pra eu ir atrás de uma banda... boa e barata e...

- Quando vai ser esse treco? – perguntei, chegando mais perto dela.

- Sexta-feira da semana que vem – respondeu a Marielle.

Fala sério, eu adorei essa garota. Apesar dela ter acabado com o nosso ensaio - e sinceramente foi um sacrifício apenas conseguir estar ali -, ela ta trazendo dinheiro.

- Beleza, tamo nessa – respondi.

O ensaio continuou na mesma, tirando o fato de que agora a Maely estava menos ameaçadora porque a raiva tinha passado... eu acho. Deu tempo só pra mais duas músicas e o nosso horário de ensaio acabou; tudo culpa das morcegas.

- É isso ai – exclamou Gabriel tirando o prato da bateria da cabeça e colocando do lado dos outros na sala 008.

- Seguinte, Paulo – disse Marielle nos seguindo pelo corredor -, eu preciso que você vá até o...

- Não! – respondeu ele saindo do teatro atrás do Gabriel e olhando em um relógio imaginário – Ó só, são onze horas! Meu horário acabou, to indo embora!

- Você vai me abandonar? – choramingou Marielle.

- Sim, eu vou – respondeu Paulo com um sorriso triunfante.

- Paulo – chamou Will, o que foi um grande choque para nós. Quero dizer, ele não era exatamente o tipo de cara que conversa com o Paulo. Nunca. – Você quer ir almoçar lá em casa... e, hm, fazer o almoço?

Ah, ta explicado.

- Claro! – gritou Paulo quase dando pulinhos de felicidade. Que tipo de pessoa dá pulinhos de felicidade quando tem que cozinhar para um bando de babuínos. Isto é, exceto a minha pessoa, porque eu não me encaixo na descrição “babuíno” – Eu vou fazer o melhoooor almoço da história dos melhores almoços do mundo! Eu vou...

Paulo continuou tagarelando sobre como ele faria um almoço esplêndido, mas parei de prestar atenção.

- Marielle, você vem? – perguntou J.C.

- Eu não posso! – choramingou ela com a voz embargada e erguendo o rosto para olhar para ele – Se eu sair daqui e deixar essa birosca nas mãos desses projetos de Paulo irresponsáveis, sabe-se lá o que pode acontecer! Meu pai me mataria, me enforcaria, me esfolaria, me afogaria, me fritaria. Enfim, eu ia estar ferrada.

- Que pena, fica pra próxima, então – respondeu J.C dando de ombros.

Voltamos para o apartamento e nos jogamos no sofá enquanto Paulo preparava o almoço. Cerca de uma hora depois, ele apareceu na porta da sala dizendo que o melhor almoço da história dos melhores almoços do mundo estava pronto. Mais que depressa, Gabriel estava na cozinha. Deprimente.

- PAULO! – berrei ao chegar na cozinha e ver o balcão atulhado de pratos de comidas que eu nem mesmo podia reconhecer. - Era só um almoço de quarta-feira, não uma ceia de Natal/Ano Novo.

- Oe, é o melhor almoço da história dos melhores almoços do mundo! O que você esperava? – comentou o energúmeno do Matheus com a boca cheia de batata frita.

- Tá okay, mas que fique claro que vocês terão de fazer essa comida durar pelo menos uma semana! – avisei, sentando-me num dos banquinhos, ao lado da Suzannah, que estava usando outro banquinho para tentar subir no banquinho do balcão.

- Então, o que a gente vai tocar no show que a Marielle arranjou? – perguntou Will sob o olhar atento do Paulo. Algo me dizia que o Will já estava se acostumando com a presença dele.

- A abertura tem que ser WAAH, CHEGAMO! - comentou Suzannah tendo finalmente conseguido subir no banquinho e roubando as batatas fritas do Gabriel. É sério, se não fosse o Gabriel, como a Suze ia se alimentar? – Tipo, tem que ser uma música que chega lá e PAH!

- Eu juro que não entendo metade das coisas que você fala – disse Gabriel colocando o prato de batatas o mais longe possível dela.

- É, até que a Suze tem razão – falou Maely tamborilando os dedos no mármore do balcão. – A primeira música tem que ser mais agitada.

- Então a gente podia começar com Welcome to the Jungle – sugeriu J.C.

- Sweet Child não pode faltar – falou Matheus pegando um papel e escrevendo os nomes das músicas.

- Patience, Nightrain e Mr. Brownstone também não – lembrei-o.

- E It’s so easy, Rocket Queen, We will rock you, Dead Horse, You’re crazy. – decretou Will, virando um copo de suco de uma só vez.

- E pra terminar, Anythin’ Goes e Shotgun Blues – completou Maely.

- É isso ai, agora estamos prontos – falei, notando que a montanha de comida que Paulo havia preparado tinha praticamente sumido na região próxima ao Gabriel.

- O almoço tava de mais – disse ele batendo o garfo no prato – Principalmente a lasanha, a carne de panela, o macarrão, o lagarto ao molho madeira e... – ele parou para olhar para o prato de salada que estava praticamente intacto e pegando uma folhinha de alface (logo largando-a de lado) – é, a salada também tava ótema, embora eu tenha gostado mais do...

- Fala sério, Gabriel, você gostou de tudo. VOCÊ COMEU TUDO! – gritei, dando uma cotovelada nas costelas dele.

- O que vocês vão usar no dia do show? – perguntou Paulo começando a juntar os pratos vazios e levando-os para a pia.

- Ah, a gente vai vestir, bem, mais ou menos o que a gente está vestindo agora – respondeu Suzannah puxando para os lados a camiseta larga que ela estava usando.

- Mas é o que, hein?! – gritou Paulo, como se estivesse aterrorizado. – Vocês tem sorte de me ter aqui! Vocês não podem simplesmente ir ao seu primeiro show remunerado vestidos desse jeito.

- O que tem de errado com as nossas roupas? – perguntou Maely olhando para as próprias calças surradas.

- Nada – respondeu ele, derrotado – É só que, por ser o primeiro show, vocês não podem estar vestidos de maneira muito agressiva, mas também não tem sentido usar algo que passe uma mensagem errada sobre vocês. Isto é, vocês são ou não são uma banda de rock?

Era estranho ouvir o Paulo falar como... homem. Deu até medo, é sério.

- Ajude a gente, então – pedi.

- Certo – disse ele voltando ao seu jeito Paulo de ser – Vocês vão se vestir sempre daquela mesma maneira: jeans, tênis, camiseta estranha. Mas VARIEM um pouco, usem alguma coisa diferente!

Ele começou a andar de um lado para o outro, parando ocasionalmente para olhar para um de nós.

- Você – disse ele, parando ao lado da Maely e a olhando de cima abaixo – faz uns rasgos no joelho desse jeans velho e bagunça um pouco essa tábua lisa que você chama de cabelo! E você, Suzannah, bem, faça algo com o seu cabelo, algo que faça com que você pareça pelo menos um pouquinho mais com uma garota de tamanho normal. Eu sei que é pedir de mais, mas vamos tentar...

Ele puxou a pequenininha para que ela ficasse de pé e bagunçou totalmente o cabelo dela, segurando-os para cima e sorrindo satisfatoriamente.

- A gente vai encher isso aqui de spray e vamos arranjar umas botas de salto pra você usar.

- Acho que não existem botas de salto na sessão infantil – comentou Gabriel. Suzannah deu um tapa na testa dele.

- Você deveria tirar esse boné de vez em quando, usar uma camiseta que não tenha propaganda de nada. – tornou Paulo, se dirigindo ao paspalho. – E você, grandão, deveria cortar um pouco o cabelo.

- E eu? – perguntou Matheus com um sorrisinho bobo, como se já soubesse a resposta que receberia.

- Você?! – disse Paulo olhando para ele com a mão no queixo, como se procurasse algum defeito (totalmente inexistente, devo acrescentar) nele – Ah, vai assim mesmo, ta ótimo! – ele se virou para o Will e sua expressão murchou – Por mais que eu odeie ter que te pedir isso, é uma espécie de evento beneficente, então... Será que você podia usar calças? Calças jeans, de preferência; ou couro, couro é legal, mas... é melhor a calça jeans e...

Will se encolheu todo, como um gato laranjinha assustado, quando Paulo se aproximou dele o bastante para contar as sardas do rosto dele.

- É, é isso ai mesmo – concluiu Paulo como se soubesse de algo que nós não sabíamos. – Vai ficar ótimo.

- Mas é o que, hein?! Eu não sei do que você está falando, mas eu tenho me-do – anunciou Will voltando a postura normal.

- Você vai colocar um brinco na orelha.

- Certo – respondeu Will rindo de se acabar.

- Que bom que você concorda!

- Que concordo, que nada! – gritou Will de volta tapando as duas orelhas – Minhas orelhas estão ótimas assim, não quero que elas sejam violadas.

Mais ou menos cinco minutos depois estávamos todos em volta de Paulo, que estava com uma maquininha estranha de furar orelha – vinda das profundezas ocultas de só Deus sabe onde – tentando convencer Will de que não ia doer nada. Não que Will estivesse acreditando.

- Seguinte, escolhe um – disse ele, estendendo para Will uma cartela cheia de brincos estranhos.

- Eu até escolheria, se a Maely tirasse a cabeça da frente, sabe – reclamou Will empurrando Maely para o lado. Não me surpreendi muito quando ele escolheu uma argolinha prateada com uma cruzinha pendurada.

- Certo, diga três tigres tristes estão comendo um prato de trigo no meio do trilho do trem!

- Que diabos... AAAI!

- Viu, eu disse que nem ia doer – comentou Paulo guardando a maquininha de volta em uma caixa junto com o estoque de brincos. Que tipo de pessoa tem uma máquina de furar orelha e um estoque de brincos guardado no porta-malas do carro? Acho que fiquei encarando-o de um jeito estranho por tempo demais, porque ele suspirou e voltou a falar: - Eu faço alguns bicos como cabeleireiro/tatuador... Eu também coloco piercings, sou chef de cozinha, personal stylist, motorista de limousine, quem faz o designe das minhas roupas sou eu e nas horas vagas eu sou pintor.

- Legal, você já fez muitos quadros? – perguntou J.C pulando no sofá.

- Ah, não. Eu pinto casas.

Nota mental: manter o Paulo por perto, afinal, quem sabe mais o que ele pode fazer?! Em algum momento pode ser útil um cabeleireiro/tatuador/colocador de piercings/chef de cozinha/personal stylist/motorista de limousine QUE PINTA CASAS!!

- Ei, Paulo, qual é a dessa caixinha aqui? – perguntou Suzannah chacoalhando uma caixa que realmente parecia enorme, mas depois percebi que não era grande coisa, era só ilusão de ótica por causa do tamanho da Suzannah.

- Ah, é pros gêmeos. – respondeu ele.

- COMO É QUE É, COLEGA?! – gritamos eu e Gabriel ao mesmo tempo.

- Só prometa que não vai surtar – respondeu Paulo saltitando até mim e segurando meu cabelo no alto. Por um momento, me perguntei o que ele faria, até ouvir o “clique” inconfundível de uma tesoura e o meu cabelo voltando para mim extremamente leve.

- Ah, meu Deus! – exclamou Gabriel olhando para mim entre aterrorizado e divertido, como se estivesse lutando contra o impulso de gargalhar, tentando manter a expressão séria.

Tateei às costas, a procura do meu cabelo, mas só achei um bocado de pontas na altura da orelha. Do meu cabelo, cumprido como eu estava acostumada, só sobrou duas mechas dos lados do meu rosto, que Paulo aproveitou para repicar enquanto eu ainda estava em estado de choque.

Não sei muito bem o que aconteceu depois disso, mas me lembro de estar em um momento sentada na poltrona babada do Gabriel e no outro, em cima do Paulo, socando cada centímetro alcançável do corpo dele.

Quando dei por mim, já era de noite e eu e Gabriel estávamos sentados no sofá usando a janela como espelho para admirar as pontas dos nossos cabelos recém cortados e pintados, o meu de roxo e o dele de azul.

- Quer saber? – comentei, me virando para ele e parando para analisar como a cor do cabelo dele estava parecida com a cor dos olhos, quero dizer, azul da cor do céu, você sabe, quando não tem nuvem nenhuma. – Eu gostei mais assim.

- Você bem que poderia ter pensado assim antes de quase arrancar a cabeça do Paulo – comentou ele balançando a cabeça para os lados e fazendo o cabelo voar de um lado para o outro. Dei um soco no braço dele. – AAI! Qual é, que tipo de irmã é você? Se eu falo, você me bate, se eu durmo, você me bate, se eu RESPIRO, você me bate! Você por acaso já pensou em abraçar o seu irmão alguma vez?

Olhei para ele uma outra vez, observando como ele ficava engraçado quando fazia cara de bravo. E então, eu o abracei e disse, bem, o que eu nunca tinha dito pra cara nenhum.

- Eu amo você... – murmurei, brincando com o cabelo dele - Paspalho!


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Notas finais do capítulo

Comentem e façam duas autoras felizes de uma vez só! ;D


[WAAAH, QUANDO O AXL VAI APARECER LOGO?]



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